16/12/2010
Maria Cristina Weitzel Tavela
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Ensino Médio | Literatura | Estudos literários: análise e reflexão |
Ensino Médio | Literatura | Literatura brasileira, clássica e contemporânea: criações poéticas, dramáticas e ficcionais da cultura letrada |
Ler poemas de Gregório de Matos;
reconhecer a importância da sátira para a manifestação de uma consciência crítica na poesia brasileira;
identificar, em textos do autor, marcas discursivas e ideológicas desse gênero e seus efeitos de sentido;
relacionar características discursivas e ideológicas ao contexto histórico de produção, circulação e recepção;
posicionar-se, como pessoa e como cidadão, frente a valores, ideologias e propostas estéticas representadas em poemas satíricos do autor.
Habilidades básicas de leitura e escrita;
Iniciação ao estudo do Barroco literário.
http://valkirio.blogspot.com/2009/01/o-esplendor-do-barroco.html
Professor, antes de iniciar a aula, retome com seus alunos os conhecimentos que eles adquiriram sobre o Barroco. Instigue-os a demonstrarem através de exemplos e conceitos o que seriam as principais marcas deste período histórico-artístico. Certamente, a oposição entre a religiosidade e os valores mundanos surgirá desta discussão. O Barroco é uma época marcada pela contradição e pela tensão, pelo conflito, onde se misturam religiosidade e sensualismo, misticismo e erotismo.
A dialética entre a CARNE/ MATÉRIA X ESPÍRITO ou entre a visão ANTROPOCÊNTRICA X TEOCÊNTRICA é traço marcante na arte barroca.
Gregório de Matos Guerra (1633-1696), nosso principal poeta do século XVII, produziu uma variedade de poemas em que essa contradição sentimental é clara.
Explique a seus alunos que o poeta Gregório será a fonte para os textos que serão pesquisados nesta aula, porém, suas poesias líricas serão deixadas a parte para que façam a apreciação de uma outra vertente de sua poética, aquela que lhe valeu o apelido de BOCA DO INFERNO e tem a sátira como elemento principal e bastante recorrente.
A poesia satírica tem em comparação com a lírica a particularidade de ser ofensiva, crítica e maledicente. A sátira de Gregório é debochada e denunciadora dos maus costumes e tem também fundamentos religiosos, morais e políticos. A sátira do “Boca do Inferno”, que critica a corrupção, os desmandos administrativos e as hipocrisias da fidalguia local, fez com que fosse deportado para Angola.
Numa sociedade colonial, com a principal fonte econômica passando por uma crise: a produção açucareira dos engenhos; ao mesmo tempo em que uma burguesia comercial, formada por mestiços e portugueses, e enriquecida às custas desta crise aspira à nobreza, além da intensificação das restrições comerciais ao Brasil, feitas pela Metrópole, Gregório de Matos encontrará material vasto para desferir suas críticas.
Veja como José Miguel Wisnik define os motivos para a sátira do poeta baiano:
"Num primeiro nível, podemos dizer que a poesia satírica de Gregório registra em vários pontos essas tensões: a crise; a debilitação das câmaras; a ascensão do negociante português; a opressão colonial. Mas não se trata apenas de registrar: Gregório está embrenhado nas contradições que aponta, e empenhado em dar-lhes uma resposta. O filho do senhor de engenho encontra o engenho em plena crise, e seu mundo, usurpado por aquilo que ele vê com o arrivismo oportunista dos pretensos e falsos nobres, os negociantes portugueses. O bacharel, naufragado no purgatório colonial, vive a farsa das instituições jurídicas que se sobrepõem de modo deslocado à prática multifacetada da vida da Colônia. O poeta culto se vê num meio iletrado; a literatura, sufocada nos “auditórios – de igreja, academias, comemoração, praticada por sacerdotes, juristas, administradores, realiza a apologia subjacente de um status quo que soa, como se vê, incômodo para Gregório de Matos".
(WISNIK, José Miguel. Gregório de Matos: poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1997, p. 15).
Portanto, percebe-se que as causas para a maior parte da sátira praticada por Gregório serão também pessoais. Trata-se de uma revolta pela situação de decadência econômica que vive o filho de senhor de engenho. Além disso, o despreparo cultural e a "impureza" do sangue da nova "nobreza" que se estabelecia na Bahia às custas do comércio serão motivos para que Gregório tenha maior ódio da gente que o rodeia.
http://mardehistorias.wordpress.com/2010/08/07/resenha-poemas-escolhidos-de-gregorio-de-matos/
Professor, para a primeira atividade indique a seus alunos a pesquisa do soneto dirigido "À cidade da Bahia".
