Esta aula destina-se a fazer com que os alunos produzam, a partir de poesias, textos em prosa de gêneros diversos, como diálogo, notícia, conto ou carta.  Dessa forma, pretendemos levá-los a compreender as diferenças de organização textual e da função comunicativa que se destacam entre poesia e prosa.

Aproximadamente 2 aulas de 50 minutos.

Uma vez que o objetivo desta aula é focalizar apropriadamente a transposição de tipos textuais, e não os gêneros textuais em si que darão forma à poesia e à prosa, seria importante que os alunos já tivessem trabalhado com poesias e com diferentes gêneros em prosa.

Atividade 1

Para iniciar esta aula, o professor deve apresentar aos alunos o poema a seguir, de Vinícius de Moraes, solicitar que façam uma leitura silenciosa e, posteriormente, procurem no dicionário o significado da palavra DIALÉTICA.

Dialética

É claro que a vida é boa

E a alegria, a única indizível emoção

É claro que te acho linda

Em ti bendigo o amor das coisas simples

É claro que te amo

E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...

Fonte (poema): http://www.pensador.info/poemas_vinicius_de_moraes/, acessado em 26 de maio de 2010. 

Fonte (imagem): http://marialuizanrodrigues.blogspot.com/2010/09/dialetica-vinicius-de-moraes.html, acessado em 3 de dezembro de 2010. 

O professor deve anotar na lousa (quadro), de forma esquemática, os conceitos mais relevantes apontados pelos alunos para a definição de "dialética", como mostramos a seguir.

Dialética: s.f. 1. Arte de argumentar ou discutir. 2. Maneira de filosofar que procura a verdade por meio de oposição e conciliação de contradições (lógicas ou históricas). 3. Arte de raciocinar com método. 4. Lógica. Fontes:  (1 e 2) http://www.dicio.com.br/dialetica/, (3 e 4) http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=dial%C3%A9ctica, acessados em 26 de maio de 2010.

O professor deve promover uma breve discussão visando à interpretação do poema de Vinícius de Moraes, seguindo as questões em "a", "b" e "c".

Questões:

a) O eu-lírico apresenta algumas considerações como evidentes. Qual é a expressão que nos indica essa perspectiva de evidência?

b) Qual é a consideração que se mostra como contraditória dentro do poema? Como ele explica essa contradição?

c) A partir dos conceitos de "dialética" discutidos anteriormente e da leitura feita do poema, explique o seu título.

Depois que os alunos tiverem respondido às questões, o professor deve fazer uma correção, solicitando que alguns deles exponham as suas respostas.

Para finalizar esta atividade, os alunos devem se reunir em duplas e fazer o exercício a seguir:

• A partir do poema "Dialética", estabeleçam uma conversa informal entre amigos, baseada em perguntas e respostas. Ou seja, uma pessoa pergunta e a outra responde; e assim, sucessivamente. Não deixem de dar prosseguimento ao diálogo, apresentando uma explicação coerente e criativa à última consideração feita no poema,  "Mas acontece que sou triste..." e revelando um esforço do interlocutor em entender os sentimentos do amigo.

Observação: O professor deve chamar a atenção dos alunos para a mudança de registro, ou seja, como se trata de um diálogo entre amigos, o texto deve versar sobre o mesmo assunto tratado pelo poema, mas em uma linguagem menos poética. O professor pode fazer isso perguntando aos alunos, por exemplo, como eles diriam em uma conversa entre amigos o conteúdo da seguinte frase: "E a alegria, a única indizível emoção".

Sugerimos, ainda, que, depois que os alunos tenham concluído o diálogo, o professor apresente a eles o conceito de FUNÇÕES DE LINGUAGEM, pedindo que reconheçam qual é a função de linguagem que se sobressai no poema e qual é a função de linguagem que se sobressai no diálogo que acabaram de fazer.

