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Coleção Literatura para todos: contando crônicas

 

09/08/2010

Autor e Coautor(es)
Ana Paula Campos Cavalcanti Soares
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BELO HORIZONTE - MG Universidade Federal de Minas Gerais

Sulamita Nagem Dias Lima

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo Língua Portuguesa Leitura e escrita de texto
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo Língua Portuguesa Linguagem oral
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

- Conhecer esses textos através da leitura oral do professor, identificando elementos como título, personagens, complicação e desfecho.

- Ler contos e crônicas, identificando narrador, personagens, enredo.  

- Escrever, com ajuda do professor e dos colegas, pequenas histórias do cotidiano, anedotas ou contos conhecidos.

Duração das atividades
03 horas/aula
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

- Dominar as relações grafema e fonema.

- Gênero textual: notícia: forma composicional, linguagem, função e contexto de circulação.

Estratégias e recursos da aula

As estratégias a serem utilizadas são:

- aula interativa;   

- trabalho em grupo;   

- texto impresso;   

- produção de textos;   

Desenvolvimento   

Obs:   - É sugerido que o professor trabalhe com o gênero crônica, utilizando a Coleção Literatura para todos, em específico o volume “Tubarão com a faca nas costas” que se encontra no endereço: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=50034   

Capa Tubarão com faca nas Costas. Fonte: www.homenzinhocapenga.blogspot.com     

- O trabalho com esse volume deve ser realizado a partir de leituras deleites que devem ser realizadas diariamente, com o objetivo de fruição da leitura. Sugere-se que o professor leia uma crônica por dia.   

1ª atividade:  

 a)       Solicitar que os alunos se organizem em grupo. Reunidos em equipe, os alunos deverão contar situações vividas no dia a dia por eles ou por outras pessoas. Após a socialização das histórias, os alunos deverão eleger, dentre as histórias do grupo, a mais interessante.  

 b)      O professor entrega o texto abaixo, propondo que os alunos façam a leitura do mesmo.   

Tubarão com a faca nas costas

Cézar Dias   

Duas vezes apontei uma faca para alguém. A primeira, lembro-me nítido, foi na madrugada em que o Brasil jogou contra a Inglaterra, pelas quartas de finais da Copa do Mundo de 2002. Quando abrir a porta de casa, embriagado de cuba libre e cerveja, meu pai, com uma cara que não consigo descrever, disse: “estamos sendo assaltados”. O ladrão, sujeito grande, mas vesgo de drogado, ao meu ver decidiu pegar o que já estava à mão e sair por onde entrei. Depressa fui à cozinha, apanhei da gaveta uma faca e corri escada abaixo atrás dele. Não foi difícil avançar: ele estava atrapalhado com a bolsa de viagem uma das mãos e o aparelho de som na outra. Apontei-lhe a faca sei lá com que intenção; para não ser pego, ele jogou em cima de mim o que pretendia roubar e saiu correndo ruma à escuridão de uma ruazinha próxima. Mesmo voltando para casa em todas as coisas que o ladrão quisera levar quase intactas (o aparelho de som estava um pouco avariado), fiquei assustado com a possibilidade de esfaqueá-lo. Lembro que pensei em como teria me sentido se tivesse, realmente, furado aquele sujeito. “Mal”, foi a resposta que me dei. Porque não faz parte da minha índole tal gesto. Porém, esses dias apontei de novo uma faca para alguém. Na verdade, para um cachorro. Mas chamo-o “alguém” porque ajudei a criá-lo. Trata-se do Shark, o Bull Terrier da filha da minha namorada. Ele, que sempre foi dócil enquanto filhote, de uns meses para cá, mesmo me vendo com bastante frequência, vinha me mostrando agressivo, rosnava e até tencionou me morder algumas vezes. Foi por um descuido – ele deveria estar sempre preso – que o bicho entrou na cozinha, onde me encontrava tomando café, e se pôs a rosnar do meu lado e a investir contra mim, quase me mordendo o rosto e arranhando-me nos braços e costas. Depois, quando finalmente consegui ficar de pé, ele parou na minha frente, latindo com ferocidade e querendo me morder. Então, vi em cima da mesa uma faca, pequena, dessas que usamos para empurrar a comida para cima do garfo. E para a minha tristeza, a dele e a da minha namorada, não só apontei-lhe dita. Como ele veio para cima de mim com patas e dentes, cravei-a em seu cangote. Não gostei nada de ter feito isso, mas na hora não consegui pensar noutra coisa. Pobre bicho. Com a lâmina inteira cravada em sua carne, acalmou-se e foi choramingando para baixo da mesa. Logo depois voltou para o quintal, de onde não deveria ter saído. Agora ele está bem. A lâmina, retirada pelas mãos bondosas da minha namorada, não perfurou nenhum órgão vital nem lhe rompeu qualquer importante veia. Mas o dia, esse ficou capenga, esquisito. E tínhamos acordado com o espírito preparado para a comilança, para a música e para as boas risadas que um sábado agradável pede.         

