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Poesia modernista: filha da cidade

 

20/06/2011

Autor e Coautor(es)
wendell de freitas amaral
imagem do usuário

JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Literatura Literatura brasileira, clássica e contemporânea: criações poéticas, dramáticas e ficcionais da cultura letrada
Ensino Médio Literatura Estudos literários: análise e reflexão
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

 

  • Ler poemas modernistas;
  • identificar, em poemas do Modernismo brasileiro, marcas que tratam o espaço da cidade como ambiente de descoberta e interação do homem com o mundo;
  • relacionar características discursivas e ideológicas de obras do Modernismo brasileiro ao contexto histórico de sua produção, circulação e recepção;
  • reconhecer a importância do Modernismo brasileiro para a consolidação de uma consciência de liberdade e inovação temática;
  • construir imagens poéticas que busquem representar o ambiente urbano.
Duração das atividades
4 aulas de 50 minutos.
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Conhecimentos básicos da linguagem poética; Iniciação ao contexto-histórico do Modernismo.

Estratégias e recursos da aula

Professor, esta aula tem como tema o estudo de poemas cujo foco é a cidade ou a relação do homem moderno com as transformações urbanas ocorridas durante as primeiras décadas do século XX.

As maiores cidades brasileiras, hoje metrópoles que caminham para tornar-se megalópoles, a essa época deixavam de ser pequenas vilas ou caóticas cidades com resquícios coloniais para incluir-se em um novo projeto urbano, na esteira do furor modernizante de capitais europeias, como Londres e Paris.

Essa modificação arquitetônica e paisagística, é claro, deixará marcas e provocará nas multidões de seres que nelas viverão sentimentos e modos de percepção nunca dantes vivenciados. Objetivando apreciar essa manifestação na poesia, veremos como alguns de nossos escritores voltaram seus olhares para esta novidade efervescente.

 

1ª ATIVIDADE

Antes, porém, é interessante que você, professor, introduza para seus alunos o contexto das mudanças provocadas pela modernização das cidades, a partir da segunda metade do século XIX. Para melhores resultados, sugira a seus alunos um diálogo com os professores de História e Geografia, nas aulas destas disciplinas. 

Comente com seus alunos sobre a importância da descoberta dos textos de alguns dos precursores desta modernidade, e que foram bastante lidos pelos nossos poetas do início do século XX. Escritores e obras do século XIX, como as de Edgar Allan Poe (O homem da multidão); Charles Baudelaire (As flores do mal - Pequenos poemas em prosa); Arthur Rimbaud (Iluminuras) servirão como objeto de estudo.

Abaixo alguns links onde podem ser acessados textos destes autores.

Edgar Allan Poe

http://www.ufrgs.br/proin/versao_2/poe/index81.html

Charles Baudelaire

http://vonrickhy.sites.uol.com.br/baudelapoesias4.htm

 Arthur Rimbaud

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000040.pdf

 

Charles Baudelaire é tido como um dos fundadores da modernidade, e sua poesia, seja em verso ou prosa, remete continuamente ao cenário urbano da Paris de meados do século XIX, quando a capital francesa sofria uma completa modificação estrutural. O poeta dos Pequenos poemas em prosa se vê numa posição ambivalente, ora é nostálgico em relação ao passado ora glorifica a presente mudança da cidade, contudo é consciente para saber que as cidades mudam porque são "vivas".

Segundo Sebastião Uchoa Leite (LEITE, p. 15), essa concepção instala "uma disjunção fundamental na visão moderna da urbe: a sensação de estar em oposição ao topos clássico do locus amoenus (o lugar aprazível), a descoberta do espaço urbano enquanto locus adversus (o lugar adverso)".

O poeta, portanto, deixa de ser visto como ser "superior" que habita a torre de marfim para pisar o chão comum e movimentar-se entre a multidão nas ruas da cidade. Nelas, vive todas as experiências possíveis, consequências das transformações que fazem que a adversidade e o tumulto sobreponham-se à individualidade. Abaixo dois poemas em prosa do autor, nos quais é possível perceber a entrega e o estranhamento do homem em meio aos conflitos da modernidade.

