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Provérbios: a perpetuação de um querer dizer

 

21/01/2011

Autor e Coautor(es)
Marilene de Mattos Salles
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JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Língua Portuguesa Aspectos cognitivo-conceituais: mundo, objetos, seres, fatos, fenômenos e suas inter-relações
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

O aluno irá conhecer especificidades dos provérbios, examinando sua estrutura linguística, seu sentido original - tendo em vista a perpetuação de um querer dizer - e a subversão desse sentido, considerando-se alguns fatores da textualidade, como a intencionalidade e a situacionalidade.

Duração das atividades
6 horas/aula
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Aulas preparadas para alunos do 1º ano do ensino médio, com bom domínio de linguagem figurada (metáfora, eufemismo).

Estratégias e recursos da aula

Aulas 1 e 2  

Professor: dê início a uma conversa com seus alunos procurando averiguar o que sabem a respeito de provérbios. Coloque no quadro os exemplos abaixo, em torno dos quais será feita uma reflexão inicial.   

Quem conta um conto, aumenta um ponto.   

Quando um não quer, dois não brigam.    

Quem com coxo anda, aprende a mancar.   

Solicite a alguns alunos:

a) que interpretem os provérbios dados;

b) que criem cenas nas quais eles possam ser usados.   

Peça outros exemplos, seguidos de explicações.   

Em seguida,  pergunte:   

a) Em que momentos da vida podemos usar os provérbios e com que finalidade?

(Resp.: os provérbios podem e devem ser usados por qualquer pessoa em praticamente qualquer ocasião. Por exemplo, em palestras como forma de criar vínculos com a plateia; em sala de aula, por professores como forma de envolver alunos em temas e discussões; em brincadeiras e aconselhamentos entre pais e filhos, entre professores e alunos ou entre amigos, etc. O provérbio é onipresente: está em todo lugar. Embora não nos lembremos ao certo como os aprendemos, sem dúvida sabemos em que ocasião empregá-los.)   

Ver outras possibilidades de quando e onde usar os provérbios em http://www.proverbiario.com.br/core/index.php?option=com_content&view=article&id=54&Itemid=79  

b) De onde surgem os provérbios. Como eles se consagram?

(Resp.: a origem dos provérbios se apaga com o tempo. Eles são consagrados por uma comunidade linguística, que recolhe experiências vivenciadas em comum e as formula como um enunciado conotativo, sucinto e completo, empregado com a função de ensinar, aconselhar, consolar, advertir, repreender, persuadir ou ate mesmo praguejar.)

c) Além de ser um enunciado conotativo, sucinto e completo, que outras características os provérbios apresentam?

(Resp.: recorrência sintática: estrutura binária; recorrência semântica: assonâncias e aliterações; recorrência fonológica: ritmo e, na maioria das vezes, bom humor.)

Observação: sobre 'recorrência' veja indicação de leitura em "Recursos complementares". 

d) Tendo em vista as funções dos provérbios elencadas na questão “b” (ensinar, aconselhar, etc), pergunte aos alunos qual seria a função de cada um dos provérbios expostos no quadro.   

e) Os provérbios têm relação com uma determinada época? Podem cair em desuso?  

(Resp.: os provérbios ocorrem conforme as necessidades de sua época. Com o passar do tempo, podem ser inovados ou caírem em desuso. O que os torna atemporais é o uso frequente.)

f) Já se disse anteriormente que os provérbios são conotativos. O que isso quer dizer? Explique a partir do provérbio “Quem com coxo anda, aprende a mancar”.   

g) Embora tenham-se cristalizado no passado, os provérbios mantêm-se surpreendentemente vivos no presente. Quais poderiam ser os motivos dessa perpetuação?

(Respostas possíveis: os provérbios preservam o conhecimento; servem para nos mostrar que o homem evoluiu pouco em seus sentimentos e conflitos; expressam experiências comuns a todas as culturas, em todas as épocas; fazem parte da tradição oral de um povo, assim como as superstições, lendas e canções.)    

Professor: a seguir, distribua a atividade abaixo para ser feita por escrito, seguindo a metodologia do estudo dirigido.Recolha ao final para correção.    

