02/06/2010
Claudia Helena Azevedo Alvarenga
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | Artes | Música: desenvolvimento da linguagem musical |
Ensino Fundamental Final | Artes | Música: Compreensão da música como produto cultural e histórico |
Ensino Fundamental Final | Artes | Música: Apreciação significativa em música: escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical |
Ensino Fundamental Final | Artes | Música: Expressão e comunicação em música: improvisação, composição e interpretação |
Ensino Médio | Artes | Música: Estruturas sintáticas |
Ensino Médio | Artes | Música: Contextualização |
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo | Estudo da Sociedade e da Natureza | Seres humanos e o meio ambiente |
Ensino Médio | Artes | Música: Canal |
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo | Estudo da Sociedade e da Natureza | Cultura e diversidade cultural |
Ensino Médio | Artes | Música: Estruturas morfológicas |
Caro(a) professor(a), esta série de aulas é destinada a discutir por meio de experiências práticas a serem desenvolvidas em sala de aula, os conceitos de música identificados nos sensos comuns cotidianos. Sugerimos para aprofundamento da noção de 'sensos comuns' a leitura do artigo do professor Luís Carlos Lopes (vide link 1 em Recursos Complementares).
Ao mapear ‘preconceitos’ sonoros, buscamos transpor a visão de música limitada à noção de ‘gosto estético’ para uma perspectiva crítica do fenômeno sonoro, que é anterior às categorizações e aos gêneros musicais historicamente estabelecidos. É essencial que antes da aula o professor possa aprofundar a reflexão sobre os seus próprios conceitos do que considera música ou não. Neste processo pessoal recomendamos experimentar outros olhares sobre padrões históricos e de sensos comuns para absorver e compreender também as manifestações musicais difundidas nas mais diversas mídias presentes no cotidiano de seus alunos.
Como base teórica de apoio, sugerimos a leitura do texto do livro “O ouvido pensante” de R.Murray Schafer (vide link 2 em Recursos Complementares), especialmente as páginas 25 a 36 e 119 a 124. Este material constitui uma rica fonte de insights para desdobramentos posteriores em sala de aula.
Proponha aos alunos o seguinte desafio: “o silêncio não existe, tente encontrá-lo”. Escreva a frase no quadro. É possível que os alunos estranhem a afirmativa ou questionem de imediato. Peça que mostrem onde está o silêncio, que discutam como se obtém o silêncio e que proponham maneiras de fazer isso. O silêncio é uma coisa? É um lugar? Tem forma? Após levantar estas instigações e experimentar algumas sugestões dos alunos, realize o exercício de ‘caça-silêncio’, a seguir:
a) Peça aos alunos que evitem produzir qualquer tipo de som e proponha a eles que simplesmente percebam tudo que puderem ouvir durante 1 ou 2 minutos.
b) Esgotado o tempo, cada aluno deve anotar em uma folha de papel os sons ouvidos.
c) Liste no quadro os sons relatados pelos alunos. Podem-se propor outras ‘rodadas’ do exercício buscando eliminar o máximo de sons internos da sala, ou seja, sons que possam ser controlados pelo grupo. Por exemplo, se ouvem o ventilador, o que acontece se desligarmos? E se fecharmos a porta? Desligarmos o ar condicionado? Pararmos de bater os pés? Respirarmos suavemente? Ao interromper algum som na sala, podem-se ouvir novos sons antes imperceptíveis no ambiente externo? Repita a experiência. Os sons ouvidos são música? Discuta relacionando com os conceitos de organização de sons e intencionalidade musical levantados na aula anterior. Exiba o vídeo da peça 4’33” do compositor John Cage.
A partitura de 4'33" contém três movimentos. Após a entrada no palco e os aplausos, o músico deve colocar-se em posição de execução e permanecer assim durante toda a duração da obra (quatro minutos e trinta e três segundos). Nesta peça o executante senta-se diante do piano e toca notas 'silenciosas'. O objetivo é problematizar a noção de música, a expectativa do som do instrumento que abre o canal tradicional da audição para ouvir os sons do mundo. Discuta com o grupo. Isso é música? Qual foi a intenção do compositor?