 

 
A PERDA DA AURÉOLA

 

“Olá! O senhor por aqui, meu caro? O senhor nestes maus lugares! O senhor bebedor de quintessências e comedor de ambrosia! Na verdade, tenho razão para me surpreender!”
"Meu caro, você conhece meu terror de cavalos e viaturas. Agora mesmo, quando atravessava a avenida, muito apressado, saltando pelas poças de lama, no meio desse caos móvel, onde a morte chega a galope de todos os lados ao mesmo tempo, minha auréola, em um brusco movimento, escorregou de minha cabeça e caiu na lama do macadame. Não tive coragem de apanhá-la. Julguei menos desagradável perder minhas insígnias do que me arriscar a quebrar uns ossos. E depois, disse para mim mesmo, há males que vêm para o bem. Posso, agora. passear incógnito, cometer ações reprováveis e abandonar-me à crapulagem como um simples mortal. E eis-me aqui, igual a você, como você vê.”
“O senhor deveria, ao menos, colocar um anúncio dessa auréola ou reclamá-la na delegacia caso alguém a achasse.”
“Não! Não quero! Sinto-me bem assim. Você, só você me reconheceu. Além disso a dignidade me entedia. E penso com alegria que algum mau poeta a apanhara e a meterá na cabeça descaradamente. Fazer alguém feliz, que alegria! e sobretudo uma pessoa feliz que me fará rir. Pense em X ou em Z. Hein? Como será engraçado.”
 
OS OLHOS DOS POBRES

Quer saber por que a odeio hoje? Sem dúvida lhe será menos fácil compreendê-lo do que a mim explicá-lo; pois acho que você é o mais belo exemplo da impermeabilidade feminina que se possa encontrar.

Tínhamos passado juntos um longo dia, que a mim me pareceu curto. Tínhamos nos prometido que todos os nossos pensamentos seriam comuns, que nossas almas, daqui por diante, seriam uma só; sonho que nada tem de original, no fim das contas, salvo o fato de que, se os homens o sonharam, nenhum o realizou.

De noite, um pouco cansada, você quis se sentar num café novo na esquina de um bulevar novo, todo sujo ainda de entulho e já mostrando gloriosamente seus esplendores inacabados. O café resplandecia. O próprio gás disseminava ali todo o ardor de uma estréia e iluminava com todas as suas forças as paredes ofuscantes de brancura, as superfícies faiscantes dos espelhos, os ouros das madeiras e cornijas, os pajens de caras rechonchudas puxados por coleiras de cães, as damas rindo para o falcão em suas mãos, as ninfas e deusas portando frutos na cabeça, os patês e a caça, as Hebes e os Ganimedes estendendo a pequena ânfora de bavarezas, o obelisco bicolor dos sorvetes matizados; toda a história e toda a mitologia a serviço da comilança.

Plantado diante de nós, na calçada, um bravo homem dos seus quarenta anos, de rosto cansado, barba grisalha, trazia pela mão um menino e no outro braço um pequeno ser ainda muito frágil para andar. Ele desempenhava o ofício de empregada e levava as crianças para tomarem o ar da tarde. Todos em farrapos. Estes três rostos eram extraordinariamente sérios e os seis olhos contemplavam fixamente o novo café com idêntica admiração, mas diversamente nuançada pela idade.

Os olhos do pai diziam: "Como é bonito! Como é bonito! Parece que todo o ouro do pobre mundo veio parar nessas paredes." Os olhos do menino: "Como é bonito, como é bonito, mas é uma casa onde só entra gente que não é como nós." Quanto aos olhos do menor, estavam fascinados demais para exprimir outra coisa que não uma alegria estúpida e profunda.

Dizem os cancionistas que o prazer torna a alma boa e amolece o coração. Não somente essa família de olhos me enternecia, mas ainda me sentia um tanto envergonhado de nossas garrafas e copos, maiores que nossa sede. Voltei os olhos para os seus, querido amor, para ler neles meu pensamento; mergulhava em seus olhos tão belos e tão estranhamente doces, nos seus olhos verdes habitados pelo Capricho e inspirados pela Lua, quando você me disse: "Essa gente é insuportável, com seus olhos abertos como portas de cocheira! Não poderia pedir ao maître para os tirar daqui?"

Como é difícil nos entendermos, querido anjo, e o quanto o pensamento é incomunicável, mesmo entre pessoas que se amam!

http://www.lainsignia.org/2004/noviembre/cul_004.htm

 

Como exemplo deste olhar novo sobre as cidades indique também a seus alunos a busca de quadros dos pintores impressionistas e seus sucessores, como Auguste Renoir, Claude Monet, Edgar Degas, Georges Seurat.

