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Conhecendo e combatendo o preconceito linguístico

 

04/08/2010

Autor e Coautor(es)
Livia Fagundes Neves
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JUIZ DE FORA - MG COL DE APLICACAO JOAO XXIII

Andréa Vassallo Fagundes

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: variação linguística: modalidades, variedades, registros
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

A partir desta aula o aluno poderá:

Perceber a existência de falares diferentes no Brasil, através da linguagem oral e de um vídeo que exemplifique essa variedade de sotaques e dialetos em diferentes regiões.

Ler e interpretar texto com vocabulário próprio de uma região do Brasil.

Despertar o interesse pela pesquisa sobre diferentes dialetos.

Possibilitar o trabalho em equipe através de uma pesquisa

Desenvolver a oralidade através da apresentação do resultado da pesquisa solicitada.

Reconhecer o preconceito com a Língua Portuguesa falada em algumas regiões do Brasil, valorizando,o dialeto de cada localidade.

Duração das atividades
Aproximadamente 3 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Ter conhecimentos geográficos acerca da localização e característica de diferentes regiões no Brasil.

Conhecer fatos históricos relativos à colonização do Brasil e ao Tratado de Tordesilhas.

Estratégias e recursos da aula

Momento 1

O professor iniciará a aula mostrando o seguinte vídeo para os alunos:

http://www.youtube.com/watch?v=R8Y5BST_ydc&feature=related 

Neste vídeo um garoto improvisa falas com sotaques de diferentes lugares como: Sul, Santa Catarina, Curitiba, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

No vídeo fica claro que, em cada região do Brasil, há um jeito de falar diferente. Assim, após os alunos terem assistido, o professor irá perguntá-los o que eles acharam do vídeo, se gostaram, se conhecem alguém que fale como um dos meninos falou, etc.

Após ouvir os alunos, o professor comentará que, no Brasil, há uma imensa variedade de sotaques ou de jeitos de falar e que cada região tem palavras próprias e um modo bem peculiar de se expressar.

O professor perguntará aos alunos se eles conhecem aqueles sotaques ouvidos no vídeo e se acham que algum daqueles sotaques é mais bonito ou mais certo que o outro.

O professor ouvirá as respostas e comentará com os alunos que algumas pessoas acham que determinados sotaques ou dialetos são mais chiques, mais certos e mais prestigiados que outros, mas que isso não é verdade, porque cada um deles é típico de uma região e caracteriza aquela localidade, não sendo nem melhor nem pior, apenas diferente.

O professor complementará sua fala, dizendo que na sociedade muito se comenta sobre preconceito racial, preconceito com deficientes, preconceito com gordos, etc, mas que há um tipo de preconceito que muitos nem sabem que existe, que é o preconceito com a nossa língua: o preconceito línguístico.

Esse preconceito com a língua se manifesta quando uma pessoa, ou um grupo de pessoas, discrimina um outro grupo devido a sua maneira de falar. É muito comum ouvirmos dizer que alguém fala errado ou que o sotaque caipira é feio e engraçado. Mas precisamos saber que cada povo e região têm um modo de falar, tem vocabulários típicos, apenas diferentes e merecedores de respeito.

Momento 2

Para complementar essa ideia o professor mostrará outro vídeo para os alunos:

http://www.youtube.com/watch?v=3kz0DWDV2gM&feature=related 

Nesse vídeo um caipira conta um caso de sua família.

O professor comentará com os alunos que aquela linguagem do caipira sofre bastante preconceito na sociedade e enfatizará que aquele falar é apenas um dentre os vários que existem, não podendo ser classificado como "pior" nem "melhor" do que outro.

