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Entrevista: aspectos estruturais, relações interacionais e processos figurativos (ironias, metáforas, eufemismo, etc)

 

18/11/2010

Autor e Coautor(es)
Marilene de Mattos Salles
imagem do usuário

JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Língua Portuguesa Relações sociopragmáticas e discursivas
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

O objetivo desta aula é explorar elementos imprescindíveis para a compreensão textual, especialmente os conteúdos implícitos, as metáforas e as ironias, entre outros processos figurativos. Também serão abordadas questões relativas às relações interacionais, tais como o ‘entendimento’, as ‘discordâncias’, a ‘mitigação’. O aluno também terá a oportunidade de revisar seu conhecimento sobre os elementos que estruturam uma entrevista.

Duração das atividades
6 horas/aula
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Aulas elaboradas para alunos do 2° ano do ensino médio que tenham conhecimento sobre processos figurativos, especialmente metáforas e ironias. É recomendável que possuam informações sobre aspectos da história social e política brasileira – ‘coronelismo’, ‘Ditadura Militar’.             

Estratégias e recursos da aula

Professor: as aulas 1, 2; 5 e 6 serão realizadas no Laboratório de Informática.   

Aulas 1 e 2 

Professor: conduza seus alunos ao Laboratório de Informática. Esclareça a eles que vocês lerão uma entrevista com Guel Arraes. Porém, antes de acessar a entrevista gostaria de averiguar o grau de conhecimento deles a respeito do entrevistado. Projete a imagem abaixo, disponível no site

 http://content-portal.istoe.com.br/istoeimagens/entrevista/en_2351350406974087.jpg  e pergunte se  conhecem essa pessoa. 

Pode ser que já conheçam Guel Arraes, mas se essa expectativa não se confirmar, chame a atenção para pelo menos uma obra dele, por exemplo, a adaptação de “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna. Pergunte quem já assistiu ao filme (muito reprisado na televisão); se gostaram; do que ele trata, etc. Para se familiarizarem um pouco mais com Guel Arraes, peça que acessem o endereço abaixo, que aborda um pouco de sua carreira.  

http://www.youtube.com/watch?v=9xXNcaX_qvQ

Após a apresentação do vídeo, teça alguns comentários sobre Guel Arraes. Você poderá se informar no site

http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYP0-5271-257140,00.html

Encerre seus comentários, informando que ele está lançando o filme “O Bem Amado”, uma adaptação para o cinema da obra de Dias Gomes. Projete a imagem do cartaz do filme e conte resumidamente o enredo. Se necessário, consulte a indicação de link em “Recursos Complementares”.

http://2.bp.blogspot.com/_uQgRm8bFGHo/TEpFxqZLRqI/AAAAAAAADgk/kpimcXbrdUY/s1600/Assistir+Filme+O+Bem+Amado.jpg

Encerrada essa parte introdutória, acesse o site abaixo, onde se encontra a entrevista  Todo político é um ator, feita com Guel Arraes por ocasião do lançamento do filme “O Bem Amado”.

http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/89975_TODO+POLITICO+E+UM+ATOR+ 

Inicialmente, localize, neste site da ISTOÉ (um pouco abaixo, à esquerda da tela), o trailer do filme. Permita que eles assistam a esse trailer.

Antes de iniciar a leitura da entrevista rememore com seus alunos aspectos estruturais desse gênero, tais como o título, o lide, a apresentação do entrevistado, a foto e a configuração do texto (que segue a estrutura denominada ‘pergunta-resposta’).

Pergunte:

- A entrevista é uma prática de linguagem bastante padronizada e preponderantemente oral. Existem regras a serem observadas na elaboração de uma entrevista?

- Quais são os procedimentos para a elaboração desse gênero? (Resp.: entrevistas que aparecem na mídia escrita (revistas, por exemplo) são gravadas anteriormente; em seguida, existe uma edição feita pelo entrevistador.

- Quem abre e fecha uma entrevista?

- Além de abrir, fechar e editar uma entrevista, que mais cabe ao entrevistador? (Resp.: faz perguntas, suscita a palavra do outro, incita a transmissão de informações, introduz novos assuntos, orienta a interação.)    

