18/11/2010
Eliana Dias
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Análise linguística: modos de organização dos discursos |
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | Língua Portuguesa | Linguagem escrita: leitura e produção de textos |
Estrutura básica da narrativa.
Aula 01 (50 minutos)
O conto é um gênero discursivo da ordem do narrar muito comum em língua portuguesa. Assim como a crônica, o conto é uma narrativa de ficção de curta duração, apresentando os mesmos elementos estruturais: personagens, enredo, tempo, espaço e narrador.
Atividade de motivação para introdução do conteúdo.
1. O professor deverá iniciar a aula perguntando aos alunos:
a. Quem gosta de contar, ouvir ou ler histórias?
b. Vocês se lembram de alguma história que você leram ou ouviram contar?
c. Quais são os escritores que vocês conhecem, porque já leram seus livros ou porque ouviram falar deles?
Observação: O professor deverá ajudar os alunos nesta lembrança, dizendo títulos de obras que sabe já terem sido lidas por eles e escrevendo os nomes dos escritores no quadro de giz. Se não forem citados, o professor poderá acrescentar à lista importantes nomes, tais como Machado de Assis e Aluísio Azevedo, que se destacam-se no panorama brasileiro do conto, abrindo espaço para outros contistas como Clarice Lispector, Lima Barreto, Otto Lara Resende e Lygia Fagundes Telles, dentre outros.
2. A seguir, o professor deverá expor aos alunos a origem e as características do conto.
O conto tem origem desconhecida e remonta aos primórdios da própria arte literária.
No Século XIX, o conto se distancia da novela e do romance adquirindo espaço próprio. Grandes contistas surgem no mundo inteiro: Edgar Allan Poe nos EUA, Maupassant na França, Eça de Queirós em Portugal e Machado de Assis no Brasil.
Na estrutura do conto há um só drama, um só conflito. Rejeita as digressões e as extrapolações, pois busca um só objetivo, um só efeito. Com isso, a dimensão do conto é reduzida: o autor usa a contração, isto é, a economia dos meios narrativos. Essa preferência pela concisão e a concentração dos efeitos torna o conto uma narrativa curta. Uma característica importante é que ele termina justamente no clímax, ao contrário do romance em que o clímax aparece em algum ponto antes do final.
O espaço físico da narrativa normalmente não varia muito devido à própria dimensão do conto. A variação temporal não importa: o passado e o futuro do fato narrado são irrelevantes. Caso seja necessário, o contista condensa o passado e o expõe ao leitor em poucas linhas.
Devido a essas características (pequena extensão e pouca variação espacial e temporal) o número de personagens que participam do conto é pequeno. Também não há espaço para personagens complexas: a ênfase é colocada em suas ações e não em seu caráter.
Essas características do conto podem variar de uma época para outra, mas essas variações ocorrem em maior ou menor grau constituindo sempre uma estrutura básica que configura o gênero.
Adaptado de
http://www.sitedeliteratura.com/Teoria/contos.htm
Observação: O professor poderá optar por levar os alunos ao laboratório de informática para, em dupla, pesquisarem sobre a origem e as características do conto.
Disponível em:
http://www.jackbran.pro.br/redacao/teoria_do_conto.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Conto
Aula 02 ( 50 minutos)
Atividade
1. O professor deverá reproduzir para os alunos a cópia do conto “Tentação” de Clarice Lispector.
TENTAÇÃO
Clarice Lispector
Disponível em:
http://projetocarmim.files.wordpress.com/2008/12/ana_tentacao.jpg
TENTAÇÃO
Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto de bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão do Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnado na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmados. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Disponível em:
http://projetocarmim.files.wordpress.com/2008/12/beto_tentaao3.jpg
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
Disponível em:
http://3.bp.blogspot.com/_Ba3jQQ74ckU/S9ByhrMimHI/AAAAAAAAAio/cRu-g8Om2iU/s1600/pitty+5.JPG
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.
Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ele fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreendiam. Acompanhou-os com os olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.