Funções da linguagem são recursos de ênfase que atuam segundo a intenção do produtor da mensagem, cada qual abordando um diferente elemento da comunicação. Um texto pode apresentar mais de uma função enfatizada. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fun%C3%A7%C3%B5es_da_linguagem, acessado em 28 de maio de 2010.  Função referencial: referente é o objeto ou situação de que a mensagem trata. A função referencial privilegia justamente o referente da mensagem, buscando transmitir informações objetivas sobre ele. Essa função predomina nos textos de caráter científico e é privilegiado nos textos jornalísticos. Função emotiva: através dessa função, o emissor imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal: emoções, avaliações, opiniões. O leitor sente no texto a presença do emissor. Por exemplo, quando se usam expressões como "eu acho", "na minha opinião", "sinto que". Função conativa: essa função procura organizar o texto de forma a que se imponha sobre o receptor da mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o. Nas mensagens em que predomina essa função, busca-se envolver o leitor com o conteúdo transmitido, levando-o a adotar este ou aquele comportamento. Como exemplo, temos os textos das propagandas de TV, que tentam convencê-lo de que você vai ser mais feliz se comprar um determinado relógio ou um novo jeans para o seu namorado. Função fática: a palavra fático significa “ruído, rumor”. Foi utilizada inicialmente para designar certas formas que se usam para chamar a atenção (ruídos como psiu, ahn, ei). Essa função ocorre quando a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação ou contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência. Função metalinguística: quando a linguagem se volta sobre si mesma, transformando-se em seu próprio referente, ocorre a função metalinguística. Como exemplo, temos os textos das gramáticas. Função poética: quando a mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de ideias, temos a manifestação da função poética da linguagem. Essa função é capaz de despertar no leitor prazer estético e surpresa. É explorado na poesia e em textos publicitários. Essas funções não são exploradas isoladamente, de modo geral, ocorre a superposição de várias delas. Há, no entanto, aquela que se sobressai, assim podemos identificar a finalidade principal do texto. CABRAL, Marina. Equipe Brasil Escola. In: http://www.brasilescola.com/redacao/as-funcoes-linguagem.htm, acessado em 28 de maio de 2010.

Ao final, algumas duplas devem encenar para a turma o diálogo que fizeram.

Atividade 2

Na segunda parte da aula, o professor deve mostrar aos alunos um trecho da música "Construção", composta e interpretada por Chico Buarque.

Observação: Se houver recursos, sugerimos que o professor escute com os alunos a canção, que pode ser encontrada em <http://www.radio.uol.com.br/#/busca/musica/constru%C3%A7%C3%A3>, acessado em 27 de maio de 2010. 

Construção

Chico Buarque

Amou daquela vez como se fosse a última

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido

Subiu a construção como se fosse máquina

Ergueu no patamar quatro paredes sólidas

Tijolo com tijolo num desenho mágico

Seus olhos embotados de cimento e lágrima

Sentou pra descansar como se fosse sábado

Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe

Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago

Dançou e gargalhou como se ouvisse música

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último

Beijou sua mulher como se fosse a única

E cada filho seu como se fosse o pródigo

E atravessou a rua com seu passo bêbado

Subiu a construção como se fosse sólido

Ergueu no patamar quatro paredes mágicas

Tijolo com tijolo num desenho lógico

Seus olhos embotados de cimento e tráfego

Sentou pra descansar como se fosse um príncipe

Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo

Bebeu e soluçou como se fosse máquina

Dançou e gargalhou como se fosse o próximo

E tropeçou no céu como se ouvisse música

E flutuou no ar como se fosse sábado

E se acabou no chão feito um pacote tímido

Agonizou no meio do passeio náufrago

Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina

Beijou sua mulher como se fosse lógico

Ergueu no patamar quatro paredes flácidas

Sentou pra descansar como se fosse um pássaro

E flutuou no ar como se fosse um príncipe

E se acabou no chão feito um pacote bêbado

Morreu na contramão atrapalhando o sábado

[...]

Fonte: http://letras.terra.com.br/chico-buarque/45124/, acessado em 27 de maio de 2010.

Após os alunos terem lido (e escutado) a música, eles devem perceber que o fragmento apresentado pode ser dividido em três partes. O professor deve, então, provocar uma reflexão sobre a letra da canção a partir dos questionamentos de "a" a "e", a seguir:

Questões:

a) Podemos dividir o fragmento de "Construção" em três partes. O que cada uma destas partes nos apresenta?

b) O que se mantém constante no enredo apresentado por cada uma das partes?

c) Trace um perfil do personagem apresentado na canção e destaque, no texto, os elementos que lhe permitem constituir esse perfil.

d) Imagine que esta canção apresente o conteúdo de uma notícia. Proponha um título a esta notícia.

Depois que os alunos tiverem respondido às questões, elas devem ser discutidas. Em seguida, o professor deve apresentar aos alunos a notícia a seguir e pedir que os alunos observem: a organização do texto, a distribuição das informações - como se introduz, como se desenvolve e como se conclui a notícia -, a linguagem (se é objetiva ou subjetiva), se o autor tece comentários sobre o fato noticiado, quais são as fontes consultadas para se construir a notícia.