Atividade   

1) Marque x nas respostas corretas.

De acordo com a conversa realizada anteriormente, podemos concluir que:

(    ) Os provérbios são  enunciados conotativos, sucintos e completos. Apresentam recorrência estrutural (sintática),  ritmo, aliteração, assonância e, muitas vezes, bom humor.

(    ) Provérbios se consagram dentro de uma comunidade linguística e são construídos a partir de experiências comuns.

(     ) A origem dos provérbios se perde no passado; por isso, eles não se perpetuam através do tempo.

(     ) Algumas de suas funções são: ensinar, aconselhar, consolar, advertir, repreender, persuadir ou ate mesmo praguejar.   

2) Como já foi discutido, o provérbio é um enunciado que utiliza muitas metáforas. Diferentemente dele, o ditado possui sentido literal, denotativo, explicativo. Considerando essa diferenciação, qual dos dizeres abaixo é um provérbio? Explique-o.    

Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.    

Quem ama o feio, bonito lhe parece.   

Não faça aos outros o que não gostaria que lhe fizessem.     

3) Você sabe o que é eufemismo? No seu entender, os provérbios teriam essa função? Conhecem um exemplo?

(Resp.: sim, provérbios podem ser usados como forma de suavizar uma fala. Por exemplo, o provérbio Quem avisa, amigo é empregado como uma forma indireta de dizer “Não faça tal coisa”.  Os dois enunciados constituem reprovações, porém o primeiro é  impessoal e requer uma interpretação do interlocutor, enquanto o segundo é  imperativo, tratando-se de uma imposição. Usado em lugar do enunciado impositivo, o provérbio atuaria no sentido de  minimizar um conflito.)   

4) O uso de provérbio pode revelar autoridade por parte de um interlocutor?   

(Resp.: sim, pois pode demonstrar que a pessoa tem posse de uma sabedoria universal. Embora sendo um discurso polifônico (discurso do outro, voz da coletividade), carregado por uma ideologia imposta pela sociedade, assume, de certa forma, a individualidade de quem o emprega, muitas vezes como auxílio à argumentação. Portanto, se adequadamente utilizado, pode tornar  uma tese irrefutável. Quem o emprega está apoiado em uma ideia tradicional estabelecida pelo senso comum, não refutada pela coletividade.)   

5) Numere os parênteses da segunda coluna de acordo com a numeração da primeira, respondendo à questão: que caráter o uso dos tempos verbais negritados confere a cada provérbio?      

1ª coluna

1) Presente do indicativo: Roupa suja se lava em casa.    

2) Pretérito perfeito: Roma não se fez num dia.                   

3) Futuro do presente em: Depois da tempestade, sempre haverá a bonança.

4) Futuro do presente em: Diga-me com quem andas e te direi quem és.   

2ª coluna

(     ) demonstrar o que acontece como decorrência de determinadas atitudes

(     ) atemporalidade   

(     ) demonstrar experiência ainda válida

(     ) demonstrar o que comumente acontece após certas situações.   

(Resp.: 4, 1, 2, 3)

Observação: se necessário, busque outras informações em

http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/artigo31.pdf 

Aula 3 

Professor: conduza seus alunos ao laboratório de informática.Inicie a aula conversando com eles sobre as reinvenções de provérbios. Que finalidades teriam?   

(Resp.: provérbios correntes, muitas vezes, são reinventados para servirem de instrumento a jocosidade - Quem ri por último é retardado, Quem espera tem criança - ou mesmo à inovação, como ocorre em campanhas publicitárias – Quem tem boca vai a Roma. Quem tem guias Publifolha vai ao mundo inteiro. Também aparecem em outros gêneros - artigo de opinião, reportagem, frases -, e em manifestações artísticas, como a música.)  

Divida os alunos em grupos de 3 componentes e peça que acessem o site abaixo, para ouvirem a música “Bom conselho”, de Chico Buarque de Holanda.

http://www.youtube.com/watch?v=5rNXz-MDNVs 

Atividade 1 

Terminada a escuta, promova a seguinte interação oral, buscando a compreensão da música. 

a) Ao ouvirem a música, foi possível identificar alguma relação da letra com os provérbios tradicionais? Qual é a relação?