Professor: leia o título, o lide e as informações iniciais sobre o entrevistado. Faça algumas perguntas orais, tais como:

a) Vocês concordam que todo político é um ator? Por quê?

b) Explique a afirmativa do entrevistado: “A política é uma atividade séria e toda atividade séria é boa de ser sacaneada”. O que ele quer dizer com isso? Teria graça fazer humor com coisas que não são sérias?

c) O humor deve ser politicamente correto?

d) O humor é uma forma de se fazer denúncia?

Na sequência, comece a leitura colaborativa do texto, fazendo, sempre que necessário,  breves interrupções para testar a compreensão da turma. Para auxiliá-lo, encontram-se, abaixo, algumas perguntas e respostas sobre pontos que poderão gerar dúvidas.

a) Qual era a situação política do Brasil quando a novela “O Bem Amado” foi ao ar?

Resp.: Quando “O Bem Amado” foi apresentado no formato “novela de TV”, o Brasil vivia uma Ditadura. Nesse regime de governo, os cidadãos ficam privados de um bem muito caro: a liberdade. Todas as formas de expressão passavam pela censura, que avaliava a veiculação ou proibição de livros, peças de teatro, programas de TV, etc..    

b) O que é o coronelismo a que se refere Guel Arraes? Quem o representa na obra?

Resp.: Odorico Paraguaçu, o prefeito de Sucupira, representava na obra original a direita conservadora, o coronelismo. Denominam-se ‘coronéis’ aqueles políticos que dominam uma certa região, mantendo as rédeas sobre as decisões locais, e que, por isso, têm também grande influência nacional. Os redutos que eles dominam são apelidados ‘currais eleitorais’. Apesar de pairar sobre esses políticos toda sorte de crítica, tais como controle da vida privada dos cidadãos, influência exacerbada na vida pública, favorecimentos em troca de voto, corrupção, etc, ainda assim pode-se dizer que são ‘amados’, já que dificilmente as pessoas se rebelam contra eles.    

c) A que se deve a opção de Guel Arraes de criar um personagem de esquerda que rivalizasse com Odorico Paraguaçu?    

Resp.: De acordo com Guel Arraes, antes não se criticava a esquerda (os opositores dos ‘coronéis’). Hoje a crítica é feita tanto aos políticos de direita quanto aos de esquerda. Daí a importância da criação de um novo personagem (um antagonista) na atualização do texto: “um cara de esquerda”. Os problemas que ele encontrou nessa atualização foram: a falta de tradição em se fazer crítica à ala esquerdista e criar um personagem que representasse fielmente a esquerda, com todos os vícios. Esse personagem não seria um herói, nem poderia ser tachado de ladrão, pois essa não é a essência da esquerda. E ladrões existem nos dois lados.    

d) Por que Guel Arraes considera a esquerda como sendo antidemocrática?

Resp.: Segundo Guel Arraes, o perigo (defeito, vício) da esquerda é ser antidemocrática. E isso em nome de um paternalismo, da certeza de estar fazendo o bem para a maioria. Para alcançar esse fim, é justificável lançar mão de todos os meios, até mesmo fraudar eleições.    

e) Como Guel Arraes explica a relação do povo com o tipo de político citado acima?

Resp.: Ao ser indagado se o povo perdoa esse tipo de político e se o povo sofreria de um complexo de vira-lata, o entrevistado prefere responder com olhos de diretor: esses políticos têm carisma, são o ‘pai’; um mecanismo afetivo de pai para filho. Ele acha que isso é cultural e ocorre em virtude da pouca educação e informação da sociedade, que alimenta essa situação em detrimento do debate de ideais.    

f) Qual é a avaliação do entrevistado em relação à situação política brasileira?

Resp.: Guel Arraes demonstra preocupação com relação aos escândalos e à corrupção, mas acredita que não se deve generalizar: há muitos políticos sérios. O discurso de que a liberdade permite a corrupção gera uma atitude antidemocrática.     

g) O que ele pensa sobre as tentativas de controle da imprensa?

