• Compreender as estratégias argumentativas presentes no gênero entrevista.
• Compreender e exercitar a prática argumentativa permeada pelo questionamento, na perspectiva oral e escrita.
• Identificar elementos de informalidade e formalidade presentes nos discursos veiculados no gênero textual entrevista.
• Utilizar o gênero entrevista como recurso auxiliar no desenvolvimento da prática de pesquisa e investigação científica.
• Compreender os usos do gênero entrevista associados à perpetuação e conservação da memória sociocultural.

A entrevista é um gênero textual veiculado nos suportes que são elaborados e transitam entre a dimensão oral (em rádios, rede televisiva e em processos seletivos no mercado de trabalho) e escrita (revistas, dissertações e teses), bem como na perspectiva formal e informal da linguagem. A mídia em que tal modalidade possui mais difusão é a TV, inclusive há personalidades do jornalismo e apresentadores consagrados nesse ramo de atuação. Em geral, essas pessoas possuem um estilo, técnica e modo de conduzir as perguntas e uma forma personalizada de receber seus entrevistados.

Para acionar conhecimentos prévios sobre o formato e conteúdo do gênero, é necessário que o professor direcione algumas perguntas à turma: Para que serve a entrevista? O que a constitui?  Quais tipos de entrevistas eles conhecem? Quais programas de entrevistas os alunos conhecem? Quais eles costumam assistir? Por que assistem? As entrevistas revelam que tipo de perfil do sujeito?

Etapa 1: Conhecendo o gênero

            Com o intuito de por em prática os conhecimentos prévios dos alunos em torno desse gênero, é válido sugerir que, individualmente, eles procurem no Youtube e Google entrevistas com personalidades escolhidas por eles (se há alunos que gostam da mesma banda, cantor/ cantora, ator/ atriz ou outra personalidade, é interessante que a atividade seja feita em dupla). O professor pode sugerir que sejam identificados os elementos presentes na tabela a seguir:

O texto será digitado em formato word (tabela e link de acesso da entrevista) e enviado ao professor por e-mail. Depois de lido o material coletado, o professor pode desenvolver ou iniciar o conteúdo acerca do tipo textual dissertativo-argumentativo, a partir dos exemplos enviados pelos alunos. O conteúdo pode ser exposto por meio do power-point e em data show. É necessário que o professor sinalize e analise com os alunos quais respostas são mais expositivas, quais são mais argumentativas, de que modo são gerados esses argumentos, quais recursos linguísticos foram utilizados tanto pelo entrevistador, quanto pelo entrevistado, quais perguntas são mais subjetivas, quais são as mais retóricas, etc. Provavelmente, os textos coletados apresentarão um grau de coloquialidade mais predominante. Para isso, o professor pode sinalizar esses recursos e demonstrar a importância e pertinência do uso desses elementos nesse contexto.

Etapa 2: Identificando marcadores argumentativos e modalizadores discursivos em entrevista transcrita

Nessa etapa, o professor solicitará os alunos acessem a entrevista feita com o escritor mineiro Fernando Sabino no Programa Roda Viva, exibido em 1989. Por ser uma entrevista coletiva e transcrita, é fundamental que os alunos identifiquem o perfil, o estilo e os temas das perguntas de cada um dos entrevistados. O professor pode selecionar os temas e os tipos de perguntas com os quais quer trabalhar, pois a entrevista é extensa e a atividade pode ser mais direcionada e menos cansativa.

A entrevista em questão, de modo geral, aborda o ofício do escritor; a relação literatura e cinema; considerações sobre o gênero crônica e sobre a atividade de se publicar no suporte jornal; dificuldades encontradas no mercado editorial e outros elementos desencadeados no contexto de produção/ recepção literária.

Antes de iniciar a tarefa, é necessário que o professor esclareça ao aluno sobre o período histórico e político do país (governo Collor) e sobre o escritor e sua produção, conhecimentos prévios necessários para a compreensão de alguns trechos da entrevista. Em seguida, pode ser solicitado que os alunos identifiquem elementos de humor do entrevistado, marcadores de ironia, impaciência, intolerância ou contestações presentes na respostas, frases de efeito ou desdobramentos conceituais, postura política, etc.

Em relação aos entrevistadores, é válido demarcar quando há perguntas retóricas (quais são os marcadores que as constituem), perguntas mais embasadas ou pouco consistentes, comentários com o intuito de estabelecer continuidade temática, indagações sobre curiosidades, etc.

Para dinamizar a atividade, o professor pode solicitar que os alunos trabalhem em dupla e cada um ficará responsável pelos entrevistadores e outro pelo entrevistado. Os temas e elementos discursivos também podem ser distribuídos em grupos. Como proposta final, pode ser solicitada uma resenha ou resumo da entrevista.

