01/12/2011
BELO HORIZONTE - MG ESCOLA DE EDUCACAO BASICA E PROFISSIONAL DA UFMG - CENTRO PEDAGOGICO
Prof.Dr.Luiz Prazeres
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
---|---|---|
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | Língua Portuguesa | Linguagem escrita: leitura e produção de textos |
As discussões acerca da prosopeia podem surgir a partir de alguns questionamentos que pode sem debatidos em sala:
A) Por que se atribui um nome de pessoa a um animal?
B) Por que se personifica um animal na sociedade contemporânea?
C) Por que se “desumaniza” o indíviduo?
D) Por que, em algumas situações (saúde, alimentação e bem-estar), os animais são mais estimados que o próprio indivíduo?
Atividade 1 – Prosopopeia ilustrada, atualizada e ampliada.
O objetivo desta atividade é identificar elementos constitutivos e nuances de sentido na construção da prosopopeia em tirinhas e charge.
A prosopopeia caracteriza-se por atribuir valores humanos a objetos e seres inanimados em geral. Costumeiramente essa figura pode ser encontrada em fábulas, tirinhas, propagandas, charges, histórias em quadrinhos e desenhos animados.
No entanto, a referida figura de linguagem pode ser revista, atualizada e ampliada se forem considerados os valores associativos agregados à figura representativa do humano no animal, de certa “animalidade” no humano e das trocas representativas e socioculturais entre seres vivos e objetos.
1.1
Para a leitura da tirinha da Mafalda, de Quino, o aluno deverá identificar o processo gradativo de personificação (acionado por meio da sentença: “tem um doente em casa”) do globo terrestre e, pela relação simbólica, o aspecto metonímico aludido (um objeto que representa o mundo).
Disponível em: http://www.fotolog.com.br/feerico/14807137
1.2
Para as duas tirinhas a seguir, o aluno deverá identificar – em um primeiro plano – como hábitos e instintos caracterizadores dos animais construídos num sentido coletivo (o morcego suga sangue e o gato persegue o rato) são associados a hábitos e a elementos do universo humano (utilizar o catchup e estar submetido à Lei da gravidade). São justamente esses recursos de conclusão textual que provocam o efeito de humor nas tirinhas.
Pode ser pesquisado no Google os pressupostos da Lei da gravidade, quem a inventou e todo um contexto relacionado ao tema.
Disponível em: http://www2.uol.com.br/niquel/bau.shtml
Disponível em: http://www2.uol.com.br/niquel/bau.shtml
1.3
Para a leitura da tirinha, o aluno deverá analisar o processo gradativo da prosopopeia ao ressignificar a assertiva inicial: “Todo mundo é fashion”, que perpassa pela acepção de gênero (masculino e feminino), pela acepção zôo (o cão) e pela personificação de um objeto.
O aluno também deverá identificar a crítica feita ao conceito de moda que, ao mesmo tempo, é algo que atinge um público consumidor amplo, mas também instaura certo efeito de estranhamento (no caso da tirinha, o hidrante personificado, uma vez que o cachorro personificado não é mais a novidade).
Folha de S.Paulo, 24 de jan. 2004, Ilustrada, p.11.
Disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2004/01/24/21
1.3
É interessante que, a partir da leitura do texto, os alunos façam a distinção entre os elementos discursivos e constituintes dos gêneros tirinha e charge.
Eles podem reunir hipóteses sobre as aproximações entre os gêneros (provocar o humor, por exemplo, ou fazer uso da prosopopeia) e o tom político / mais crítico, mais conciso e atualizado, que é mais recorrente em charges.
O aluno deverá indicar que a construção de sentido na charge ocorre a partir do conhecimento de que a máquina de assar frangos é popularmente conhecida como “Televisão de cachorro”.
O efeito jocoso é gerado a partir da crítica feita à multiplicidade hiperbólica que as empresas de canais fechados prometem ao venderem um produto que supostamente é diverso, porém – paradoxalmente – possui pouca variedade, certa limitação e repetição de conteúdo. São “variações do mesmo tema”, assim como os frangos assados que, no máximo, variam de tamanho ou textura (bem assado, mal assado).
Disponível em: http://www.ivoviuauva.com.br/tag/televisao/page/2/
Atividade 2 – A prosopopeia metamorfoseada
O objetivo desta atividade é observar a representação dos animais em vários poemas e discutir os aspectos de personificação e antropomorfização numa perspectiva mais metamorfozeada, no que se refere à representação de certo “descontentamento” animal, ou condição identitária ou, até mesmo, um suposto olhar do bicho em relação ao homem.
2.1
MONÓLOGO DO MACACO
José Emilio Pacheco
Trad. Walter Carlos Costa
Nascido aqui na jaula, eu, babuíno,
o primeiro que aprendi foi: o mundo,
por onde quer que se olhe, tem
grades e grades.
Não consigo ver nada
que não esteja entigrecido por grades.
Dizem: há macacos livres.
Eu só vi
infinitos macacos prisioneiros
sempre entre grades.
E de noite sonho
com a selva ouriçada por grades.
Vivo apenas para ser visto.
Chega a multidão chamada gente.
Gostam de me atiçar. Se divertem
quando minha fúria faz as grades ressoarem.
Minha liberdade é minha jaula.
Só morto
me tirarão destas grades brutais.
