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A criatividade linguística em processos de formação de palavras.

 

25/01/2011

Autor e Coautor(es)
Marilene de Mattos Salles
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JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Língua Portuguesa Recursos linguísticos em uso: fonológicos, morfológicos, sintáticos e lexicais
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

O aluno terá informações acerca da formação do léxico e discutirá a validade da criação de novas expressões, tendo em vista o seu  processo de formação e sua função pragmática.

Duração das atividades
5 horas/aula
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Aulas preparadas para alunos que conheçam os processos de formação de palavras.

Estratégias e recursos da aula

Aulas 1 e 2   

Professor: conduza os alunos ao Laboratório de Informática. Inicie a aula, solicitando que acessem o site

http://quedoiderabicho.files.wordpress.com/2009/11/sobremesariano.jpg?w=450&h=146

 

Para facilitar, segue, abaixo, as transcrições das falas.

Quadrinho 1: "O que é isso? Parece horrível."

Quadrinho 2: "É comida vegetariana. É bom pra você."

Quadrinho 3: "Vegetariana?? yecchh! Eu não sou vegetariano!"

Quadrinho 4: "Eu sou sobremesariano."

Pergunte:

a) Há alguma palavra nessa tirinha que lhe parece incomum? Qual é ela?

b) Mesmo sendo aparentemente desconhecida, foi possível para você compreender o seu significado?

(Resp.: sim. Já conhecemos a palavra ‘vegetariano’ amplamente aceita por nós, usuários da língua, significando ‘aquele que pertence a um grupo de pessoas que se alimentam de vegetais’. Por analogia podemos perceber que ‘sobremesariano’ seria aquele que pertence a um grupo que se alimenta de ‘sobremesas’.  As duas palavras foram formadas a partir dos substantivos vegetal e sobremesa, respectivamente. O sufixo -ano indica ‘pertinência’.)   

c) Solicite que expliquem a formação dos adjetivos ‘serrano’ e ‘suburbano’. Quais foram os substantivos utilizados para essas formações? Que sufixo foi acrescentado? Que significação esse sufixo acrescentou aos substantivos (‘serra’ e ‘subúrbio’)? Que nomes damos a esse tipo de formação de palavras?

Na sequência, peça que acessem o site

http://2.bp.blogspot.com/_UHF_8VRVi1U/Shcrtq3CCTI/AAAAAAAAACM/yZB1cl_N4SM/s320/Neologismo.7.jpg

 

 

Informe aos alunos que essa imagem corresponde a uma capa de livro.

a) Qual é o título dessa obra?

(Resp.: SENTIPENSAR: fundamentos e estratégias para reencantar a educação.)

b) Conhecem a palavra ‘sentipensar’?

c) É possível compreendê-la?

(Resp.: como a autora da obra pretende ensinar fundamentos e estratégias  para reencantar a educação, nada mais interessante do que fazer isso sentindo e pensando.)

d) Como ela foi formada?

(Resp.: a união de dois verbos - sentir e pensar – gerou um terceiro, o verbo ‘sentipensar’.)   

Agora, peça que acessem o site abaixo,  para assistirem a um vídeo, recentemente divulgado na televisão.   

http://www.youtube.com/watch?v=JGo1iyAEd1c    

Aplique a atividade abaixo, utilizando a metodologia do estudo dirigido. Ao final, recolha para correção.

Atividade 1

a) Qual é o tema do vídeo?

(Resp.: crime de abuso e exploração sexual de menores)

b) Qual é a intenção do vídeo?

(Resp.: fazer campanha contra o abuso e a exploração de menores)

c) O que ele nos incita a fazer?

(Resp.: disseminar na Internet mensagens contra o abuso e a exploração sexual de menores.)

d) A palavra ‘viralizar’ poderia ser um impedimento para a compreensão da mensagem?