http://www.scribd.com/doc/3344825/Literatura-Cronicas-Tubarao-Com-a-Faca-Nas-Costas     

c)      Em seguida, o professor propõe uma discussão a partir das questões:             

- Quem está narrando a história?          

- Que fato do cotidiano a história está narrando?  

- Que sentimentos o narrador – personagem sentiu durante a história?           

- Fatos como o que foi narrado na crônica acontecem na vida real?

d)     Após a discussão anterior, o professor informa aos alunos que o texto lido é uma crônica e discute algumas características desse gênero, tais como:

- narra fatos do cotidiano apresentados segundo a ordem de sucessão no tempo;

- é um texto curto, breve, simples de interlocução direta com o leitor;

- sem muitos conflitos dos personagens;

- veiculado em jornais, revistas e livros;

- tem a função de agradar o leitor.   

OBS: Ver mais informações nos recursos complementares.   

2ª atividade:   

a)      Com o objetivo de que os alunos tenham mais contato com o gênero crônica, o professor organiza a sala em 05 grupos e entrega a cada um deles uma crônica retirada do  endereço:  http://www.scribd.com/doc/3344825/Literatura-Cronicas-Tubarao-Com-a-Faca-Nas-Costas     

1) Na fila, um velhinho  Eram 5 da manhã quando o relógio despertou. Pulamos do pequeno colchonete que há na precária casa emprestada de um amigo, nos vestimos e, sem café nem nada, saímos para tentar uma ficha para o dermatologista, no posto de saúde da Avenida João Pessoa. É que, já faz um tempo, apareceu uma alergia no rosto da Maira. Uma alergia que a deixa com cara de não Maira. Que incomoda, talvez, mais a mim do que a ela. Mas não. Acho mesmo que incomoda mais a ela, porque na rua, indo para onde tínhamos de ir, ela parecia com tanta vontade de chegar e entrar na fila que, num determinado momento da caminhada, olhou um pouco brava para mim e disse: “parece que tu estás passeando. Se eu te acompanhar, vou dormir em pé ou acabar perdendo lugar na fila”. E era verdade: minhas pernas, àquela hora, nem que eu quisesse iam conseguir andar mais rápido. Quando vi, ela já estava a uns bons metros à minha frente. Mas fui, meio que a cuidando de longe, seguindo no meu passo, às cinco e meia da manhã. Fila de posto de saúde, como qualquer um pode imaginar, é uma tristeza. Aquela não estava diferente. Os primeiros a chegar encontravam-se deitados no chão,dormitando desconfortáveis; outros tinham ajeitado com um caixote de madeira uma mesa para descansar seus copos e a térmica do café; outros mais, sentados junto à grade do prédio, esperavam, inexpressivos, a distante hora da distribuição das fichas. Mas um velhinho que entrou na fila atrás de nós se destacava. Parecia ter vindo do interior, e estava tão acordado que contrastava com todos ali. Enquanto a maioria se preocupava com o “será que vou conseguir uma ficha?”, ele chamou a atenção comentando o tamanho de um pé de mamão que nascera no pátio da casa vizinha ao posto. “Nunca vi um desse tamanho”, disse mais para si mesmo. Uma boa parte da fila virou-se. Ele continuou, falando agora também para nós: “e tem um mamãozinho lá em cima”. Não sei como ele conseguia ver a fruta – parecia ter uns 70 anos, e a luz daquela hora ainda não era propícia. Depois nos disse outras frases bonitas de se ouvir naquela fila horrível de se estar: “como é que vão fazer para tirar ele dali? Eu gosto desse tipo de mamão”. Ou: “é, esse pé não teve medo de crescer. Não se encabulou”. Ainda contou que viu a famosa enchente de 1941, em Porto Alegre. “Foi um horror. Mas até que não morreram muitos. Ainda sei de cor quantos foram: só 3.200 pessoas”, brincou. Na época tinha 16 anos: “Nasci em 1925”, disse, “vou fazer 81”. Também falou de Getúlio e outros presidentes, das vilas onde morou e que hoje não existem mais. Mas em nenhum momento foi chato, pedante, como podem ser tantos outros da mesma idade. Só deu uma reclamadinha – afinal falo de um ser humano – quando já estava perto de receber sua ficha. “Ah, gente na minha idade devia entrar direto!”. Por fim, recebeu o papel que lhe dava direito a uma consulta após as 13 horas. Comentei mais tarde com a Maira que, seja lá o especialista que esse senhor tinha ido consultar, o médico só poderia dizer: “vá para casa, seu Antônio. Não tem mais  nada lhe incomodando. Volte para o seu sítio lá em Viamão e cuide bem do seu mamoeiro”. Tomara!  

