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Poema-piada: para rir ou refletir?

 

14/07/2011

Autor e Coautor(es)
wendell de freitas amaral
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JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Literatura Estudos literários: análise e reflexão
Ensino Médio Literatura Literatura brasileira, clássica e contemporânea: criações poéticas, dramáticas e ficcionais da cultura letrada
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

 

  • ler poemas modernistas e pós-modernistas;
  • identificar marcas do humor nos poemas;
  • relacionar as características discursivas e ideológicas ao contexto histórico da produção, circulação e recepção dos poemas;
  • reconhecer a importância do Modernismo brasileiro para a dessacralização da poesia, a partir da liberdade e inovação temática/formal;
  • construir imagens poéticas que busquem a expressão humorística/crítica.
Duração das atividades
3 aulas de 50 minutos.
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Habilidades básicas de leitura e escrita;

Conhecimentos básicos da estética modernista. 

Estratégias e recursos da aula

Professor, nesta aula abordaremos o poema-piada, denominação criada por Sérgio Milliet para os poemas humorísticos e sintéticos muito comuns na primeira fase do Modernismo, esperando que os alunos pensem a partir da leitura se esta manifestação poética objetiva apenas o riso ou esconde por trás do humor questões mais graves que merecem reflexão. 

O porta-voz deste gênero foi Oswald de Andrade, tido como poeta radical, por incorporar à sua poesia não apenas o coloquialismo mas a linguagem sintética (reduzida ao mínimo), irônica e humorística. Além dele praticaram o poema-piada poetas como Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Mário Quintana e outros mais contemporâneos, poetas chamados "marginais", influenciados por Oswald, como Paulo Leminski, Cacaso, Chacal, entre outros.

 

 

1ª ATIVIDADE

Entre os poemas sintéticos e polêmicos de Oswald de Andrade está este: AMOR/ HUMOR.

Composto apenas por duas palavras, o título "Amor" definido como "humor", pode provocar estado de graça ou provocar o mau-humor. O poema é curtíssimo e parece apenas uma brincadeira com palavras, uma simples rima. Mas essa rima pode ser vista como complexa, à medida que o autor não pretende definir o amor de forma retórica ou mesmo expressar seus sentimentos, como os românticos. Oswald é anti-romântico e anti-retórico, pois sabe que o amor, assim como tantos outros acontecimentos da vida, não pode ser definido em um poema. Porém, com a rima apresenta uma visão dessacralizada do amor, que não é habitual nem sisuda, o amor pode ser visto como sentimento dependente também das variações de humor. A felicidade, a euforia, a alegria como idealismos amorosos, mas até a perda de um amor poderá também ser vista com bom humor, sem necessidade de se morrer por ele, como queriam os poetas românticos. Portanto, apesar da maneira aparentemente descompromissada com que o poema-piada aborda o tema, podemos verificar que ele nos leva a reflexões mais amplas e não apenas ao riso.  

http://www.diarioonline.com.br/noticia-129306-flip-homenageara-oswald-de-andrade.html

(1) Para a primeira atividade, indique aos alunos a pesquisa na internet ou na biblioteca de alguns poemas-piada de Oswald de Andrade:

Oswald de Andrade

O capoeira http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#ocapoeira

Erro de português http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#erro

Relicário http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/oswald-de-andrade/relicario.php

Fim e começo http://www.jperegrino.com.br/artigos/252-lembrandooswalddeandrade.html

oswald

http://www.rollingstone.com.br/secoes/novas/noticias/10146/

 

Após a pesquisa:

(2) divida a turma em quatro grupos.

(3) escolha um poema para cada grupo.

(4) peça para os alunos lerem os poemas oralmente.

(5) peça para identificarem o tema de cada poema.

