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Grande sertão: veredas como releitura de Os sertões em imagem de Arlindo Daibert

 

06/07/2011

Autor e Coautor(es)
Elza de Sá Nogueira
imagem do usuário

JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Literatura Literatura brasileira, clássica e contemporânea: criações poéticas, dramáticas e ficcionais da cultura letrada
Ensino Médio Literatura Estudos literários: análise e reflexão
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Objetivos:

1. Ler trechos de Os sertões e Grande sertão: veredas

2. Conhecer o trabalho do artista plástico mineiro Arlindo Daibert

3. Identificar as relações estabelecidas pelo artista plástico entre as obras de Guimarães Rosa e Euclides da Cunha

4. Produzir uma crítica comparativa entre as duas obras, utilizando a imagem do artista plástico como referência

Duração das atividades
3 aulas
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Sugere-se que a aula seja dada após estudo do lugar da obra de Guimarães Rosa na literatura brasileira, bem como leitura de trechos de Grande sertão: veredas, com sua devida contextualização dentro da obra.

Estratégias e recursos da aula

 

 

ATIVIDADE 1 – Leitura de imagens

- Apresentar aos alunos, através de fotocópia ou retroprojetor, o trabalho de Arlindo Daibert “Sem título n.44”, que faz parte da série GS:V, uma tradução em imagens do romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. A série foi publicada no álbum Imagens do Grande Sertão, em 1998, por uma parceria das editoras da UFMG e da UFJF.

Grande sertão veredas

A imagem também está disponível no seguinte endereço eletrônico:

http://books.google.com.br/books?id=J3eZ-SngCyUC&pg=PA269&lpg=PA269&dq=daibert+fotografia+de+canudos&source=bl&ots=g7EfK2PYG7&sig=_r7kFeOH0WIuP-_3ZwRfH5zxNUU&hl=pt-BR&ei=2kqvTft5jLXRAaS1hLEL&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CBcQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false

 (OBS: a imagem está disponível na pág. 268 do livro)

 

- Levantar as impressões dos alunos e registrá-las no quadro.

 

- Apresentar a fotografia de Euclides da Cunha que serviu de base para o desenho de Daibert: uma fotografia de sobreviventes de Canudos, que foi publicada em algumas edições de Os sertões, com o nome de "As prisioneiras".

As prisioneiras

Essa fotografia encontra-se disponível em:

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/guerra-de-canudos/guerra-de-canudos-4.php

http://www.discursus.250x.com/archistx/canudhis.html

 

- Contextualizar a obra Os sertões e, dentro dela, a documentação realizada por Euclides da Cunha na Guerra de Canudos.

Para essa contextualização, sugerimos acessar a seguinte página:

http://www.klepsidra.net/klepsidra3/euclides.html

 

- Levantar hipóteses junto aos alunos sobre quem são as pessoas retratadas na fotografia e registrá-las no quadro.

 

ATIVIDADE 2 – Leitura de textos de Euclides de Cunha, Guimarães Rosa e Arlindo Daibert

- Ler o trecho transcrito abaixo, em que Euclides descreve o grupo retratado na fotografia "As prisioneiras".

 

 

Nesse dia...

Translademos, sem lhes alterar uma linha, as últimas notas de um "Diário", escritas à medida que se desenrolavam os acontecimentos.

“... Chegam à 1 hora em grande número novos prisioneiros – sintoma claro de enfraquecimento entre os rebeldes. Eram esperados. Agitara-se pouco depois do meio-dia uma bandeira branca no centro dos últimos casebres e os ataques cessaram imediatamente do nosso lado. Rendiam-se, afinal. Entretanto não soaram os clarins. Um grande silêncio avassalou as linhas e o acampamento.

“A bandeira, um trapo nervosamente agitado, desapareceu; e, logo depois, dous sertanejos, saindo de um atravancamento impenetrável, se apresentaram ao comandante de um dos batalhões. Foram para logo conduzidos à presença do comando-em-chefe, na comissão de engenharia.