Camille Pissarro traz no quadro abaixo uma imagem da cidade de Paris numa manhã de sol, povoada de carroças e muita gente em meio aos edifícios.

camille pizarro

O Boulevard des italiens, Manhã de Sol - 1897 (Camille Pizarro)

http://www.allposters.com/-sp/Boulevard-Montmartre-Afternoon-Sun-1897-Posters_i1591148_.htm?aid=85097&LinkTypeID=1&PosterTypeID=1&DestType=7&Referrer=http://www.artcyclopedia.com/artists/pissarro_camille.html

 

Professor, após essa breve pesquisa, para que seus alunos possam entender como esse processo de modernização foi se inserindo como matéria nos textos destes poetas, inicie um debate perguntando sobre o que perceberam de novo na concepção de poeta e escritor, visto que os tradicionais temas românticos tendiam ao fantasioso, ao grandioso, e à espiritualidade e ao sentimentalismo, enquanto os temas da poesia moderna passam a ser menos sublimes.

Procure fazer com que seus alunos possam demonstrar como puderam perceber nos textos encontrados por eles a manifestação da influência da modernização na vida dos homens daquele tempo.

 

2ª ATIVIDADE

Para a continuidade da aula trataremos da modernização das principais cidades brasileiras, Rio de Janeiro e São Paulo e tentaremos perceber como aflora em alguns poemas da época a convivência do homem na cidade moderna.

Muito se fala do Modernismo de 1922, e da mudança de rumo na cultura brasileira provocada pelas apresentações artísticas ocorridas naquele tempo, principalmente em São Paulo. Mas, foi o Rio de Janeiro, capital do Brasil à época, que sofreu a primeira grande metamorfose urbana, nos moldes de Paris. Cronistas como Olavo Bilac, Lima Barreto, João do Rio e tantos outros acompanharam cotidianamente o ritmo desta mudança que afetou todos os habitantes, como afirma Renato Cordeiro Gomes:

“A literatura que representa este processo é filha da cidade, que experimenta novos ritmos e ganha reputação de centro de mudanças intelectuais e culturais. Escrever/ler o Rio de Janeiro era, desta forma, conjugar experiência urbana e modernidade. Mais que lugar de encontros acidentais, espaços de efêmero, ou pontos de cruzamento, a cidade é ambiente de mudanças, de rupturas, pontos focais da comunidade intelectual.

(...) as transformações não devem ser vistas apenas enquanto empreendimento, mas pelo viés da comunicação simbólica. Indicam como o Brasil pôde demonstrar ao mundo o inaugurar da 'modernidade' nesta cidade dos trópicos. Tenta-se apagar a tradição da cidade colonial, para erguer uma Cosmópolis que, ao fim, não passa de uma subcosmópolis que gravita em torno de Paris. Transforma-se a cidade numa 'floresta de símbolos', para que possa ser lida como 'moderna'. Na linha evolutiva do progresso, a cidade será submetida a uma demolição permanente, que apaga o que vai se tornando velho na busca do sempre-novo. Os novos significantes estão sempre brotando e caindo das árvores construídas. A remodelação do Rio de Janeiro da Belle Époque que se preparava urbanisticamente para entrar na era moderna, alterou não só o perfil e a ecologia urbanos, mas também o conjunto de experiências de seus habitantes. Lugar e metáfora, a cidade interessa, por conseguinte, enquanto espaço físico e mito cultural.” (GOMES, p. 104-105)

 

rio belle epoque

Rio de Janeiro - Avenida Central em 1910

http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=5052

 

Professor, para que seus alunos entendam e vejam através de imagens como foi a modernização do Rio Antigo, indique a eles a busca de fotografias da cidade e a apreciação dos vídeos abaixo:   

http://www.youtube.com/watch?v=gQy2REtHVl0&feature=fvwrel

http://www.youtube.com/watch?v=cmfQpCkZiYM

http://www.youtube.com/watch?v=NN5Uuzj5Jew&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=e5ACyPKzBJw&feature=related

 

Após a apreciação dos vídeos reserve um momento da aula para seus alunos apresentarem suas opiniões baseadas nas interpretações da mudança de fisionomia da cidade.

Pergunte o que sabiam e o que os surpreendeu sobre os fatos principais narrados nos vídeos.

Já nos anos 20 e 30, dois poetas que não são do Rio, Manuel Bandeira (pernambucano) e Carlos Drummond de Andrade (mineiro), terão esta nova cidade já bastante crescida e povoada como local de inspiração para a composição de seus poemas, juntamente com Recife e Belo Horizonte, cidades que caminhavam em ritmo mais lento para a modernização.

