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Vozes do discurso: poesia feminina ou feminista?

 

25/01/2011

Autor e Coautor(es)
wendell de freitas amaral
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JUIZ DE FORA - MG COL DE APLICACAO JOAO XXIII

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Ensino Médio Sociologia Cultura e diversidade cultural
Ensino Médio Literatura Estudos literários: análise e reflexão
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: processos de construção de significação
Ensino Médio Literatura Literatura brasileira, clássica e contemporânea: criações poéticas, dramáticas e ficcionais da cultura letrada
Ensino Médio Sociologia Movimentos sociais / direitos / cidadania
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Análise linguística
Ensino Médio Sociologia Indivíduo, identidade e socialização
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: léxico e redes semânticas
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: modos de organização dos discursos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Ler poemas de autoras femininas;

estabelecer relações intertextuais entre um texto literário e uma outra manifestação cultural sobre a mulher;

reconhecer focos enunciativos (pontos de vista) adequados aos efeitos de sentido pretendidos;

reconhecer posicionamentos enunciativos presentes nos textos e suas vozes representativas;

posicionar-se criticamente frente a posicionamentos enunciativos presentes nos textos.

Duração das atividades
4 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Habilidades básicas de leitura e escrita.

Estratégias e recursos da aula

Professor, antes de iniciar a aula convém esclarecer alguns pontos: não se pretende aqui abordar toda a história literária de autoria feminina ou origens do movimento feminista e suas repercussões no campo político. O planejamento foi feito para quatro aulas de 50 minutos, com o objetivo de apresentar e discutir com os alunos as marcas linguísticas presentes em alguns poemas de autoras brasileiras, e verificando como a voz do "eu lírico" feminino se pronuncia neles. A discussão sobre os termos feminina ou feminista se dará com o objetivo de perceber como os textos afirmam a identidade da mulher buscando diminuir a carga preconceituosa sobre o segundo termo (entendido muitas vezes de forma radical, como antimasculino ou, na pior das vezes, como antifeminino).

 

Para os alunos introduza um pouco da história das conquistas sociais femininas.

Sabemos que o 8 de março é declarado Dia Internacional da Mulher por iniciativa da ONU. É estranho, se pensarmos que não existe o Dia Internacional do Homem. Como seres da mesma espécie, de gêneros distintos, mas que se complementam naturalmente para a manutenção da humanidade, não deveria haver disputas ou predominância de um dos gêneros, porém, historicamente a mulher foi relegada à posição de inferioridade em relação ao homem, passando séculos à sua sombra. A criação de um dia para elas é, portanto, um símbolo das conquistas femininas perante essa desigualdade secular.

No século XX, conquistas femininas como o direito de voto, a admissão em universidades, a inclusão no mercado de trabalho, a criação da pílula anticoncepcional, propiciaram uma maior autonomia social, além de um reconhecimento de seu valor, não apenas como mãe e responsável pelos afazeres domésticos. Por outro lado, essa mudança nos padrões de vida da mulher gerou preconceitos quanto a sua feminilidade, ou seja, aquilo que a fazia diferente do homem.

O movimento feminista, que questionou a opressão machista, mas também os códigos da sexualidade feminina e os modelos de comportamento impostos pela sociedade, proclamava o direito à cidadania, denunciando as múltiplas formas da dominação contra elas. Essa organização feminista buscava novas formas de expressão da individualidade. Assim, questões relativas ao universo da mulher, como o corpo, o desejo, a sexualidade e a saúde – foram politizadas e pronunciadas numa linguagem feminina, que pensava a respeito de sua identidade.

Na literatura, área da produção artística predominantemente masculina, temos diversos exemplos de autoras que se expressam de maneira consistente buscando essa valorização da identidade feminina. Nas atividades da aula, veremos algumas delas.

 

Atividade 1

Para a primeira atividade, a proposta é comparar dois textos que dialogam, numa relação de intertextualidade. Em um deles, "O poema de sete faces", de Carlos Drummond de Andrade, temos a voz masculina, enquanto em "Com licença poética", de Adélia Prado, temos a voz feminina.

Interessante explicar aos alunos que Adélia é admiradora de Drummond, talvez por isso o título "polido", e não parece querer responder com rancor à essa voz masculina, mas imprimir na poesia sua marca feminina, revelando as diferenças da subjetividade entre os gêneros.

