Portal do Governo Brasileiro
Início do Conteúdo
VISUALIZAR AULA
 


Romantismo 3ª geração - ideias liberais, abolicionistas e republicanas

 

24/11/2010

Autor e Coautor(es)
MARTA PONTES PINTO
imagem do usuário

UBERLANDIA - MG ESC DE EDUCACAO BASICA

Eliana Dias

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Literatura Estudos literários: análise e reflexão
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula
  • Conhecer a obra de Castro Alves, um dos representantes da Terceira Geração Romântica;
  • analisar texto de Joaquim Manuel de Macedo;
  • conhecer José de Alencar como o escritor romântico que escreveu romances urbanos, históricos, regionais, rurais e indianistas;
  • analisar o prosador romântico regionalista Visconde de Taunay.  
Duração das atividades
05 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
  • Características do Romantismo.
  • Primeira e segunda geração do romantismo.
Estratégias e recursos da aula

- Utilização do laboratório de informática.

 - Leituras, exercícios e pesquisa em grupo.

Como motivação, o professor levará a turma ao laboratório de informática para assistirem ao vídeo da declamação de "O Navio Negreiro" por Caetano Veloso e Maria Bethânia. Em seguida, ou simultaneamente, lerão o poema NAVIO NEGREIRO sites disponíveis ao final do poema.

Professor, xeroque o poema abaixo para os alunos.

O Navio Negreiro

’Stamos em pleno mar

Era um sonho dantesco... o tombadilho,

Que das luzernas avermelha o brilho,

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar do açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras, moças... mas nuas, espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs.

E ri-se a orquestra, irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais...

Se o velho arqueja... se no chão resvala,

Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais...

Presa dos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece...

Outro, que de martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra

E após, fitando o céu que se desdobra

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

Fazei-os mais dançar!...

"E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais!

Qual num sonho dantesco as sombras voam...

Gritos, ais, maldições, preces ressoam!

E ri-se Satanás!...

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus...

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?...

Astros! noite! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!...

Quem são estes desgraçados

Que não encontram em vós

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz?

Quem são?... Se a estrela se cala,

Se a vaga à pressa resvala

Como um cúmplice fugaz,

Perante a noite confusa...

Dize-o tu, severa musa,

Musa libérrima, audaz!

São os filhos do deserto

Onde a terra esposa a luz.

Onde voa em campo aberto

A tribo dos homens nus...

São os guerreiros ousados,

Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão...

Homens simples, fortes, bravos...

Hoje míseros escravos

Sem ar, sem luz, sem razão...

São mulheres desgraçadas

Como Agar o foi também,

Que sedentas, alquebradas,

De longe... bem longe vêm...

Trazendo com tíbios passos

Filhos e algemas nos braços,

N'alma lágrimas e fel.

Como Agar sofrendo tanto

Que nem o leite do pranto

Têm que dar para Ismael...

Lá nas areias infindas,

Das palmeiras no país,

Nasceram crianças lindas,

Viveram moças gentis...

Passa um dia a caravana

Quando a virgem na cabana

Cisma das noites nos véus......

Adeus! ó choça do monte!......

Adeus! palmeiras da fonte!......

Adeus! amores... adeus!...

Senhor Deus dos desgraçados!

 Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se eu deliro... ou se é verdade

Tanto horror perante os céus...

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?

Astros! noite! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!...

E existe um povo que a bandeira empresta

P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!...

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?!...

Silêncio!... Musa! chora, chora tanto

Que o pavilhão se lave no seu pranto...

Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra,

E as promessas divinas da esperança...

Tu, que da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança,

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!

Extingue nesta hora o brigue imundo

O trilho que Colombo abriu na vaga,

Como um íris no pélago profundo!... ...

Mas é infâmia demais...

Da etérea plaga

Levantai-vos, heróis do Novo Mundo...

Andrada! arranca este pendão dos ares!

Colombo! fecha a porta de teus mares!

http://caetano-veloso.musicas.mus.br/letras/77893/ 

http://www.youtube.com/watch?v=5iCrQqsJE_o&feature=related 

O professor deverá solicitar aos alunos que leiam o poema NAVIO NEGREIRO, reflitam sobre os sentidos do mesmo e, por fim, resolvam as atividades abaixo (Xerocar as atividades para os alunos e pedir que as resolvam no caderno.).