Divida a turma em dois grupos e determine como tarefa para a atividade a pesquisa de alguns poemas destes autores.

Sorteie cada grupo para um poeta, como dica os poemas abaixo:

Manuel Bandeira

Camelôs

http://poemasdebandeira.blogspot.com/2009/04/camelos.html

Poema do beco

http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/poemaB.htm

Mangue

http://poemasdebandeira.blogspot.com/2009/04/mangue.html

Tragédia brasileira

http://66.228.120.252/discursos/2199853

Poema tirado de uma notícia de jornal

http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/poemaT.htm

Carlos Drummond de Andrade

Poema de sete faces

http://www.algumapoesia.com.br/drummond/drummond01.htm

A rua diferente

http://www.angelfire.com/celeb/olobo/rua.html

Poema do jornal

http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/poemaj.htm

O procurador do amor

http://www.citador.pt/poemas.php?op=10&refid=200809120222

 

afonso pena anos 1935

Belo Horizonte (1935), carros, bondes, muitas árvores e o poucos edifícios

http://curraldelrei.blogspot.com/2010_09_01_archive.html

 

Professor, após os alunos realizarem a pesquisa e a leitura, peça para os grupos trocarem poemas com o objetivo de que todos leiam os dois autores.

Organize um pequeno sarau na frente da sala para o exercício da leitura em voz alta.

Feita a leitura, disponha as carteiras em círculo e peça para os alunos construírem, a partir de um debate, um resumo do panorama histórico da modernização do Rio exibindo, como suporte para a argumentação, as imagens coletadas na pesquisa no início da atividade.

Sobre os poemas, a organização da discussão pode ser centrada na apresentação, por parte dos alunos, das confluências e diferenças entre a focalização e a expressão dos sentimentos dos poetas ou personagens dos textos em relação à cidade.

Veja como exemplo, o comentário de Sebastião Uchoa Leite:

 

"Bandeira é o poeta do reflexo das cidades na memória lírica. Não é, no sentido amplo, um poeta da imagem coletiva da cidade, é um poeta da privacidade na urbe.

A poesia de Carlos Drummond de Andrade no início da sua obra reflete, ao contrário, uma imersão total na vida urbana da época. É poesia metropolitana por excelência (...) com uma temática e um modo de expressão verbal que procuram recuperar toda a vida citadina". (LEITE, p. 45)

 

Textos aparentados à crônica com temas cotidianos, como "Tragédia Brasileira", "Poema tirado de uma notícia de jornal", "Poema do jornal", trazem a cidade com seus personagens exposta num gênero que é dinâmico e peculiar às mudanças, a notícia diária.

Outros, como "Camelôs" e "O procurador do amor", "Poema de sete faces" e "A rua diferente", apresentam variados sentimentos e percepções do ritmo de vida urbano e suas consequências para as gerações mais antigas e mais jovens.

Procure registrar todos os comentários de seus alunos sobre os textos para compará-los com as interpretações da próxima atividade.

 

3ª ATIVIDADE 

São Paulo é a cidade símbolo do Modernismo de 1922, não só por ter sido a sede da Semana de Arte Moderna, como também por ter sido tema de variados poemas de seus mais entusiastas poetas, Mário e Oswald de Andrade.

A cidade que se transforma rapidamente entre as décadas de 1910 e 1920 é cosmopolita, múltipla e confusa em todos os sentidos e, por isso, mais misteriosa e assustadora. Como escreve Nicolau Sevcenko em Orfeu extático na metrópole:

"De tal modo o estranhamento se impunha e era difuso, que envolvia a própria identidade da cidade. Afinal, São Paulo não era uma cidade nem de negros, nem de brancos e nem de mestiços; nem de estrangeiros e nem de brasileiros; nem americana, nem européia, nem nativa; nem era industrial, apesar do volume crescente das fábricas, nem estreposto agrícola, apesar da importância crucial do café; não era tropical, nem subtropical; não era ainda moderna, mas já não tinha mais passado. Essa cidade que brotou súbita e inexplicavelmente, como um colossal cogumelo depois da chuva, era um enigma para seus próprios habitantes, perplexos, tentando entendê-lo como podiam, enquanto lutavam para não serem devorados". (SEVCENKO, p. 31).

