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As Artes Plásticas e a luta contra a Ditadura Militar

 

14/07/2011

Autor e Coautor(es)
Rafael da Cruz Alves
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BELO HORIZONTE - MG Universidade Federal de Minas Gerais

Marcela Telles Elian de Lima; Lígia Beatriz de Paula Germano

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo História Cidadania e cultura contemporânea
Ensino Médio História Cidadania: diferenças e desigualdades
Ensino Médio História Sujeito histórico
Ensino Médio História Cultura
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Os alunos serão capazes de compreender os conceitos que nortearam a produção brasileira no campo das Artes Plásticas durante a Ditadura Civil-Militar e, dessa forma, saber como artistas e intelectuais formaram uma das mais importantes frentes de combate e resistência a esse governo. Em tal contexto, o artista não realizava mais obras destinadas à contemplação, mas propunha situações que deviam ser vividas e experimentadas por meio da participação do outro. Ultrapassada a retração inicial, provocada pelo Golpe de 1964, esse processo de redimensionamento estético articulou a assimilação das correntes internacionais – a arte pop e o novo realismo francês − e a imersão nas vivências e nas manifestações populares com o contexto político imediato de resistência ao regime militar. O Ato Institucional no. 5 combinou refluxo e radicalismo no campo das Artes Plásticas. Diversos artistas saíram do País: Hélio Oiticica, Lygia Clark, Rubens Gerchman, Antônio Dias, Franz Krajcberg, Sérgio Camargo, entre outros. Para quem permaneceu, a arte passou a ser uma aventura radical, dramática e cheia de riscos.

Duração das atividades
Cinco aulas de 50 minutos.
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

- Golpe Civil-Militar.

- Ato Institucional nº. 5 (AI-5).

- Censura.

Estratégias e recursos da aula

INTRODUÇÃO

É importante o professor destacar que, a partir dos anos 1960, o conceito de obra explodiu. Em 1965, mostras como Opinião 65 proporcionavam experiências de vanguarda e lançavam conceitos como a Antiarte. Artistas como Lygia Clark desenvolviam a ideia de uma arte multissensorial e ambiental e Lygia Pape experimentava fazer arte com baratas e formigas. Uma arte de guerrilha também era proposta, como Cildo Meireles com Inserções, obra que convoca o espectador à resistência política – ensinando-o a burlar o sistema por meio da fabricação doméstica de fichas telefônicas ou a driblar a censura por meio da impressão de informações e opiniões críticas em garrafas de Coca-Cola (ou notas de dinheiro). Uma arte intensa, diversa, corajosa, escandalosa, desesperada, transgressiva, comprometida, vanguardista... Não foram poucos os artistas plásticos que se envolveram diretamente na proposta de luta armada difundida pela nova esquerda brasileira. Por exemplo, na organização Ação Libertadora Nacional (ALN), havia um grupo de arquitetos artistas: Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre, Carlos Heck, Júlio Barone e Sérgio de Souza Lima. O resultado transformou-se em documento de época – o registro estético de uma experiência política.

 

DESENVOLVIMENTO

AULA 1

1º. Passo: A partir das imagens abaixo, discuta com os alunos os seguintes temas:

Tema 1: “As mostras e a vanguarda brasileira”. 

Em 1965, um grupo de 29 artistas plásticos realizava, no Rio de Janeiro, a Mostra Opinião 65, uma experiência de vanguarda repetida, no ano seguinte, com Opinião 66, responsável por lançar o conceito de Antiarte. Nessas mostras são apresentadas algumas das questões que mobilizavam a vanguarda brasileira: volta à figuração, ao concretismo e ao neoconcretismo; tendência ao objeto e às manifestações coletivas.

Cartaz da Exposição Opinião 65

Cartaz da Exposição Opinião 65. Data: 1965. Local: Rio de Janeiro. Fonte: DUARTE, Paulo Sérgio. Anos 60: transformações da arte no Brasil. Rio de Janeiro: Campos Gerais, 1998.

Tema 2: “Expansão do conceito de Antiarte”.

Em 1967, a proposta de Antiarte foi expandida na exposição coletiva Nova Objetividade Brasileira, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Uma espécie de balanço das correntes de vanguarda e de suas intenções políticas. Nessa exposição, Hélio Oiticica apresentou Tropicália, um Penetrável – construção em madeira com porta deslizante onde o visitante se fechava – cuja influência conceitual transbordou para a canção popular, o cinema e o teatro, dando propulsão ao Movimento Tropicalista.

Tropicália.

