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Do discurso direto ao indireto e vice-versa

 

08/07/2010

Autor e Coautor(es)
wendell de freitas amaral
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JUIZ DE FORA - MG COL DE APLICACAO JOAO XXIII

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: processos de construção de significação
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Identificar narrador e personagens;

reconhecer os diferentes recursos formais adequados à inserção da fala das personagens;

perceber as principais transformações que ocorrem na passagem de um discurso para outro: modo e tempo verbal; advérbios; pronomes;

usar dos recursos linguísticos para a transposição de um discurso ao outro.

Duração das atividades
2 horas/aula
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Habilidades básicas de leitura e escrita

Estratégias e recursos da aula

1ª aula

Professor, para iniciar as atividades é conveniente que estimule os alunos a dizerem o que eles entendem por "texto" e "discurso".

A sugestão, para que fiquem claros os conceitos, é apresentá-los partindo de um exemplo único.

Os alunos deverão compreender que o discurso se caracteriza por qualquer atividade comunicativa de um locutor, num dado contexto de produção, englobando assim não só os enunciados produzidos, mas também o evento de enunciação. O texto se caracteriza pela unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou audição), tomada pelos usuários da língua em uma situação específica de comunicação para preencher uma função comunicativa. Portanto, o texto é o produto concreto da atividade comunicativa, e que segue regras e princípios discursivos sócio-historicamente estabelecidos e que devem ser considerados. (TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação. São Paulo: Cortez, 1997).      

A notícia abaixo, publicada no jornal Estado de Minas, em 30/01/2010, serve como exemplo para caracterizar texto e discurso:

                                                                                                                                                                                           

                                                                                                                                                                                                                                         

Praça da Estação vira praia em protesto 

Emmanuel Pinheiro - Estado de Minas

Centenas de pessoas se reuniram na Praça da Estação, em Belo Horizonte, para protestar contra a proibição da realização de eventos no espaço. A decisão, assinada pelo prefeito Márcio Lacerda, foi publicada no dia 10 de dezembro do ano passado no Diario Oficial do Município e diz que eventos de qualquer natureza estão proibidos na Praça desde o 1º de janeiro deste ano.

Na época, a proibição pegou de surpresa os moradores, frequentadores e promotores de eventos da capital. De forma bem-humorada, o grupo usou o local como uma praia, com direito a biquini e um chuveirão.

http://www.uai.com.br/htmls/app/noticia173/2010/01/30/noticia_minas,i=145925/PRACA+DA+ESTACAO+VIRA+PRAIA+EM+PROTESTO.shtml 

                                                                                                                                                                                                                                                    

Atividade:

A partir do exemplo (o professor providencia cópias da notícia para a turma), pedir aos alunos que identifiquem e anotem no caderno os elementos do processo comunicativo que auxiliam na construção do sentido do texto, além dos enunciados linguísticos.

A imagem das pessoas se banhando na Praça da Estação (local onde os eventos públicos foram proibidos pela prefeitura), a data da publicação (janeiro - verão de 2010), e a referência à falta de praia em Belo Horizonte (as pessoas estão com bóias, sungas e biquinis, além da referência feita pelo título da matéria), colaboram para a compreensão do contexto de produção do discurso, e para o entendimento de que trata-se de um protesto não-violento, descontraído. O evento, portanto, está referenciado não só pelos enunciados linguísticos, mas por outros dados não-verbais, históricos, geográficos, etc.

O texto de Emmanuel Pinheiro (unidade linguística concreta visual) cumpre sua função comunicativa ao relatar a causa do protesto e a maneira bem-humorada como agem os manifestantes.                                                                                                        

Após o exemplo, o professor estimula os alunos a encontrarem na notícia uma manifestação de um outro discurso, que colabora para o objetivo comunicativo do jornalista. Eles deverão perceber que o trecho a seguir contém o discurso oficial da prefeitura de Belo Horizonte, em destaque aqui: "A decisão, assinada pelo prefeito Márcio Lacerda, foi publicada no dia 10 de dezembro do ano passado no Diario Oficial do Município e diz que eventos de qualquer natureza estão proibidos na Praça desde o 1º de janeiro deste ano".