  • Professor, lembre sempre aos alunos que a Abolição de Escravatura e a Independência do Brasil são resultados das denúncias e envolvimento político dos escritores principalmente da 3ª Geração.
  • ESTUDO DE TEXTO

1- Para fazer de nós leitores, participantes da cena, que artifício é usado pelo eu-lírico?

2- O que o eu-lírico apresenta a nós, participantes da cena?

3- Como se sabe, os escravos eram obrigados a dançar para evitar que, assentados, desses bicho e doenças pelo porão ser imundo.Quem era

responsável pela música? Por quetemia pela morte dos negros?

4- O que se passa com as mulheres?

5- Identifiquem as figuras de estilo que ocorrem nos seguintes trechos:

a- "O tombadilho (...) em sangue a se banhar".

Atividade 2 

PESQUISANDO...

Para a realização desta atividade, os alunos deverão acessar o site abaixo para fazerem uma pesquisa sobre o assunto. Antes de acessarem o site, o professor deverá entregar cópia do roteiro para os alunos se familiarizarem primeiro e depois começarem a pesquisa. As respostas em vermelho ajudarão o professor na hora da correção. 

O índio vestido de senador do império. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos burgueses.

Oswald de Andrade

http://www.graudez.com.br/literatura/romantismoprosa.html 

Roteiro de pesquisa

1- Como era a sociedade brasileira do século XIX? No Brasil, há a urbanização do Rio de Janeiro, transformado em Corte, e cria-se uma sociedade consumidora em busca de entretenimento. Busca da “cor local”, com o espírito nacionalista em alta. Jornalismo tem grande impulso e surgem os folhetins, acompanhados pela sociedade carioca, notadamente as mulheres, com avidez. Os romances tematizavam a descrição dos costumes urbanos ou das amenidades das zonas rurais e correspondiam às projeções dos conflitos emocionais dos leitores. 

3- E a literatura como era concebida? Os personagens são idealizados e os leitores, principalmente jovens e mulheres, identificavam-se com eles. Algumas obras fugiram um pouco desse esquema geral: Memórias de um Sargento de Milícias e Inocência.

4- Qual era a temática dos romances de então? São temáticas comuns: namoro difícil ou impossível, presença de jovens casadoiras e estudantes, mistérios de identidade de personagens e identificação final, conflito entre dever e paixão, alguma comicidade, espécie de documento de costumes da época. A linguagem é simples com tramas fáceis, amor e mistério culminando com um final feliz.

5-Vários foram os escritores que se destacaram na época. Qual a importância de:

a- Manuel Antônio de Almeida: Publica em folhetins Memórias de um Sargento de Milícias, obra totalmente inovadora para a sua época. Pode ser considerado o verdadeiro romance de costumes do Romantismo brasileiro, por não estar vinculado à visão burguesa. Retrata o povo em toda a sua simplicidade, malícia, humor e sátira. Sua descrição não se resume ao ambiente, mas introduz juízos de valor e crítica. Apresenta um anti-herói picaresco, que desde sua origem já está ligado ao real e ao humor. É considerado por muitos como um precursor do Realismo. Caracterizam a obra o estilo frouxo, linguagem por vezes até descuidada e um final feliz. Obras: Romance - Memórias de um sargento de Milícias. 

b- José de Alencar: Consolidador do romance, um ficcionista que cai no gosto popular. Sua obra é um retrato fiel de suas posições políticas e sociais: grande proprietário rural, político conservador, monarquista, escravocrata, burguês. Pode-se perceber o medievalismo no personagem de O Guarani, Peri (bom selvagem) que deveria respeitar a realidade social de que ao senhor de tudo deve-se obediência, respeito e lealdade. Defende o “casamento” entre o nativo e o colonizador numa troca de favores (temática presente em O Guarani - Ceci e família e Peri e em Iracema com Moacir, filho de Iracema e Martim. Tudo isso traduzido numa linguagem coloquial, diálogos bem feitos por sua formação de professor de Português. Sua vasta obra conta com romances urbanos, históricos, regionais e rurais, além dos indianistas. Iracema é uma obra que denota as grandes características de Alencar: paisagista e pintor de perfis femininos. Romances: Cinco Minutos (1856), O Guarani (1857), Viuvinha (1860), Lucíola (1862), As Minas de Prata (1862), Diva (1864), Iracema (1865), O Gaúcho (1870), A Pata da Gazela (1870), O Tronco do Ipê (1871), Sonhos D’Ouro (1872), Til (1872), Alfarrábios (1873), A Guerra dos Mascates (1873), Ubirajara (1874), Senhora (1875), O Sertanejo (1875), Encarnação (1893).