Resp.: Quanto às tentativas de controle da imprensa, ele vê dois problemas: às vezes a imprensa abusa ao fazer muitas denúncias oportunistas; por outro lado, a esquerda tende ao totalitarismo e não gosta de ser criticada.     

Aula 3    

Professor: nesta aula, os alunos farão uma atividade escrita sobre o uso metafórico da linguagem. A atividade poderá ser feita em dupla e deverá ser recolhida ao final da aula, para correção.  

Se julgar necessário, faça antes uma revisão desse conteúdo. Para seu embasamento, consulte o site

http://www.snascimento.com/my_files/books/200706/Introdu%E7%E3o%20Sem%E2ntica%20-%20Brincando%20com%20a%20Gram%E1tica%20-%20Rodolfo%20Llari.pdf 

Atividade    

Considerando a entrevista Todo político é um ator, realizada pela Revista ISTOÉ com Guel Arraes, responda:    

1) O título da entrevista “Todo político é um ator” é uma das muitas afirmativas feitas pelo entrevistado. Na verdade, Guel Arraes não quer dizer que os políticos são atores no sentido  profissional. Ele está fazendo uso de uma metáfora: figura que decorre de uma comparação implícita. Compara-se um termo a outro com base num elemento ou numa ideia comum.    

a) Que idéia comum poderia estar associando as expressões ‘político’ e  ‘ator’, tornando possível a metáfora ‘todo político é um ator’?    

b) Logo após essa afirmativa, ele diz que “O comício nada mais é que espetáculo teatral”. Nesse caso, que ideia comum associaria ‘comício’ e ‘espetáculo teatral’?    

c) Explique as metáforas:

- chutar a direita

- País de coronéis

- complexo de vira-lata

- picaretas (Em: temos muitos picaretas)

- nossa Hollywood é a televisão    

2) Num dado momento, Guel Arraes declara não acreditar que no Brasil haja o coronelismo. E vocês, o que pensam? Concordam ou discordam? Por quê?    

3) Marque a resposta INCORRETA.

Discorrendo sobre a ‘esquerda’, o entrevistado faz as seguintes colocações:

(   ) O perigo  da esquerda é ser antidemocrática, porque na certeza de estar fazendo o bem da maioria acaba atropelando essa maioria.   

(    ) A esquerda tenta chegar ao poder para fazer o bem. Seus fins justificam os meios. Mas, de boas intenções o inferno está cheio.

(    ) Não dá para tachar o político de esquerda de ladrão, porque não é essa a essência da esquerda.

(    ) A esquerda não se importa de ser criticada; aceita democraticamente as avaliações da mídia.    

4) Que preocupação Guel Arraes manifesta com relação aos escândalos e à corrupção no âmbito da política? Marque a resposta correta.

(    ) Ele pensa que todos os políticos são corruptos e que a  liberdade permite a corrupção.

(   ) Seu trânsito no meio político permite afirmar que muitos políticos trabalham sério e muito. A generalização  gera uma postura antidemocrática.

(   )  Ele acredita que a liberdade gera escândalos e corrupção, mas discorda de que todos os políticos sejam corruptos.    

5) Falando sobre as ‘várias tentativas de controle da imprensa’, Guel Arraes disse que havia dois lados a analisar: a imprensa entrar na dinâmica do denuncismo oportunista e o defeito da esquerda de não aceitar críticas. O que ele quis dizer com isso?    

6) Para muitas pessoas entendidas, uma entrevista que aparece na mídia, como essa feita com Guel Arraes, tem a função de informar o público e formar a opinião pública. Assim, cite:

- algumas informações que você achou importantes;

- pelo menos dois tópicos que poderão contribuir para formar a sua opinião sobre política.    

 

Aula 4    

Professor: disponibilize cópias xerocadas do material abaixo para os alunos. Desenvolva a aula utilizando a metodologia do estudo dirigido.      

Nas questões a seguir, iremos analisar a entrevista com Guel Arraes, feita por Claudio Sequeira, sob a ótica das relações interacionais. Para tanto, considere alguns pares de pergunta- resposta (P-R), que foram numerados, para facilitar a identificação.    

1) Istoé -  O Brasil ainda é um País de coronéis?

