19/10/2010
Eliana Dias
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
---|---|---|
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Análise linguística: organização estrutural dos enunciados |
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | Língua Portuguesa | Linguagem escrita: leitura e produção de textos |
Aula 01 (50 minutos)
Atividade: Ativando o conhecimento prévio |
I - Para ativar o conhecimento prévio dos estudantes sobre a temática do texto - o momento em que cada um deixa fluir o seu talento pessoal -, o professor poderá perguntar aos alunos:
a. A que pode ser associada a palavra incêndio? E a palavra desabrochar?
b. O texto que será lido, na sequência, é uma crônica –uma narrativa curta que envolve personagens situados no tempo e no espaço e a presença de um narrador. O título da crônica é “O incêndio de cada um”. A partir desse título é possível supor que a crônica seja crítica, reflexiva ou humorística? Por quê?
Atividade: Lendo e analisando crônicas |
II - O professor deverá reproduzir para os alunos uma cópia da crônica “ O incêndio de cada um” de Affonso Romano Sant'Anna.
Disponível em:
http://1.bp.blogspot.com/_iomHxD-SvN4/Sba8cXdXiaI/AAAAAAAAAHE/-hANs6CalY0/s1600-h/burn.jpg
O INCÊNDIO DE CADA UM
Affonso Romano de Sant'Anna
A cena foi simples. Ia eu passando de carro pela Lagoa quando vi na calçada uma moça esperando o ônibus com seu jeans e bolsa a tiracolo. Nada demais numa moça esperando o ônibus. Mas eis que passou um caminhão de som tocando uma lambada. Aí aconteceu. Aconteceu uma coisa quase imperceptível, mas aconteceu: os quadris da moça começaram a se mexer num ritmo aliciante. Já não era a mesma criatura antes estática, solitária, esperando o ônibus na calçada. Ela havia se coberto de graça, algo nela se incendiara.
A fotógrafa veio fazer umas fotos. Estava com o pescoço envolto num pano, pois tinha torcicolo. E eu ali posando meio frio, fingindo naturalidade, e ela cautelosa com seu pescoço meio duro, tirando uma foto aqui, outra aIi, quase burocraticamente. De repente, ela descobriu um ângulo, e pronto: se incendiou profissionalmente, jogou-se no chão, clic daqui, clic dali, vira para cá, vira para lá, este ângulo, aquele, enfim, desabrochou, o pescoço já não doía. Ela havia detonado em si o que mais profundamente ela era.
Estamos numa festa. Aquele bate-papo no meio daquelas comidinhas e bebidinhas. Mas de repente alguém insiste para que outro toque violão. Aparentemente a contragosto ele pega o instrumento. E começa a dedilhar. Pronto, virou outra pessoa. Manifestou-se. Elevou-se acima dos demais, está além da banalidade de cada um. Achou o seu lugar em si mesmo.
Assim também ocorre quando vemos no palco o cantor dar seus agudos invejáveis, o bailarino dar seus saltos ou o atleta no campo disparar seus músculos e fazer aquilo que só ele pode fazer melhor que todos nós. Isto é o que ocorre quando o instrumentista pega o sax e sexualiza todo o ambiente com seu som cavernoso e erótico. Isto é o que se dá até quando um conferencista ou um professor entreabre o seu discurso e põe-se como uma sereia a seduzir a platéia, como um maestro seduz todo o teatro.
Há um momento de sedução típico de cada um. Quando o indivíduo está assentado no que lhe é mais próprio e natural. E isto encanta.
Claro, esses são exemplos até esperados. Mas há outros modos de o corpo de uma pessoa embandeirar-se como se tivesse achado o seu jeito único e melhor de ser. Digo, o corpo e a alma.
Mas nem todos podemos ser tão espetaculares. Nem por isso o pequeno acontecimento é menos comovente.
De que estou falando? De algo simples e igualmente comovente. Por exemplo: o jardineiro que ao ser jardineiro é jardineiro como só o jardineiro sabe e pode ser.
