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Interrupções em entrevista televisiva: colaboração ou intrusão?

 

26/01/2011

Autor e Coautor(es)
Marilene de Mattos Salles
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JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Língua Portuguesa Relações sociopragmáticas e discursivas
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

O objetivo dessa aula é identificar e analisar o papel das interrupções em entrevistas televisivas, como elemento de colaboração ou intrusão.

Duração das atividades
4 horas/aula
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Aulas preparadas para alunos do 2º ano do ensino médio. Seria interessante se os alunos já tivessem alguma familiaridade com análises de textos orais, especialmente as entrevistas. É necessário que saibam identificar e compreender o uso de metáforas na linguagem.

Estratégias e recursos da aula

Aulas 1 e 2

Professor: essa aula deverá ser desenvolvida no laboratório de informática ou em sala de aula, usando computador e data show. Com o intuito de verificar a percepção dos alunos para o aspecto da interrupção na linguagem, comece o trabalho, projetando a tirinha abaixo.

Atividade 1

Dialogue com eles sobre a tira. Em seguida, aplique, oralmente, a atividade abaixo, já direcionando a atenção deles para o tema primordial dessa aula, que é a interrupção.

a) No primeiro quadrinho, o que o personagem (técnico do time) quis dizer com a expressão "um jogo viril"?

b) Nessa fala do técnico há dois enunciados ligados pelo termo mas. Que relação esse termo estabelece entre os dois enunciados?

c) No segundo quadrinho, o técnico amplia o sentido de uma palavra dita anteriormente. Qual é essa palavra? (Resp.: cavalheirismo")

d) O que o técnico entende ser cavalheirismo?

e) No terceiro quadrinho, a fala do técnico é seguida de 'pausa'. Que sinal gráfico permite a nós, leitores, entender que ocorreu uma pausa?

f) O que essa pausa poderia significar? (Resposta possível: que o personagem não terminou a sua fala e, como o texto oral é planejado e falado de forma simultânea, ele está buscando algo para dizer e finalizar o seu turno.)

g) Nesse caso, o próprio técnico interrompeu a sua fala, ou foi interrompido?

g) Aproveitando esse breve tempo, o que as outras cobras (jogadores) fizeram?  (Resp.: elas fizeram uma pergunta irônica)

h) Que atitude elas quiseram sinalizar com essa ironia? (Resp.: que não acham possível tanto cavalheirismo no futebol)

i) Em vista disso, como o técnico finaliza aquele enunciado autointerrompido? 

j) A pausa numa conversa indica um lugar possível para que o interlocutor busque a sua vez de falar? (Resp.: sim. É um possível lugar de transição entre os parceiros da conversa.)

k) Se duas pessoas falam simultaneamente, a conversação pode entrar em colapso? (Resp.: sim, as falas simultâneas são "momentos cruciais na organização conversacional, pois aí o sistema pode entrar em colapso".) 

Professor: para seu embasamento, leia algumas informações abaixo.

Alguns aspectos da análise da conversação

 

A regra geral básica da conversação é fala um de cada vez. Isso nos permite imaginar um sistema de turnos, em que os parceiros vão alternando a vez de falar.

 

O turno é entendido como "aquilo que um falante faz ou diz enquanto tem a palavra, incluindo aí a possibilidade do silêncio".

Ocorre que, na prática, muitas vezes verificamos o contrário. Por exemplo: as pessoas podem falar juntas porque iniciaram seus turnos simultaneamente; às vezes, falam durante o turno do outro para sinalizar concordância, dúvida, etc. Também interrompem o turno, às vezes de forma colaborativa, outras vezes de forma intrusiva.

 

Essas interrupções intrusivas, aliadas às repetições com função argumentativa que visam a refutar a opinião de outrem, caracterizam a fala do dissenso, e representam momentos ameaçadores. A ocorrência conjunta desses dois fatores podem até configurar um episódio de conflito emocional aberto.

 

Observação: consulte a aula "O papel da repetição na língua falada" e examine a conveniência de aplicá-la antes dessa.

Dando sequência, solicite aos alunos que acessem o site http://www.youtube.com/watch?v=2ystG70JXZs&feature=related

para assistirem a um trecho de entrevista com Dilma Rousseff no Programa do Jô, realizada em 2008.

Terminada a escuta, distribua cópias xerocadas da atividade abaixo, para ser feita por escrito. Ela será elaborada com a sua orientação, segundo a metodologia do estudo dirigido.

Atividade 2

No início da conversa, Jô Soares faz uma pergunta à ministra sobre o casamento da sua filha e sobre qual carreira queria seguir quando era criança. Ao que ela responde: "bailarina". O tema 'família' e essa resposta relacionada à dança, dá margem a que Jô associe metaforicamente os termos política / dança e PAC / filho.