c- Visconde de Taunay: Autor de Inocência, romance regionalista de tom sóbrio e detalhista quanto á paisagem. Obra de pouca fantasia, mas com as relações entre paisagem e o meio bem definidas. Alguns aproximam este romance de um estilo mais realista-naturalista. Obras: Romance: A Mocidade de Trajano (1872), Lágrimas do Coração (1873) Narrativas: Histórias Brasileiras (1874) Comédia: De mão à Boca se Perde a Sopa (1874) Drama: Narrativas Militares. Cenas e Tipos (1878), Quadros da natureza (1882), Fantasias (1882), Amélia Smith (1886).

d-Franklin Távora: Produziu uma obra regionalista num tom de manifesto, mas sem muita repercussão da temática nordestina em O Cabeleira. Temática voltada para o banditismo como efeito da miséria, latifúndio, secas e migrações. Obras: Contos - A Trindade maldita (1861) Romance - Os Índios do Jaguaribe (1862), A Casa de Palha (1866), O Cabeleira (1876), O Mulato (1878), Lourenço (1881) Novela - Um Casamento no Arrebalde (1869) Martins Pena Ligado ao teatro, inaugura a comédia de costumes com uma sutil sátira social. Por isso sua obra foi aproximada de Memórias de um Sargento de Milícias. Autor com profundo grau de observação, trazendo à cena personagens típicos da sociedade da época.

6- Uma citação de Oswald de Andrade abre a página do site. O que ele quis dize com a citação? Que Alencar deu a seus personagens indígenas comportamentos de verdadeiros lordes.

Atividade 3

  • O professor poderá indicar a leitura de um ou vários dos escritores românticos para a turma.
  • Se fizer opção por vários, poderá indicar um título diferente para cada grupo e pedir que apresentem à classe em forma de seminário.
  • Poderá exibir os filmes Inocência e Moreninha que são difíceis de encontrar em locadoras, mas há no mercado.
  • Poderá apresentar fragmentos como os que apresento abaixo com exercícios de interpretação.

Texto 1- Iracema - José de Alencar

Imagem disponível em: http://vl.porto.zip.net/images/jose_alencar6.jpg 

  • Professor, explique aos alunos que este texto é o início do romance também conhecido como "lenda do Ceará.

IRACEMA

“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.

Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.     

Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.     

Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na folhagem os pássaros ameigavam o canto.     

Iracema saiu do banho; o aljôfar d'água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste.     

A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá , as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão.     

Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.     

Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.”

Disponível em: http://fredb.sites.uol.com.br/iracema.html 

Depois de lido e discutido o texto, o professor deverá solicitar aos estudantes que façam a atividade de interpretação do texto. Para tanto, deverá passar no quadro as perguntas abaixo.

1- O texto é narrado em 1ª ou 3ª pessoa? Justifiquem transcrevendo uma frase do texto.

2- Iracema é descrita em consonância com elementos da natureza. Construam um quadro para demonstrar essa comparação.

3- Transcrevam trechos que demonstrem haver cumplicidade homem/natureza.

Texto 2 - A moreninha - Joaquim Manuel de Macedo

Imagem disponível em: http://i.s8.com.br/images/books/cover/img0/44590.jpg 

Como atividade deste texto, o professor deverá ler com os alunos o texto abaixo para conhecer os costumes da sociedade carioca da segunda metade do século XIX.

"Nós estamos num sarau. Inúmeros batéis conduziram da corte para a ilha de ... senhoras e senhores, recomendáveis por caráter e qualidades; alegre, numerosa e escolhida sociedade enche a grande casa, que brilha e mostra em toda parte borbulhar o prazer e o bom gosto.

Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que com aturado empenho se esforçam para ver qual delas vence em graça, encantos e donaires, certo sobrepuja a travessa Moreninha, princesa daquela festa.