(Resp.: Sim; o autor faz uma desconstrução, ele subverte os provérbios tradicionais.)  

b) A primeira desconstrução foi feita com o seguinte enunciado: “Ouça um bom conselho, que eu lhe dou de graça”. Que provérbio foi parodiado? (Resp.: “Se conselho fosse bom, ninguém dava.”)    

c) Foi possível identificar outros provérbios? Quais? 

Atividade 2 

Agora, peça que acessem o endereço http://letras.terra.com.br/chico-buarque/85939/  

para ouvirem e lerem a letra da mesma música. Em seguida, deverão responder às questões abaixo por escrito. 

a) De que forma Chico Buarque subverteu os provérbios:

Quem espera, sempre alcança.  (Resp.: Quem espera nunca alcança.)

Quem brinca com fogo, se queima. (Resp.: Brinque com meu fogo, venha se queimar.)

Faça o que eu digo, não faça o que eu faço. (Resp.: Faça como eu digo, faça como eu faço.)

Pense duas vezes antes de agir.  (Resp.: Aja duas vezes antes de pensar.)

O tempo não volta atrás. (Resp.: Corro atrás do tempo.)

Devagar se vai ao longe. (Resp.: Devagar é que não se vai longe.)

Quem semeia vento, colhe tempestade. (Resp.: Eu semeio o vento na minha cidade, vou pra rua e bebo a tempestade.)

b) Discuta e produza uma resposta para as seguintes questões:

- Quem seria o interlocutor do eu lírico denominado na letra “meu amigo”?

- Que proposta lhe é feita?

- Que intenções há nessa letra?   

(Resp.: as respostas poderão ser variadas, já que cada grupo interpretará a intencionalidade à sua maneira, levando em conta também uma dada situação, um dado conhecimento de mundo, entre outros fatores de coerência. Mas, tudo indica que o eu lírico pretende que seu interlocutor tome uma atitude diante de alguma situação já vivenciada por ele, mas experienciada naquele instante por seu “amigo”.)   

Aulas 4 e 5 

Professor: conduza os alunos ao laboratório de informática.

Inicie a aula, procurando investigar o que pensam a respeito do uso de provérbios na mídia.   

a) Conhecem alguma propaganda que tenha utilizado esse recurso?   

b) Por exemplo, a Publifolhas (guias de turismo publicados pela Folha de São Paulo) lançou uma publicidade dizendo Quem tem boca vai a Roma. Quem tem guias Publifolha vai ao mundo inteiro.

- No caso desse slogan, houve desconstrução do provérbio no sentido de ter sido parodiado? Ou trata-se de uma paráfrase?

- Por que as agências de publicidade se interessariam em dar aos slogans status de provérbios?   

(Resp.: o criador do projeto pode intencionar que o possível consumidor crie uma imagem do produto vinculada ao provérbio. Além disso, slogans e provérbios possuem estrutura sintática curta, são fáceis de serem memorizados, contam com a simpatia do consumidor e despertam confiabilidade ao produto.)

c) Mas pode ocorrer também a subversão de provérbios em propaganda, assim como fez Chico Buarque na letra da música?   

(Resp.: sim; subverter um provérbio é um recurso moderno, interessante: toma-se como base provérbios consagrados, para contradizê-los. Ao produzir no consumidor um efeito de estranhamento e, às vezes, risos, o agente publicitário chama a sua atenção para um novo conceito relacionado ao produto.)   

Professor: projete a imagem abaixo

http://www.cbc.ufms.br/tedesimplificado/tde_arquivos/13/TDE-2009-03-18T141503Z-338/Publico/Anita.pdf 

(a imagem consta na p.84 do endereço acima)

a) Esse anúncio foi publicado na Folha de São Paulo, em maio de 2006. Qual é o produto anunciado?

b) O slogan foi construído sobre um texto original, um já-dito. Qual é ele? (Resp.: As aparências enganam.)

c) Nesse caso, há um rompimento, uma descaracterização do texto original?

d) Em que circunstância o texto original poderia ser usado?

e) E nessa propaganda, qual foi a intenção do seu criador?     