Momento 3

a) Para continuar exemplificando as diferenças nos falares brasileiros, o professor entregará o texto abaixo para os alunos lerem, dizendo que eles vão conhecer (caso os alunos não sejam moradores dessa região) um pouco da fala dos gaúchos (moradores do Rio Grande do Sul)

Gaúcho, o Dialeto Crioulo Rio-Grandense

Autor: Felipe Simões Pires

Adaptado por Lívia Neves

Retirado do site: http://www.orbilat.com/Languages/Portuguese-Brazilian/Dialects/Brazilian_Dialects-Gaucho.html 

Historicamente, o Rio Grande do Sul, estado ao extremo sul do Brasil, sempre foi uma região de conflitos e de culturas diversas. Numa área pertencente à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas, alguns portugueses fincaram o pé em partes da localidade no intuito de tomar as terras dos espanhóis, mas esqueciam-se todos que os donos legítimos da terra eram os índios.

Na prática, nunca houve divisão de fato dos territórios do pampa rio-grandense, pampa argentino e pampa uruguaio, proporcionando uma integração – nem sempre pacífica – entre os três povos. Do convívio entre os imigrantes espanhóis e portugueses com os índios surgiram muitas misturas raciais originando o que se chamou de “raça gaúcha” e o surgimento involuntário de uma cultura completa que era compartilhada pelos povos. Em conflito constante com os “castelhanos” (argentinos e uruguaios de ascendência castelhana) e com os portugueses (então colonizadores do Brasil), os gaúchos continuavam ignorando os limites políticos entre os territórios, mas criavam seu próprio isolamento  cultural. 

Na tentativa de não se identificarem nem com os portugueses (dominadores) e, posteriormente, brasileiros, nem com os espanhóis (invasores), os rio-grandenses criaram um modo particular de vestir, falar e agir. Os hábitos do churrasco, do chimarrão, da indumentária e quase toda a tradição permaneceram muito semelhantes após todo o período de ebulição, mas a língua foi diferenciando-se.

Numa tentativa de mostrar para os “castelhanos” que falavam português e para os “imperialistas” que falavam espanhol, adicionando-se muitas expressões indígenas e algumas africanas, surgiu uma linguagem híbrida, compreendida por todas as partes envolvidas no período, mas impossível de ser dominada por um “xucro”. Marcado pela grande ligação afetiva do gaúcho por seus animais, a maioria das expressões que se referem a animais, também se referem às pessoas.

b) Em seguida, o professor distribuirá uma expressão abaixo para cada aluno. Eles, por sua vez, dirão para a turma a expressão que receberam e a turma deverá descobrir o significado dessa expressão, mesmo que intuitivamente.

Algumas expressões típicas da gauchada:

Abichornado – acovardado, apequenado.

Afeitar – espanhol – fazer a barba

Âiga-te (âigale-te) – espanhol – surpresa que enaltece o que foi ouvido.

A la pucha (a la putcha) – espanhol – surpresa que enaltece o que foi ouvido.

Alcaide – provavelmente espanhol– cavalo velho, ruim inútil; serve para pessoas também.

Andar a/pelo cabresto – português – o mesmo termo que designa a condução do animal, indica que alguém está sendo conduzido por outro.

Andar de rédea solta – português – também se referindo a pessoas, significa que alguém não sofre controle estrito de nada nem ninguém; um momento de folga.

Balaquear – crioulo – gabar-se, mentir, conversar fiado; vanguardar-se.

Barbaridade – português – barbarismo. Espanto.

Bate-coxa – português – baile, dança.

Bombacha – espanhol platino – peça (calça) que caracteriza a indumentária gaúcha. Tem origem turca e foi introduzida na América pelos comerciantes ingleses, de presença marcante no pampa platino.

Buenacho – espanhol – muito bom, excelente; bondoso, cavalheiro.

Campanha – português – planície rio-grandense; pampa.

Capilé – francês – refresco de verão, feita com um pouco de vinho tinto, água e muito açúcar.

Castelhano – espanhol – indivíduo oriundo de Uruguai ou Argentino

Cevador – português – pessoa que prepara o chimarrão e o distribui entre os que estão tomando.