E que ao falar das flores, ao exibi-las cercadas de palavras, percebe-se, ele está em transe. Igualmente o especialista em vinhos, que ao explicar os diversos sabores nos quatro cantos da boca faz seus olhos verterem prazer e embalam a quem o ouve com sua dionisíaca sabedoria.
Feita com amor, até uma coleção de selos se magnifica. Se torna mais imponente que uma pirâmide se a pirâmide for descrita ou feita por quem não a ama. É assim que pode entrar pela sala alguém e servir um cafezinho, mas sendo aquele o cafezinho onde ela põe sua alma, ela se torna de uma luminosidade invejável.
Cada um tem um momento, um gesto, um ato em que se individualiza e brilha. Nisto nos parecemos com os animais e peixes ou quem sabe com as nuvens. Animais e peixes têm isto: têm trejeitos raros e sedutores, cada um segundo sua espécie. Até as nuvens, como eu dizia, tem seu momento de glória
Uma vez vi um pintor em plena ação, pintando. Meu Deus! O homem era um incêndio só, uma alucinação. Sua face vibrava, havia uma febre nos seus gestos. Era uma erupção cromática, um assomo de formas e volumes.
Então é disso que estou falando. Dessa coisa simples e única, quando o que cada um tem de mais seu relampeja a olhos vistos. Quando isto se dá, quebra-se a monotonia e o indivíduo se transcendentaliza.
Pode parecer absurdo, mas já vi uma secretária transcendentalizar-se ao disparar seus dedos no teclado da máquina de escrever. Era uma virtuose como só o melhor violinista ou pianista sabem ser. E as pessoas achavam isto mais sensacional que se ela estivesse engolindo fogo na esquina.
lsto é o que importa: o incêndio de cada um. Cada qual deve ter um jeito de deflagrar sua luz aprisionada. As flores fazem isto sem esforço. Igualmente os pássaros. Todos têm seu momento de revelação. É aguardar, que o outro alguma hora vai se manifestar.
Texto disponível em:
http://yugwerneck.blogspot.com/2008/09/o-incndio-de-cada-um-affonso-romano-de.html
Imagem disponível em:
http://www.releituras.com/arsant_bio.asp
II - A leitura oral do texto deverá ser feita pelo professor. A seguir, os alunos, em dupla, deverão responder às questões propostas na sequência. O professor deverá passar as questões no quadro ou xerocá-las para os alunos.
1. O texto “O incêndio de cada um”- de Afonso Romano Sant’Ana é uma crônica reflexiva.
a. O narrador se caracteriza como personagem ou observador? Justifique.
b. O narrador relata três diferentes episódios, nos três primeiros parágrafos. Qual seria função desses relatos na crônica?
c. Nos demais parágrafos, não há relatos , mas descrições. Qual seria a função dessas descrições na crônica?
d. Discuta com seus colegas e responda: o que essa ausência de uma estrutura tipicamente narrativa tem a ver com o fato de o texto se caracterizar como uma crônica reflexiva?
2. No início do texto, o narrador fala de uma moça que esperava o ônibus. Por que a cena da moça, dançando ao som de uma lambada, chamou a atenção do narrador? Explique.
3. A fotógrafa, ao iniciar seu trabalho, sentia-se incomodada por um torcicolo. O que a fez “desabrochar-se, incendiar-se” profissionalmente?
4. Segundo o texto, em que momentos as pessoas deixam seu anonimato e destaca-se das demais?
5. Ocorre linguagem figurada, sempre que uma palavra, desviada de sentido convencional, adquire um novo sentido.
a.O narrador da crônica faz uso da linguagem figurada ou subjetiva para expor suas idéias? Explique.
b. Que sentido o título da crônica – O incêndio de cada um - apresenta?
c. Esse “incêndio” ocorre da mesma forma para todas as pessoas? Justifique sua resposta.
6. Observe esta passagem do texto: “Nisto nos parecemos com os animais e peixes ou quem sabe com as nuvens”.
a. A que se refere a palavra em destaque?
b. O autor faz uma comparação entre os seres humanos e outros seres. O que há de comum entre eles?
c. O narrador faz outras comparações, no texto. A que ele compara o trabalho de um pintor? Qual é o elemento comum nessa comparação?