(Talvez sim, para aqueles não habituados à linguagem da Internet. Também porque o termo 'vírus' dá a ideia de algo ruim e a disseminação de um vírus na Internet traz problemas. Essa ideia seria incompatível com a significação que a palavra tem no vídeo apresentado: disseminar uma ideia boa. Porém, observe, por exemplo, que o verbo 'azarar' poderia ter um valor semântico negativo, e não tem. Discuta essa questão: verifique o que seus alunos sabem a respeito de 'viralizar'; troque informações com alguém da área de informática, da escola. Leia alguma informação sobre marketing viral no site http://pt.wikipedia.org/wiki/Marketing_viral

e) O surgimento de 'viralizar' é recente? (Resp.: supostamente sim.)

f) Como se formou esse verbo? Que ação ele descreve?

(Resposta possível: viralizar é um verbo formado a partir do adjetivo 'viral', que, por sua vez, tem origem no substantivo 'vírus'.  Ao radical vir- foi acrescentado o sufixo -al, formador de adjetivos (vírus/viral; cultura/cultural; forma/formal). Finalizando, houve o acréscimo do sufixo -izar, resultando no verbo 'viralizar'. A preferência pela criação de verbos em -ar tem uma explicação histórica ligada à produtividade da formação de verbos de 1ª conjugação no processo de constituição da língua.

Segundo Basílio (2004), " a formação em -izar é mais frequente na formação de verbos a partir de adjetivos ('fertilizar', 'disponibilizar', 'agilizar', formados a partir de 'fértil', 'disponível' e ágil, respectivamente. Formações em -izar se concentram na representação de mudança de estado, acompanhada ou não da ideia de um agente causador". A palavra 'viralizar' descreve a ação de disseminar uma ideia na Internet. ) 

Professor: Terminada essa fase da aula, distribua aos alunos cópias xerocadas, contendo um resumo do material abaixo. Faça a adaptação de acordo com o perfil da sua turma.

 

Léxico e Língua   

 

A língua é ao mesmo tempo um sistema de classificação e um sistema de comunicação. O papel do léxico está diretamente ligado a essa dupla função da língua. Ele é uma espécie de banco de dados previamente classificados, um depósito de elementos de designação, o qual fornece unidades básicas para a construção dos enunciados. O léxico, portanto, categoriza as coisas sobre as quais queremos nos comunicar, fornecendo unidades de designação, as palavras, que utilizamos na construção de enunciados. Desse modo, o léxico apresenta um alto teor de regularidade e é um componente fundamental da organização linguística, tanto do ponto de vista semântico e gramatical quanto do ponto de vista textual e estilístico.

 

O léxico é um sistema dinâmico e como tal apresenta  estruturas a serem utilizadas em sua expansão. Essas estruturas permitem a formação de novas unidades no léxico como um todo e também a aquisição de palavras novas por parte de cada falante.

 

Para garantir a máxima eficiência do sistema, a expansão lexical é efetuada sobretudo pelos processos de formação de palavras: fórmulas padronizadas de construção de novas palavras a partir de material já existente no léxico, o que permite reduzir a dependência da memória e garantir a comunicação automática.  É assim que captamos palavras que já existiam, mas que não conhecíamos.   

Exemplo: o verbo 'computar' já existia e serviu de base para a formação de computador (designação de um instrumento).  O sufixo –ção foi usado na construção da forma nominalizada 'computação' (função do objeto de designação); o sufixo –al forma o adjetivo computacional.

 

                   (BASILIO, M. Formação e classe de palavras no português do Brasil. São Paulo: Contexto, 2004)

 

Processos de formação dos neologismos

 

Neologismo: uma palavra ou expressão nova ou com sentido renovado, que conforme a intensidade do uso pode ser assimilada pela língua padrão. Expressa o dinamismo da língua/linguagem.

Há múltiplos processos de formação de neologismos. A criação de termos ou expressões pode surgir a partir de comparação com termos já usados, por prefixação, sufixação, justaposição ou aglutinação de termos e por empréstimo de termos de outras línguas (estrangeirismos).

 

Exemplos:

·  Super-herói (herói muito capacitado)

·  Não-policial (civil)

·  Enxugamento (contenção de despesas)

·  Pacotão (conjunto de medidas)

·  Besteirol (conjunto cômico de bobagens, besteiras)

·  Skatistas (que usam skate)

·  Xampu (estrangeirismo)

·  Abajur (estrangeirismo)

                        Disponível em  http://www.catho.com.br/jcs/inputer_view.phtml?id=9940

 

Professor: após explicar o texto acima para os alunos, solicite a seguinte pesquisa, que será usada na avaliação.