Hábil menina é ela! nunca seu amor-próprio presidiu com tanto estudo tributo seu toucador e, contudo, dir-se-ia que o gênio da simplicidade a penteara e vestira. Enquanto as outras moças haviam esgotado a paciência de seus cabeleireiros, posto em tributo toda a habilidade das modistas da Rua do Ouvidor e coberto seus colos com as mais ricas e preciosas jóias, D. Carolina dividiu seus cabelos em duas tranças, que deixou cair pelas costas: não quis ornar o pescoço com seu adereço de brilhantes, nem com seu lindo colar de esmeraldas; vestiu um finíssimo, mas simples vestido de garça, que até pecava contra a moda reinante, por não ser sobejamente comprido. E vindo assim aparecer na sala, arrebatou todas as vistas e atenções.

Porém, se um atento observador a estudasse, descobriria que ela adrede se mostrava assim, para ostentar as longas e ondeadas madeixas negras, em belo contraste com a alvura do seu vestido branco, para mostrar, todo nu, o elevado colo de alabastro, que tanto a aformoseia, e que seu pecado contra a moda reinante não era senão um meio sutil de que aproveitara para deixar ver o pezinho mais bem feito e mais pequeno que se pode imaginar.

Sobre ela estão conversando agora mesmo Fabrício e Leopoldo. Terminam sem dúvida a sua prática. Não importa; vamos ouvi-los.

- Está na verdade encantadora!... repetiu pela quarta vez aquele.

- Dança com ela? perguntou Leopoldo.

- Não, já estava engajada para doze quadrilhas.

- Oh! la vai ter com ela o nosso Augusto. Vamos apreciá-lo".

Na sequência, o professor solicitará aos alunos que façam a interpretação de texto, respondendo às perguntas abaixo: (Passá-las no quadro)

1- É possível determinar a classe social a que pertencem os personagens?

2- Que traços românticos distinguem a personagem principal das demais?

3- Na descrição de Dona Carolina, o que predomina.

(   ) nacionalização    (   )    idealização   (   )    sentimentalismo

Texto 3 - Inocência - Visconde de Taunay

Imagem disponível em: http://jayrus.art.br/Apostilas/images/Visconde_de_Taunay_Inocencia_1.jpg 

O professor deverá indicar a leitura do trecho abaixo para que os alunos tenham conhecimento de que Inocência fôra prometida em casamento a Manecão, um sertanejo da região. Porém, antes de chegar o dia marcado, Inocência fica doente, é atendida por um jovem curandeiro ambulante pelo qual se apaixona. Este trecho mostra o encontro de Inocência com Manecão e a desconfiança deste.

 "Descrever o abalo que sofreu Inocência ao dar, cara a cara com Manecão fora impossível Debuxaram-se-lhe tão vivos na fisionomia o espanto e o terror, que o reparo, não só da parte do noivo, como do próprio pai habitualmente tão despreocupado, foi repentino.

-Que tem você? perguntou Pereira apressadamente.

-Homem, a modos, observou Manecão com tristeza, que meto medo a senhora dona...

Batiam de comoção os queixos da pobrezinha: nervoso estremecimento balanceava-lhe o corpo todo.

A ela se achegou o mineiro e pegou-lhe no braço.

-Mas você não tem febre?... Que é isto, rapariga de Deus?

Depois, meio risonho e voltando-se para Manecão:

-Já sei o que é... Ficou toda fora de si... vendo o que não contava ver... Vamos, Nocência, deixe-se de tolices.

-Eu quero, murmurou ela, voltar para o meu quarto.

E encostando-se à parede, com passo vacilante se encaminhou para dentro.

Ficara sombrio o capataz.

De sobrecenho carregado, recostara-se à mesa e fora, com a vista, seguindo aquela a quem já chamava esposa.

Sentou-se defronte dele Pereira com ar de admiração.

-E que tal? exclamou por fim... Ninguém pode contar com mulheres. Iche!

Nada retorquiu o outro.

-Sua filha, indagou ele de repente com voz muito arrastada e parando a cada palavra, viu alguém?

Descorou o mineiro e quase a balbuciar:

-Não... isto é, viu... mas todos os dias... ela vê gente... Por que me pergunta isso?

-Por nada...

-Não;... explique-se... Você faz assim uma pergunta que me deixa um pouco... anarquizado. Este negócio é muito, muito sério. Dei-lhe palavra de honra que minha filha havéra de ser sua mulher... a cidade já sabe e... comigo não quero histórias... É o que lhe digo.

-Esta bom, replicou ele, nada de percipitações. Toda a vida fui ansim... Já volto; vou ver onde pára o meu cavalo.

E saiu, deixando Pereira entregue a encontradas suposições.