Percebendo isso, ficará claro para os alunos que, apesar da notícia se referir ao discurso oficial, ela o faz de modo indireto, ou seja, não transcreve a fala do próprio prefeito ou de algum representante da prefeitura, mas é relatada pelo jornalista. Essa manifestação do discurso é chamada de discurso indireto. Caso houvesse a transcrição da fala do prefeito ou de um dos participantes do ato de protesto teríamos a manifestação do discurso direto.

                                                                                                                                                                                                                                                    

2ª aula

Para a atividade da segunda aula, o professor apresenta um texto narrativo, conto ou crônica, de preferência, para que os alunos leiam e possam localizar as manifestações do discurso direto e indireto.

Como sugestão, o trecho de uma crônica de Carlos Eduardo Novaes:

                                                                                                                                                                                                                                                              

Titia em apuros   

Minha tia Valda, uma robusta senhora de 68 anos, gostou de uma camisa pólo que viu na vitrine de uma loja de artigos masculinos. Entrou e pediu para experimentar.

— Infelizmente não temos o seu tamanho nessa cor – respondeu o vendedor, solícito. [...]

Tia Valda mal iniciou a ação de bater em retirada, e o vendedor logo despejou um monte de camisas à sua frente.

— Temos essa verde... essa lilás... essa que chegou agora, cor telha, é a última novidade – foi dizendo o vendedor, abrindo as camisas diante de titia. — A senhora deve ficar muito bem de lilás.

Tia Valda preferiu a preta. Pegou a camisa e viu a letra P na etiqueta. Perguntou se não tinha M. Não tinha, mas para não perder a comissão, o vendedor preferiu dizer que P era tamanho da titia. Qualquer vesgo verificaria que tia Valda, com seu corpo de halterofilista búlgara, não caberia dentro daquela camisa. O vendedor, porém, veio com a conversa de que o fabricante fazia números maiores e coisa e tal. Titia acreditou e se enfiou no cubículo de experimentar roupas, que só não se confunde com uma solitária porque há uma cortina no lugar das grades. Vestiu a camisa, constatou que o P significava P mesmo e, no momento de retirá-la, ela ficou presa no meio do caminho, cobrindo a cabeça de titia.

Tia Valda ainda insistiu, debatendo-se entre as paredes do cubículo, mas a camisa encalhara como um navio num banco de areia. Braços erguidos, rosto coberto, titia começou a sentir calor, falta de ar e foi entrando em pânico. Para não sair da cabine às cegas, feito um boi-bumbá, resolveu gritar. Mas gritar o quê? Nunca tinha estado numa situação dessas. O que gritar quando se luta desesperadamente com uma camisa? Sem se lembrar de nada em especial, encheu os pulmões e berrou:

— Socorro! Socorro!

Era de ver: a loja inteira se despencou na direção da cabine, vendedores, fregueses, até a moça do caixa foi atrás. [...]

— Momentinho – pediu o vendedor –, fique calma que nós vamos ajudá-la.

Ele tentou puxar a camisa, mas a essa altura tia Valda tinha o corpo empapado de suor e a camisa resistia mais do que um burro empacado.

— Eu puxo aqui e você puxa daí – disse o gerente. [...]

Depois de muito esforço, a camisa acabou sendo rasgada, para alívio de tia Valda, que arfava como se tivesse passado todo esse tempo debaixo d’água. Ela agradeceu os aplausos e voltou à cabine para se recompor. No momento em que abotoava a blusa, viu um braço varando a cortina do cubículo. Era o vendedor, entregando-lhe uma camisa e dizendo:

— A senhora não gostaria de experimentar este outro modelo?  

NOVAES, Carlos Eduardo. A cadeira do dentista e outras crônicas. 7. ed. São Paulo: Ática, 2001. p. 18-21.