Conto extraído de LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
Disponível em:
http://www.tirodeletra.com.br/conto_canino/Tentacao-ClariceLispector.htm
Disponível em:
http://3.bp.blogspot.com/_6kqrLgyraUg/Sx5JbODqQlI/AAAAAAAAACI/HPLqpw7ao9U/s1600-h/clarice.jpg
1920 – Clarice Lispector nasce em Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro, tendo recebido o nome de Haia Lispector, terceira filha de Pinkouss e de Mania Lispector. Seu nascimento ocorre durante a viagem de emigração da família em direção à América.[...].
Disponível em:
http://www.releituras.com/clispector_bio.asp
Aula 03 (50 minutos)
Atividade
O professor deverá solicitar aos alunos que, em grupo, respondam às questões seguintes sobre o conto “Tentação” de Clarice Lispector.
1. Sobre as personagens e o cenário do conto, responda:
a. quem e como são as personagens principais? Transcreva do texto frases que apresentam características das personagens.
b. Quais as características físicas e psicológicas comuns ao cachorro e à menina?
c. Onde se passa a história? Como é esse lugar? Transcreva do texto uma frase que apresenta uma característica marcante do cenário.
2. Como se classifica o narrador do conto? Justifique sua resposta com palavras do texto.
3. O narrador que vê e relata uma cena, mas pouco participa dos fatos, é chamado de narrador- testemunha.
4. Transcreva do texto uma passagem que permite ao leitor perceber a presença do narrador.
5. Em momento, pode-se perceber que o narrador se identifica com a menina?
6.Transcreva do texto expressões que indicam o transcorrer do tempo durante a narração.
7. Tempo cronológico ou tempo da história é o tempo determinado pela sucessão cronológica dos acontecimentos narrados. Tempo psicológico é o tempo que transcorre no pensamento / imaginação das personagens de uma história.
8.Qual a diferença entre o tempo cronológico e o tempo psicológico no texto? Justifique.
9. Explique o significado das expressões em destaque, nas frases abaixo.
a. “O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal”.
b. “No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol...”
10. “Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária.”
O que essa frase revela sobre o conflito da menina?
11. Por que as duas personagens não poderiam encontrar e ser amigas?
12. Por que o cão é considerado a outra metade da menina?
13. De que forma as personagens se comunicaram?
14. Por que o cachorro não olhou para trás?
15. Observe a organização do conto e identifique os momentos da narrativa:
a. situação inicial;
b. conflito;
c. clímax;
d. desfecho.
Aula 04 (50 minutos)
Atividade
Produção de texto
O professor deverá reproduzir para os alunos a cópia da imagem apresentada abaixo e, a seguir, apresentar a eles a proposta de produção de um conto.
Disponível em:
http://bananaetc.blogbrasil.com/archives/2004_03.html
Para a produção, o aluno deverá refletir.
1. Observe a imagem apresentada e procure imaginar:
a. O que esta cena retrata?
b. Quem seria a menina?
c. Onde ela está?
d. Em que tipo de conflito ela pode estar envolvida?
e. O que pode ter acontecido antes e depois do momento da foto?
2. Imagine que você tenha testemunhado a situação vivida na cena acima, e vai contar a história.
a. Lembre-se de que o conto será narrado em 3ª. pessoa. Ele deverá, portanto, apresentar marcas gramaticais de terceira pessoa, como verbos e pronomes.
b. Registre os sentimentos e impressões do narrador sobre os fatos e as personagens.
c. Organize sua narrativa em torno do conflito em que as personagens estão envolvidas.
d. Conte detalhadamente o que você observou.
Professor, o texto do aluno deverá ser lido em sala de aula para apreciação dos colegas e professor.
Para que os alunos possam ter mais conhecimento sobre Clarice Lispector, o professor poderá exibir para eles os seguintes vídeos:
a. Entrevista com Clarice Lispector – Parte 1
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok&feature=related
b. Entrevista com Clarice Lispector (1977) – Parte 2
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=TvLrJMGlnF4&feature=related
c. Entrevista com Clarice Lispector - TV Cultura -1977- Parte 3
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=2Orgxd9bD_c&feature=related
Quatro estrelas 3 classificações
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05/08/2014
Cinco estrelasAula excelente, foi de grande ajuda para mim.
15/07/2014
Quatro estrelasExcelente ideia! Gostei das questões e da sugestão para a criação de texto. Sem contar com o conto de Clarice, que sou fã!
26/01/2014
Cinco estrelasmaravilhosssssssssssssssssssa!!!