Guel Arraes - Acho que não. Quando O Bem Amado ia para o ar na novela, a gente ria das coisas trincando os dentes. Era ditadura. Sabia-se que o tema principal não estava ali, e fazia-se uma sátira a um político do interior, pois mal ou bem era uma crítica dos vícios da política. Hoje em dia, há democracia e todos sabem o que se passa. É um riso mais franco. Da mesma maneira, antes você não criticava a esquerda. E hoje é preciso criticá-la. A criação de um personagem de esquerda foi outra atualização importante.    

2) Istoé - A necessidade de um antagonista?

Guel Arraes - Isso. Do ponto de vista dramatúrgico faltava esse antagonista. Quem poderia ser? Um cara de esquerda, claro. Mas dava para ser um herói. E aí começaram os meus problemas. Foi a parte mais difícil, porque não há uma tradição de crítica à esquerda. E tinha que ser um cara que representasse fielmente a esquerda de hoje, com seus vícios do poder. Não dava para ser apenas aquele sujeito militante, um babaca quase religioso. Mas também não dava para tachar de ladrão, porque não é essa a essência da esquerda, embora haja ladrões dos dois lados. Então inventei o Vladimir, dono do único jornal da cidade e que faz oposição.    

3) Istoé - E como ficou esse personagem?

Guel Arraes - É o cara que se acha dono da verdade. Ele não tem um tostão, se veste mal. Mas qual é o perigo, o defeito da esquerda, o vício? É ser antidemocrático. Pois a esquerda tem a certeza de que está fazendo o bem da maioria, e acaba atropelando essa maioria. Então, não há problema em se fraudar eleições, desde que seja para a esquerda ganhar, porque somos os donos da verdade. Os fins justificam os meios.    

4) Istoé - Tudo em nome do poder?

Guel Arraes – Exato. Tentam chegar ao poder para fazer o bem para o povo, mas de boas intenções o inferno está cheio.    

5) Istoé - Mas na política brasileira, quem é o Odorico hoje?

Guel Arraes - Isso eu não digo, não. O Dias Gomes não disse isso em 1962, não sou eu que vou dizer agora. Ele pode ter se inspirado no Getúlio, no Jânio e até no Juscelino. O Odorico não é um determinado político, mas um personagem síntese. Cabe a carapuça em muita gente, pois ele contém os defeitos de vários políticos. E mesmo que o cara não se encaixe no perfil, do ponto de vista da moral e da ética, pode ter o estilão. Pois o político é um ator também. É um cara que atua, e cada um tem seu estilo. Uns mais calmos, otimistas, outros mais radicais. O comício nada mais é que espetáculo teatral.    

6) Istoé - O sr. acha que o eleitor tende a perdoar esse tipo de político?É o velho complexo de vira-lata?

Guel Arraes - Pela ótica de um diretor de TV e cinema, é a questão do líder carismático, do pai. Os analistas dizem que a ausência de partidos fortes permite a ligação direta do povo com o dirigente, num paternalismo político. Meu pai em Pernambuco era chamado em alguns locais de “pai Arraes”, então isso era identificado como mecanismo afetivo de filho para pai. O Lula mostrou ser maior que o PT. Acho que é um pouco cultural e da estrutura da formação da coisa política. Uma sociedade pouco educada e informada tende a alimentar isso, e não o debate de ideais.    

7) Istoé - E há algo de Odorico em algum dos três candidatos à Presidência?

Guel Arraes - Caramba, não sei. Acho que no Odorico há tudo de político, mas é um político conservador. E temos três candidatos mais progressistas. Talvez haja algo de Vladimir neles.    

Atividade   

a) O repórter usa a forma de tratamento ‘sr.’ (ver pergunta 6) para se dirigir ao entrevistado. Considerando-se as relações interpessoais, que implicação traz essa escolha?

b) Como fica a situação de interação?

c) Qual é o registro linguístico predominante?

d) Leia a segunda pergunta formulada pelo repórter. Houve alguma estranheza? Qual?

e) Releia a pergunta nº 5: “Mas na política brasileira, quem é o Odorico hoje?”. Você acha que essa pergunta tem um tom discordante? Ou ela é apenas desafiadora?

f) Na pergunta 6, qual é o tópico discursivo?

g) Releia a resposta à pergunta 6. Ao responder, Guel Arraes usou o seguinte índice de domínio “Pela ótica de um diretor de TV e de cinema, ...”. Faz alguma diferença o uso desse índice?      

