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Intertextualidade em minicontos

 

30/03/2011

Autor e Coautor(es)
Elza de Sá Nogueira
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JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Begma Tavares Barbosa

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: modos de organização dos discursos
Ensino Médio Literatura Estudos literários: análise e reflexão
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: processos de construção de significação
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula
  • Ler e interpretar minicontos
  • Reconhecer a estrutura narrativa que ancora os minocontos
  • Identificar marcas de intertextualidade nos minicontos
  • Compreender o papel da intertextualidade em minicontos
  • Produzir minicontos, utilizando o recurso da intertextualidade
Duração das atividades
3 aulas
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

A aula pressupõe que o professor já tenha trabalhado com os alunos a estrutura narrativa em contos que a possuam de forma mais clássica, com todas as partes bem reconhecíveis: situação inicial, complicação, clímax e desfecho. Sugerimos acessar a aula “O conto de Machado de Assis 1: A carteira”, da professora Begma Tavares Barbosa, que apresenta esse conteúdo de forma sistematizada.

Estratégias e recursos da aula

 

Atividade 1 - Conversa Inicial - Apresentação do livro Os cem menores contos brasileiros do século, organizado por Marcelino Freire

O professor pode iniciar o trabalho discutindo o título do livro com os alunos, após escrevê-lo no quadro e, se possível, mostrar um exemplar a eles. É interessante que o professor leve os alunos a perceberem a brincadeira intertextual feita com o título de outro livro: Os cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Italo Moriconi, aproveitando para relembrar o conceito de intertextualidade:

"(...) a intertextualidade ocorre quando, em um texto, está inserido outro texto (intertexto) anteriormente produzido, que faz parte da memória social de uma coletividade. (...) a intertextualidade é o elemento constituinte e constitutivo do processo de escrita/leitura e compreende as diversas maneiras pelas quais a produção/recepção de um dado texto depende de conhecimentos de outros textos por parte dos interlocutores, ou seja, dos diversos tipos de relações que um texto mantém com outros textos." (KOCH & ELIAS, Ler e compreender os sentidos do texto, p.86)

A questão do tamanho do conto deve vir à tona e o professor pode aproveitar para apresentar as regras impostas pelo organizador do livro - minicontos de até 50 letras, sem contar título - bem como levantar o que os alunos entendem sobre concisão.

A conversa também deve levantar com os alunos as expectativas narrativas que se tem em torno de um tipo de texto chamado de miniconto, explorando as ideias que eles já têm a respeito e aproveitando para relembrar a estrutura esperada - Situação Inicial, Complicação, Clímax, Desfecho.

 

Atividade 2 - Leitura de alguns minicontos do livro

O professor deve distribuir os contos aos alunos, impressos ou fotocopiados.

A leitura pode ser feita em voz alta por alunos.

Minicontos sugeridos:

1

MAS O RIO CONTINUA LINDO

Pensa o desempregado

ao pular do Corcovado.

Antônio Torres

___________

2

Uma vida inteira pela frente.

O tiro veio por trás.

Cíntia Moscovich

___________

3

FIM DE PAPO

Na milésima segunda noite,

Sherazade degolou o sultão.

Antônio Carlos Secchin

__________

4

CRIAÇÃO

No sétimo dia, Deus descansou.

Quando acordou, já era tarde.

Tatiana Blum

 

Atividade 3 - Compreendendo e analisando os contos lidos

O professor pode permitir que os alunos se expressem sobre o que acharam dos minicontos em geral e o que compreenderam de cada miniconto. Nesse momento da aula, é provável que os alunos questionem o gênero dos textos como um tipo de conto e mesmo sua validade como literatura. O professor poderá lembrá-los do exercício de concisão que caracteriza o miniconto, reconduzindo-os aos textos para que realizem as inferências necessárias para fazer emergir as partes da estrutura narrativa que estão elípticas com a ajuda das referências intertextuais.

 

Inferências intertextuais:

Miniconto 1 - Faz referência à música de Gilberto Gil "Aquele abraço" ao dizer que "o Rio continua lindo".

Miniconto 2 - Faz referência a dois chavões populares: um deles usado quando ocorre uma tragédia com uma pessoa muito jovem - "Uma vida inteira pela frente..."; o outro usado para se referir a uma traição - "por trás".

Miniconto 3 - Faz referência à obra oriental As mil e uma noites, em que a personagem Sherazade conta histórias ao sultão todas as noites para evitar que ele a mate, como fazia com todas as mulheres com as quais se casava. Na milésima segunda noite, o sultão se declara apaixonado por ela e desiste de matá-la. 