Charque – espanhol platino – carne de gado, salgada em mantas.

Chasque – quíchua – mensageiro, estafeta.

Chiru (xiru) – tupi – índio velho, indivíduo de raça cabocla.

Chucro (xucro) – quíchua – animal arisco, nunca domado; pessoa de mesmo temperamento ou sem empirismo, inexperiente.

Cusco – espanhol platino, provavelmente já emprestado do quíchua – cachorro pequeno e de raça ordinária (ou sem); guaipeca.

De orelha em pé – português – da mesma forma que o animal de sobreaviso ergue as orelhas, tal supõe-se faça o homem.

Engasga-gato – português – ensopado feito com pedaços de charque da manta da barrigueira.

Garupa – francês - A parte superior do corpo das cavalgaduras que se estende do lombo aos quartos traseiros; também usado para definir a mesma área no corpo humano.

Gaúcho – origem desconhecida – termo, inicialmente, utilizado de forma pejorativa para descrever a cruza ibero-indígena, hoje é o gentílico de quem nasce no estado do Rio Grande do Sul.

Gauchada – crioulo – grande número de gaúchos; façanha típica de gaúcho, cometimento, muito arriscado, proeza no serviço campeiro, ação nobre, impressionante.

Gauderiar – espanhol platino – vagabundear, andar errante, sem ocupação séria; haragano.

Gaudério – espanhol platino – vagabundo, desocupado, nômade. Atualmente, é uma referência estadual ao povo da campanha, simplesmente, como gaúcho.

Guaiaca – quíchua – invenção gauchesca que se usa sobre o “cinturão europeu”. Significa bolsa em sua língua original.

Guaipeca – tupi – cachorro pequeno e de raça ordinária (ou sem), cusco. Guri – tupi – criança, menino; serviçais que faziam trabalho leve nas estâncias.

Haragano – espanhol – Nômade, renitente; cavalo que dificilmente se deixa agarrar.

Japiraca – tupi – mulher de temperamento irascível, insuportável. Jururu – tupi – triste, cabisbaixo, pensativo.

Macanudo – indicado como sendo espanhol platino – bom, superior, poderoso, forte, inteligente, belo rico, respeitável; um adjetivo positivo de uso genérico.

Mate – quíchua – bebida preparada em um porongo, com erva-mate e água quente; chimarrão.

Minuano – indicado como sendo espanhol platino – vento andino, frio e seco, que sopra do sudoeste no inverno.

Morocha – espanhol platino – moça morena, mestiça, mulata; rapariga de campanha.

Nativismo – português – amor pelo chão onde se nasce e sua tradição.

Orelhano (aurelhano) – espanhol platino – animal  sem marca nem sinal; também serve para pessoas.

 Pago – espanhol/português – lugar onde se nasceu. Como o gaúcho original era um nativo descendente de imigrantes e não pretendia deixar seu solo em hipótese alguma, o termo também designa, genericamente, a região da Campanha.

Pampa – quíchua – vastas planícies do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, coberta de excelentes pastagens que servem para criação de gado. Em quíchua, “pampa” significa “planície”. Paisano – português/espanhol – patrício, amigo, camarada; camponês e não-militares.

 Pelo duro – espanhol – crioulo, genuinamente rio-grandense; também significa pessoa ou animal sem estirpe.

Poncho – origem incerta, araucano ou espanhol – espécie de capa de pano de lã de forma retangular, ovalada ou redonda, com uma abertura no centro, para a passagem da cabeça.

Puchero (putchero) – espanhol – sopão com muito vegetal e carne de peito, sem tutano e sem pirão.

Querência – espanhol – o lugar onde se vive. Derivado de “querer”, caracteriza o amor que o gaúcho tem pela sua terra.

Tapejara – tupi – vaqueano, guia ou prático dos caminhos; gaúcho perito, conhecedor da região.

