30/08/2010
Claudia Helena Azevedo Alvarenga
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
---|---|---|
Ensino Fundamental Inicial | Artes | Música: Compreensão da música como produto cultural e histórico |
Ensino Fundamental Inicial | Artes | Arte Visual: Arte visual como produção cultural e histórica |
Ensino Fundamental Inicial | Artes | Música: Expressão e comunicação em música: improvisação, composição e interpretação |
Ensino Fundamental Inicial | Artes | Música: Apreciação significativa em música: escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical |
Ensino Fundamental Inicial | Alfabetização | Processos de leitura |
Ensino Fundamental Inicial | Alfabetização | Formas de organização dos conteúdos |
Fontes sonoras não convencionais em Rumos, de Ernst Widmer - http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao_artistica/img/0024_03.gif
Caro professor(a), esta série de aulas é dedicada ao estudo da notação gráfica como ferramenta alternativa possível de ser inserida na prática musical infantil de maneira útil e prazerosa. Chamamos de notação gráfica a representação sonora expressa por meio de desenhos, símbolos e/ou traços. Este tipo de notação se aplica em grande parte à música contemporânea, a partir da necessidade de registrar sons que escapam aos limites da escrita tradicional. Sons que não são expressos em alturas (notas) precisas ou ritmos métricos e que para serem interpretados convenientemente precisam de outros recursos visuais para além da pauta. É possível também a combinação do sistema tradicional com formas plásticas de representação no intuito de nos aproximarmos de um mesmo objetivo: música.
Ao longo de muitos anos, a música foi transmitida oralmente e, para não ser esquecida, precisava ser tocada e aprendida de geração em geração. Um longo caminho foi percorrido até alcançarmos a notação musical que temos hoje e inúmeras pessoas contribuíram neste percurso. Por já se tratar de um cânone e pela herança histórica de como foi difundida, a escrita tradicional de partitura ocupa um papel importante no ensino-aprendizagem de música. Mas que importância é esta? Dentre os sensos comuns que percebemos na prática em relação à partitura estão algumas afirmativas contraditórias: é algo muito complexo, difícil de entender, chato ou tedioso. Ao mesmo tempo, ouvimos muito frequentemente que, apesar disto, a partitura é um instrumento essencial para o estudante de música. Mas em que sentido nossas práticas musicais estão propiciando que os alunos se perguntem o porquê e para que a partitura? E ainda, em que sentido a desconstrução da partitura tradicional pode contribuir para que os alunos ampliem a compreensão de seu uso, despertando, assim, um interesse legítimo e uma relação de prazer com a leitura musical?
Acreditamos que um caminho possível para instaurar o debate é a partir do questionamento: para que a partitura é necessária? Além disso, podemos enriquecer a discussão propondo que não nos debrucemos, a princípio, somente sobre a partitura tradicional com importância em si mesma, mas que possamos pesquisar sobre diversos tipos de registro de ideias musicais escritas, sejam eles de qual ordem forem e atendendo a que objetivos. A relevância em abordar este tema se confunde com a própria necessidade da criança de expressar suas ideias musicais e ser capaz de registrá-las de alguma maneira. Este processo de criação, descoberta e organização de ideias sonoras, instrumentos, formas e expressões traz à tona aspectos de interesse da criança que são anteriores à apreensão de códigos preestabelecidos. Estes, quando abordados, precisam estar vinculados a uma prática que envolva pesquisa e curiosidade. A experimentação espontânea inicial cria um ambiente propício à pesquisa sonora e posterior formação de conceitos. Isto contribui para o amadurecimento da criança em seu contato com materiais musicais diversos.
É importante que a criança reconheça a necessidade do registro sonoro a partir de uma prática que dê sentido a esta ação. É bastante pertinente que os alunos se perguntem: Para que preciso escrever uma música? De que e de quantas maneiras posso fazer isso?