(6) proponha as questões para que respondam oralmente, o professor anota no quadro e os alunos registram no caderno:

a) quais as marcas do coloquialismo nos poemas?

b) quais os fatos cotidianos ou históricos presentes nos poemas?

c) qual a função estética de tais marcas nos textos?

d) quais as possíveis interpretações do humor nos poemas?

e) há relação entre o humor e algum tema geralmente tratado de maneira grave/séria?

f) quais seriam os possíveis objetivos de transformar a seriedade em piada?

 

Seus alunos poderão interpretar os poemas de Oswald avaliando o teor da piada relacionada aos temas históricos presentes nos quatro poemas: o encontro entre o colonizador português e o índio; a perseguição à prática da capoeira; a relação entre a Corte e os costumes brasileiros; e a implantação de meios para a comodidade do ser humano.

Aparentemente lúdico, o poema-piada apresenta, além disso, pontos de reflexão para revisões históricas e em primeiro plano valoriza as manifestações da cultura brasileira, o que à época do Modernismo era pouco feito. Assim sendo, mesmo criticado por muitos teóricos, até mesmo pelo modernista Mário de Andrade, o poema-piada, como uma poética do choque, foi importante para esta mudança de rumo da poesia nacional.

2ª ATIVIDADE

Outro poeta que fez uso do poema-piada foi Carlos Drummond de Andrade, principalmente no início de sua produção, destacando-se em Alguma Poesia.

Para o crítico Davi Arrigucci Júnior, o poema-piada de Drummond é o "casamento de comicidade com seriedade, de graça acintosa com severa gravidade, envolvendo a ambigüidade de tom própria da conexão dos elementos opostos".

http://www.pactoaudiovisual.com.br/mestres_final/drummond/texto1.htm

Repleta de tensões a poética de Drummond esconde por trás do bom-humor e da ironia questões essenciais próprias de um homem que parece estar sempre desconfiado de seus sentimentos.

(1) Indique para seus alunos a pesquisa na internet ou na biblioteca de alguns poemas de Drummond, publicados em seu primeiro livro, Alguma poesia, 1930.

Carlos Drummond de Andrade

Política literária http://www.horizonte.unam.mx/brasil/drumm2.html

Quadrilha http://www.memoriaviva.com.br/drummond/poema006.htm

Cota zero http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/cota.htm

Sentimental http://www.angelfire.com/celeb/olobo/sentimental.html

Iniciação amorosa http://www.angelfire.com/celeb/olobo/iniciacao.html

drummond

http://minhaliteraturaagora.blogspot.com/2010/06/poesia-memoria-de-carlos-drummond-de.html

 

Após a pesquisa:

(2) divida a turma em cinco grupos.

(3) escolha um poema para cada grupo

(4) peça para os alunos lerem os poemas oralmente.

(5) proponha as questões para que os alunos apresentem as respostas para a turma, no quadro:

a) qual é o tema do poema?

b) como o humor funciona em relação ao tema?

c) o humor facilita ou dificulta a interpretação do poema?

d) há relação entre o humor e algum tema geralmente tratado de maneira grave/séria?

e) quais seriam os possíveis objetivos de transformar a seriedade em piada?

f) que reflexões podem ser feitas após a leitura do poema?

 

Professor, nos poemas acima seus alunos poderão observar como a tensão presente na poesia de Drummond faz do poema aparentemente leve, um caminho para atingirmos reflexões mais profundas. A transição entre os ritmos opostos da província e da cidade grande, entre a existência pacata e a máquina; a transição entre a infância e a maturidade do homem; o contraste entre a visão do gênio (poeta) e do homem comum; as relações imprevistas nos casos de amor; a opressão da sociedade moderna sobre a imaginação, todos os poemas trazem a partir do humor estas tensões existenciais que não devem ser desprezadas. O que caracteriza o poema-piada, em Drummond, é a complexidade presente no mínimo e no simples. 

