11/01/2011
Cláudia Regina M. G. Fernandes
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo | Estudo da Sociedade e da Natureza | Seres humanos e o meio ambiente |
Ensino Fundamental Final | Ciências Naturais | Vida e ambiente |
Por meio desta aula pretende-se que o aluno possa:
descrever antropocentrismo;
expressar-se criticamente sobre a relação do homem com os animais;
listar medidas para a preservação da vida na Terra.
Noções básicas sobre classificação dos animais e suas características.
A crônica Da utilidade dos animais de Carlos Drummond de Andrade foi escrita na década de 70 e nos conduz a pensar sobre nossa relação com os animais.
Professor, disponibilize o texto para conhecimento dos alunos, porém não coloque o título da crônica.
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Carlos Drummond de Andrade
Terceiro dia de aula. A professora é um amor. Na sala, estampas coloridas mostram animais de todos os feitios. É preciso querer bem a eles, diz a professora, com um sorriso que envolve toda a fauna, protegendo-a. Eles têm direito à vida, como nós, e além disso, são muito úteis. Quem não sabe que o cachorro é o maior amigo da gente? Cachorro faz muita falta. Mas não é só ele não. A galinha, o peixe, a vaca… Todos ajudam.
- Aquele cabeludo ali, professora, também ajuda?
- Aquele? É o iaque, um boi da Ásia Central. Aquele serve de montaria e de burro de carga. Do pelo se fazem perucas bacanas. E a carne, dizem que é gostosa.
- Mas se serve de montaria, como é que a gente vai comer ele?
- Bem, primeiro serve para uma coisa, depois para outra. Vamos adiante.
Este é o texugo. Se vocês quiserem pintar a parede do quarto, escolham pincel de texugo. Parece que é ótimo.
- Ele faz pincel, professora?
- Quem, o texugo? Não, só fornece o pêlo. Para pincel de barba também, que o Arturzinho vai usar quando crescer.
Arturzinho objetou que pretende usar barbeador elétrico. Além do mais, não gostaria de pelar o texugo, uma vez que devemos gostar dele, mas a professora já explicava a utilidade do canguru:
- Bolsas, mala, maletas, tudo isso o couro do canguru dá pra gente. Não falando da carne. Canguru é utilíssimo.
- Vivo, fessora?
- A vicunha, que vocês estão vendo aí, produz… produz é maneira de dizer, ela fornece, ou por outra, com o pelo dela nós preparamos ponchos, mantas, cobertores, etc.
- Depois a gente come a vicunha, né fessora?
- Daniel, não é preciso comer todos os animais. Basta retirar a lã da vicunha, que torna a crescer…
- A gente torna a corta? Ela não tem sossego, tadinha.
- Vejam agora como a zebra é camarada. Trabalha no circo, e seu couro listrado serve para forro de cadeira, de almofada e para tapete. Também se aproveita a carne, sabem?
- A carne também é listrada?- pergunta que desencadeia riso geral.
- Não riam da Betty, ela é uma garota que quer saber direito as coisas. Querida, eu nunca vi carne de zebra no açougue, mas posso garantir que não é listrada. Se fosse, não deixaria de ser comestível por causa disto. Ah, o pinguim? Este vocês já conhecem da praia do Leblon, onde costuma aparecer, trazido pela correnteza. Pensam que só serve para brincar? Estão enganados. Vocês devem respeitar o bichinho. O excremento...
– Não sabem o que é? O cocô do pinguim é um adubo maravilhoso: guano, rico em nitrato. O óleo feito da gordura do pinguim…
- A senhora disse que a gente deve respeitar.
- Claro. Mas o óleo é bom.
- Do javali, professora, duvido que a gente lucre alguma coisa.
- Pois lucra. O pelo dá escovas é de ótima qualidade.
- E o castor?
- Pois quando voltar a moda do chapéu para os homens, o castor vai prestar muito serviço. Aliás, já presta, com a pele usada para agasalhos. É o que se pode chamar de um bom exemplo.
- Eu, hem?
- Dos chifres do rinoceronte, Belá, você pode encomendar um vaso raro para o living da sua casa. Do couro da girafa Luís Gabriel pode tirar um escudo de verdade, deixando os pêlos da cauda para Tereza fazer um bracelete genial. A tartaruga-marinha, meu Deus, é de uma utilidade que vocês não cauculam. Comem-se os ovos e toma-se a sopa: uma de-lí-cia. O casco serve para fabricar pentes, cigarreiras, tanta coisa. O biguá é engraçado.
- Engraçado, como?
- Apanha peixe pra gente.
- Apanha e entrega, professora?
- Não é bem assim. Você bota um anel no pescoço dele, e o biguá pega o peixe mas não pode engolir. Então você tira o peixe da goela do biguá.
- Bobo que ele é.
- Não. É útil. Ai de nós se não fossem os animais que nos ajudam de todas as maneiras. Por isso que eu digo: devemos amar os animais, e não maltratá-los de jeito nenhum. Entendeu, Ricardo?
- Entendi, a gente deve amar, respeitar, pelar e comer os animais, e aproveitar bem o pêlo, o couro e os ossos.
Texto extraído de Drummond, Carlos de. De notícias e não notícias faz-se a crônica. Rio de Janeiro, José Olympio, 1975.