“Um deles era Antônio, o “Beatinho”, acólito e auxiliar do Conselheiro. Mulato claro e alto, excessivamente pálido e magro; erecto o busto adelgaçado. Levantava, com altivez de resignado, a fronte. A barba rala e curta emoldurava-lhe o rosto pequeno animado de olhos inteligentes e límpidos. (...) Veio com outro companheiro, entre algumas praças, seguido de um séquito de curiosos.

“Ao chegar à presença do general, tirou tranqüilamente o gorro azul, de listras e borlas brancas, de linho; e quedou, correto, esperando a primeira palavra do triunfador.

“Não foi perdida uma sílaba única do diálogo prontamente travado.

“- Quem é você?

“- Saiba o seu doutor general que sou Antônio Beato e eu mesmo vim por meu pé me entregar porque a gente não tem mais opinião e não agüenta mais.

(...)

“- E os homens não estão dispostos a se entregarem?

“- Batalhei com uma porção deles para virem e não vieram porque há um bando lá que não querem. São de muita opinião. Mas não agüentam mais. Quase tudo mete a cabeça no chão de necessidade. Quase tudo está seco de sede...

“- E não podes trazê-los?

“- Posso não. Eles estavam em tempo de me atirar quando saí...

“- Já viu quanta gente aí está, toda bem armada e bem disposta.

“- Eu fiquei espantado!

“A resposta foi sincera, ou admiravelmente calculada. O rosto do altareiro desmanchou-se numa expressão incisiva e rápida, de espanto.

“- Pois bem. A sua gente não pode resistir, nem fugir. Volte para lá e diga aos homens que se entreguem. Não morrerão. Garanto-lhes a vida. Serão entregues ao governo da República. E diga-lhes que o governo da República é bom para todos os brasileiros. Que se entreguem. Mas sem condições; não aceito a mais pequena condição...

(...)

“O efeito da comissão, porém, foi de todo em todo inesperado. O beatinho voltou, passada uma hora, seguido de umas trezentas mulheres e crianças e meia dúzia de velhos imprestáveis. Parecia que os jagunços realizavam com maestria sem par o seu último ardil. Com efeito, viam-se libertos daquela multidão inútil, concorrente aos escassos recursos que acaso possuíam, e podiam agora, mais folgadamente, delongar o combate.

(...)

“A entrada dos prisioneiros foi comovedora. Vinha solene, na frente, o Beatinho, teso o torso desfibrado, olhos presos no chão, e com o passo cadente e tardo exercitado desde muito nas lentas procissões que compartira.

(...)

“Os combatentes contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam-se; comoviam-se. O arraial, in extremis, punha-lhes adiante, naquele armistício transitório, uma legião desarmada, mutilada faminta e claudicante, num assalto mais duro que o das trincheiras em fogo. Custava-lhes admitir que toda aquela gente inútil e frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres bombardeados durante três meses. Contemplando-lhes os rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos molambos em tiras não encobriam lanhos, escaras e escalavros – a vitória tão longamente apetecida decaía de súbito. Repugnava aquele triunfo. Envergonhava. Era, com efeito, contraproducente compensação a tão luxuosos gastos de combates, de reveses e de milhares de vidas, o apresamento daquela caqueirada humana – do mesmo passo angulhenta e sinistra, entre trágica e imunda, passando-lhes pelos olhos, num longo enxurro de carcaças e molambos...

“Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender uma arma, nem um peito resfolegante de campeador domado: mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais, moças envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma fealdade, escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos aos peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando; crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante.

(...)

 Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dous homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.

                            (CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.)

 

 

- Levantar hipóteses junto aos alunos sobre o uso dessa fotografia num trabalho sobre Grande sertão: veredas: os alunos devem perceber a intenção do artista plástico de fazer uma aproximação entre as duas obras, utilizando a fotografia de Euclides como fonte para o desenho de personagens da obra de Guimarães Rosa. Talvez não tenham os conhecimentos necessários para identificar a associação entre as prisioneiras de Canudos e os catrumanos, personagens miseráveis e aparentemente fracos do romance Grande sertão: veredas que Riobaldo integra ao seu bando para fazerem parte da batalha final contra o jagunço Hermógenes. Essa compreensão mais complexa poderá ser promovida através da etapa a seguir.

