24/11/2010
Maria Cristina Weitzel Tavela
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Ensino Médio | Literatura | Literatura brasileira, clássica e contemporânea: criações poéticas, dramáticas e ficcionais da cultura letrada |
Ensino Médio | Literatura | Estudos literários: análise e reflexão |
ler poemas parnasianos;
identificar as imagens estatuárias nos poemas parnasianos;
identificar, em textos literários do Parnasianismo, marcas discursivas e ideológicas desse estilo de época e seus efeitos de sentido;
relacionar características discursivas e ideológicas da poesia parnasiana brasileira ao contexto histórico de sua produção, circulação e recepção.
Habilidades básicas de leitura e escrita;
Iniciação ao estudo do Parnasianismo.
O termo Parnasianismo surgido na França para nomear o grupo de poetas reunidos nas antologias intituladas Le Parnasse Contemporain, publicadas a partir de 1866, tornou-se nome de Escola e estendeu-se a outros países, como o Brasil. Conforme afirma Antônio Cândido: "Além do francês, só no Brasil houve um movimento chamado Parnasianismo, diretamente inspirado nele". (CANDIDO, Antonio; CASTELLO, J. Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira. Volume II. São Paulo/Rio de Janeiro: Difel, 1968, p. 124).
O poeta francês Théophile Gautier, iniciador da famosa teoria da arte pela arte, que objetivava apenas a criação da beleza, pregava princípios de rigor na composição, e a busca de sugestão plástica ao invés do individualismo subjetivista. A beleza, neste caso, deveria ser alcançada por meio de um trabalho duro, obstinado, que tratasse a palavra como objeto; e não pela ação da inspiração. Portanto, a arte deveria voltar-se para si mesma, princípio que sintetizava os objetivos do movimento.
O nome da Escola deriva de Parnaso, um monte localizado na Grécia central, onde, segundo a mitologia, residiam o deus Apolo e as Musas, divindades inspiradoras das artes. O culto às divindades gregas e às formas clássicas foi muito comum no Parnasianismo. Além disso, valorizava-se demasiadamente os aspectos formais do poema, como o soneto, muito usado na antiguidade, com versos Alexandrinos (12 sílabas) ou decassílabos (10 sílabas), a rima rica e rara, a chave de ouro (final perfeito para o poema), a tematização de objetos e de formas concretas.
Essa preocupação exagerada com o poema, tratando-o como produto concreto, final e acabado, a ânsia pela construção do objeto, muitas vezes esquecendo-se do conteúdo ou as emoções poéticas individuais, fazem dos poetas uma espécie de operários do verso, ou máquinas, como diria Oswald de Andrade: "Só não se inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta parnasiano".
O poeta parnasiano, portanto, sente-se como um ourives, um escultor, um carpinteiro, um obreiro, e sua obra, o seu poema é também um produto material, como qualquer outro, onde o que importa não é o sentimento, mas a técnica, a capacidade artesanal do criador devidamente associada a seu esforço.
É como escultura, artesanato que buscaremos ler os poemas parnasianos utilizados na aula, com o objetivo de encontrar as relações de composição materialista do poema com a dureza, a ornamentação e a edificação das imagens, que as leva a ter uma relação com a forma estatuária, moldada e concreta.
Para a primeira atividade, indique aos alunos a pesquisa de dois poemas de Olavo Bilac, nos quais é notório o tom de manifesto por uma poesia que seja comparada ao ofício do escultor e do ourives:
A um poeta: http://www.revista.agulha.nom.br/bilac.html#poeta
Profissão de fé: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=7563
Após a pesquisa:
(1) peça para os alunos anotarem no caderno as imagens que lembram o ofício do escultor ou do ourives.
(2) peça para responderem no caderno e depois oralmente:
a) como o poeta se define nos textos?
b) quais vocábulos se referem à arte dos profissionais (escultores) comparados ao poeta?
c) em "Profissão de Fé", embora Bilac refira-se ao escultor, a preferência é pelo trabalho do ourives, fino artista, quais versos confirmam isso?
(3) Em "A um poeta", Olavo Bilac novamente cita o trabalho do artista como de um escultor, responda:
a) com qual construção ele compara a imagem feita pela arte do poeta?
(4) peça aos alunos para anotarem no quadro um conjunto de vocábulos que compõem as imagens do trabalho artesanal do poeta construídas nos poemas.
Professor, para a realização da segunda atividade, indique para os alunos a pesquisa do poema "A estátua", de Teófilo Dias.
http://www.estavapensando.com.br/index.php/2009/07/12/o-parnasianismo/
A ESTÁTUA
Fosse-me dado, em mármor de Carrara,
Num arranco de gênio e de ardimento,
Às linhas do teu corpo o movimento
Suprimindo, fixar-te a forma rara,
Cheio de força, vida e sentimento,
Surgira-me o ideal da pedra clara,
E em fundo, eterno arroubo, se prostrara,
Ante a estátua imortal, meu pensamento.
