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Visões do índio na poesia romântica

 

23/09/2010

Autor e Coautor(es)
wendell de freitas amaral
imagem do usuário

JUIZ DE FORA - MG COL DE APLICACAO JOAO XXIII

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Literatura Literatura brasileira, clássica e contemporânea: criações poéticas, dramáticas e ficcionais da cultura letrada
Ensino Médio Literatura Estudos literários: análise e reflexão
Ensino Médio Literatura Outras expressões: letras de música, hip hop, quadrinhos, cordel
Educação Escolar Indígena Línguas Análise linguística e sociolinguística
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Relacionar características discursivas e ideológicas de obras românticas brasileiras ao contexto histórico de sua produção, circulação e recepção;

localizar a pureza d’alma e a força do nativo como tendências predominantes na obra de Gonçalves Dias;

reconhecer a importância política para a formação da consciência nacional a partir da valorização do indígena na poesia romântica brasileira;

reconhecer, em poemas de Gonçalves Dias, conflitos e formas de resistência de minorias sociais e políticas brasileiras;

posicionar-se frente a valores, ideologias e propostas estéticas representadas em obras literárias românticas.

Duração das atividades
4 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Habilidades básicas de leitura e escrita.

Iniciação ao estudo do Romantismo.

Estratégias e recursos da aula

Professor, para iniciar a aula convém apresentar aos alunos algumas considerações feitas sobre os índios antes mesmo do Romantismo.

Com o descobrimento da América, muitos relatos de viajantes e estudos de pensadores se centraram na figura do aborígene, do nativo do Novo Mundo.

Montaigne e Rousseau abordaram o mito do “Bom Selvagem”. Ele inicia com Montaigne, especificamente no Ensaio sobre os Canibais. Rousseau, no séc. XVIII, retoma o mito, cujo sentido está centrado na natureza inocente e bondosa do homem ao nascer, sendo ela corrompida pela sociedade ao longo da vida. No caso dos índios, a mácula viria a partir do contato com o homem branco. Essa influência deu margem a um indianismo ideológico e cultural associando o índio às lutas libertárias e políticas, sempre o vendo como o ser da bondade natural e da pureza moral conforme apontava Rousseau.

Atividade 1

A partir dessa introdução:

(1) indique para os alunos uma pesquisa que busque conhecer um pouco dessa visão sobre o índio como um "bom selvagem" a partir dos termos Montaigne e Rousseau.

(2) indique a leitura do trecho da Carta de Pero Vaz Caminha ao Rei D. Manuel, na ocasião do "achamento do Brasil".

(3) peça que destaquem trechos que se refiram à natureza física e à personalidade dos índios.

(4) peça que destaquem trechos em que são claros os objetivos de aculturação (como a imposição religiosa).

Repare nos exemplos o quanto é possível analisar essa descrição do índio como exótico:

  1. Pardos, nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e suas setas.
  2. A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador.
  3. Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta antes do que sobre-pente, de boa grandeza, rapados todavia por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte, na parte detrás, uma espécie de cabeleira, de penas de ave amarela, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena por pena, com uma confeição branda como, de maneira tal que a cabeleira era mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar.
  4. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam.
  5. E uma daquelas moças era toda tingida de baixo a cima, daquela tintura e certo era tão bem feita e tão redonda, e sua vergonha tão graciosa que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais feições envergonhara, por não terem as suas como ela. Nenhum deles era fanado, mas todos assim como nós.
  6. Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!
  7. Eles não lavram nem criam. Nem há aqui boi ou vaca, cabra, ovelha ou galinha, ou qualquer outro animal que esteja acostumado ao viver do homem. E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.
  8. Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.               

Carta de Caminha: http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/carta.html 

Para ilustrar, indique também o quadro A primeira Missa, de Victor Meireles.

http://www.moderna.com.br/moderna/didaticos/ei/aventuradeaprender/datas/indio.htm 

Já no séc. XVIII, no nosso Arcadismo, Basílio da Gama e Santa Rita Durão tematizaram o índio em dois poemas épicos:

Basílio da Gama – O Uraguai – baseado na luta dos portugueses contra as Missões jesuítas, onde o índio tem sua bravura exaltada, porém é vencido.

http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/basiliodagama/uraguai.htm 

Santa Rita Durão – Caramuru – neste poema há uma defesa do índio visto como explorado e expulso de suas terras, mais próximo do indianismo romântico do que o outro, porém, aqui o índio ainda permanece ornamental e exótico, como na literatura clássica.

http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/caramuru.html 

A partir da pesquisa:

(1) peça um relato dos alunos sobre as diferentes visões culturais do índio percebidas neste primeiro momento da aula.