                                                                                                                                                                                                                                                                                   

Atividade:

Após a leitura, os alunos deverão identificar os trechos em que o narrador de 3ª pessoa (observador; onisciente) conta o fato ocorrido com a personagem Tia Valda no interior da loja de roupas, além das ocorrências do discurso direto no diálogo entre Tia Valda e o vendedor. Veja algumas possibilidades para as atividades:

a) No trecho abaixo há o registro do discurso indireto, quando Tia Valda dialoga com o vendedor sobre o tamanho da camisa. Pedir aos alunos que transcrevam o diálogo para o discurso direto.

Tia Valda preferiu a preta. Pegou a camisa e viu a letra P na etiqueta. Perguntou se não tinha M. Não tinha, mas para não perder a comissão, o vendedor preferiu dizer que P era tamanho da titia. Qualquer vesgo verificaria que tia Valda, com seu corpo de halterofilista búlgara, não caberia dentro daquela camisa. O vendedor, porém, veio com a conversa de que o fabricante fazia números maiores e coisa e tal.                                                                                                                                                                                                                                                    

b) No trecho abaixo, há o registro do discurso direto, do personagem vendedor, indicado pelo travessão. Pedir aos alunos que transformem o discurso do vendedor em discurso indireto.

Minha tia Valda, uma robusta senhora de 68 anos, gostou de uma camisa pólo que viu na vitrine de uma loja de artigos masculinos. Entrou e pediu para experimentar.

— Infelizmente não temos o seu tamanho nessa cor – respondeu o vendedor, solícito.    

Abaixo duas possibilidades de respostas após a resolução das atividades propostas.                                                                                                                                         

a) Tia Valda preferiu a preta. Pegou a camisa e viu a letra P na etiqueta. Perguntou ao vendedor:

— Vocês têm o tamanho M? 

— Não temos. - Respondeu o vendedor.

Mas para não perder a comissão, ele tentou convencê-la:

— O seu tamanho é P, senhora. As roupas desta marca são feitas em tamanhos maiores, experimente.

Qualquer vesgo verificaria que tia Valda, com seu corpo de halterofilista búlgara, não caberia dentro daquela camisa.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                  

b) Minha tia Valda, uma robusta senhora de 68 anos, gostou de uma camisa pólo que viu na vitrine de uma loja de artigos masculinos. Entrou e pediu para experimentar. Mas o vendedor, solícito, respondeu que não tinha o tamanho dela naquela cor.                                                                                                                                               

   

Atividade:

Após as atividades de reescrita, pedir aos alunos que construam um quadro onde possam registrar as mudanças ocorridas entre uma e outra modalidade de discurso.

Sugira que observem os tempos verbais, os pronomes, e as marcas de enunciação, como os travessões e os verbos declarativos como "perguntou"; "respondeu"; "preferiu dizer":

discurso indireto

discurso direto

Perguntou se não tinha M.

— Vocês têm o tamanho M? 

Não tinha

— Não temos. - Respondeu o vendedor.

... o vendedor preferiu dizer que P era tamanho da titia.

— O seu tamanho é P, senhora. As roupas desta marca são feitas em tamanhos maiores, experimente.

discurso direto

discurso indireto

                                                                                                                                                                                                                                                       

— Infelizmente não temos o seu tamanho nessa cor – respondeu o vendedor, solícito.

Mas o vendedor, solícito, respondeu que não tinham o tamanho dela naquela cor.    

Com esses exemplos, o aluno poderá perceber algumas das principais transformações que ocorrem na passagem do discurso direto para o indireto e vice-versa.

Os verbos no pretérito imperfeito do indicativo (discurso indireto) passam ao presente do indicativo (discurso direto), como "tinha-têm"; "era-é".

Os pronomes possessivos como "seu" passam da 1ª pessoa (discurso direto) para a 3ª pessoa, "dela" (discurso indireto). Também o pronome demonstrativo "nessa" (discurso direto), passando para "naquela" (discurso indireto).

Recursos Complementares
Avaliação

Para avaliação, o professor pode sugerir aos alunos que criem uma situação em que haja um narrador e dois ou mais personagens.

Para a mesma situação, peça-os que criem um texto cujo narrador introduz o discurso indireto dos personagens e outro em que haja a fala dos personagens no discurso direto.

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