 

Professor, assim como na outra atividade, peça aos alunos para pesquisarem vídeos ou fotografias que sirvam como documento para compreensão do contexto histórico do início da modernização de São Paulo, como nos exemplos abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=ENl5kT8kQRQ

http://www.youtube.com/watch?v=EgFzpuRoe20

 

são paulo

São Paulo - anos 20. Coexistência entre trilhos de bondes e carroças

http://tramafotografica.wordpress.com/2009/01/24/parabens-sao-paulo/

 


Pobre alimária

(por oswald de andrade)

o cavalo e a carroça
estavam atravancados no trilho
e como o motorneiro se impacientasse
porque levava os advogados para os escritórios
desatravancaram o veículo
e o animal disparou
mas o lesto carroceiro
trepou na boleia
e castigou o fugitivo atrelado
com um grandioso chicote

 

são paulo

São Paulo - anos 20

http://3md2010.blogspot.com/2010/09/semana-de-arte-moderna-1922.html

 

O homem moderno, na cidade que em pouco tempo irá se tornar a maior do Brasil, deve se adaptar e desenvolver habilidades necessárias para sua mobilidade no turbilhão do trânsito urbano, o que lhe permite vivenciar variadas experiências em meio à massa. E ele não só encontrará um novo modo de convivência na urbe, como nos contrastes entre o velho e o novo expostos no poema acima de Oswald de Andrade, como explorará esse comportamento como fonte para sua criação artística.

O modo de ver a realidade e as técnicas para sua inscrição na literatura modificam-se na medida em que a crescente movimentação do espaço urbano e os avanços tecnológicos passam a ser parte do cotidiano dos habitantes das grandes cidades.

A rua do turbilhão do trânsito de pessoas e veículos, espaço da convivência diária com as incessantes transformações urbanas, será o cenário ideal parao flâneur, aquele que lê e escreve a cidade a partir da observação cotidiana.

Para Marshall Berman, o que distingue a postura do flâneur em relação ao poeta convencional é justamente sua ambientação na rua:

“A diferença entre o modernista e o antimodernista (...) é que o modernista se sente em casa nesse cenário, ao passo que o antimodernista percorre as ruas à procura de um caminho para fora delas” (BERMAN, p. 157).

Para ilustrar esse novo olhar para a cidade, divida a turma em pequenos grupos e indique a pesquisa de algumas obras de Tarsila do Amaral, que retratam paisagens urbanas, e dos poemas, abaixo relacionados, de Mário e Oswald de Andrade.

Professor, a pesquisa é livre, mas deve ser completa (com todos os textos indicados, se possível, impressos) para que os grupos possam analisar as diferentes visões sobre a cidade e demonstrar no decorrer da atividade o que aprenderam sobre o tema.

a gare

A gare - 1925 (Tarsila do Amaral)

http://50y0.blogspot.com/2010/11/gare.html

 

 


Tarsila do Amaral

http://www.tarsiladoamaral.com.br/

http://www.culturamix.com/cultura/arte/tarsila-do-amaral

Mário de Andrade

Paisagem nº1

http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/Modernismo22/Mario_de_Andrade_poesia.htm

Paisagem nº2

http://educaterra.terra.com.br/literatura/temadomes/2004/01/19/000.htm

Paisagem nº3

http://mario-de-andrade.blogspot.com/2009/05/paisagem-n-3.html

Paisagem nº4

http://folhetim.tripod.com/marioandrade.html

Garoa do meu São Paulo

http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/Modernismo22/Mario_de_Andrade_poesia.htm

Oswald de Andrade

Pobre Alimária

http://monliege.tumblr.com/post/1130442413/pobre-alimaria

Atelier

http://www.dobrasdaleitura.com/revisao/ateliedopoeta.html

Aperitivo

http://www.aprenda450anos.com.br/450anos/vila_metropole/2-4_cidade_moderna.asp

Ideal bandeirante

http://poesia-sim-poesia.blogspot.com/2008/01/hart-crane-o-esquecimento-uma-cano.html

Canto de regresso à pátria

http://www.jornaldepoesia.jor.br/oswal.html#canto

Brinquedo

http://betadesigners.blogspot.com/2006/09/brinquedo-oswald-de-andrade.html

 

Após a pesquisa, trace no quadro um diagrama no qual você, professor, irá registrar os apontamentos dos alunos sobre a visão de São Paulo nos poemas Mário de Andrade e de Oswald de Andrade.