Existem inúmeros conceitos e tipos de notação gráfica que, inclusive, podem ser pesquisadas com as crianças. Elas próprias já trazem em seus desenhos, uma forma de expressar graficamente e que pode ser aplicada ao som. Sugerimos observar a relação entre som e imagem no sentido de buscar soluções para organizar ideias musicais em grau crescente de complexidade. Os desenhos podem representar tanto instrumentos musicais tradicionais quanto objetos sonoros encontrados no cotidiano, de modo que o mais importante não é definir exatamente o que será tocado, mas de que maneiras isto pode ser realizado.
Para maiores informações a respeito da história da notação musical, vide links 1 e 2 em Recursos Complementares.
Sobre notação gráfica, vide links 3 e 4 em Recursos Complementares.
Sobre desenho infantil, vide link 5 em Recursos Complementares.
"Os músicos", da dupla de artistas Os Gêmeos - http://steepair.files.wordpress.com/2009/04/osgemeos_exposi_omontada_fotoma_tafranco_61_1.jpg?w=369&h=277
Professor(a), inicie a aula propondo aos alunos uma pesquisa sonora. Para tanto será importante reunir materiais com alguma diversidade sonora, que podem incluir: objetos sonoros diversos, instrumentos musicais tradicionais ou não, instrumentos percussivos, etc. Neste momento inicial, direcione para que os próprios alunos encontrem formas de se organizar e tomar decisões. Neste processo aprenderão sobre compartilhar, trocar informações, experiências e sobre ouvir. Se os alunos não estiverem acostumados a tocar instrumentos, é natural que neste primeiro momento queiram experimentar todos de forma um tanto caótica. Esta reação é natural, então procure canalizar esta energia de forma positiva para estimular a curiosidade do grupo.
Apesar de entender que não existe uma regra ou padrão a ser aplicado com seus alunos, apresentamos uma sugestão de organização de roteiro para a pesquisa sonora, que pode ser descrito da seguinte maneira:
Para maiores informações sobre os tipos de instrumentos, vide links 6, 7, 8 e 9 em Recursos Complementares.
Estes termos técnicos não devem ser reproduzidos na aula com as crianças. Deixe que elas próprias se refiram aos instrumentos da sua maneira, contanto que saibam diferenciar os tipos. Caso não conheçam os nomes de alguns instrumentos, aproveite para lançar estas informações. Se for algum objeto sonoro, peça que inventem um nome para o novo instrumento. Anote os termos usados pelas crianças pois, em geral, são extremamente criativos e podem servir como informação de pesquisa.
2 .Divida os alunos em pequenos grupos para que possam pesquisar, em rodízio, cada categoria de instrumentos. Estabeleça um tempo para que ocorra a troca entre os grupos.
3. Peça que cada aluno apresente individualmente, de 3 a 5 maneiras diferentes de produzir sons com o instrumento/objeto. Observe se distinguem mudanças sonoras a cada vez. Instigue os alunos a apontarem estas diferenças e desenvolverem uma escuta atenta aos colegas. Se necessário, realize a atividade como um jogo em que não é permitido fazer qualquer ruído enquanto alguém estiver apresentando seu som. Estabeleça uma 'pontuação' em que os grupos ganham ou perdem pontos de acordo com sua concentração e controle de som. Uma ideia é combinar um código com sinais bem simples (mão aberta toca e mão fechada pára) e ‘ensaiar’ este momento sem que ninguém ‘sobre’ tocando, quando a mão estiver fechada. Busque fazer deste processo um momento divertido. As crianças provavelmente estarão ansiosas para tocar, então uma dificuldade em controlar o som inicialmente é compreensível. Uma maior maturidade se construirá ao longo de várias aulas. Pense, até mesmo nós adultos, se estivermos com um instrumento em mãos, ficamos tentados a tocá-lo, não é mesmo?
Dica: Professor(a), caso a turma seja muito grande ou não haja instrumentos/objetos suficientes para o número de crianças, crie uma apresentação ‘performática’ de cada instrumento. Retire-os de uma sacola e faça perguntas antes sobre suas características, um por um, para instigar a curiosidade das crianças. De preferência em uma roda, para que todos possam se observar, passe o instrumento para cada aluno e peça que tentem descobrir um som ou uma maneira diferente de tocar. A cada aula, novos instrumentos podem ser apresentados com o objetivo de aguçar o interesse das crianças.