(1) indique aos alunos a pesquisa dos dois poemas, que podem ser acessados em:

Poema de sete faces: http://www.horizonte.unam.mx/brasil/drumm1.html

Com licença poética: http://zezepina.utopia.com.br/poesia/poesia164.html

 

Após a pesquisa e a leitura:

(2) divida a sala em dois grupos: meninos e meninas.

(3) peça para os discutirem entre si sobre as marcas dessa subjetividade de cada gênero.

(4) escolha, entre eles, alguns alunos para lerem oralmente os poemas.

(5) sugira que apontem, após a leitura, as marcas explícitas e implícitas dessa subjetividade:

a) em relação ao nascimento.

b) sobre o comportamento.

c) particularidades do universo masculino/ feminino.

d) distinção entre homem e mulher na conclusão do poema de Adélia Prado.

 

(6) Após a atividade, faça um círculo com a turma e promova um debate sobre as questões abordadas observando as conclusões dos alunos sobre a comparação.

 

Atividade 2

Para a segunda atividade, a sugestão é a leitura de variados poemas de autoras brasileiras.

Antes de iniciar a pesquisa, escreva no quadro uma definição, extraída do Dicionário Aurélio, para as palavras feminino e feminismo:

FEMININO: [do latim femininu] Adj. Referente ao sexo caracterizado pelo ovário nos animais e nas plantas; fêmeo.

FEMINISMO: [do francês féminisme] S.m. Movimento daqueles que preconizam a ampliação legal dos direitos civis e políticos da mulher, ou a equiparação dos seus direitos aos do homem.

 

Após a leitura e a compreensão das definições pelos alunos:

(1) divida-os em grupos de quatro membros.

(2) indique para eles a pesquisa dos seguintes poemas e, após a leitura, deixe que cada grupo escolha uma autora para a análise.

Eu sou uma mulher e Às seis da tarde: Marina Colasanti

http://julyta.multiply.com/journal/item/17

http://zezepina.utopia.com.br/poesia/poesia136.html   

Veja o vídeo com a autora recitando o poema "Eu sou uma mulher": http://www.youtube.com/watch?v=A435GsSGtVk&feature=related

Grande desejo, Fatal, Verossímil e Briga no Beco: Adélia Prado

http://www.germinaliteratura.com.br/adeliap.htm

http://fogaodetresbocas.wordpress.com/2009/09/19/fatal-poema-da-adelia-prado/

http://cariricaturas.blogspot.com/2010/01/poesia-de-adelia-prado.html

http://ruadaspretas.blogspot.com/2007/06/adlia-prado-briga-no-beco.html

Veja o vídeo com a autora recitando quatro poemas seus: http://www.youtube.com/watch?v=iZKMWAxuG8Y

Geração inde(x)pendente, Manchas, Sendas estelares e Estabilidade: Leila Mícollis 

http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/p00/p000101.htm

http://www.blocosonline.com.br/sites_pessoais/sites/lm/leila/leilacfa.htm

Poemas de Alice Ruiz

http://aliceruiz.com.br/poemas

Vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=qZAWzDKscTc

Poemas de Hilda Hilst

http://www.hildahilst.com.br/obras.php?categoria=4&id=4  

 

Após a pesquisa:

(3) sugira que analisem os poemas da autora escolhida para deles retirar aquilo que é essencialmente feminino.

(4) peça para apresentarem para o restante da turma (quadro, retroprojetor, datashow etc) o resultado da análise.

(5) promova uma discussão com o objetivo de verificar quais os pontos comuns e específicos de cada poeta para a afirmação da identidade feminina.

 

Atividade 3

Professor, para a terceira atividade indique para os alunos a visualização dos vídeos de Conceição Evaristo.

http://www.youtube.com/watch?v=W2DgEX8fIHE

http://www.youtube.com/watch?v=s7FLzbEa5hk&feature=related

Após a visualização, converse com os alunos sobre a história contada pela poeta e a busca pela identidade materna feita por ela e pela filha, a partir da cor dos olhos da mãe.

Explique para eles que essa imagem da busca pelas ressonâncias ancestrais da mulher e mãe negra é uma constante na obra de Conceição Evaristo. Para perceberem isso claramente distribua para seus alunos o trecho do artigo Da representação à autoapresentação da Mulher Negra na Literatura Brasileira, juntamente com os dois poemas, em sequência, um deles recitado pela autora no 1º vídeo exibido acima.