7. Discuta com seus colegas: segundo o texto, em um determinado momento da vida o ser humano pode “desabrochar-se”, “transcendentalizar-se”. Como o ser humano pode fazer isso?
Disponível em:
http://1cronicapordia.wordpress.com/2008/02/
OS JORNAIS
Meu amigo lança fora, alegremente, o jornal que está lendo e diz
_ Chega! Houve um desastre de trem na França, um acidente de mina na Inglaterra, um surto de peste na Índia. Você acredita nisso que os jornais dizem? Será o mundo assim, uma bola confusa, onde acontecem unicamente desastres e desagraças? Não! Os jornais é que falsificam a imagem do mundo. Veja por exemplo aqui: em um subúrbio, um sapateiro matou a mulher que o traía. Eu não afirmo que isso seja mentira. Mas acontece que o jornal escolhe os fatos que noticia. O jornal quer fatos que sejam notícias, que tenha conteúdo jornalístico. Vejamos a história desse crime "Durante os três primeiros anos o casal viveu imensamente feliz..." Você sabia disso? O jornal nunca publica uma nota assim:
"Anteotem, cerca de 21 horas, na rua Arlinda, no Méier, o sapateiro Augusto Ramos, de 28 anos, casado com a senhora Deolinda Brito Ramos, 23 anos de idade, aproveitou-se de um momento em que sua consorte erguia os braços para segurar uma lâmpada para abraçá-la alegremente, dando-lhe beijos na garganta e na face, culminando em um beijo na orelha esquerda. Em vista disso, a senhora em questão voltou-se para o seu marido, beijando-o longamente na boca e murmurando as seguintes palavras: "Meu amor", ao que ele retorquiu: "Deolinda". Na manhã seguinte Augusto Ramos foi visto saindo de sua residência às 7:45 da manhã, isto é, dez minutos mais tarde do que o habitual, pois se demorou, a pedido de sua esposa, para consertar a gaiola de um canário-da-terra de propriedade do casal".
A impressão que a gente tem, lendo os jornais - continuou meu amigo - é que "lar" é um local destinado principalmente, à pratica de "uxoricídio". E dos bares, nem se fala.
Imagine isto: "Ontem, certa de 10 horas da noite, o indivíduo Ananias Fonseca, de 28 anos, pedreiro, residente à rua Chiquinha, sem número, no Encantado, entrou no bar "Flor Mineira", à rua Cruzeiro, 524, em companhia de seu colega Pedro Amância de Araújo, residente no mesmo endereço. Ambos entregaram-se a fartas libações alcoólicas e já se dispunham a deixar o botequim quando apareceu Joca de tal, de residência ignorada, antigo conhecido dos dois pedreiros, e que também estava visivelmente alcoolizado. Dirigindo-se aos dois amigos, Joca manifestou desejo de sentar-se à sua mesa, no que foi atendido. Passou então a pedir rodadas de conhaque, sendo servido pelo empregado do botequim, Joaquim Nunes. Depois de várias rodadas, Joca declarou que pagaria toda a despesa. Ananias e Pedro protestaram, alegando que eles já estavam na mesa antes. Joca, entretanto insistiu, seguindo-se uma disputa entre os três homens, que terminou com a intervenção do referido empregado, que aceitou a nota que Joca lhe estendia. No momento em que trouxe o troco, o garçom recebeu uma boa gorjeta, pelo que ficou contentíssimo, o mesmo acontecendo aos três amigos que se retiraram do bar alegremente, cantarolando sambas. Reina a maior paz no subúrbio Encantado, e a noite bastante fresca, tendo dona Maria, sogra do comerciante Adalberto Ferreira, residente à rua Benedito, 14, senhora que sempre foi muito friorenta, chegando a puxar o cobertor, tendo depois sonhado que seu netinho lhe oferecia um pedaço de goiabada".
E meu amigo:
_ Se um repórter redigir essas duas notas e levá-las a um secretário de redação, será chamado de louco. Porque os jornais noticiaram tudo, tudo, menos, uma coisa tão banal de que ninguém se lembra: a vida...