Como curiosidade sobre a pesquisa sonora, apresente o vídeo do making of do novo disco do grupo Pato Fu:
“Música de brinquedo” (parte 1) - http://www.youtube.com/watch?v=WHtgfhLkYPo&feature=related
“Música de brinquedo” (parte 2) - http://www.youtube.com/watch?v=biwJtGIdq_k
Estimule os alunos a perguntarem sobre os assuntos que despertarem seus interesses no vídeo.
Desenho de Joana, 3 anos - http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/desenvolvimento-e-aprendizagem/rabiscos-ideias-desenho-infantil-garatujas-evolucao-cognicao-expressao-realidade-518754.shtml
Após a experiência de pesquisa sonora, proponha esta segunda atividade a partir de uma pergunta: É possível desenhar um som? Alguém sabe dizer de que cor é o som que acabou de mostrar? É alto ou baixo? Fino ou grosso? Forte ou fraco? Devolva as falas dos alunos com mais perguntas, mas não deixe nenhuma sem uma tentativa de resposta. Encontre um equilíbrio com o tempo disponível, mas não deixe de responder pacientemente a todos.
Para exemplificar, chame dois alunos voluntários. Um deles irá produzir um som com algum dos instrumentos/objetos disponíveis à sua escolha, enquanto o outro irá tentar desenhar no quadro este som. Permita que outros alunos sugiram propostas para que o desenho se aproxime da ideia sonora produzida. Estabeleça associações entre características que são abstratas do som com o formato do desenho. Como seriam representados sons finos, largos, fortes, fracos, pequenos, grandes, agudos, graves, contínuos, interrompidos, oscilantes, rápidos, lentos, curtos, longos? Seguem abaixo, alguns exemplos de representação:
Imagem criada para esta aula - por Leonardo Stefano e Ana Chaves.
Em seguida, proponha que cada aluno desenhe em uma folha de papel (A3 ou cartolina), utilizando hidrocor de várias cores, lápis de cor, giz de cera, etc. A diversidade de cores estimula a expressão das crianças e o resultado visual. Os desenhos serão a escrita de uma série de sons que serão tocados pelo professor ao longo de um período de tempo. Dinamize ao máximo a execução (andamento, variações rítmicas e oscilações melódicas) e os instrumentos/objetos utilizados. O importante é que o movimento das crianças ao fazer o desenho esteja conectado com o som produzido em uma performance conjunta. Se o som pára, o desenho pára como numa coreografia. Perceba se os alunos estão conseguindo relacionar os sons com o desenho e, se necessário, oriente-os neste sentido. Deixe a criatividade aflorar em formas e símbolos. Não existe uma maneira certa ou errada de representar, apenas podem haver percepções distintas. Na maioria das vezes, nesta atividade, surgirão desenhos abstratos, porém, se alguns alunos forem por caminhos figurativos, peça que contem sua história. Pergunte se podem elaborar uma música para contar a história. Muitas vezes destas conversas nascem assuntos para desdobramentos em aulas futuras.
Ao final da atividade, faça uma 'exposição' dos desenhos e proponha uma leitura sonora das imagens. O grupo pode estabelecer sons para cada parte, cor ou forma do desenho. Estes sons serão executados pelo regente quando este apontar para a parte em questão. Com a outra mão, o aluno regente pode determinar efeitos expressivos, dinâmicas e andamentos.