Abaixo sugerimos 3 versões da mesma peça:
1. para piano - http://www.youtube.com/watch?v=gN2zcLBr_VM&feature=related
2. para piano (David Tudor) - http://www.youtube.com/watch?v=HypmW4Yd7SY&feature=related
3. para orquestra - http://www.youtube.com/watch?v=hUJagb7hL0E
d) Para exemplificar o conceito de ruído, proponha agora que os alunos interfiram com seus próprios sons na paisagem sonora ouvida. Por exemplo, peça que todos falem ao mesmo tempo e pergunte se conseguem compreender o significado do que dizem. Pergunte quantos sons suaves e naturais deixamos de ouvir no momento em que ouvimos sons fortes e tecnológicos. Proponha uma reflexão sobre o momento da aula sugerindo que os alunos interrompam com sons toda vez que o professor falar. Pergunte a eles o que acontece. A comunicação fica prejudicada? Interessa a noção de ruído como algo que atrapalha a intenção sonora de um determinado momento. Se um aluno arrasta as cadeiras enquanto alguém fala é um ruído? O som da cadeira arrastada é necessariamente ruído ou pode ser musical? Proponha à turma que levante e arraste suas cadeiras propositalmente. Isto tem algo de musical? Experimente com seus alunos outras formas de organizar os sons das cadeiras.
Dicas:
1. Este exercício pode ganhar novas etapas a partir da criação livre do professor com a sua turma de acordo com seu ambiente específico.
2. Percebe-se que mesmo que interrompamos todos os sons possíveis dentro da sala, o universo sonoro exterior não pode ser controlado. Os sons listados representam o 'silêncio' daquele lugar. Se estivéssemos em um outro local, ouviríamos o mesmo 'silêncio'? Cada local tem sua “paisagem sonora” (para aprofundamento no conceito de paisagem sonora, veja o link “O ouvido pensante” em Recursos Complementares). O silêncio é possível? Volte a afirmação inicial: "o silêncio não existe".
Curiosidade:
José Miguel Wisnik em seu livro "O som e o sentido" (vide link 3 em Recursos Complementares) relata uma experiência realizada por John Cage: "(..) há sempre som dentro do silêncio: mesmo quando não ouvimos os barulhos do mundo, fechados numa cabine à prova de som, ouvimos o barulhismo do nosso próprio corpo produtor/receptor de ruídos (refiro-me à experiência de John Cage, que se tornou a seu modo um marco na música contemporânea, e que diz que, isolados experimentalmente de todo ruído externo, escutamos no mínimo o som grave da nossa pulsação sanguínea e o agudo do nosso sistema nervoso)." (Wisnik, 2007, p.18 e 19).
a) Proponha que a turma se divida em grupos de cerca de 4 alunos. Os grupos podem ter mais integrantes se achar adequado. Sorteie uma situação de paisagem sonora proposta. Ex: praia, shopping, estádio de futebol, aeroporto, trânsito, feira livre etc. Acrescente outras ideias possíveis a partir da sua realidade.
b) Dê tempo para que os grupos elaborem a paisagem sonora com quaisquer objetos que tenham disponíveis, voz e/ou sons corporais.
a) Apresentação das paisagens sonoras.
b) Escolha um ‘regente’ para dirigir as diversas paisagens sonoras intencionalmente. O aluno poderá controlar os momentos em que cada grupo de paisagem sonora é ativado apontando com as mãos. Propomos o seguinte código:
- mão aberta – execução dos sons
- mão fechada – interrupção dos sons
- mãos ao alto – os sons são executados em volume alto
- mãos abaixo – os sons são executados em volume baixo
- movimentos rápidos com as mãos – andamento rápido
- movimentos lentos – andamento lento
Obs.: A complexidade desta ‘regência’ pode variar de acordo com o grau de familiaridade que os alunos já apresentem em relação a estes parâmetros do som (duração, intensidade).
Dicas:
1. Escolha diferentes regentes para a mesma paisagem sonora, estimulando-os a criarem diferentes intenções musicais para a mesma paisagem sonora.
2. Como variante, proponha a sobreposição de paisagens sonoras, contanto que se estabeleça uma proposta intencional de organização do material sonoro.
Ao final, avalie junto com a turma os trabalhos apresentados.
Link 1 - Artigo: A espiral da opinião comum: a televisão aberta do Brasil, argumentos e culturas - Luís Carlos Lopes
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3071
Link 2 - O ouvido pensante - R.Murray Schafer
Link 3 - O som e o sentido - José Miguel Wisnik
Ao final da atividade os alunos devem ser capazes de flexibilizar seu conceito de música. Avalie:
1. Como foi a participação dos alunos na aula? Envolveram-se com as propostas? Contribuíram para o enriquecimento das atividades?
2. Apreenderam na prática os conceitos abordados: som, silêncio, ruído e paisagem sonora? Peça que expliquem uns aos outros como se agora eles fossem os ‘professores’.
3. As composições de paisagem sonora eram coerentes com a proposta? Organizaram os sons com intencionalidade?
4. Os alunos conseguiram discutir em conjunto a composição e tomar decisões em grupo?
5. Ensaiaram e apresentaram com desenvoltura as composições?
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