Tchê – provavelmente espanhol – termo vocativo pelo qual se tratam os gaúchos. É o mesmo “che” (‘txê’) do espanhol, que se consagrou com Ernesto Guevara, o “Che”.

 Topete – português/espanhol – audácia, arrogância, atrevimento; saliência da erva-mate que fica fora d’água na cuia de chimarrão.

Tropeiro – português/espanhol – condutor de tropas, de gado.

c) Após a atividade de leitura individual, oral, e reconhecimento das expressões, o professor comentará com os alunos que uma língua ou um dialeto tem uma história de formação como eles puderam observar nesse texto, o qual explicou como o sotaque gaúcho se formou.

Além disso, o professor destacará quantas palavras são típicas dessa região e como o dialeto no sul se difere de outras regiões. O professor continuará dizendo que uma mesma língua: o português tem inúmeras variações e que algumas vezes pessoas de regiões diferentes podem nem se entender devido a essas especificidades.

Em seguida, o professor explicará quem é o crioulo, um descendente de europeu nascido no Brasil e pedirá que os alunos respondam às seguintes perguntas no caderno, de acordo com o texto lido:

1) Por que a região sul do Brasil era uma região de conflitos? (porque a área era pertencente à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas e alguns portugueses fincaram o pé em partes da localidade, no intuito de tomar as terras dos espanhóis)

2) O que era a "raça gaúcha"? (Era a raça originada do convívio entre os imigrantes espanhóis e portugueses com os índios )

3) O que era o "isolamento cultural" dos gaúchos a que o texto se refere? (Os gaúchos criavam uma cultura própria e isolada, diferente dos estrangeiros que habitavam também a mesma região).

4) Nesse processo de isolamento da cultura, qual aspecto se diferenciou mais? (A língua)

5) Você conheceu a história do dialeto do sul e algumas palavras típicas. Você conhece palavras e expressões típicas de uma outra região do Brasil? (Pessoal)

O professor comentará as respostas dos alunos e a partir da questão 5 incentivará os alunos a pesquisarem em casa palavras e expressões típicas de outra região.

Momento 4

O professor dividirá a turma em 4 grupos e determinará qual grupo pesquisará a respeito do sotaque: do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

Ele orientará os alunos a pesquisarem em livros e internet e a perguntarem aos familiares se conhecem palavras ou expressões típicas dessas regiões e como é o sotaque desse local.

Os alunos, após a pesquisa em casa, se reunirão em sala, em uma aula posterior, e anotarão essas palavras em um cartaz  ou em uma cartolina.

Em seguida, irão à frente da sala e mostrarão o cartaz para os outros colegas de turma, lendo-o e comentando as expressões e sotaques de cada região.

Momento 5 

Após todas as apresentações, o professor comentará com os alunos as diferenças na língua entre os Estados e enfatizará que nenhum falar ou sotaque é melhor, nem pior, nem mais bonito e nem mais certo que o outro. Percebemos apenas diferenças devido a questões históricas e que diferenças são comuns nas relações dos seres humanos, portanto, devemos respeitar todos os sotaques e combater o preconceito linguístico.

Momento 6

Caso a escola tenha um laboratório de informática com internet, o professor  poderá criar, com os alunos, um blog apresentando os verbetes característicos da região na qual eles estão inseridos. Nesse blog, outros alunos, de outras regiões, poderão contribuir com outros verbetes.

Recursos Complementares
Avaliação

O professor avaliará se os alunos entenderem a diversidade de sotaques e dialetos nas regiões do Brasil, através das conversas sobre os vídeos e da leitura e interpretação do texto lido.

As respostas do texto lido serão avaliadas e o professor verificará se os alunos compreenderam o conteúdo da leitura.

Além disso, o professor avaliará se os alunos trabalharam em grupos, pesquisando diferentes dialetos e se souberam sintetizar as informações e apresentá-las oralmente para os colegas.

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