Professor: abaixo seguem sugestões de respostas.     

a) A forma de tratamento ‘sr.’ estabelece uma relação de distanciamento entre os interlocutores, já que é mais cerimonial.    

b) A situação de interação torna-se mais formal; do ponto de vista da variação linguística (registro), há uma adequação da linguagem à situação comunicativa.    

c) Observe-se que a preocupação com o registro formal é total em relação ao repórter, já que ele ocupa um papel institucional, representando a Revista ISTOÉ; mas, é parcial  em relação ao entrevistado. Às vezes, Guel Arraes usa uma linguagem mais distensa, conforme pode-se ver na resposta à questão 7 (Caramba, não sei.) e na questão 3 (É o cara que se acha dono da verdade. Ele não tem um tostão, se veste mal).    

d) Sim. Para ser compreendida, a pergunta tem que ser considerada como extensão da resposta anterior. Nesse caso, durante a interação, o repórter aproveitou o contexto linguístico (a fala do entrevistado) para formular uma pergunta, o que pode demonstrar experiência e preparo nessa função. Há entendimento e concordância entre eles, o repórter foi cooperativo: ao mesmo tempo que fez a pergunta, complementou a resposta do entrevistado. A mesma situação ocorre na transição entre os pares 3 e 4. Agindo assim, a entrevista tornou-se mais fluida e interessante.

Observe-se que nem sempre o entendimento implica concordância; ele também ocorre nos casos de discordância.      

e) A pergunta é desafiadora. Visa provocar o entrevistado a dar uma resposta difícil (problemática).  O operador argumentativo 'mas' pode sinalizar discordância  (contrapondo enunciados), o que não é o caso nesse momento.  Aqui, há um contraste com o enunciado anterior, produzindo um efeito retórico.

f) O tópico é “saber se as pessoas tendem a perdoar políticos como Odorico”.    

g) Faz diferença, pois ele circunscreve as condições pelas quais a sua resposta deve ser entendida. Ele fala usando o papel social de diretor de TV e cinema, resguardando-se quanto a outras interpretações possíveis (como a puramente pessoal, coisa que ele fez quando citou o nome de seu pai, tratado em muitos lugares como ‘Pai Arraes’). A função desse índice é dupla: argumentação e mitigação, pois diminui o grau de adesão com o conteúdo dito, torna a interação mais suave, mais polida.

Aulas 5 e 6    

Professor: conduza novamente seus alunos ao laboratório de informática. Acesse o site abaixo, com a imagem de Ziraldo.  

http://novo.almanaquebrasil.com.br/wp-content/uploads/2008/10/foto-ziraldo_out07.jpg 

Pergunte de quem é a imagem. É muito provável que todos saibam que se trata de Ziraldo, famoso autor de livros, charges, cartuns, etc. Cite a publicação de “O Menino Maluquinho”, talvez a sua obra mais conhecida, também adaptada para o cinema.  Mostre a imagem da capa, obtida no endereço

 http://blog.jangadeiroonline.com.br/uploads/2010/08/ziraldo.jpg  

Destaque, também, o papel relevante dele e de alguns amigos na fundação de O Pasquim, um jornal não-conformista editado durante algum tempo no período da Ditadura Militar (1964-1984).   

Para se informarem a respeito de Ziraldo, solicite que entrem no site  http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=375         

A seguir, informe aos alunos que vocês farão a leitura de outra entrevista, agora com Ziraldo, feita pela revista CULT, em 14 de março de 2010, cujo título é Ziraldo, o bom.