Atividade 2

Pesquise na mídia (jornais, revistas, Internet) ou nas relações sociais (família, escola, etc) termos criados recentemente, explicando sua formação e sua função pragmática (função da palavra no dia a dia). Essa pesquisa será usada na avaliação.

Aulas 3 e 4

Passe a seguinte atividade para ser feita em dupla, por escrito. Circule pelas carteiras, solucionando possíveis dúvidas. Em caso de maior complexidade, os alunos poderão deixar alguma questão em branco, pois a atividade será discutida na próxima aula.

Atividade 3

1) Explique a formação de fossilizar na seguinte frase:  "Depois de ter-se fossilizado, a matéria orgânica permanece inalterada."

2) Leia o texto abaixo, de Sérgio Rodrigues, publicado na revista Veja, em 18/04/2008, e disponível no site

http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/a-palavra-e/adultescente/

Adultescente   

Adultescente é um neologismo jocoso de sentido óbvio, cruzamento de adulto com adolescente. No entanto, ainda não abriu caminho até os dicionários brasileiros e, mais do que isso, não parece ter vingado de verdade em nosso dia- a- dia. Tudo indica que vingará. Nascido no inglês americano como adultescent, registrado pela primeira vez em 1996 e eleito pelo dicionário Webster’s a “palavra do ano” de 2004, o termo já tomou assento firme pelo menos em espanhol, na forma adultescente, de grafia igual à nossa. Seu trânsito internacional deve-se ao fato de o novo tipo humano que nomeia ser encontrável em muitos países. É só olhar em volta: adultescentes não faltam na paisagem contemporânea. Talvez você tenha um ou dois dentro de casa. Talvez, meu Deus, você seja um.

A palavra se difundiu como um daqueles rótulos que a cultura de massa adota para vender camisetas. Nesse sentido, é prima de expressões midiáticas como “geração X”, “metrossexual” etc. No entanto, “adultescente” tem consistência maior do que ajudar profissionais de marketing a bolar produtos destinados a esse novo nicho de mercado detectado no fim do século 20: o dos adultos “infantilizados”, consumidores de videogames e livros sobre magos mirins, que frequentemente prolongam sua dependência do lar paterno muitos anos além da média histórica, mesmo que – e isso é o mais intrigante – ganhem dinheiro suficiente para ter sua própria casa.

O sucesso de uma palavra nunca se funda apenas na lógica interna da língua. Adultescente parece ter força para se firmar no vocabulário do mundo globalizado porque reflete uma mudança cultural mais ampla e significativa, ainda que por enquanto meio mal explicada pelos estudiosos: aquela que deu à casa do papai, até recentemente encarada pelos jovens adultos como prisão, ares de santuário.

Responda:

a) Por que 'adultescente' é um neologismo jocoso?

b) Para você, o sentido de 'adultescente' é óbvio, como diz Sérgio Rodrigues? Qual é esse sentido? (Resp.: ver 2º parágrafo)

c) Como essa palavra se formou? (Resp.: pelo cruzamento de adulto com adolescente).

d) A palavra 'adultescente' já se firmou no Brasil? Ela tem força para se firmar no mundo globalizado? Por quê?

e) Que característica uma palavra precisa ter para abrir caminho rumo ao dicionário? (Resp.: ela precisa atender ao critérios da gramaticalidade, ou seja, o falante tem que percebê-la como uma expressão típica de sua língua, e ao critério da aceitabilidade: precisa ser amplamente aceita pelos usuários da língua).

f) 'Baianeiro' (como diz a música "metade baiano, metade mineiro") seria um outro exemplo de palavra formada pelo mesmo critério acima. Dê outro exemplo e explique o significado da palavra.

g) Leia o breve texto abaixo, publicado em 17/9/2010, na revista ISTOÉ.

"Ciente da força do movimento “Dilmasia” em Minas Gerais, o PSDB mineiro baixou uma ordem. No Vale do Jequitinhonha, os tucanos não pedem votos para José Serra. Na região, onde Lula é muito popular, o tucanato se concentra nas candidaturas estaduais de Antonio Anastasia, para o governo, e de Aécio Neves e Itamar Franco, para o Senado."