 2)       O uruguaiozinho Quando guri, a bola era um ímã. Bastava entrar com ela num campinho para a gurizada aparecer. Por causa dela, arrebanhei muitos amigos. E lá no prédio onde cresci, na cidade de Caxias do Sul, fiz minhas melhores amizades é claro que me utilizando da bola. Era só pegá-la e sair correndo escada abaixo que todos aqueles meninos entre nove e onze anos que moravam no prédio vinham também. Depois do par ou ímpar para escolher os times, jogávamos até que uma de nossas mães gritasse lá de cima para subirmos já – a que horas íamos fazer nossos temas?! Mas enquanto ninguém aparecia na janela para nos interromper, era drible para cá e para lá,chapeletas, meias luas e janelinhas. Um era Zico, outro, Falcão, e assim por diante. E quando uma falta era marcada, quem a cobrasse tinha de se chamar Éder, nem que precisasse trocar de nome. Então, numa tarde, à porta do pátio onde jogávamos, ele apareceu. Tinha as meias quase nos joelhos, uns tênis de marca diferente, era louro e trazia, debaixo do braço, uma bola. Tratava-se de Álvaro Alejandro Perez Gabito, um uruguaiozinho de nove anos que tinha vindo morar no prédio por aqueles dias. E a bola que ele trazia... que bonita era! Amarela, com uns gomos pretos. Fomos até ele e perguntamos se queria jogar. “Sí”, respondeu em espanhol. Não sei se porque ele quis ou se foi nossa habitual falta de tato, mas o Álvaro (ele pronunciava Álbaro) acabou indo para o gol. Enquanto Zico tabelava com Sócrates, que passava de calcanhar para Batista, que de primeira lançava Falcão, o arqueiro da seleção uruguaia, Rodolfo Rodríguez, nos mirava cheio de pose embaixo das traves da única goleira existente no pátio. Nosso novo amigo não tinha o menor jeito nem para defender, nem – descobrimos depois – para ficar na linha. Ainda assim gostamos dele e da bola amarela e preta – cores do Peñarol, time pelo qual torcia lá no Uruguai. Hoje, não sei que fim levou o Álvaro. Nem que fim, aliás, levaram os outros. Sei que vim para Porto Alegre e fui estudar Letras.  E na faculdade acabei fazendo mais amigos. O ímã de agora é um objeto que, embora bem menos popular que a bola, sempre chama a atenção: o livro. Volta e meia nos reunimos num bar ou na casa de sei lá quem para festejar a literatura. Lemos algo que julgamos interessante, comentamos sobre uma edição diferente que chegou ao sebo de nossa preferência ou pegamos emprestado aquele título que ainda não tivemos condição de comprar, mas que está dando sopa na estante do amigo. E, mesmo sem muito tempo, embora já com bastante tempo no corpo, batemos, bem de vez em quando, uma bolinha. Quando isso acontece, constato que ainda há entre mim e a bola algo de ímã. Sabe como é: ela vem, bate na minha canela e corre para longe. Somos ímãs com pólos invertidos.  