"A representação literária da mulher negra ainda surge ancorada nas imagens de seu passado escravo, de corpo-procriação e/ou corpo-objeto de prazer do macho senhor. Uma leitura mais profunda da literatura brasileira, em suas diversas épocas e gêneros, nos revela uma imagem deturpada da mulher negra. (...)

Um aspecto a observar é a ausência de representação da mulher negra como mãe, matriz de uma família negra, perfil delineado para as mulheres brancas em geral. Mata-se no discurso literário a prole da mulher negra. (...)

Estaria o discurso literário, como o histórico, procurando apagar os sentidos de uma matriz africana na sociedade brasileira? Teria a literatura a tendência em ignorar o papel da mulher negra na formação da cultura nacional?"  

 

Eu-mulher

Uma gota de leite

me escorre entre os seios.

Uma mancha de sangue

me enfeita entre as pernas

Meia palavra mordida

me foge da boca.

Vagos desejos insinuam esperanças.

   

Eu-mulher em rios vermelhos

inauguro a vida.

Em baixa voz

violento os tímpanos do mundo.

Antevejo.

Antecipo.

Antes-vivo

Antes – agora – o que há de vir.

Eu fêmea-matriz.

Eu força-motriz.

Eu-mulher abrigo da semente

moto-contínuo do mundo.   

CADERNOS NEGROS. Os melhores poemas. São Paulo: Quilombhoje, 1998, p. 41.

 

VOZES-MULHERES

A voz de minha bisavó ecoou

criança

nos porões do navio.

Ecoou lamentos

de uma infância perdida.

  

A voz de minha avó

ecoou obediência

aos brancos-donos de tudo.

                                                                                                                                                                                                                                                             

 

A voz de minha mãe

 ecoou baixinho revolta

 no fundo das cozinhas alheias

 debaixo das trouxas

 roupagens sujas dos brancos

 pelo caminho empoeirado

 rumo à favela. 

                                                                                                                                                                                                                                                                                   

 

A minha voz ainda

ecoa versos perplexos

com rimas de sangue

                   e  

                       fome.

                                                                                                                                                                                                                                                                          

 

A voz de minha filha

 recolhe todas as nossas vozes

 recolhe em si

 a fala e o ato.

 O ontem – o hoje – o agora.

 Na voz de minha filha

 se fará ouvir a ressonância

 o eco da vida-liberdade.

 EVARISTO, Conceição. “Poemas”. In: Cadernos Negros – Poemas. São Paulo: Quilombhoje/ Edição dos Autores, nº 13, 1990, p. 32-33.

 

Professor, após a leitura dos poemas e visualização dos vídeos:

(1) peça a duas alunas para fazerem a leitura oral dos poemas acima.

(2) peça aos alunos para anotarem no caderno as referências nos poemas à feminilidade.

(3) peça aos alunos para anotarem no caderno as referências nos poemas à negritude.

(4) inicie um debate e apresente as seguintes questões:

a) qual o percurso histórico é traçado no poema "Vozes-mulheres"?

b) como é apresentada a condição social da mulher negra?

c) como a figura feminina é trabalhada em "Eu-mulher"?

d) como o eu lírico feminino se vê no mundo?

e) como podemos sintetizar os desejos da mulher em cada um dos poemas?

 

Professor, após o debate deverá ficar claro para os alunos que a mulher ainda luta diariamente para se afirmar como feminina e como cidadã, com os mesmos direitos dos homens.

Por isso, em muitos dos textos estudados o tom soa como revolta, mágoa, angústia, dor, esperança, força, independência. Logo, a consolidação da identidade feminina num universo muitas vezes machista não deve ser entendida como feminista no sentido pejorativo da palavra. Entenda feminista como lutadora, amante de seus princípios e de sua natureza, e desejosa de igualdade na relação entre os sexos.

A poesia destas autoras, como de muitas outras, traz para a literatura o que muito se ocultou historicamente, a bela, rica e vigorosa voz da subjetividade feminina.  

Recursos Complementares
Avaliação

Professor, para a avaliação considere todas as atividades produzidas pelos alunos nas aulas em que se estudou a voz feminina nos textos.

Além disso, exiba para eles o vídeo de Adélia Prado e peça para anotarem e depois apontarem oralmente quais as considerações importantes da poeta sobre os temas: arte, poesia, mulher, sensibilidade, criação.

http://www.youtube.com/watch?v=sisSlTXY6bM&feature=related   

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