'Dilmasia' também é um neologismo fruto de cruzamento dos nomes próprios 'Dilma' e 'Anastasia'. Explique o sentido da expressão em conformidade com o texto lido.

Aula 5

Inicie a aula, corrigindo a atividade 3, aplicada na aula anterior. Em seguida, projete as imagens de Guimarães Rosa e de José Simão, para que os alunos conheçam ou revejam  os autores citados na próxima atividade. 

A primeira imagem está disponível no site  http://www.cultura.mg.gov.br/arquivos/Museus/Image/sum-guimaraes-rosa.jpg

 Guimarães Rosa

 

E a segunda imagem encontra-se em  http://n.i.uol.com.br/perfis/jose_simao.jpg

José Simão, jornalista

 

Atividade 4

Leia a informação abaixo.

Estilística   

Para conseguir efeitos expressivos, os escritores lançam mão de recursos que possam surpreender o leitor pela originalidade, pelo inesperado. Merece destaque o emprego de prefixos e sufixos de forma diversa daquela prevista pela  linguagem cotidiana. Esse emprego inusitado projeta conotações novas sobre termos aparentemente inexpressivos.

                                                  FARACO & MOURA.Gramática. São Paulo: Ática, 2005.

 

 A partir dessa perspectiva, explique, sob o ponto de vista morfológico e pragmático, a formação dos termos negritados.       

“ Não fosse meu despoder...” ( ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas).    

“Era assim uma cantiga sorumbática, desfeliz...” (ROSA, Guimarães. Sagarana)   

 “Heloísa Helena! Qual é o descabelereiro?”  (José Simão, Folha de São Paulo, 8/9/2006)   

(Observação: a Heloísa Helena a que José Simão se refere foi candidata a Presidente da República, pelo PSOL, em 2006. Pouco vaidosa, andava sempre com os cabelos presos.)

"E pelo menos com o gol de Kaká nós ganhamos bonito. Se fosse gol do Cafu, a gente ganhava feio! Feio não, que é feio dizer que uma pessoa é feia, tem que dizer desabonitada!  (José Simão, Ronalducho! Bolha pra Frente, Brasil! , Folha de São Paulo, 15/6/06)

Use, se achar necessário, a informação abaixo:

des- [do lat. ex.] Pref. = ‘separação’, ‘transformação’, ‘intensidade’, ‘ação contrária’, negação’, ‘privação’.    

Atividade 5

Todo falante possui, arquivado em sua mente, um conjunto de palavras, de partes de palavras (prefixos, sufixos) e de expressões chamadas idiomáticas (chutar o pau da barraca, rodar a baiana, etc). Desde bem pequenas, as crianças possuem informações gramaticais internalizadas que lhes permitem produzir não só infinitas frases, mas também inventar, principalmente por analogia, novas palavras.

Veja o que disse uma criança à sua mãe:

- Mamãe: meu time fez um golação.

- Não, filhinho, é golaço.

- Não, mamãe, é mais que golaço, é um golaço muito grande, um golação.

a) Explique, com suas palavras,  qual foi o sentido pretendido pela criança ao criar a expressão 'golação'. Sob o ponto de vista do processo de formação de palavras, o que fez a criança para atingir o seu objetivo?

(Resp.: a criança pretendeu dizer que se tratava de um gol extraordinário, magnífico. Para transmitir essa intenção, ela acrescentou dois sufixos aumentativos ao radical.)

b) Conhece alguma história que reflita essa inventividade infantil? Se conhecer, conte-a.

  

Recursos Complementares

VALENTE, A. A linguagem nossa de cada dia. Vozes: Petrópolis, 1998.  (Obra muito interessante contendo um capítulo destinado aos neologismos com muitas atividades práticas)

Os sites abaixo também tratam do assunto neologismo:

http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1706u1.jhtm

http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno13-18.html

Avaliação

A avaliação será feita por escrito, considerando a pesquisa solicitada no final das aulas 1 e 2 .

Divida a turma em grupos de três alunos. Cada grupo fará a análise de pelo menos três palavras, considerando:

a) o processo de formação das palavras

b) sua função prática (por que ou com que finalidade foi criada).

 

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