 3)      Jesus e o feriado V ou falar sobre assuntos que tem a ver com a Páscoa. Jesus Cristo, por exemplo, é um desses assuntos. Há muitos anos, assisti a um filme chamado A última tentação de Cristo. Numa das primeiras cenas – se não me engano era ainda no início – Jesus diz a um pequeno grupo de pessoas que o amor é o que deve reger o mundo; que nós, seres humanos, devemos amar ao próximo; que o amor isso, o amor aquilo. Em suma: o amor deve estar incrustado em tudo e em todos. Os ouvintes concordam, balançando a cabeça. Lá pelas tantas, Ele, não sei bem por que razão, fala de um sujeito que mora ali por perto e que tem várias posses e nem de longe passa fome, ao contrário da maioria. É o que basta para inflamar a todos, que logo se esquecem das palavras recém- ouvidas e saem, furiosos, com intenção de matar o próspero sujeito. Lembrei dessa cena não por acaso. É que uma vez, no sábado entre a Sexta feira  Santa e o Domingo de Páscoa, li no jornal uma notícia que tinha na manchete a palavra tragédia. Um grupo de motoqueiros saiu antes do sol em procissão pela estrada de Morungava, Gravataí, para a tradicional colheita da macela, esse chá que, dizem, traz bons fluidos. Porém, antes de chegarem ao destino, surgiu uma van, na contramão ou não, em alta velocidade ou não, e atingiu um dos motoqueiros, causando-lhe a morte. Para resumir a história, o motorista da van teve de ser escoltado pela polícia até uma delegacia para que não fosse linchado pelos colegas do motoqueiro morto. Sei muito bem que nesse acidente pessoas perderam um amigo, um parente, talvez um marido, e que a revolta é quem mais rápido chega nesses casos de violência no trânsito, antes que qualquer carro com sirene. Mas me pergunto: como pode um grupo que vai participar de algo tão religioso em plena Sexta feira  Santa pensar em linchar alguém? Não é contraditório? Não deveriam todos estar imbuídos de pelo menos algum espírito de comunhão, em vez de estarem participando de tal festejo só porque ele é tradicional?  Para encerrar: há uns quinze anos, no dia do feriado de Tiradentes, vi uma charge num jornal de Caxias do Sul, onde se via um menino perguntando à mãe por que esse mártir mineiro – que, aliás, sempre nos foi pintado como sendo fisicamente parecido com Jesus – tinha morrido. A mãe, depois de pensar um pouco e chegar à conclusão de que não sabia a resposta, querendo se ver  livre da curiosidade do filho, diz: “para que tivéssemos feriado no dia 21 de abril”. E se também não foi pelo mesmo motivo que Jesus morreu e ressuscitou, ao menos se tem a impressão de que o foi. Às vezes rezo por Ele.    