Professor: além de leitura, compreensão e análise da linguagem figurada no processo de  construção do sentido, o objetivo maior dessa aula será o estudo das relações interacionais entre entrevistado e entrevistador, como foi feito na entrevista de Guel Arraes. Porém, agora, outros fatores serão avaliados. Assim, peça aos alunos que acessem o site

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/entrevista-ziraldo-o-bom/ 

Inicie a leitura colaborativa da entrevista. A cada par P-R (pergunta-resposta) solucione as dúvidas.    

(Obs.: se houver necessidade, pesquise em sites confiáveis as informações para possíveis dúvidas decorrentes da leitura. Veja algumas indicações em “Recursos complementares”).

Terminada a leitura, distribua cópias xerocadas do material abaixo aos alunos. Trata-se de uma atividade que deverá ser feita por escrito, em dupla. Recolha essa atividade para correção.    

Atividade    

Releia alguns pares de pergunta-resposta (P-R), que foram numerados para facilitar o trabalho.    

1) CULT – Em quem você se inspirou para criar personagens como a Supermãe, o Menino Maluquinho, o Mineirinho Come-quieto, o Jeremias? Ou todos são você, como diria Flaubert?

Z.A.P. – O Flaubert não disse que todos os personagens dele eram ele. Só a Emma (de Madame Bovary). Agora, tanto ele quanto eu (coleguinhas!!!) criamos nossos personagens tirando todos eles das nossas províncias.    

2) CULT – Flicts é seu livro mais publicado internacionalmente? Como surgiu o tema para você?

Z.A.P. – O Flicts tem tido uma razoável vida internacional. Agora mesmo, acaba de sair em coreano, na íntegra, com bandeira do Brasil e tudo. Não vou contar de novo como foi que ele surgiu. Não aguento mais.      

3) CULT – Você já foi muito criticado pela “popularização” dos seus personagens, como alguém que teria se rendido ao mercado para ganhar dinheiro. O que você diria aos seus críticos?

Z.A.P. – Fui, é? Se fui, me esqueci. Não sou nem nunca quis ser pintor. Sempre fiz arte narrativa e nunca separei qualquer imagem que eu criei de um significado fora dela. Fiz arte aplicada. O que um artista como eu chama de obra – odeio chamar o que faço por esse nome: minha obra!… que coisa pedante! – só fica pronta quando o decodificador a “decifra”. A obra tem duas pontas: a feitura e o entendimento. Eu procurava fazer, com a maior qualidade a meu alcance, um trabalho que atingisse o seu fim. E deu sempre muito certo. Quanto aos meus críticos – ou descobre – o meu trabalho desses anos todos – as novas gerações – salvo engano, têm o maior respeito pelo que eu fiz.    

4) CULT – Como homem identificado com a esquerda, como avalia a situação política brasileira. Da era FHC aos tempos de Lula. Quais os avanços e onde o Brasil continua a patinar?

Z.A.P. – Você não quer que eu responda a essa pergunta, quer? Em quantos artigos? Num livro? Acho o Lula um Ali Babá e seus aloprados, uma turma absolutamente descartável. Com um peteleco, o Brasil se livra deles. Agora, os herdeiros das capitanias hereditárias, esses, minha filha, são imbatíveis. Jamais nos livraremos deles. Como o Lula não é o representante direto dessa raça, tenho muito mais simpatia por ele que pelos amigos do FHC. Este não conseguiu se livrar das amarras de sua origem (ainda que com aquela historinha do pé na cozinha (argh!).     

A seguir, responda às questões propostas abaixo.    

a) Assim como na entrevista de Guel Arraes, Ziraldo também recorre muitas vezes às metáforas. Por exemplo, a metáfora “pé na cozinha” (citada na resposta à questão 4 acima) tem a ver com uma fala de Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil, querendo dizer que ele (FHC) teria descendência negra.    

Agora, escolha duas das metáforas abaixo e explique o que o autor teria pretendido dizer com elas.

- anos de chumbo

- se render ao mercado (também um eufemismo)

- Ali Babá e seus aloprados - uma turma descartável

- herdeiros das capitanias hereditárias

- livrar das amarras    

b) Um outro uso figurado da linguagem que podemos perceber nessa entrevista é a ironia, que consiste em dizer o contrário daquilo que se pensa. Identifique a ironia no fragmento abaixo e explique-a.    