À CIDADE DA BAHIA
Triste Bahia! ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente,
Pelas drogas inúteis, que abelhuda,
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus, que de repente,
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fôra de algodão o teu capote.
http://www2.ufba.br/~gmg/cidade.html
Mapa de Salvador de João Teixeira Albernaz, 1631.
http://historias.interativas.nom.br/bbcartas/?cat=5
Professor, após a pesquisa:
(1) peça para seus alunos se manifestarem oralmente sobre o soneto que leram:
a) qual é o tema do poema?
b) como é a identificação do poeta com a cidade da Bahia?
c) qual a causa da decadência de ambos?
d) qual a consequência da ação do sagaz Brichote (mercador estrangeiro) para o fim da Bahia?
(2) após essa participação oral dos alunos, na qual se espera que percebam a crítica de Gregório à cidade da Bahia, peça que anotem no caderno, com base nas informações sobre a vida do poeta, os possíveis relações entre o soneto e sua biografia.
(3) indique, para complementar, o vídeo de Caetano Veloso cantando "Triste Bahia", uma recriação do soneto de Gregório:
http://www.youtube.com/watch?v=WQOhwhH3MOw
Professor, para a segunda atividade indique para seus alunos a pesquisa do soneto "Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia".
DESCREVE O QUE ERA NAQUELE TEMPO A CIDADE DA BAHIA
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem freqüente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres
E eis aqui a cidade da Bahia.
http://www2.ufba.br/~gmg/descreve.html
Após a leitura:
(1) divida os alunos em quatro grupos.
(2) para cada grupo escolha uma estrofe do soneto.
(3) sobre a estrofe peça para identificarem:
a) o tema da sátira.
b) os elementos textuais (verbos, nomes e seus caracterizadores) que indiquem as ações de quem se dirige a sátira.
c) há crítica política, social, econômica ou racial? Justificar.
Após a atividade realizada pelos grupos:
(4) peça para apresentarem oralmente (se quiserem usar o quadro para anotar) as marcas da crítica de Gregório e seus alvos (a quem ela se dirige).
Para a terceira atividade indique a pesquisa do seguinte soneto:
CONTEMPLANDO NAS COUSAS DO MUNDO DESDE O SEU RETIRO, LHE ATIRA COM O SEU APAGE, COMO QUEM A NADO ESCAPOU DA TORMENTA
Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa.
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
http://www2.ufba.br/~gmg/contemp.html
Após a pesquisa:
(1) peça aos alunos para anotarem no caderno as respostas para as seguintes questões:
a) a quem a sátira de Gregório se dirige neste soneto?
b) quais elementos indicam no poema as posições sociais dos criticados?
c) quais instituições sociais são alvo da crítica de Gregório?
d) qual o efeito de sentido provocado pelas antíteses (limpo/ carepa; nobre/ vil; menos falar/ mais increpa)?
e) no poema há um jogo de aparência x essência, explique como ele é construído pelo poeta a partir do objetivo de sua crítica.
f) qual o efeito estético e sonoro provocado pelo último verso?
(2) inicie um debate com seus alunos sobre a sátira de Gregório e as consequências para a vida do poeta, a partir da seguinte questão:
É possível considerar como justa, pensando no contexto em que ele viveu, sua deportação para Angola e a proibição de nunca mais pisar em sua terra natal?
Lembrar que há ainda críticas mais "pesadas" referentes, por exemplo, aos comportamentos sexuais de padres e freiras conhecidos do poeta.
(3) exiba para os alunos, caso seja possível, o filme "Gregório de Mattos", de Ana Carolina.
Sinopse: No século XVII, na Bahia, surge o poeta que irá anunciar, com sua trágica vida e sua impressionante obra, o perfil tenso e dividido do povo brasileiro: Gregório de Mattos, o Boca do Inferno (1633-1696). O filme não é uma reconstituição de sua biografia, e sim momentos de sua vida na força de suas palavras. A trama começa a partir do momento em que o poeta tenta adaptar-se à Bahia que reencontra, cheia de agiotas e cercada pelas injustiças. É ali que o poeta cria a representação artística da vida brasileira, com a sátira e os versos que vão desassossegar a Igreja, o Rei e os poderosos.
Gregório de Mattos - Direção: Ana Carolina. Fotografia: Rodolfo Sanchez. Montagem: Ademir Francisco. Produção executiva e direção de produção: Jean Robert. Produção: Crystal Cinematográfica
Waly Salomão (Gregório de Mattos) e Marília Gabriela (Abadessa)
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141989000200005&script=sci_arttext
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0034-83091989000100012&script=sci_arttext
http://www.revista.agulha.nom.br/laeticiajensen4.html
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Sul Americana, 1968.
HANSEN, João Adolfo. A sátira e o Engenho: Gregório de Matos e a Bahia do Século XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
WISNIK, José Miguel. Gregório de Matos: poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1997.
Para a avaliação, divida a turma em grupos e indique a pesquisa do seguinte link:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1827
Após a pesquisa peça para cada grupo escolher um poema satírico e fazer a leitura para a turma esclarecendo os seguintes pontos:
a) o tema.
b) a figura ou instituição satirizada.
c) as metáforas utilizadas pelo poeta na sátira (rebaixamento, chulas, eróticas etc).
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