Título: Tropicália. Autor: Hélio Oiticica. Data: 1969. Fonte: BASUALDO, Carlos (Org.). Tropicália: uma revolução na cultura brasileira. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

Tema 3: “Violência e radicalidade nas Artes Plásticas”.

Em 1970, o evento Do corpo à terra que pretendia inaugurar o Palácio das Artes, em Belo Horizonte, estabeleceu um marco criativo de extrema violência e radicalidade para a produção experimental brasileira: Cildo Meireles queimou galinhas vivas no trabalho Tiradentes Monumento-Totem, uma denúncia à Guerra do Vietnã. No catálogo dessa exposição, o curador Frederico Morais afirmava: “Nosso material não é o acrílico, bem-comportado, tampouco almejamos as ‘estruturas primárias’ higiênicas. Trabalhamos com fogo, sangue, ossos, lama, terra ou lixo. O que fazemos são celebrações, ritos, rituais sacrificatórios. Nosso instrumento é o próprio corpo – contra os computadores”.

Tiradentes Monumento-Totem

Tiradentes: Monumento-Totem. Autor: Cildo Meireles. Data: 1970. Local: Belo Horizonte. Fonte: MEIRELES, Cildo. Cildo Meireles. Texto de Ronaldo Brito e Eudoro Augusto Macieira de Sousa. Rio de Janeiro: Funarte, 1981.

Tema 4: “Performances, protestos e censuras”.

Em 1970, Antônio Manuel concebeu Meu corpo é a obra e apresentou-se nu diante do Júri de Seleção do Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A proposta do autor: substituir a obra acabada pela ação criadora. Segundo o artista, a ideia era questionar os critérios de seleção e julgamento das obras de arte. A proposta foi recusada pelo Júri. O ato passou a ter um caráter de protesto contra o sistema político, artístico e social em vigor. O artista foi proibido de participar em salões oficiais e afastado do sistema das Artes Plásticas durante dois anos por determinação da Comissão Nacional de Belas Artes junto ao Ministério da Educação e da Cultura, dirigido por Jarbas Passarinho.

Corpobra (ação/proposição).

Corpobra(ação/proposição). Data: 1970. Local: Rio de Janeiro. Fonte: DUARTE, Paulo Sérgio. Anos 60: transformações da arte no Brasil. Rio de Janeiro: Campos Gerais, 1998.

2 º Passo: Dividir a turma em quatro grupos. Cada grupo deverá escolher um dos temas expostos para desenvolver uma pesquisasobre aspectos correlatos ao conteúdo apresentado, em sites como:

http://www.heliooiticica.org.br

http://www.itaucultural.org.br

http://www.portalartes.com.br

http://www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br

- Tema 1: “Artistas e obras que fizeram parte da Mostra Opinião 1965, ou Opinião 1966.

- Tema 2: “Exemplificar os desdobramentos nas outras artes da obra Tropicália, um Penetrável, de Hélio Oiticica”.

- Tema 3: “Identificar projetos artísticos semelhantes ao de Cildo Meireles em outros períodos, ou mesmo, países”.

- Tema 4: “Além do afastamento dos artistas dos salões de arte, os alunos deverão identificar outras formas de repressão utilizadas contra os artistas plásticos durante a Ditadura Civil-Militar”.

AULA 2

1º. Passo: Apresentar aos alunos a seguinte frase, escrita pelo curador Frederico de Morais, em 1970, no ensaio Contra a arte afluente: o corpo é o motor da obra:

O artista, hoje, é uma espécie de guerrilheiro. A arte, uma forma de emboscada. Atuando, imprevistamente, onde e quando é menos esperado, de maneira inusitada, o artista cria um estado permanente de tensão, uma expectativa constante. Tudo pode transformar-se em arte. Objeto constante da guerrilha artística, o espectador vê-se obrigado a aguçar e ativar os sentidos.

2º. Passo: A partir das pesquisas realizadas em torno dos temas apresentados em aula anterior, discuta com os alunos as impressões que as obras, os artistas e as linguagens pesquisadas provocaram em cada um deles.

3º. Passo: Pedir aos alunos que redijam um relatório que relacione a pesquisa temática com a frase de Frederico de Morais e as impressões dos alunos expressas durante o debate.

AULA 3

1º. Passo: A partir da consulta ao link: http://www.vladimirherzog.org, pedir aos alunos que pesquisem quem foi Vladimir Herzog e, principalmente, identifiquem as razões da polêmica e das manifestações contrárias à versão oficial divulgada sobre a sua morte.

2º. Passo: Após a realização da pesquisa, apresentar a imagem abaixo e correlacionar a morte de Vladimir Herzog à proposta artística de Cildo Meireles.