I. Professor, explore o texto propondo as seguintes atividades:
1. Peça ao aluno para dar um título ao texto.
2. Depois apresente o título dado à crônica pelo seu autor Carlos Drumond de Andrade. Socialize com os alunos quais títulos sugeridos mais se aproximaram do título dado pelo autor.
3. Procure no dicionário o sinônimo e o antônimo de útil.
II. As questões que se seguem objetivam associar o texto aos conhecimentos que os alunos já possuem sobre animais.
1. Retirar do texto o nome de todos os animais que são citados. Identifique a sua classificação e o meio em que vivem. Por exemplo: Tartaruga marinha - réptil - vive em meio aquático.
2. Os animais ilustrados abaixo são citados no texto. Identifique-os. Em parceria com o professor de geografia, descreva as regiões geográficas que estes animais habitam e as características destes ambientes, como clima e vegetação.
Fonte: http://projetopacu.wordpress.com/tag/tanque-rede/
Fonte: http://www.achetudoeregiao.com.br/animais/pinguim_de_adelia.htm
Fonte :http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/428/artigo89636-2.htm.
Fonte: http://www2.bioqmed.ufrj.br/ciencia/Tartarugas.htm
III. Proponha uma discussão sobre o texto abordando as seguintes questões:
1. Quando um animal é útil ? (Explique que, segundo o texto, um animal é útil quando pode prestar algum tipo de serviço ou atender alguma necessidade humana. E, segundo o texto, o próprio homem é quem define a utilidade de um animal. Explique para os alunos que esta é uma visão antropocêntrica que significa uma posição de domínio do homem sobre todas as criaturas e todo o mundo. Nesta forma de pensar e agir a natureza está subordinada ao seres humanos e por isso há uma desvalorização das outras espécies no planeta. As atitudes provenientes do antropocentrismo desequilibram todo o ecossistema porque está associada à degradação ambiental).
2. Proponha aos alunos apontarem quais atitudes poderiam ser adotadas para melhorar as relações do homem com o ambiente.
(A punição aos crimes contra a natureza como o desmatamento e queimadas ilegais, tráfico e desrespeito ao direito dos animais, entre outros; e maior divulgação das consequências das ações humanas sobre o ambiente são algumas medidas que podem minimizar as repercussões destruidoras do homem ao ambiente).
3. Em parceria com professor de História, peça aos alunos descreverem como era a relação do homem com os animais ao longo da história.
(Professor, esta relação é muito antiga. O homem na pré-história utilizava da caça e da pesca predatória como forma de obtenção de alimento. Essa relação tornou-se mais próxima quando o homem deixou de ser nômade e iniciou o processo de domesticação animal. A partir de então, o homem vem relacionando-se com os animais, até os dias atuais, nas mais variadas condições: na área do lazer; como instrumento de força, como instrumento de guarda; como fonte de alimento; nas terapias psicológicas; nas experimentações científicas, entre outros. No Egito Antigo, o gato era considerado uma espécie sagrada, assim como os hindus veneram o bovino, como elemento sagrado. Outra relação é caracterizada pelo antropocentrismo: a Natureza é constituída por elementos a serviço das necessidades materiais do ser humano. Esta relação manifesta-se pela exploração econômico-financeira dos animais na produção de alimento, vestuário e força de trabalho. Uma concepção ética sobre esta relação tem se delineado. O animal passa então a ser percebido de outra forma e é construída, principalmente nos países mais desenvolvidos, uma legislação de tutela dos animais. Intensifica-se nos dias atuais o fortalecimento das idéias de defesa aos direitos e as melhores condições de bem estar animal).
4. Conclua a aula expondo para a sala o que diz Renato Silva Pereira em seu trabalho intitulado: A dignidade da vida dos animais não-humanos: uma fuga do antropocentrismo jurídico.
Na sociedade moderna, onde cada vez mais a preocupação com o meio ambiente nos leva a medidas socioambientais, não há mais espaço para indiferença com outros indivíduos animais, sob pena da desconsideração moral da própria dignidade humana. Assim, sobrevêm a necessidade de uma concepção de mundo, sociedade e existência, menos antropocêntrica, onde o respeito e os valores morais não estejam presentes apenas entre os homens, mas sim entre este e o todo do qual faz parte, sobretudo com as demais formas de vida, em especial os animais não-humanos, tendo em vista a constatada dignidade presente nestes, independente da sua importância para outras vidas ou fins.
Recursos:
1. Textos sobre antropocentrismo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Antropocentrismo
http://www.ecoagencia.com.br/documentos/dignidadeanimais.PDF
2. Texto de apoio para o professor:
Shimamoto, Delma Faria. Desabafando com Deus in: Para nós professores e professoras de Ciências. Ijuí: Unijuí, 2008. p. 76-81.
No texto de Drumond de Andrade, é descrita a percepção do homem sobre os animais. Professor, peça aos alunos que em duplas, redijam um texto, com o máximo de 15 linhas, no qual possa ser expressada a maneira como os animais percebem o homem no ambiente. Socialize os textos e avalie a participação dos alunos.
Cinco estrelas 1 classificações
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06/02/2012
Cinco estrelasMuito interessante a proposta por ser norteada pela interdisciplinaridade.