Atividade 2

Inicie a segunda atividade falando sobre o indianismo romântico, que aplica à pátria o mesmo critério de pesquisa heróica do passado feita pelos romanticos europeus.

É importante que os alunos percebam que haverá no Romantismo, e a imagem de Victor Meireles acima também é um exemplo disso, um indianismo de feição patriótica: como sentimento nativista, de independência.  Unem-se o indianismo como teoria social; a imagem do índio como causa do Romantismo, associado à liberdade e independência; e o nacionalismo do qual o índio brasileiro também é símbolo, em busca de uma autenticidade americana, num paralelo aos padrões do retorno ao cavaleiro medieval, em busca do mito histórico, da origem nacional.   

Para que os alunos percebam isso claramente, indique a pesquisa da biografia de Gonçalves Dias, nosso maior indianista romântico, que possuía sangue indígena (filho de uma guajajara com um português). http://www.casadobruxo.com.br/poesia/g/goncalvesbio.htm

Todos podem pesquisar sobre a biografia no mesmo site ou em outros diferentes, para que possam complementar as informações.

Sugira a leitura das seguintes Poesias americanas de Gonçalves Dias, após pesquisa nos endereços abaixo:

O Canto do Guerreiro http://www.astormentas.com/poema.aspx?id=6166&tp=&titulo=O+CANTO+DO+GUERREIRO  

O Canto do Piaga http://www.astormentas.com/poema.aspx?id=11437&tp=&titulo=O+Canto+do+Piaga  

Deprecação http://www.astormentas.com/poema.aspx?id=13044&tp=&titulo=Depreca%C3%A7%C3%A3o 

O Gigante de Pedra http://www.revista.agulha.nom.br/gdias02.html#gigante 

Canção do Tamoio http://www.astormentas.com/poema.aspx?id=13051&tp=&titulo=Can%C3%A7%C3%A3o+do+Tamoio 

   

Após a pesquisa:

(1) sugira uma leitura oral feita em grupos de quatro ou cinco alunos, cada um deles com um poema.

(2) peça para os alunos apresentarem (quadro, cartaz, retroprojetor, datashow etc) sua interpretação das referências feitas ao índio integrado na tribo, nos costumes, no sentimento de honra e bravura, que para os românticos era sua maior característica, observando os seguintes pontos:

a) como o índio é retratado no texto de Gonçalves Dias?

b) que elementos reforçam a imagem do índio como bravo, bom, belo, honrado, além de apresentar seus costumes e crenças?

c) essa imagem está de acordo com aqueles pressupostos românticos vistos nas aulas?

d) como são as características desse indígena heróico?

http://virtualiaomanifesto.blogspot.com/2008/11/viagem-pitoresca-ao-brasil-de-debret-e.html 

             

http://romantismonobrasilpoesia.blogspot.com/                 http://portalmultirio.rio.rj.gov.br/historia/modulo02/tema65_2.html  

http://www.ipahb.com.br/minogen.php 

Atividade 3

Para a terceira atividade usaremos como suporte o poema I-Juca Pirama (o que há de ser morto), também de Gonçalves Dias.

A luta entre diferentes tribos e o canibalismo de algumas estabelecia entre os indígenas uma terrível dialética antropofágica, que levava uns a incorporarem à sua carne a carne do inimigo. No canto de morte, parte IV do poema de Gonçalves Dias, o índio Tupi, prisioneiro dos Timbiras, alega que é arrimo do pai doente e cego; os que se apresentavam para comê-lo desistem do intento, em razão do seu canto que tomaram como sinal de fraqueza. Sua carne, segundo eles, só serviria para enfraquecer os fortes.   

Os Timbiras, então, permitem que ele parta sob essa alegação. O pai, o velho Tupi, quando percebe que o filho fora prisioneiro e não morrera, decide retornar à tribo dos Timbiras e exige que se cumpra a regra, pela honra, e porque o filho demonstrou sua covardia ao chorar e pedir clemência.

O chefe Timbira se recusa e quando o pai vai partir, após maldizer o filho, ouve a luta entre o prisioneiro Tupi e os Timbiras. Desta forma, aceita novamente o filho como leal e honrado, e os Timbiras decidem comê-lo por sua bravura.  

Neste poema dramático, o sentido do heróico, o culto da lealdade e a beleza moral alcançam o ápice na poesia romântica indianista.

Indique para os alunos a pesquisa do poema em:

I-Juca Pirama http://www.revista.agulha.nom.br/gdias01.html#juca 

Após a pesquisa:

(1) distribua o poema para os alunos lendo com eles em sala de aula.