“Agora, tanto ele quanto eu (coleguinhas!!!) criamos nossos personagens tirando todos eles das nossas províncias.”    

c) Do ponto de vista das relações interacionais, que função poderia ter a ironia identificada na questão anterior?    

(Professor: tudo indica que ele fez uma ironia consigo mesmo; a função pragmática parece ser criar uma brincadeira, provocar o riso).    

d) Na entrevista de Guel Arraes, pudemos perceber que o entrevistador aproveitou o contexto linguístico (a fala do entrevistado) para criar perguntas. Nessa entrevista isso não ocorre. Na sua opinião, por que isso acontece?

(Resp.: nesse caso, as respostas dos alunos serão absolutamente hipotéticas. Algumas possibilidades são: pode ser que a revista não permita desdobramentos, ou seja, uma resposta gerar nova pergunta, fora do roteiro determinado; pode haver delimitação de espaço; também poderá ocorrer que o repórter seja principiante e se limite a gravar a resposta; ou, que embora experiente, o repórter não se preparou devidamente para essa entrevista. Enfim, são várias possibilidades.         

e) Releia a P-R número 1. É visível a discordância de Ziraldo à questão formulada.

- Qual foi o tópico abordado pela entrevistadora?

- Do que ele discordou?

- Como você classificaria essa discordância do ponto de vista da polidez? Ela é mais rude, mais suave...?    

- Marque X na resposta correta:

(    ) O desacordo expresso por Ziraldo  permitiu a progressão do tema em pauta, propiciando a chance de se solucionar um problema.

(    ) A fala de Ziraldo constituiu uma forma não-mitigada de desacordo. Ao  discordar da entrevistadora, ele não contribuiu para o desenvolvimento temático da questão.

f) Explique as discordâncias presentes nos pares (pergunta/resposta) 2 e 3. Avalie o grau de agravamento dessas discordâncias.     

g) Considerando o que você aprendeu sobre entendimento (aula 4), esse conceito pode ser aplicado nessa entrevista?

(Resposta sugerida: Não podemos afirmar que houve entendimento entre entrevistador e entrevistado, pois o entrevistador se limita a formular perguntas, não interage com o entrevistado, nem mesmo quando há discordância). 

Recursos Complementares

Recomenda-se as seguintes leituras:

HOFFNAGEL, J. C. Entrevista: uma conversa controlada. IN: DIONÍSIO, A.P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M.A. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.

KOCH, I. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2004    

KOCH, Ingedore Villaça. Linguagem e argumentação. IN: A inter-ação pela linguagem.  São Paulo: Contexto, 1998.

Leia resumo de "O Bem Amado" em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Bem-Amado_(s%C3%A9rie) 

Sobre Polidez consulte

http://intranet.fia.edu.br/acesso_site/fia/academos/revista3/10.pdf 

Sobre Flaubert pesquise em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Madame_Bovary 

Sobre "O Pasquim" pesquise em

http://www.youtube.com/watch?v=djXaMhl0VEM 

Avaliação

1) Leia o fragmento abaixo da entrevista de Ziraldo.   

CULT – Como você avalia hoje os tempos de O Pasquim? Foi uma experiência “válida e inserida no contexto”? A produção, bem livre, para o jornal, afetou de alguma forma as suas criações?

Z.A.P. – Ter tido o Pasquim na minha vida para atravessar os chamados anos de chumbo foi um privilégio. Foi uma experiência válida e inserida no contexto, foi mesmo. Não sei se a palavra é afetou, quando você se refere às formas de criação. Afetou não é pejorativo? Tou perguntando. Não seria melhor dizer influiu? Quando você diz afetar, já vem com um preconceito. Já está me dizendo que achou que o Pasquim me fez mal. Fez não. Era o que a vida podia me oferecer para que eu a seguisse construindo naquele momento.   

Responda:

- Qual foi o tópico abordado pela entrevistadora?

- Do que ele discordou?

- Como você classificaria essa discordância?

2) Faça uma breve comparação entre as duas entrevistas analisadas, considerando pelo menos dois aspectos  das relações interacionais entre entrevistador e entrevistado.

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