 

3ª ATIVIDADE

Professor, após os modernistas de 22, a poesia brasileira não seria a mesma. Porém, apesar dos radicalismos da linguagem oswaldiana ter proporcionado um novo modo de expressão (poema piada, poema minuto, os flashes), de certa forma, eles cedem espaço posteriormente para a linguagem retórica e para a poesia formal (tanto na linguagem quanto na forma do poema - como a predileção de alguns poetas pelo soneto). Isso não representa que a poesia brasileira deixou de se renovar e perdeu sua qualidade (basta pensarmos em Drummond, Murilo Mendes, Bandeira, João Cabral), esses poetas também utilizaram bastante o humor, a linguagem coloquial e o neologismo, por exemplo, mas no contexto em que produziram, período entre-guerras, também a expressão voltou-se para temas mais "sérios" como a política e as questões sociais.

No fim da década de 60 e nos anos 70 surge uma nova onda de poetas jovens descrentes com a política e desejosos de uma linguagem também jovem, que expressasse o seu mundo, seu dia a dia, esse bastante diferente do mundo das gerações anteriores, modificado pela influência do rock, do tropicalismo, dos novos meios de comunicação, da gíria, das experiências lisérgicas e sexuais.

Heloísa Buarque de Hollanda explica na introdução de 26 poetas hoje como esses escritores jovens se intrometeram num contexto de produção poética que estava restrito àqueles autores já canonizados:

"Frente ao bloqueio sistemático das editoras, um circuito paralelo de produção e distribuição independente vai se formando e conquistando um público jovem que não se confunde com o antigo leitor de poesia. (...)

A presença de uma linguagem informal, à primeira vista fácil, leve e engraçada e que fala da experiência vivida contribui ainda para encurtar a distância que separa o poeta e o leitor. (...)   

Num recuo estratégico, os novos poetas voltam-se agora para o modernismo de 22... Nesse sentido, merece atenção a retomada da contribuição mais rica do modernismo brasileiro, ou seja, a incorporação poética do coloquial como fator de inovação e ruptura com o discurso nobre acadêmico."

(HOLLANDA, Heloísa Buarque de. 26 poetas hoje. Rio de Janeiro: Labor, 1976, p. 7-9).

O grupo de poetas mencionado acima foi chamado na década de 70 de "marginal" por estarem à margem do mercado editorial, mas o tempo fez com que seus poemas fossem respeitados e vistos como importantes em nossa literatura, hoje são escritores cooptados pelas maiores editoras.

(1) Indique para seus alunos a pesquisa na internet ou na biblioteca de textos dos seguintes poetas mais contemporâneos.

José Paulo Paes

Lisboa: aventuras http://www.revista.agulha.nom.br/jpaulo1.html#lisboa

L'Affaire Sardinha http://intervox.nce.ufrj.br/~clodo/jose_paulo_paes.htm

Cacaso

poemas http://www.releituras.com/cacaso_amorhumor.asp

Chacal

Papo de índio http://www.revista.agulha.nom.br/chacal.html

Rápido e rasteiro http://www.revista.agulha.nom.br/chacal09.html

Paulo Leminski

Acordei bemol http://www.revista.agulha.nom.br/pl5.html#bemol

Aqui http://versoeprosa.ning.com/profiles/blogs/paulo-leminski

 

Após a pesquisa e a leitura:

(2) divida a turma em grupos de quatro ou cinco alunos.

(3) sorteie para cada grupo um dos poetas.

(4) peça para os alunos listarem as seguintes manifestações nos poemas:

a) humor e irreverência.

b) marcas da linguagem comercial e publicitária.

c) referência à violência urbana ou do cotidiano das metrópoles.

d) gírias e vocabulário chulo.

Após a seleção das marcas do coloquialismo:

(5) peça para cada grupo apresentar em forma de seminário (usando quadro, cartaz, retroprojetor, datashow etc) e comentar as ocorrências do humor e seus efeitos de sentido.

(6) organize um debate e o inicie com a seguinte questão: o uso do humor aproxima o leitor da poesia? 

Recursos Complementares
Avaliação

Peça aos alunos para buscarem mais poemas-piada, com base nos poetas estudados nas aulas e apresentarem em um mural na sala de aula.

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