Do albor de brandas formas eu vestira
Teus contornos gentis; eu te cobrira
Com marmóreo cendal os moles flancos,
E a sôfrega avidez dos meus desejos
Em mudo turbilhão de imóveis beijos
As curvas te enrolara em flocos brancos.
Do livro Fanfarras (1882). Poema integrante da série Flores Funestas
http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/brasil/teofilo_dias.html
Após a pesquisa:
(1) peça para algum aluno ler o poema oralmente.
(2) inicie um debate e instigue os alunos a apontarem os elementos do poema que lembrem a forma estatuária.
(3) questione:
a) a que forma o poeta compara a estátua?
b) como o poeta define o mármore e a mulher?
c) qual o contraste entre as duas matérias?
d) qual o efeito de sentido existente na comparação feita pelo poeta?
Ao fim do debate os alunos deverão ter entendido a relação entre a mulher e a estátua: descrita como num pedestal, como Afrodite, a mulher seduz o homem. Seu corpo talhado como a pedra fria compõe uma imagem plástica como nas esculturas clássicas. O parnasiano quer que seu texto seja como essa escultura e molda seu poema como se fosse uma matéria concreta e mineral.
Para a terceira atividade indique a pesquisa de dois poemas de Alberto de Oliveira: "Vaso Grego" e "O ídolo".
http://literaturabrasileiradois.blogspot.com/2009/05/parnasianismo.html
Vaso Grego
Esta, de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.
Era o poeta de Teos que a suspendia
Então e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia
Toda de roxas pétalas colmada.
Depois. Mas o lavor da taça admira,
Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,
Ignota voz, qual se da antiga lira
Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.
O ídolo
Sobre um trono de mármore sombrio,
Num templo escuro e ermo e abandonado,
Triste como o silêncio e inda mais frio,
Um ídolo de gesso está sentado.
E, como a estranha mão, quebrando a medo
A paz que envolve as funerárias urnas,
Um órgão canta os salmos de um segredo
Pelas amplas abóbadas soturnas.
Cai fora a noite — um mar que se retrata
Sobre outro mar — dois pélagos azuis!
Num as ondas — alcíones de prata,
No outro os astros — alcíones de luz.
E de seu negro mármore no trono
O ídolo de gesso está sentado.
Assim um coração repousa em sono...
Assim meu coração vive fechado.
http://singrandohorizontes.wordpress.com/2010/01/19/alberto-de-oliveira-caderno-de-poesias-2/
Após a pesquisa:
(1) divida a turma em quatro grupos.
(2) para cada grupo uma atividade:
a) análise estrutural e formal dos poemas (forma fixa - soneto; versificação - número de sílabas métricas; rimas; chave de ouro).
b) análise temática dos poemas (vocábulos que se referem aos temas e suas imagens correspondentes).
c) análise das imagens poéticas (referem-se a que objetos concretos - vocábulos que indicam a natureza da matéria que compõe os objetos).
d) análise comparativa entre os poemas (semelhanças e diferenças entre a forma e o conteúdo).
(3) peça para cada grupo, nesta ordem, apresentar sua análise na frente da sala usando o quadro, se necessário.
Ao fim das apresentações, o professor pode apresentar sua conclusão sobre os trabalhos e relacioná-los às atividades vistas na aula.
http://www.graudez.com.br/literatura/parnasianismo.html
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/parnasianismo/parnasianismo-4.php
BANDEIRA, Manuel. Antologia dos poetas brasileiros da fase parnasiana. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, 1938.
CANDIDO, Antonio; CASTELLO, J. Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira. Volume II. São Paulo/Rio de Janeiro: Difel, 1979.
CANDIDO, Antonio. Na sala de aula. São Paulo: Ática, 2004.
SANT’ANNA, Affonso Romano de. O canibalismo amoroso. O desejo e a interdição em nossa cultura através da poesia. São Paulo: Brasiliense, 1985.
Para a avaliação, peça para seus alunos pesquisarem em casa ou na biblioteca, poemas de algum desses autores: Olavo Bilac; Raimundo Correia, Alberto de Oliveira, Teófilo Dias, Vicente de Carvalho, Machado de Assis, e escolher um poema que contenha imagens semelhantes àquelas vistas nesta aula.
Peça para lerem oralmente para a turma e verifique se a escolha está adequada ao tema da aula.
Quatro estrelas 1 classificações
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05/10/2013
Quatro estrelasesta atividade veio em bom momento, para ampliar os meus conhecimentos e enriquecer o meu plano de aula obrigada.