Miniconto 4 - Faz referência ao livro do Gênesis, do Antigo Testamento, em que se narra a criação do mundo e o descanso de Deus no sétimo dia.

 

Estrutura da narrativa nos contos:

Miniconto 1 - A única parte narrativa explícita é o clímax. No entanto, é possível inferir as outras através das palavras "desempregado" e "Corcovado", que situam o leitor quanto aos fatos anteriores ocorridos com o personagem: a perda do emprego, a subida ao Corcovado. O professor também pode chamar a atenção para  a ironia que a citação da música de Gilberto Gil acrescenta ao fatos narrados, na medida em que aparece como o pensamento contraditório do suicida no momento em que olha a cidade do Corcovado, imediatamente antes de pular. A palavra "Mas" antecipa o conflito que está por ser relatado.

Miniconto 2 - Estão explícitas nesse miniconto a situação inicial - "Uma vida inteira pela frente" - e o clímax - "O tiro veio por trás". É possível, no entanto, inferir tipos de complicação que poderiam culminar num tiro pelas costas: o personagem - o qual se infere que é jovem - poderia estar envolvido no mundo do crime e sua morte estar relacionada a uma queima de arquivo, por exemplo. Deduz-se também o desfecho a partir da própria situação inicial: usa-se essa expressão em referência a alguém com quem aconteceu uma tragédia, logo, trata-se de morte ou de lesão grave, que imponha grandes limitações à vida futura do personagem.

Miniconto 3 - A única parte narrativa explícita é o desfecho. No entanto, é possível resgatar o restante da história através da referência a As mil e uma noites, tanto no nome das personagens como no título: fim de papo pode remeter literalmente à fala de Sherazade, mas também metaforicamente antecipar o desfecho trágico do miniconto.

Miniconto 4 - Estão presentes a situação inicial - "No sétimo dia, Deus descansou" - e o desfecho - "Quando acordou, já era tarde". O leitor fica encarregado de inferir a complicação e o clímax provocados pelas ações destruidoras do homem no mundo, já que a expressão "já era tarde" costuma referir-se  a situações indesejadas e irreversíveis. 

 

Atividade 4 - Produzindo minicontos

1) Os alunos podem ser motivados a produzir seus próprios minicontos, seguindo as seguintes orientações sugeridas:

a) Escolher um bom conflito relacionado a seu cotidiano;

b) traçar o perfil dos personagens;

c) buscar uma analogia entre o conflito e/ou os personagens criados e os mesmos elementos de um texto anterior bastante conhecido: uma música, um poema, um ditado popular, etc;

d) escrever o conto da forma mais concisa possível, sem se preocupar  com a quantidade exata de letras empregadas, mas utilizando as referências intertextuais escolhidas a fim de deixar implícitas todas as informações que puderem ser inferidas;

e) criar um título que complemente o miniconto e não apenas reproduza as ideias já presentes nele;

f) iniciar o trabalho de redução do texto a 50 letras: cortes de palavras desnecessárias, substituição de palavras ou expressões por outras menores, etc., sendo fundamental nesse momento do trabalho ajudar os alunos a prestarem atenção também à sonoridade das palavras (aliterações e assonâncias são bem vindas, e até eventuais rimas), bem como ao ritmo do texto. 

 

2) Os minicontos dos alunos podem ser digitados, editados e impressos na forma de um minilivro. Atentar para que o formato e o título remetam à ideia de miniconto, como fez Marcelino Freire com o livro que organizou. Os minicontos também podem ser publicados num blog.

Recursos Complementares

 

Sites sugeridos:

http://www.veredas.art.br/

http://www.cronopios.com.br/site/colunistas.asp?id=2468

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u42708.shtml

Livros sugeridos:

FREIRE, Marcelino. Os cem menores contos brasileiros do século. Ateliê Editorial, 2004.

COLASANTI, Marina. Zooilógico. Imago, 1975.

Avaliação

 

A avaliação será feita em dois momentos:

1. durante o processo de leitura, compreensão e análise dos minicontos através das manifestações orais dos alunos às discussões propostas pelo professor, o qual deve verificar se eles foram capazes de realizar as inferências necessárias para a construção dos sentidos dos textos, recorrendo à intertextualidade e aos conhecimentos sobre estrutura e elementos da narrativa, e se foram capazes de compreender que o autor pressupõe grande parte desses conhecimentos com a finalidade de ser extremamente conciso;

2. durante e após o processo de produção dos minicontos pelos alunos, quando o professor deve verificar se eles estão conseguindo empregar o recurso aprendido.

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