 4)      Gauche na vida  Quando nasci, um anjo torto que se refestelava numa sombra me disse: – Vai, Cezar, ser gauche na vida! E não coloco aspas nessas tão conhecidas palavras, porque me foi dito exatamente assim, por esse personagem. Não é, portanto, ficção, como o é no poema de Carlos ( Carlos Drummond de Andrade). Por isso tomei a revelação como verdade e tornei o revelado minha profissão. Nos primeiros anos de vida, exerci minha função com bastante esmero e cheguei, na comunidade onde vivia, a ser deveras conhecido. Algo similar ao que acontece a um bom médico, a uma boa doceira, a um bom jogador de futebol, enfim. “Lá vai o torto”, diziam. Ou: “ô, torto!”, cumprimentavam-me. Pode-se dizer que eu era um torto eficiente. Mas minha tortura dava-se apenas do lado direito, o que hoje me parece um paradoxo imenso, muito mais raro que “é nunca contentar-se de contente”, do famoso soneto de Luís  (Luís Vaz de Camões).  Do meu pé torto, só os dedos pisavam o chão; o calcanhar, jamais. Meus passos tinham um som parecido com os passos de um personagem do Manoel, (um poeta que mora lá para as bandas do Pantanal) e eram reconhecidos de longe: potoc, toc, potoc, toc – o potoc era o passo que dava meu pé correto. E a mão – a torta –, essa parecia não pertencer a mim, parecia de outra criança, bem mais nova que eu. As pessoas muito me olhavam nessa época. E eu julgava que era por serem simpáticas. Mas minha mãe discordava, dizia ser outro o motivo, eu entenderia quando crescesse. Do lar, a profissão da minha mãe. Ela limpava nossa casa como nunca fizera uma faxineira; costurava nossas roupas ou ajustava bainhas de um jeito que dona Aurora, a responsável por esse trabalho lá no bairro, jamais conseguira; e os almoços que ela preparava eram melhores que os da cantina aonde íamos aos domingos, ou seja, mais que deliciosos. Hoje, aqui em casa, todo mundo sabe direitinho – precisou dona Janda morrer – o valor da profissão dela. Mas continuando. Como disse, minha mãe discordava. E passou a insistir para eu  trocar de ofício, deixar de ser torto. Queria algo melhor para mim, algo de futuro. Por isso, não foi à toa que comecei a freqüentar um lugar muito estranho, onde os que lá trabalhavam vestiam-se de branco. Tinha uma gorda simpática, uma negra bem pequenina e simpática, uma senhora idosa que eu chamava de vó e que também era simpática e um rapaz bem alto que estava sempre assinando uns papéis, atrás de uma mesa – ele não me causava espécie alguma. Os adultos os chamavam de “fisioterapeutas”. Nesse lugar, as pessoas a quem me referi pegavam minha mão e a massageavam. Depois, colocavam meus dedos num aparelho e pediam para eu fazer força: “primeiro o mindinho, depois o seu vizinho e assim por diante, tá, querido?”. Eram uns amores, mas mal davam as costas – porque eu não era o único ali precisando de atenção – e eu parava com os exercícios. Passei alguns anos frequentando esse lugar, três vezes por semana. O resultado: hoje, a onomatopéia dos meus passos é potoc, potoc; mas a mão não melhorou muito, parece ainda pertencer a outro.   A vontade da minha mãe para comigo, como se vê, não deu em muita coisa. Continuo sendo um torto por profissão, sendo um torto inclusive na profissão que me paga salário e que nem vem ao caso dizer qual é. Azar. Além do mais, quando um anjo, que é um ser tão celestial, te diz algo como o meu disse, a única coisa a fazer é dizer “amém!”.  

 5)       Os nossos amigos  Pai, vejo que estás sem amigos. Dia desses, quando fomos a Rio Grande, cidade onde nasceste, enquanto me esperavas engraxar os sapatos para a formatura à qual havíamos sido convidados, o engraxate, um senhor que regulava em idade contigo, nos colocou a par do que acontecera a um sem  número de pessoas, todas conhecidas tuas. Mariozinho faleceu há dois anos. Nunca soube parar de beber, e a mulher dele, desesperada, vendeu um terreno e a casa do Cassino para aquilo que no fim deu em falecimento. Seu Carlos foi outro: “qualquer coisa no fígado”, disse o engraxate. Provavelmente a causa também tenha sido o álcool – o filho dele agora é quem atende na loja. O Jaime, embora não tenha tido ainda tão categórico fim como os outros dois acima, encontra-se numa situação bastante irreversível:Alzheimer. Nem conhece a netinha, uma graça que há pouco mais de um ano vem pondo sorriso no rosto sofrido da avó. Muitos outros casos, ouvimos naquele átimo de tempo em que meus sapatos estavam sendo disfarçados para a cerimônia de formatura de uma nossa parente. Tanto que perdeste o jeito fácil de rir que sempre te acompanhou. Sei que isto não te serve de consolo, mas este teu filho aqui também vem perdendo os amigos que tem. Não para a morte ou para a loucura, é verdade, mas para o casamento. Os meus amigos, pai, estão se casando, todos! Só eu continuo sendo filho, te dando ainda despesa e preocupação. Para tu teres uma idéia, na mesma época em que o Mariozinho morreu, o Élcio, um grande camarada que tu não chegaste a conhecer, foi morar em Florianópolis com a mulher. Ele pouquíssimas vezes vem para cá e muito economicamente manda um “oi!” por e-mail. Depois foi a vez do Jorge (lembra dele?). Viajou para a Bahia de férias com a namorada e, quando voltou, não foi para onde estava acostumado a encontrá-lo. Voltou e foi morar com a (desde então) esposa. Às vezes vejo um sujeito parecido com ele no meio dessa multidão que há no centro de Porto Alegre e corro para cumprimentá-lo, convidá-lo para uma meia hora de prosa. Mas que nada, nunca é ele! Agora, há poucas semanas, perdi outro amigo. Está morando por aí com uma moça, sei lá onde (acho que nem a mãe dele sabe). E lá se foi o Paulo... É por isso que tu tens me visto ir dormir mais cedo, com essa cara macambúzia de ultimamente. Pouco sobrou para fazer. Eu, que sempre fui solicitado para acompanhar qualquer um deles, ou os três, numa cerveja bem gelada. Teve gente que até me aconselhou a arranjar um cão, vê se pode! Mas tenho cá minhas dúvidas sobre esse negócio de o melhor amigo do homem. Antes um livro, que não faz cocô em lugar nenhum nem nos passa pulgas, e nem ladra no meio da noite só porque ouviu um barulhinho qualquer. Dá-se de comer ao cão; a nós, dá-nos de comer o livro. Um cão, para tarefa tão nobre, só no mato. Não concordas comigo? Por outro lado, o pior inimigo do homem é o tempo. Mas sobre isso, pai, tu sabes bem mais que eu.   