Decorreram dias, sem que os dois tocassem mais no assunto que lhes moía o coração. Ambos, calmos na aparência, viviam vida comum, visitavam as plantações, comiam juntos, caçavam e só se separavam à hora de dormir, quando o mineiro ia para dentro e Manecão para a sala dos hóspedes.

Inocência não aparecia.

Mal saía do quarto, pretextando recaída de sezões: entretanto, não era o seu corpo o doente, não; a sua alma, sim, essa sofria morte e paixão; e amargas lágrimas, sobretudo à noite, lhe inundavam o rosto.

-Meus Deus, exclamava ela, que será de mim? Nossa Senhora da Guia me socorra. Que pode uma infeliz rapariga dos sertões contra tanta desgraça? Eu vivia tão sossegada neste retiro, amparada por meu pai... que agora tanto medo me mete... Deus do céu, piedade, piedade.

E de joelhos, diante de tosco oratório alumiado por esguias velas de cera, orava com fervor, balbuciando as preces que costumava recitar antes de se deitar.

Uma noite, disse ela:

-Quisera uma reza que me enchesse mais o coração... que mais me aliviasse o peso da agonia de hoje... E, como levada de inspiração, prostrou-se murmurando:

-Minha Nossa Senhora mãe da Virgem que nunca pecou, ide adiante de Deus. Pedi-lhe que tenha pena de mim... que não me deixe assim nesta dor cá de dentro tão cruel. Estendei a vossa mão sobre mim. Se é crime amar a Cirino, mandai-me a morte. Que culpa tenho eu do que me sucede? Rezei tanto, para não gostar deste homem! Tudo... tudo... foi inútil! Por que então este suplício de todos os momentos? Nem sequer tem alivio no sono? Sempre ele... ele!

As vezes, sentia Inocência em si ímpetos de resistência: era a natureza do pai que acordava, natureza forte, teimosa.

-Hei de ir, dizia então com olhos a chamejar, à igreja, mas de rastos! No rosto do padre gritarei: Não, não!... Matem-me... mas eu não quero...

Quando a lembrança de Cirino se lhe apresentava mais viva, estorcia-se de desespero. A paixão punha-lhe o peito em fogo...

-Que é isto, Santo Deus? Aquele homem me teria botado um mau olhado? Cirino, Cirino, volta, vem tomar-me... leva-me!... eu morro! Sou tua, só tua... de mais ninguém.

E caía prostrada no leito, sacudida por arrepios nervosos. Um dia, entrou inesperadamente Pereira e achou-a toda lacrimosa. Vinha sereno, mas com ar decidido.

Algumas questões serão sugeridas para que o estudante faça uma interpretação do texto lido. (Passá-las no quadro)

Interpretação do texto

1- Há no texto marcas do Romantismo? Destaque-as.

2- Taunay utiliza-se da linguagem do sertão. Retire-as do texto atribuindo-lhes significado.

Professor, encerre as atividades fazendo uma avaliação oral sobre Romantismo 3ª geração. Faça de forma com que todos os alunos participem desse momento.

ENFOQUE: Crítica aos escritores, às obras, ao desenvolvimento das aulas.

Recursos Complementares

Professor, dos sites abaixo foram extraídos partes do texto. Lê-lo na íntegra, poderá ser-lhe útil e aos alunos.

http://fredb.sites.uol.com.br/iracema.html 

http://www.robertoavila.com.br/arquivos/literatura_aula30.htm  A moreninha

http://www.textolivre.com.br/livre/16984-ficha-esboco-de-inocencia 

Avaliação

A avaliação deverá ocorrer de forma coletiva em todos os momentos em que os alunos estiverem participando das discussões propostas e, individualmente, por meio da produção das atividades escritas e quando da avaliação final oral.

Opinião de quem acessou

Cinco estrelas 1 classificações

  • Cinco estrelas 1/1 - 100%
  • Quatro estrelas 0/1 - 0%
  • Três estrelas 0/1 - 0%
  • Duas estrelas 0/1 - 0%
  • Uma estrela 0/1 - 0%

Denuncie opiniões ou materiais indevidos!

Opiniões

Sem classificação.
REPORTAR ERROS
Encontrou algum erro? Descreva-o aqui e contribua para que as informações do Portal estejam sempre corretas.
CONTATO
Deixe sua mensagem para o Portal. Dúvidas, críticas e sugestões são sempre bem-vindas.