(2) divida a turma em três grupos, para que seja instalado uma espécie de tribunal, mediado pelo professor, onde cada grupo irá argumentar a favor do ponto-de-vista de um dos personagens do poema.

a) O prisioneiro Tupi - pede para ser solto para cuidar do velho pai, embora reconheça a supremacia do adversário.

b) O velho Tupi - quer que se cumpra a lei do mais forte, além de discordar da atitude "covarde" do filho.

c) O chefe Timbira - liberta o prisioneiro por temer que o sangue deste enfraqueça sua tribo.

Ao fim, a atividade servirá para os três grupos perceberem que os argumentos não estão inadequados, pois cada índio obedece aos princípios de honra, moral e bravura.

http://sitededicas.uol.com.br/indios_costumes.htm

(3) exiba para os alunos essa estimativa da população indígena no Brasil feita pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio) para perceberem o pouco que resta deste elemento étnico tão valorizado no romantismo como nosso herói histórico.

HÁ 500 ANOS

Há cinco séculos, os portugueses chegaram ao litoral brasileiro, dando início a um processo de migração que se estenderia até o início do século XX, e paulatinamente foram estabelecendo-se nas terras que eram ocupadas pelos povos indígenas.

O processo de colonização levou à extinção muitas sociedades indígenas que viviam no território dominado, seja pela ação das armas, seja em decorrência do contágio por doenças trazidas dos países distantes, ou, ainda, pela aplicação de políticas visando à "assimilação" dos índios à nova sociedade implantada, com forte influência européia.

Embora não se saiba exatamente quantas sociedades indígenas existiam no Brasil à época da chegada dos europeus, há estimativas sobre o número de habitantes nativos naquele tempo, que variam de 1 a 10 milhões de indivíduos.

O ÍNDIO HOJE

Hoje, no Brasil, vivem cerca de 460 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades indígenas, que perfazem cerca de 0,25% da população brasileira. Cabe esclarecer que este dado populacional considera tão-somente aqueles indígenas que vivem em aldeias, havendo estimativas de que, além destes, há entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indígenas, inclusive em áreas urbanas. Há também 63 referências de índios ainda não-contatados, além de existirem grupos que estão requerendo o reconhecimento de sua condição indígena junto ao órgão federal indigenista.

FUNAI http://www.funai.gov.br/indios/conteudo.htm#TOPO 

Além disso, indique algumas músicas contemporâneas que tratam do tema indígena de maneira bem próxima do objetivo romântico:

Índios - Legião Urbana: http://www.youtube.com/watch?v=Nh-mEYy-cbc&feature=related

letra http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/92/  

Um índio - Caetano Veloso:http://www.youtube.com/watch?v=dPdfwzYuOsw 

letra http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/44788/  

Todo dia era dia de índio - Baby Consuelo: http://www.youtube.com/watch?v=78kaLgvfLcc 

letra http://letras.terra.com.br/baby-do-brasil/365271/  

(4) após essa variada apreciação conduza um debate para que os alunos manifestem suas conclusões sobre a visão do índio na literatura romântica e a visão contemporânea do índio.

Recursos Complementares

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1978.

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1975.

COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil: era romântica. São Paulo: Global, 2004.

Mini dicionário de Tupi-Guarani: http://povodearuanda.wordpress.com/2007/12/03/mini-dicionario-tupi-guarani/  

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-77012006000200001&script=sci_arttext 

http://www.itaucultural.org.br/brasil_brasis/indio/sessao04.htm    

http://www.unicamp.br/~jmarques/cursos/rousseau2000/js.htm 

Avaliação

Para a avaliação utilize como critérios a produção oral, o interesse ao manifestar-se sobre o tema, as apresentações dos dados e das interpretações dos grupos sobre a pesquisa dos textos e imagens, além da capacidade de argumentação demonstrada na terceira atividade.

Opinião de quem acessou

Quatro estrelas 2 classificações

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Opiniões

  • Maria Felicidade, EEEFM Adolfina Zamprogno , Espírito Santo - disse:
    mar.felicidade@hotmail.com

    02/05/2013

    Cinco estrelas

    Excelente aula! parabéns!


  • Lúcia Melquiades, EEFM- Irmão Urbano González Rodriguez , Ceará - disse:
    luciamelquiades@hotmail.com

    10/05/2011

    Quatro estrelas

    Professor, gostei muito da sua aula. Parabéns! Já tive oportunidade de ministrar uma aula sobre o mesmo assunto, fiquei satisfeita em ter tido uma linha de raciocínio semelhante a sua. Em aulas posteriores, aproveitarei algumas dicas contidas em seu plano.


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