b)      A tarefa do grupo é preparar a leitura da crônica para apresentá-la para o restante da turma. O professor orienta os alunos a, após a apresentação do texto, discutir com os colegas as questões:             

-Quem está narrando a história?           

-Que fato do cotidiano a história está narrando?           

- Que sentimentos o narrador – personagem sentiu durante a história?   

3ª atividade:   

a)      Após a leitura  realizada na atividade anterior, o professor, ainda com a turma em grupos, retoma a história escolhida pelo equipe na 1ª atividade dessa aula e solicita que os alunos escrevam uma crônica a partir dela.

b)      Em seguida, socializa as produções propondo as correções textuais e a organização de um mural com as crônicas estudadas e as produzidas pelos grupos.   

4ª atividade:   

a)      Com o objetivo de que os alunos compreendam a diferença do gênero crônica de um texto de relato (como reportagens e notícias) que também narram fatos do cotidiano, sugere-se que o professor proponha uma atividade de retextualização (passagem de um gênero textual para outro) a ser realizada coletivamente com a mediação do professor.   

b)      Para realizar a atividade proposta na letra a, o professor trará  uma matéria de jornal ou revista,  sobre o mesmo fato de que trata a crônica “Tubarão com a faca nas costas”, isto é, a reportagem ou a notícia deverão tratar de um ataque de um cão.   

c)      O professor fará a leitura e a discussão do material trazido e, em  seguida, propõe que os alunos, coletivamente,  recontem o fato relatado em formato de crônica, procurando narrar em primeira pessoa, indicando uma crítica indireta ou utilizando um tom humorístico (ver as características de uma crônica em recursos complementares). Enquanto os alunos se manifestam, o professor faz o registro no quadro para que essa  crônica possa ir também o  mural organizado na 3ª atividade.  