Como orientação, veja o comentário de Sebastião Uchoa Leite:

"A visão oswaldiana, sobretudo na seção 'Postes da Light' do conjunto denominado Pau Brasil (1925), é uma visão de esboços, de flashes do cotidiano urbano, numa sintaxe contida. representam uma São Paulo ainda plácida se comparada ao seu ritmo alucinante contemporâneo: uma carroça que se atravessa no trilho dos bondes, os repuxos que 'desfalecem como velhos', a 'objetiva pisca-pisca' de um fotógrafo ambulante, as bandeirolas e opas verdes de uma pequena procissão, a música de manivela, visões plácidas às quais se coloca em contraste a visão de uma São Paulo emergente, a do viaduto do Anhangabaú, dos arranha-céus e dos fordes (os automóveis da Ford), que se ergue contra o fundo ainda bucólico dos anos 20. (...) A visão sintética que o poeta dá sobre a cidade é, na verdade, uma visão abstrata, mas colorida (...) onde a modernidade comparece através de índices semântico-visuais isolados e sobretudo na construção sintática, a parataxe telegráfica.

A esta visão sintética e abstrata se opõe em tudo a de Mário de Andrade na sua Pauliceia desvairada (1922), que prefere uma visão mais sentimental da urbe, ou mais tumultuada (...) Nessa linguagem feita de estridências, São Paulo é 'a grande boca de mil dentes', a 'Minha Londres das neblinas finas', a da 'digestão bem feita' do 'burguês níquel', a da imigração em que 'Passa galhardo um filho de imigrante./ Louramente domando um automóvel', a do 'grito inglês da São Paulo Railway...', a dos 'caminhões rodando', a do 'rumor surdo, estrépitos, estalidos'. Esta visão convulsiva de São Paulo é em parte ufanista da sua modernidade e em parte contraposta à ordem burguesa". (LEITE, p. 39-40) 

 

Com este quadro, ficarão visíveis para os alunos suas interpretações sobre as diferentes visões de Mário e de Oswald sobre São Paulo. É importante ressaltar não só as diferenças no aspecto semântico ou sentimental da relação homem-cidade, mas também no aspecto formal, como comenta Sebastião Uchoa Leite.

Ao final, peça aos alunos para rememorar os poemas da atividade anterior, de Bandeira e Drummond, e divida a turma em quatro grupos.

Sorteie um dos poetas estudados para cada grupo e peça para organizarem uma exposição que será exibida na escola, com cartazes, fotos, imagens e informações sobre a modernização destas cidades.

Além disso, cada grupo construirá um perfil dos autores baseado na visão de cada um sobre a cidade, a partir das leituras de seus poemas.

Recursos Complementares

Bibliográficos:

ANDRADE. Carlos Drummond de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

ANDRADE, Luciana Teixeira de. A Belo Horizonte dos modernistas: representações ambivalentes da cidade moderna. Belo Horizonte: PUC Minas, 2004.

ANDRADE, Mário de. Poesias Completas. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1980.

ANDRADE, Oswald de. Cadernos de poesia do aluno Oswald: Poesia reunida. São Paulo: Círculo do Livro, 1985.

AZEVEDO FILHO, Leodegério Amarante de. Poetas do modernismo: antologia crítica. 6 v. Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1972.

BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

BAUDELAIRE, Charles. Pequenos poemas em prosa. Trad. de Dorothée de Bruchard. Florianópolis: Ed. da UFSC, Aliança Francesa, 1988.

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. Tradução de Carlos Felipe Moisés, Ana Maria L. Ioriatti. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

GOMES, Renato Cordeiro. Todas as cidades, a cidade: literatura e experiência urbana. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

LEITE, Sebastião Uchoa. Marcelo Gama. A poesia e a cidade. In: Crítica de ouvido. São Paulo: Cosac & Naify, 2003, p. 13-60.

SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Missão. Tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

Virtuais:

http://www.febf.uerj.br/pesquisa/semana_22.html

http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/LiteraturaInfantil/Link%201%20RJ.htm

http://www.fau.ufrj.br/prourb/cidades/avcentral/print_3.html

http://www.eucanaaferraz.com.br/sec_textos_view.php?id=10

http://www.franciscorazzo.com.br/index.php/o-poeta-a-aureola-e-os-caminhos-da-experiencia-estetica-na-modernidade

Avaliação

Para a avaliação, proponha uma atividade lúdica que objetive demonstrar uma expressão de seus alunos sobre a cidade onde vivem.

Sugira que escrevam textos, desenhem, pintem, ou criem pequenos vídeos que transmitam a percepção de cada um sobre sua cidade.

Oriente-os na tentativa de uma criação artística, que busque focar a cidade com um olhar novo, sabendo que ela é "viva", como disse Baudelaire, pois está em constante mudança.

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