18/11/2010
Eliana Dias
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Análise linguística: modos de organização dos discursos |
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | Língua Portuguesa | Linguagem escrita: leitura e produção de textos |
Aula 01 (50 minutos)
Disponível em:
http://2.bp.blogspot.com/_e4IwqT_Yr7g/TABJD6x4kDI/AAAAAAAAADQ/1LkqqGjqb6Y/s1600/ampulheta21.jpg
O tempo é um dos elementos que compõem um texto narrativo. Ele pode ser expresso na ordem em que os fatos acontecem, ou seja, na ordem cronológica – passado, presente, futuro – também chamado de tempo linear ou na ordem não-linear – tempo psicológico – quando os fatos são apresentados fora da sequência cronológica. Nesse caso, transcorre obedecendo a memória ou a imaginação do narrador ou de uma determinada personagem.
Atividade
Tempo Rei |
Gilberto Gil
Composição: Gilberto
Não me iludo
Tudo permanecerá
Do jeito que tem sido
Transcorrendo
Transformando
Tempo e espaço navegando
Todos os sentidos...
Pães de Açúcar
Corcovados
Fustigados pela chuva
E pelo eterno vento...
Água mole
Pedra dura
Tanto bate
Que não restará
Nem pensamento...
Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!...
Pensamento!
Mesmo o fundamento
Singular do ser humano
De um momento, para o outro
Poderá não mais fundar
Nem gregos, nem baianos...
Mães zelosas
Pais corujas
Vejam como as águas
De repente ficam sujas...
Não se iludam
Não me iludo
Tudo agora mesmo
Pode estar por um segundo...
Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!...(2x)
Letra e vídeo disponíveis respectivamente em:
http://letras.terra.com.br/gilberto-gil/46247/
http://www.youtube.com/watch?v=CTJdrLuNVzQ&feature=player_embedded
2. Após a audição da canção, o professor deverá conversar com os alunos sobre o tema da música. Para ajudar o professor nessa tarefa, sugere-se as questões abaixo:
a. Por que o autor denomina o tempo de “Tempo Rei”?
b. Segundo o texto, quais são as transformações provocadas pelo tempo?
c. Como você interpreta a estrofe abaixo:
Pensamento!
Mesmo o fundamento
Singular do ser humano
De um momento, para o outro
Poderá não mais fundar
Nem gregos, nem baianos...
d. Você concorda com o autor a respeito do poder de transformação e de efemeridade do tempo? Justifique sua resposta.
Aula 02 (50 minutos)
Atividade
1. O professor deverá exibir para os alunos o vídeo seguinte sobre tempo e espaço na narrativa e solicitar a eles que fiquem atentos à distinção entre tempo cronológico e psicológico.
Vídeo - O Tempo e o Espaço na Narrativa
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=LPgTw7U3O_E
2. Após a exibição do vídeo, o professor deverá solicitar a um aluno que defina tempo cronológico e a outro que defina tempo psicológico. A interlocução deverá ser estabelecida, com a manifestação de outros alunos que queiram manifestar a sua opinião sobre o assunto.
Aula 03 (50 minutos)
Atividade
I - O professor deverá reproduzir para os alunos a cópia do conto “Felicidade Clandestina” de Clarice lispector.
II - A seguir, a professora deverá exibir o vídeo “Felicidade Clandestina” na voz de Aracy Balabanian. Os alunos deverão acompanhar a leitura do conto.
Vídeo - Felicidade Clandestina - Clarice Lispector por Aracy Balabanian
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=mbSMwUNjwtE
Texto:
Felicidade clandestina - Clarice Lispector
Clarice Lispector
O Primeiro Beijo
São Paulo, Ed. Ática, 1996
Disponível em:
http://pernambucoemcurtas.blogspot.com/2008/01/clandestina-felicidade-beto-normal-e.html
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.
Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato.
Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
Disponível em:
http://cecemca.rc.unesp.br/cecemca/Porta_videos/video_5.htm
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.
Disponível em:
http://pagina-de-vida.blogspot.com/2007/05/felicidade-clandestina-clarice.html
Sobre a autora
Disponível em:
http://www.noticiasdabota.com/2008/09/trechos-do-livro-felicidade-clandestina.html
Professor, para enriquecer sua aula, passe a sesu alunos informações sobre Clarice Lispector (Tchetchelnik Ucrânia 1925 - Rio de Janeiro RJ 1977). Clarice passou a infância em Recife e em 1937 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em direito. Estreou na literatura ainda muito jovem com o romance Perto do Coração Selvagem (1943), que teve calorosa acolhida da crítica e recebeu o Prêmio Graça Aranha. [...] Disponível em:
http://www.pensador.info/autor/Clarice_Lispector/biografia/
III. TRABALHO EM GRUPO:
Os alunos deverão responder, em grupo, às questões propostas sobre o texto lido.
1. Neste conto, a narradora – Clarice Lispector - recorda sua infância no Recife.
a. Quem são as personagens protagonistas do conto?
b. Qual delas é caracterizada de forma negativa? Transcreva do texto uma passagem que comprove sua resposta.
c. Apesar dos defeitos essa personagem é agraciada com algo que a tornava privilegiada. Qual era esse privilégio?
d. A outra, a narradora em 1ª. pessoa, era como as demais meninas. O que a narradora e as outras meninas tinham em comum?
2. Qual era o comportamento da filha do dono da livraria que chegava a ser irônico? Explique.
3. A filha do dono da livraria não valorizava a leitura e inconscientemente se sentia inferior às outras, sobretudo à narradora. O que ela fazia à narradora para se vingar?
a. Por que esse comportamento da menina indignava a narradora?
4. Chegou finalmente o dia da redenção da narradora, quando todos seus males seriam sarados. O que aconteceu nesse dia?
5. Qual foi a “felicidade clandestina” da menina? Por que clandestina?
6. O tempo no conto não é objetivo. Sabe-se que o tempo é a infância, embora ao final a autora evidencie o processo de amadurecimento da protagonista. De forma geral, há uma percepção temporal alterada, já que a ação do conto pode ter se passado em poucos dias – tempo cronológico - mas tem-se a impressão de que o suplício da menina durou uma eternidade.
Explique a diferença entre o tempo cronológico e o tempo psicológico no conto.
Aula 04 (50minutos)
Atividade
Correção das questões de interpretação do conto “Felicidade Clandestina” de Clarice Lispector.
1. Cada grupo define um colega para expor as respostas das questões sobre o texto.
2. O professor deverá propiciar que todos os grupos exponham suas respostas e deverá também mediar as discussões e fazer esclarecimentos, principalmente em relação ao tema da aula, qual seja: distinção entre tempo cronológico e psicológico no texto narrativo.
Para revisar os outros elementos da estrutura narrativa, o professor poderá exibir para os alunos o vídeo seguinte:
Narração -iPED
Disponível em:
Os alunos serão avaliados coletivamente durante a realização das atividades de interpretação do conto “Felicidade Clandestina” de Clarice Lispector. Para tanto, o professor deverá observar a participação e o envolvimento dos alunos.
Cinco estrelas 2 classificações
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03/04/2016
Cinco estrelasExcelente proposta de trabalho em sala de aula.
02/08/2012
Cinco estrelasMuito interessante essa atividade com leitura e trabalho de interpretação e compreensão textual.Além do mais, a maneira como foi esquematizada a aula, permite o envolvimento dos alunos de modo muito importante,permitindo que todos os alunos envolvidos,paticipem e cresçam de modo surpreendente interagindo,amadurecendo intelectualmente e sejam futuramente capazes de efetuar essa mesma atividade com mais desenvoltura e praticidade. Parabéns.