Recursos Complementares

Crônica

Fonte: Wikipedia

Uma crónica ou crônica é uma narração, segundo a ordem temporal. O termo é atribuído, por exemplo, aos noticiários dos jornais, comentários literários ou científicos, que preenchem periodicamente as páginas de um jornal. Crônica é um gênero literário produzido essencialmente para ser veiculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal. Quer dizer, ela é feita com uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o lêem. Características Há semelhanças entre a crônica e o texto exclusivamente informativo. Assim como o repórter, o cronista se inspira nos acontecimentos diários, que constituem a base da crônica. Entretanto, há elementos que distinguem um texto do outro. Após cercar-se desses acontecimentos diários, o cronista dá-lhes um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção, fantasia e criticismo, elementos que o texto essencialmente informativo não contém. Com base nisso, pode-se dizer que a crônica situa-se entre o Jornalismo e a Literatura, e o cronista pode ser considerado o poeta dos acontecimentos do dia-a-dia. A crônica, na maioria dos casos, é um texto curto e narrado em primeira pessoa, ou seja, o próprio escritor está "dialogando" com o leitor. Isso faz com que a crônica apresente uma visão totalmente pessoal de um determinado assunto: a visão do cronista. Ao desenvolver seu estilo e ao selecionar as palavras que utiliza em seu texto, o cronista está transmitindo ao leitor a sua visão de mundo. Ele está, na verdade, expondo a sua forma pessoal de compreender os acontecimentos que o cercam. Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê. Em resumo, podemos determinar cinco pontos: Narração histórica pela ordem do tempo em que se deram os fatos. Seção ou artigo especial sobre literatura, assuntos científicos, esporte etc., em jornal ou outro periódico. Pequeno conto baseado em algo do cotidiano. Normalmente possui uma crítica indireta. Muitas vezes a crônica vem escrita em tom humorístico. Exemplos de autores deste tipo de crônica são Fernando Sabino, Helyda Rezende, Leon Eliachar, Luis Fernando Verissimo, Millôr Fernandes.

Para maiores informações sobre crônica http://pt.wikipedia.org/wiki/Cr%C3%B3nica    

Coleção Literatura para todos   

Apresentação   

A realização do Concurso Literatura para Todos é uma das estratégias da Política de Leitura do Ministério da Educação, que procura democratizar o acesso à leitura, constituir um acervo bibliográfico literário específico para jovens, adultos e idosos recém alfabetizados e criar uma comunidade de leitores. Esse novo público é chamado de neoleitores. O MEC publica e distribui as obras vencedoras às entidades parceiras do Programa Brasil Alfabetizado, às escolas públicas que oferecem a modalidade EJA, às universidades da Rede de Formação de Alfabetização de Jovens e Adultos, aos núcleos de EJA das instituições de ensino superior e às unidades prisionais. Em 2009, em sua terceira edição, os candidatos concorrem nas categorias prosa (conto, novela ou crônica), poesia, texto de tradição oral (em prosa ou em verso), perfil biográfico e dramaturgia. Serão selecionadas duas obras das categorias: prosa, poesia e textos da tradição oral e apenas uma obra das categorias: perfil biográfico e dramaturgia. Também será selecionada uma obra de qualquer uma das modalidades do concurso de autor natural dos países africanos de língua oficial portuguesa: Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Os vencedores recebem prêmios no valor de R$ 10 mil. Em 2008, 729 foram inscritas. Desse total, 129 obras foram desclassificadas por não atenderem às exigências do edital. Concorreram ao prêmio 608 obras inscritas , sendo 301 textos em prosa (contos, novelas, crônicas), 14 biografias, 30 textos de tradição oral, 246 poesias e 17 obras de países africanos. A inscrição para o concurso este ano será feita por meio do encaminhamento das obras literárias para : 3° Concurso Literatura para Todos, Ministério da Educação, Esplanada dos Ministérios , Bloco L , Sala 715 ,CEP 70047–900, Brasília /DF. O prazo vai até dia 25 de agosto de 2009. Os concorrentes naturais e residentes em países africanos de língua oficial portuguesa devem fazer a inscrição mediante o envio das obras literárias para as embaixadas do Brasil nos respectivos países.  

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12313&Itemid=628   

Avaliação

A avaliação é processual e contínua, devendo ser realizada oral e coletivamente, enfocando a dinâmica do grupo, identificando avanços e dificuldades. O desempenho dos alunos durante a aula, a realização das tarefas propostas, as observações e intervenções do professor, a auto-avaliação do professor e do aluno serão elementos essenciais para verificar se as competências previstas para a aula foram ou não desenvolvidas pelos alunos. A Coleção Literatura para todos é uma interessante iniciativa do governo federal em promover a democratização da leitura. As obras foram compostas pensando no público da EJA e assim, o trabalho com os diferentes gêneros que compõe essa obra é fundamental para a formação leitora de jovens e adultos. Nesta aula o professor, deverá avaliar se os alunos compreenderam as diferenças entre uma crônica e um texto informativo que também relata um fato do cotidiano.  

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