1) A seu ver, quais são os sentidos implícitos na relação entre política e dança?

2) A ministra, por sua vez, desconversa, e faz outra associação, dessa vez entre política e ginástica. O que ela estava querendo dizer?

3) Com essa fala, ela se opõe ao sentido que Jô dá à política?

4) Durante sua exposição sobre o PAC, outras metáforas muito interessantes aparecem. Explique-as.

- PAC e filho

- parentes comuns (tios, irmãos, sobrinhos) e ministros, governadores, prefeitos

5) Leia o fragmento abaixo. (trecho entre 4min 34  e 4min51)

Observação: por motivos didáticos não foram observadas as regras de transcrição para textos orais.

Ministra

Cê veja por exemplo em Manaus, cê acredita que em Manaus uma cidade cercada de rios por tudo quanto é lado não tem água potável pras pessoas beberem?

Jô Soares

Acredito, ôô...

Ministra

pois não tinha e...

Jô Soares

                    no Brasil não dá pra gente duvidar de coisa nenhuma [...]

 a) No primeiro turno a ministra vinha discorrendo sobre o problema de saneamento e dá um exemplo de Manaus. Ao final da fala, faz uma pergunta retórica, que lhe daria um tempo para continuar formulando seu texto. No entanto, qual foi a reação do apresentador?

(Resp.: ele aproveita essa chance e assume a vez de falar. Afinal, a ministra vinha fazendo uma exposição mais prolongada e devemos nos lembrar de que o programa é de entrevista.)

b) Essa interrupção lhe pareceu intrusiva, colaborativa ou teve outra função?

(Resp.: a interrupção não parece colaborativa, no sentido de contribuir verdadeiramente para o andamento daquele tema. Talvez tenha sido mais intrusiva, porém sem causar danos ou gerar conflitos. O maior interesse dele era reassumir o comando da entrevista para até fazer outras perguntas. E ele fez isso de forma sutil, usando o recurso do humor: "Acredito, ôô...")

c) Como podemos comprovar que a pergunta da ministra no primeiro turno era apenas retórica?

(Resp.: é possível verificar isso, porque ela mesma responde à pergunta em seu próximo turno "pois não tinha")

d) No outro turno, a ministra diz "pois não tinha e...". Ela consegue completar seu raciocínio? Por quê?

(Resp.: não, porque o apresentador a interrompe, assume a vez de falar, passando ele a fazer relatos de situações apresentadas em outros programas.)

e) Avalie esse momento do ponto de vista interacional. 

Aulas 3 e 4

Atividade 3

Essa atividade está dividida em duas etapas. Distribua cópias xerocadas das questões (ou passe no quadro).  Divida a turma em grupos.

1ª ETAPA

Solicite aos alunos que voltem a escutar o trecho entre 5min22 e 5min41 da entrevista de Dilma no Jô, ouvida na aula passada, para discutir as seguintes questões:

a) Que tipo de interferência fez o apresentador durante a fala da ministra? (Resp.: ele tentou interromper a ministra falando simultaneamente.)

b) Ele foi intrusivo ou cooperativo? Por quê? (Resposta possível: nesse momento foi bem intrusivo, porque além de falar junto, prejudicando até mesmo o telespectador,  ele inverteu os papéis, querendo explicar à ministra o funcionamento/gerenciamento do PAC.)

c) Como a ministra reagiu? (Resp.: ela corrigiu sutilmente o apresentador, explicando as responsabilidades das pessoas)

2ª ETAPA

Os mesmos grupos assistirão a um trecho do programa CQC, disponível em  http://www.youtube.com/watch?v=kRJmdHtYCto&feature=channel

Ao final da escuta, peça que assistam, novamente, ao trecho iniciado em 3min49 e finalizado em 4min01, para responder às questões abaixo.

a) Em que circunstâncias o repórter interrompe o político? Era um momento adequado (pausa, hesitação, etc)?

b) Qual foi a intenção do humorista ao fazer a interrupção?

Terminada a discussão, promova a apresentação dos grupos.

Recursos Complementares

MARCUSCHI, L.A. Análise da conversação. São Paulo: Ática, 1986.

GRUBER, Helmut. Disagreeing: Sequential placement and internal structure of disagreements in conflict episodes. Text 18 (4), 1998, pp. 467-503.

Avaliação

Divida a turma em grupos de quatro alunos.

Cada grupo ficará responsável por:

a) selecionar uma entrevista, contendo pelo menos duas interrupções.

b) levantar quatro questões relevantes sobre o tema da entrevista, para ser respondida oralmente pelos colegas.

c) discutir o papel das interrupções, sua forma e função. 

Obs.: antes de elaborar a tarefa, o grupo indicará o site para a avaliação do conteúdo pelo professor.

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