Acidente interdita faixa da rodovia Ayrton Senna em Guarulhos (SP)

28/05/2010

Um acidente entre dois carros provocou a interdição de uma das faixas da rodovia Ayrton Senna na tarde desta sexta-feira no km 16, em Guarulhos (Grande São Paulo). Por volta das 15h, a faixa da esquerda permanecia bloqueada, mas não havia registro de congestionamento no local.

De acordo com a concessionária Ecopistas, responsável pela estrada, o acidente aconteceu no início da tarde, na pista sentido interior, e não deixou feridos. Por volta das 15h, ainda não havia previsão para a liberação da faixa interditada.

Além do problema na Ayrton Senna, a concessionária informou ainda que uma das faixas da rodovia Carvalho Pinto também estava interditada no horário em decorrência de uma queda de carga, de um caminhão quebrado, no km 127, sentido São Paulo.

O tráfego na estrada acontecia normalmente pelas faixas da direita e pelo acostamento e não havia registro de congestionamento. A concessionária não soube informar que tipo de carga estava no local ou quando o trecho será liberado.

Fonte: http://noticias.bol.uol.com.br/folhaonline/cotidiano/2010/05/28/acidente-interdita-faixa-da-rodovia-ayrton-senna-em-guarulhos-sp.jhtm, acessado em 28 de maio de 2010. 

Tendo observado a notícia "Acidente interdita faixa da rodovia Ayrton Senna em Guarulhos (SP)", os alunos devem tomá-la como exemplo para fazer o exercício a seguir, com o qual devem finalizar esta atividade:

• Escolha uma das três partes da música "Construção" e, a partir dela, crie uma notícia a ser publicada no jornal da sua cidade. Faça as modificações que julgar necessárias no vocabulário e acrescente informações que julgar pertinentes.

Ao final desta atividade, os alunos devem responder a questão:

e) Qual é a função de linguagem predominante no texto que você acabou de produzir?Explique.

O professor deve, por fim, recrutar alguns alunos para lerem para a turma a notícia que fizeram.

Atividade 3

Para esta última atividade, o professor deve solicitar aos alunos que escolham livremente um poema ou uma música. Em sala de aula, os alunos devem colocar o poema ou música que escolheram em uma caixa, de modo a colocá-lo (la) à disposição de seus colegas. Posteriormente, dessa mesma caixa, cada aluno deve sortear o poema ou a música, com o(a) qual irá trabalhar.

A partir do poema ou da música que têm em mãos, os alunos devem redigir uma carta.

Antes que os alunos comecem esta atividade, o professor deve solicitar-lhes que definam os seguintes elementos de sua carta:

• Local e data: de onde você escreve e quando?
• Destinatário: a quem você escreve?
• Qual é o nível de intimidade que você tem com o seu destinatário? Isso vai determinar o grau de formalidade da carta. (Observação: O professor deve solicitar aos alunos que escolham interlocutores diferentes, pois, dessa forma, poderão comparar os diferentes registros utilizados.)
• Saudação: como você se dirige ao seu destinatário? Isso depende do grau de intimidade que você tem com ele.
• Assunto: sobre o que você vai falar nesta carta?
• Objetivo: você escreve esta carta para quê? Dar boas-vindas? Contar alguma novidade? Pedir alguma coisa? Felicitar? Reclamar de alguma coisa?
• Despedida: qual é o tipo de saudação final utilizada? Isso também depende do grau de intimidade que você tem com o seu destinatário, além de depender do assunto tratado (se triste ou alegre, se formal ou informal).

Depois que tiverem escrito a carta, os alunos devem enviá-la para algum colega de classe por meio dos serviços de correio.

Sugerimos ao professor a seguinte bibliografia, na qual ele pode encontrar contos feitos a partir de canções:

SCLIAR, M. et ali. Aquela canção: 12 contos para 12 músicas. São Paulo: Publifolha, 2005.

A compreensão das propostas pelos alunos será avaliada a partir do esclarecimento (correção) em sala de aula de cada uma das atividades.

Sugerimos como atividade avaliativa que o professor solicite aos alunos o seguinte exercício:

• Tendo recebido a carta enviada por um de seus colegas na Atividade 3, você deve reconhecer no texto recebido a função de linguagem predominante. Para isso, você deve fazer um quadro esquemático com duas colunas. De um lado, coloque as expressões que caracterizam o poema ou a música como predominantemente um texto de função poética; de outro lado, coloque as expressões utilizadas na carta, caracterizando-as segundo a função de linguagem que representam.

Ao final, o professor deve recolher este exercício e fazer as devidas correções.