Inserções em circuitos ideológicos. Projeto Cédula.

Título: Inserções em circuitos ideológicos. Projeto Cédula. Autor: Cildo Meireles. Data: 1975. Fonte: Revista Nossa História, ano 2, n. 19.

AULA 4

1º. Passo: Assistir com os alunos ao vídeo disponível no seguinte link:

http://www.youtube.com/watch?v=bJFZefaivqw&feature=related

2º. Passo: Pedir aos alunos que voltem a se organizar nos grupos montados na primeira aula. Cada grupo deverá elaborar, a partir das questões políticas atuais, uma frase curta e objetiva cuja relevância temática deverá ser discutida com toda a turma.

3º. Passo: Cada aluno deverá mandar fazer um carimbo com a frase final elaborada por seu grupo para carimbar cédulas de parentes, amigos, colegas e professores, colocando-as de volta em circulação para a divulgação da frase.

AULA 5

1º. Passo: Após a realização da atividade extraclasse, proposta em aula anterior, os alunos deverão elaborar um relatório com a descrição dos principais tipos de situações encontradas e com as impressões pessoais proporcionadas pelo processo de divulgação das frases por meio das cédulas experimentais.

2º. Passo: Os alunos deverão compartilhar essas experiências com os demais colegas num debate mediado pelo professor em torno da questão: a ação pode ser concebida como artística ou política?

3º. Passo:Ao final do debate, disponibilizar aos alunos a letra e a canção disponível no seguinte link:

http://www.vagalume.com.br/adriana-calcanhoto/parangole-pamplona.html.

A audição da canção deverá ser acompanhada da seleção de imagens a seguir:

Parangolé P4, Capa 1

Título: Parangolé P4, Capa 1,  de Hélio Oiticica. Fonte: DUARTE, Paulo Sergio. Anos 60: transformações da arte no Brasil. Rio de Janeiro: Campos Gerais, 1998.

Parangolé P16, Capa 12, Da adversidade vivemos.

Título: Hélio Oiticica e Nildo da Mangueira vestem Parangolé P16, Capa 12, Da adversidade vivemos. Fonte: DUARTE, Paulo Sergio. Anos 60: transformações da arte no Brasil. Rio de Janeiro: Campos Gerais, 1998.

Caetano Veloso vestindo Parangolé

Título: Caetano Veloso vestindo Parangolé, de Hélio Oiticica. Fonte: BASUALDO, Carlos (Org.). Tropicália: uma revolução na cultura brasileira.São Paulo: Cosac Naify, 2007

Hélio Oiticica com seus Parangolés

Título: Hélio Oiticica com seus Parangolés. Fonte: LIMA, Marisa Alvarez. Marginália, arte e cultura na idade da pedrada. Rio de Janeiro: Salamandra, 1995.

Parangolés são capas que o espectador veste e se movimentam como se fossem extensões do corpo humano. Com eles, Oiticica acreditava fundir cor, estruturas, sentido poético, dança, palavra e fotografia. 

4º. Passo: Após a apresentação, o professor deverá concluir, tendo como exemplo o parangolé criado por Hélio Oiticica, chamando a atenção para essa arte propiciadora de uma experiência sensorial do público-receptor. Uma arte afastada da pura contemplação e voltada para uma vivência da realidade do homem com o mundo.

 

CONCLUSÃO

Os alunos deverão ser capazes de saber como artistas e intelectuais formaram uma das mais importantes frentes de combate e resistência ao regime militar. Além disso, aprenderão sobre o redimensionamento estético que articulou correntes internacionais e a imersão nas vivências e nas manifestações populares com o contexto político imediato de resistência ao regime militar. Por fim, serão capazes de identificar os principais artistas e suas obras de denúncia e resistência contra a Ditadura Civil-Militar, assim como as formas de censura às Artes Plásticas estabelecidas nesse período.

 

 

Recursos Complementares

- Texto: “Nós recusamos” – Lygia Clark (1966)

Site: http://www.lygiaclark.org.br/arquivo_detPT.asp?idarquivo=24

- Texto: “Nós somos os propositores” – Lygia Clark (1968)

Site: http://www.lygiaclark.org.br/arquivo_detPT.asp?idarquivo=25

Avaliação

Cada uma das atividades desenvolvidas pelos alunos, ao fim das aulas, será avaliada separadamente. Nessas atividades deverão ser consideradas a capacidade na realização de pesquisas temáticas; de correlacionar temas, redigir e interpretar textos;  participar nos debates e nas atividades extraclasse. 

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