Selecione uma cartolina em branco e elabore, em conjunto com os alunos, um esboço de uma composição musical em ‘partitura’ de notação gráfica. Mencionamos aqui todo o crédito ao professor Luis Carlos Czeko, com quem tivemos contato com este tipo de escrita em suas oficinas de linguagem musical nos Seminários de Música Pro-Arte. A montagem desta partitura se inicia com uma conversa sobre quais instrumentos serão utilizados na composição e uma pesquisa para definição dos sons escolhidos (já realizada na atividade 1). Faça um inventário dos instrumentos selecionados pelos alunos e, em seguida, peça que apontem em que ordem cada instrumento será tocado e em que momentos serão tocados sozinho ou simultaneamente. Enfatize que a própria maneira de organizar no papel os desenhos já deve comunicar a intenção do compositor, evitando ter que escrever informações desnecessárias. Leia da esquerda para a direita. Os instrumentos que estiverem na mesma vertical devem ser tocados simultaneamente. Podem ser acrescentadas quantas 'colunas' os alunos quiserem e a cada mudança de parte devem seguir a indicação dos desenhos. Por exemplo, da primeira para a segunda coluna devem sair o apito, o tambor e o reco-reco. Ao mesmo tempo, entram dois violões, um teclado/piano, e um tamborim.
O desenho, seguindo as indicações das crianças, assemelha-se ao exemplo a seguir:
Imagem criada para esta aula - por Leonardo Stefano e Ana Chaves
Obs.: As representações dos instrumentos podem ser resolvidas da forma mais simplificada possível. Os desenhos acima são apenas um exemplo. As próprias crianças podem desenhar maneiras de simbolizar cada instrumento.
Depois de esboçada a primeira versão da partitura peça que definam em conjunto as responsabilidades na execução da peça. Ou seja, quem ficará responsável por tocar quais instrumentos? Outra pergunta para que os alunos resolvam: Quem irá determinar em que momento avançaremos nas partes da música durante a execução?
Dois caminhos possíveis:
1 – escolha um aluno para ser o regente e discuta como seria esta regência (em um primeiro momento o próprio professor pode ser o regente).
2 - os momentos de avançar nas partes da música podem também ser determinados na própria execução dos músicos. Quando um instrumentista da parte seguinte decidir começar a tocar, os outros já entendem que houve a mudança de momento. Esta opção exercita uma maior maturidade na percepção das crianças, em sua comunicação visual e corporal uns com os outros. O olhar é um aspecto muito importante e que é estimulado em uma execução em conjunto.
A 'peça' esboçada pode ser executada diversas vezes, entremeada por novo debate, com correções e atualizações, seguida de uma outra experimentação. Podem ser observados alguns critérios:
No exercício desta aula são definidos apenas os instrumentos e a ordem de execução. O que será exatamente tocado em cada parte fica a critério da experimentação dos alunos. Em um segundo momento esta iniciativa pode ser desdobrada com mais informações constantes na partitura, legendas, etc.
Link 1 - Ler e escrever música - Salomea Gandelman - http://chc.cienciahoje.uol.com.br/revista/revista-chc-2003/138/ler-e-escrever-musica
Link 2 - Breve história da notação musical - http://www.clem.ufba.br/bordini/not_mus/hist.htm
Link 3 - A leitura e escrita do som na educação infantil - Maria Kyoko Arai Watanabe - http://www.alb.com.br/anais17/txtcompletos/sem14/COLE_11.pdf
Link 4 - O lobo no labirinto – Marisa Trench de Oliveira Fonterrada (p. 173) – http://books.google.com.br/books?id=bXmS0yIElUgC&pg=PA173&dq=notação+gráfica+schafer&hl=pt-BR&ei=gZRhTK78D4L7lwfZm_nBCg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CDIQ6AEwAA#v=onepage&q=nota%C3%A7%C3%A3o%20gr%C3%A1fica%20schafer&f=false
Link 5 - O desenho e o desenvolvimento das crianças - Thais Gurgel http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/desenvolvimento-e-aprendizagem/rabiscos-ideias-desenho-infantil-garatujas-evolucao-cognicao-expressao-realidade-518754.shtml
Link 6 - Idiofones na wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Idiofone
Link 7 - Membranofone na wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Membranofone
Link 8 - Aerofones na wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Aerofone
Link 9 - Cordofones na wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Cordofone
Ao final da aula, observe se os alunos atingiram os objetivos propostos. Avalie:
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