Professor: na sequência será lida uma crônica argumentativa, de Nelson Motta, publicada originalmente no jornal Folha de São Paulo, em 28/07/2006. Nesse texto, o autor critica os políticos envolvidos no escândalo do mensalão. Faça uma breve contextualização histórica dessa época, antes da leitura.   

Posteriormente, solicite que acessem o site  

http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?page=&cod=308001 

Ainda obedecendo ao mesmo critério de grupos de trabalho estabelecido na aula 3, peça que cada grupo discuta as questões:

a) O texto de Nelson Motta é construído a partir de vários provérbios consagrados, que constituem um discurso já-dito. No entanto, nesse caso houve uma reiteração do já-dito ou um rompimento (subversão do já-dito)?

b) Qual foi a intenção do autor ao produzir esse texto?

c) Que efeito essa crônica produz no leitor?

d) Escolha uma passagem do texto, identificando e explicando o provérbio original e a sua desconstrução.   

Terminado o prazo das discussões, um aluno de cada grupo apresentará, oralmente, as respostas.   

A última tarefa dos grupos será a criação de um texto escrito, utilizando a subversão de provérbios. Ficará a critério de cada grupo a escolha de um gênero (poema, propaganda, artigo de opinião, frase, etc).   

Para aguçar a criatividade, solicite que façam uma pesquisa no site “Proverbiário”, onde encontrarão provérbios originais.

http://www.proverbiario.com.br/core/index.php?option=com_content&view=article&id=54&Itemid=79 

Nesse endereço, há uma infinidade de provérbios. Para acessá-los, deverão clicar em “Seções”; em “Provérbios e depois em “Português”.   

Também poderão pesquisar em “Provérbios modernos”

http://blogs.abril.com.br/blogdojj/2010/08/proverbios-modernos.html 

Todo o trabalho de discussão e pesquisa deverá ser feito nessa aula, pois a 6ª aula se destinará à construção e finalização do texto.   

Aula 6   

Construção e finalização do texto iniciado na aula 5.

Recursos Complementares

Sobre o conceito de provérbios, pesquise em  http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/artigo31.pdf 

Sobre provérbios e discurso publicitário, leia http://www.cbc.ufms.br/tedesimplificado/tde_arquivos/13/TDE-2009-03-18T141503Z-338/Publico/Anita.pdf    

Sobre ‘recorrência’, consulte KOCH, I. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 2005  

Sobre intencionalidade e situacionalidade, consulte      

KOCH, I. V. & TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual.  São Paulo: Contexto, 2001

Avaliação

1) Leia uma explicação histórica para o provérbio “Quem pariu Mateus, que o embale”.

“Quem pariu Mateus, que o embale, ou ainda, você é responsável por suas criações. Não tem nada a ver com São Mateus, apóstolo e evangelista. Esse Mateus parido seria um garotinho pobre da velha Roma, que foi abandonado na porta de uma família, com seu nome escrito em um papel. A família o passou para outra porta e assim sucessivamente. Até hoje não se sabe quem pariu, nem quem criou Mateus. Nem mesmo se ele existiu.”   

( http://www.jornaldelimeira.com.br/site/noticias_detalhes.php?ID_Noticia=19407 )   

Redija um texto, explicando, com palavras próprias, a origem histórica do provérbio, seguida de uma interpretação para a desconstrução desse mesmo provérbio, feita por Anthony Garotinho (ex-governador do Rio de Janeiro), em 2002, ‘mandando recado’ para José Serra (na época, Ministro da Saúde) sobre a epidemia de dengue.    

"Quem pariu o mosquito, que cuide dele."  (Veja - 13/02/02)   

2) Crie uma situação em que você possa utilizar o provérbio Quando a esmola é demais, o santo desconfia.        

Opinião de quem acessou

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Opiniões

  • luna , saint marie , São Paulo - disse:
    karinassbittencourt@gmail.com

    25/08/2011

    Cinco estrelas

    eu e meus alunos adoramos eles gostaram de saber sobre os proverbios bom obrigado e espero que tenha susseço com seu site


  • bernadete, ggg , Rondônia - disse:
    bgomes@hotmail.com

    04/05/2011

    Cinco estrelas

    excelente... ajudou mto


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