Disponível em:
http://wagnerbelmonte.blogspot.com/2009/02/os-jornais-por-rubem-braga.html%20
Disponível em:
http://www.telehistoria.com.br/canais/biografia.asp?idConfiguracao=2291
Professor, informe seus alunos sobre Rubem Braga. Ele considerado por muitos o maior cronista brasileiro desde Machado de Assis, nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, ES, a 12 de janeiro de 1913. Iniciou seus estudos naquela cidade, porém, quando fazia o ginásio, revoltou-se com um professor de matemática que o chamou de burro e pediu ao pai para sair da escola. Sua família o enviou para Niterói, onde moravam alguns parentes, para estudar no Colégio Salesiano. Iniciou a faculdade de Direito no Rio de Janeiro, mas se formou em Belo Horizonte, MG, em 1932, depois de ter participado, como repórter dos Diários Associados, da cobertura da Revolução Constitucionalista, em Minas Gerais — no front da Mantiqueira conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira e Adhemar de Barros. [...]
Disponível em:
http://www.releituras.com/rubembraga_bio.asp
II – Após a leitura oral do texto, feita pelo professor, os alunos, em grupo, deverão fazer a análise da crônica, de acordo com o roteiro abaixo.
1. Compare as duas Crônicas lidas: “O incêndio de cada um” de Affonso Romano Sant’Ana e “Os jornais” de Rubem Braga.
Informe os elementos da narrativa referentes às duas crônicas:
a. Elementos da narrativa: personagens; espaço; tempo e ações/enredo.
b. Enredo: situação inicial; complicação; clímax e desfecho.
2. Observando a resposta da questão anterior, é possível concluir que as crônicas são narrativas, por isso nelas se pode identificar os elementos e momentos da narrativa. Portanto, o gênero discursivo – crônica -, geralmente, apresenta as seguintes características composicionais: narra fatos do cotidiano; a linguagem é coloquial; apresenta comentários sobre fatos narrados em que se externam opiniões ou críticas; é construída a partir de um fato que pode ser localizado no tempo; o narrador pode ser personagem ou observador.
a. Qual foi o fato do cotidiano que deu origem à crônica “Os jornais”?
b. Localize e transcreva um comentário sobre o fato narrado na crônica “Os Jornais”.
3. Escreva com suas palavras a crítica que se pode apreender da leitura da crônica “Os Jornais”.
Aula 03 ( 50 minutos)
Atividade: Elaborando um painel |
I – Nessa aula, o professor deverá propor que cada um dos grupos apresente as respostas relacionadas às duas crônicas estudadas: “ O incêndio de cada um” e “ Os Jornais”.
II – A seguir, o professor deverá propor aos alunos que, em grupo, elaborem um painel com as características composicionais do gênero discursivo – crônica literária. Observação: Essa aula poderá ser ministrada na biblioteca da escola ou no laboratório de Língua Portuguesa. O professor deverá disponibilizar para os alunos o material para a confecção dos painéis: cartolina, pincel, cola e tesoura.
Aula 04 ( 50 minutos)
Atividade: Produzindo uma crônica |
O professor deverá apresentar aos alunos a seguinte proposta de produção de texto:
Produza uma crônica com base nas instruções a seguir:
O narrador-personagem deverá, a partir de um fato vivenciado em de seu cotidiano - envolvendo outras personagens – refletir sobre o comportamento pouco solidário das pessoas na sociedade. Não se esqueça de situar o fato no tempo. A linguagem utilizada deve ser coloquial.
Para ampliar os conhecimentos sobre o cronista Affonso romano Sant'Ana e também sobre crônica falada, o professor poderá exibir para os alunos os vídeos:
a. Entrevista com Affonso Romano de Sant'Ana-parte 1
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=cp-8m57RR2c
b. Entrevista com Affonso Romano de Sant'Ana-parte 2
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=YoYcxkSrAk4&feature=related
c. Felicidade Sintética - Crônica Falada no Camarote TVCOM [10.02.2010]
Disponível em:
Quatro estrelas 1 classificações
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15/02/2012
Quatro estrelasÓtima aula Affonso Romano de Santanna é maravilhoso e nossos alunos precisam conhecê-lo.