Link da entrevista:

http://www.rodaviva.fapesp.br/materia_busca/278/Fernando%20Sabino/entrevistados/fernando_sabino_1989.htm

Etapa 3: Trabalhando o gênero entrevista gravada, entrevista transcrita

            Nessa atividade, o professor pedirá que os alunos, em grupos de 3 a 4 componentes, pesquisem sobre um ex-aluno, professor ou outro funcionário aposentado da escola. Após a execução dessa pesquisa, devem eleger um desses sujeitos para serem entrevistados. O foco da entrevista deve ser predefinido: aspectos relevantes da vida do entrevistado devem ser ressaltados, sua visão de mundo, sua relação com a escola onde se formou, seu desempenho na profissão, por exemplo. Deve-se atentar para que a entrevista não seja invasiva no tocante a aspectos pessoais da vida dos entrevistados. As perguntas devem ser analisadas com a turma, em conjunto, de forma que a entrevista possa ser postada, posteriormente, por exemplono blog da turma ou em redes sociais como facebok, orkut, youtube, etc.

Para a transcrição da atividade de entrevista gravada, é necessário salientar a ocorrência típica dos marcadores da oralidade, tais como: repetição de termos ou ideias, hesitações, pausas, a existência de modalizadores de interlocução e de continuidade/ coesão temática como “né”, “e” e “aí”, entre outros.

Passo a passo:

1) A escolha do suporte de gravação: um celular ou câmera digital. Para que o material produzido seja transposto para o netbook, no ícone da tela principal responsável pelo armazenamento de imagens;

2) A escolha do entrevistado: um ex-aluno, professor ou outro funcionário aposentado da escola. A pesquisa pode ser feita nos arquivos da secretaria da escola, no departamento pessoal ou por meio de parentes/ amigos do entrevistado que fazem parte da comunidade escolar;

3) O assunto pode ser: qual a ocupação do entrevistado atualmente (no caso de ex-aluno), quais lembranças guardam do período escolar, qual a relação que mantinha com os demais funcionários, a concepção de educação vigente na época e a atual, contexto escolar e perfil dos alunos naquele contexto, etc; (O professor pode auxiliar no roteiro de produção e revisão das perguntas redigidas, além de ressaltar a importância da pergunta retórica como etapa de desenvolvimento de hipóteses numa pesquisa científica, bem como recurso que aciona o desdobramento de uma tese em um texto dissertativo-argumentativo).

4) A seleção de perguntas deve estar articulada aos temas anteriores (item 3) e pode ser elaborada por grupos de 3 a 4 alunos ou o entrevistado pode ser convidado para uma entrevista coletiva feita em sala; (O entrevistado pode escolher a melhor abordagem)

5) Após a gravação, dois alunos ficarão responsáveis pela transcrição do texto, cada um transcreverá uma versão, depois essas podem ser comparadas. É importante que todos os elementos do discurso do entrevistado sejam registrados de forma mais legítima possível, ou seja, com os elementos da oralidade na íntegra;

6) Dois alunos ficarão responsáveis pela revisão e conferência do material coletado –  o qual será enviado por e-mail ao professor – e assinalarão os termos típicos de coloquialidade e informalidade encontrados na entrevista transcrita;

7) O professor abordará os resultados em data show, ou arquivo compartilhado com todos em sala, com o objetivo de editar os textos coletados: suprimir marcas da oralidade dispensáveis à escrita e efetuar o processo coletivo de retextualização e modalização ao formato padrão da escrita, segundo os aspectos de ortografia, acentuação, pontuação, concordâncias, enfim, de coerência e coesão textual.

Na etapa final, é necessário que o professor compare com os alunos a versão inicial transcrita com a versão editada, com o objetivo de observar se foram mantidas a intenção enunciativa e a veracidade do discurso proferido pelo entrevistado, o caráter emotivo do discurso, entre outros aspectos.

            O texto do grupo selecionado ou as perguntas mais relevantes da turma podem ser divulgados num jornal da escola como forma de homenagem ao ex-funcionário ou ex-aluno, bem como podem ser postadas no blog da turma e em redes sociais, como facebook.

Material de apoio:

MARCUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualizaçao. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

MEDINA, Cremilda de Araújo, Entrevista:o diálogo possível. 4. ed. São Paulo: Ática, 2004.

Nos Cadernos de Literatura, material produzido pelo Instituto Moreira Salles, há várias entrevistas com escritores notórios e significativos. Essa coleção pode ser adquirida pelo site:

http://ims.uol.com.br/

Sobre o gênero entrevista escrita e oral:

http://www.letras.ufmg.br/vivavoz/data1/arquivos/nosdominiosdosgeneros-v2.pdf

Memória do Programa Roda viva (trechos de entrevistas com várias personalidades e a transcrição desse material):

http://www.rodaviva.fapesp.br/

Páginas amarelas da revisa Veja:

http://veja.abril.com.br/acervodigital/

As avaliações ocorrerão de forma processual, ao longo de todas as atividades ministradas, as quais contemplam a identificação e produção de elementos típicos do gênero em questão, identificação de recursos coloquiais e formais contidos no registro oral, bem como a capacidade expressiva de formulação de perguntas. Porém é necessário:

• Avaliar a adequação do preenchimento da tabela (etapa 1) em relação ao itens constituintes da entrevista selecionada.

• Avaliar a adequação das perguntas feitas ao entrevistado, grau de formalidade e informalidade e teor argumentativo presentes nas perguntas.

• Avaliar o processo de transcrição das entrevistas gravadas, ao considerar os itens envolvidos nessa etapa.

• Avaliar a participação, interesse e disposição dos alunos para executarem as atividades em duplas e em grupos.