 

- Ler texto de Arlindo Daibert em que ele analisa seu próprio trabalho e cita trecho de Grande sertão: veredas.

 

 

Prancha 44 – Nesse combate definitivo [o combate contra Hermógenes], Riobaldo arma seu exército com as fraquezas, desvalias e vulnerabilidades mais absolutas. Seu bando recebe o reforço dos catrumanos, seres quase ou pré-humanos que, em seu primitivismo, igualam-se à natureza quase animal de Hermógenes. É reunindo a força de todos os fracos que Riobaldo lutará a última batalha, a definitva:

 

Raça daqueles homens era diverseada distante, cujos modos e usos, mal ensinada. Esses, mesmo no trivial, tinham capacidade para um ódio tão grosso, de muito alcance, que não custava quase que esforço nenhum deles; e isso com os poderes da pobreza inteira e apartada; e de como assim estavam menos arredados dos bichos do que nós mesmos estávamos: porque nenhuma más artes do demônio regedor eles nem divulgavam... De homem que não possui nenhum poder nenhum, dinheiro nenhum, o senhor tenha todo medo!

 

O desenho procura uma aproximação entre a desvalia absoluta dos catrumanos da ficção rosiana com a descrição cruel da desvalia dos revoltosos de Canudos por Euclides de Cunha. A imagem – concebida a partir de um detalhe de foto de documentação da expedição – parece reforçar as palavras do escritor:

 

Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dous homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.

 

                      (DAIBERT, Arlindo. Caderno de Escritos. Organização de Júlio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1995.)

 

 

- Discutir essa análise do artista sobre o próprio trabalho com os alunos, de forma a destacar a leitura que ele faz de uma passagem do romance de Guimarães Rosa: "as prisioneiras" históricas da Guerra de Canudos tornam-se parte do grupo vencedor numa batalha contra o mal, no romance ficcional de João Guimarães Rosa.

 

ATIVIDADE 3 – Escrita de resenha crítica

- Propor aos alunos a escrita de uma resenha crítica em duplas, tendo como objeto a comparação estabelecida pelo trabalho de Arlindo Daibert entre as obras de Guimarães Rosa e Euclides da Cunha.

- Sugerir que tomem como ponto de partida as imagens e as próprias impressões ao vê-las, aprofundando a análise com os conhecimentos adquiridos através da leitura dos textos.

- Os alunos deverão apresentar para a turma suas resenhas, a fim de que o professor possa intervir na estrutura composicional dos textos, zelando para que as partes constitutivas de uma resenha crítica compareçam nos trabalhos, bem como discutindo os pontos polêmicos quanto à apreciação das obras, propondo a reescrita nos casos necessários.

- Uma vez considerada adequada a estrutura composicional e o conteúdo dos textos, deverá ser feita a revisão do ponto de vista da norma culta - ortografia e construções sintáticas - podendo ser realizada pelo próprio professor diretamente nos textos entregues a ele, com subsequente reescrita pelas duplas. 

 

ATIVIDADE 4 - Criação de um blog de crítica literária e visual

- Os textos finais devem ser digitados e postados num blog - se necessário, criado especificamente para o projeto - voltado para a relação entre a literatura e as artes visuais.

Recursos Complementares

Para conhecer melhor o trabalho do artista plástico mineiro Arlindo Daibert, acesse:

http://www.comartevirtual.com.br/arlindod.htm

Avaliação

 

A avaliação geral da turma será feita oralmente, através das discussões sobre as imagens e os textos. 

A avaliação específica dos alunos será feita através das resenhas críticas produzidas, observando-se se eles compreenderam a comparação feita pelo artista plástico entre as obras de Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, bem como se conseguiram redigir uma resenha crítica com todas as suas partes constitutivas.

Opinião de quem acessou

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Opiniões

  • Juan Carlos, http://euclidesite.wordpress.com , São Paulo - disse:
    euclidesite@gmail.com

    09/07/2011

    Cinco estrelas

    O.K. Literatura e artes visuais para a compreensão de "Os Sertões". Não conhecia o trabalho de Arlindo Daibert. Conteúdo rico e que prova a riqueza temática e possibilidade de trabalhar didaticamente com "Os Sertões" e Euclides da Cunha. Parabéns!


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