Disponível em: http://balsamobenigno.wordpress.com/2011/02/14/monologo-do-macaco/
UM BOI VÊ OS HOMENS
Carlos Drummond de Andrade
Tão delicados (mais que um arbusto) e correm
e correm de um para outro lado, sempre esquecidos
de alguma coisa. Certamente, falta-lhes
não sei que atributo essencial, posto se apresentem nobres
e graves, por vezes. Ah, espantosamente graves,
até sinistros. Coitados, dir-se-ia não escutam
nem o canto do ar nem os segredos do feno,
como também parecem não enxergar o que é visível
e comum a cada um de nós, no espaço. E ficam tristes
e no rasto da tristeza chegam à crueldade.
Toda a expressão deles mora nos olhos - e perde-se
a um simples baixar de cílios, a uma sombra.
Nada nos pêlos, nos extremos de inconcebível fragilidade,
e como neles há pouca montanha,
e que secura e que reentrâncias e que
impossibilidade de se organizarem em formas calmas,
permanentes e necessárias. Têm, talvez,
certa graça melancólica (um minuto) e com isto se fazem
perdoar a agitação incômoda e o translúcido
vazio interior que os torna tão pobres e carecidos
de emitir sons absurdos e agônicos: desejo, amor, ciúme
(que sabemos nós?), sons que de despedaçam e tombam no campo
como pedras aflitas e queimam a erva e a água,
e, difícil, depois disto, é ruminarmos nossa verdade.
Disponível em: http://letras.terra.com.br/carlos-drummond-de-andrade/1340824/
2.3
Poema(s) da cabra
João Cabral de Melo Neto
7
A vida da cabra não deixa
lazer para ser fina ou lírica
(tal o urubu, que em doces linhas
voa à procura da carniça).
Vive a cabra contra a pendente,
sem os êxtases das decidas.
Viver para a cabra não é
re-ruminar-se introspectiva.
É, literalmente, cavar
a vida sob a superfície,
que a cabra, proibida de folhas,
tem de desentranhar raízes.
Eis porque é a cabra grosseira,
de mãos ásperas, realista.
Eis porque, mesmo ruminando,
não é jamais contemplativa.
8
O núcleo de cabra é visível
por debaixo de muitas coisas.
Com a natureza da cabra
outras aprendem sua crosta.
Um núcleo de cabra é visível
em certos atributos roucos
que têm as coisas obrigadas
a fazer de seu corpo couro.
A fazer de seu couro sola,
a armar-se em couraças, escamas:
como se dá com certas coisas
e muitas condições humanas.
Os jumentos são animais
que muito aprenderam com a cabra.
O nordestino, convivendo-a,
fez-se de sua mesma casta.
Disponível em: http://www.releituras.com/joaocabral_poemacabra.asp
Atividade 3 – Prosopopeia em propagandas
O objetivo desta atividade é identificar, analisar e discutir a representação dos animais em propagandas publicitárias e em uma propaganda educativa, com o intuito de contrastar os efeitos de antropomorfização e “animalidade” presentes.
1.1-Propaganda do Jetta (Cachorro que fala)
http://www.youtube.com/watch?v=JILgBCRCZXA&feature=related
É interessante que os alunos analisem o discurso do cachorro, que apesar de garantir o efeito cômico da propaganda, o legitima como mascote publicitário do anúncio. Ao ser levado a um Pet shop, o cão falseia a verborragia persuasiva anterior (para vender o carro) e reproduz a onomatopeia que, em geral, atribuímos ao seu latido: “au au”.
1.2-Propaganda Nissan (Pôneis malditos)
http://www.youtube.com/watch?v=hBiEvWZAYeA
Em oposição ao efeito publicitário anterior – no que diz respeito à representação do animal – os pôneis malditos servem de contraponto para o que a publicidade defende, ou seja, os pôneis subvertem os atributos dos tais cavalos do carro (que indicam potência e velocidade), pois os primeiros resgatam um universo fantasioso, repleto de melindres, preguiça, aversão a aventuras, ao perigo, à lama e ao deslocamento (alguns aparecem em carrossel).
1.3
Para a leitura e análise do texto, os alunos deverão produzir um pequeno texto dissertativo analítico sobre as relações entre o humano e o animal. O texto deve conter os seguintes direcionamentos:
A) O tema debatido.
B) A maneira como os animais são apresentados e o discurso associado a eles.
C) O tamanho, o formato e a disposição das frases ao longo do texto e o significado dessa distribuição.
D) As relações/ apropriações do contexto humano para conscientizar a população sobre o tema.
E) O que as placas penduradas nos animais simbolizam?
F) Em quais aspectos a propaganda se difere das anteriores?
Disponível em: http://aecochata.blogspot.com/2010_08_01_archive.html
Atividade 4 – Antropomorfizações em narrativas.
Para esta atividade, cada grupo (no máximo 5 alunos) ficará responsável por um texto narrativo e deverá analisar os elementos linguísticos/ discursivos que constituem a antropomorfização dos animais em cada texto.
1.1 – Excerto de Quincas Borba, de Machado de Assis.
RUBIÃO achou um rival no coração de Quincas Borba, - um cão, um bonito cão, meio tamanho, pêlo cor de chumbo, malhado de preto. Quincas Borba levava-o para toda parte, dormiam no mesmo quarto. De manhã, era o cão que acordava o senhor, trepando ao leito, onde trocavam as primeiras saudações. Uma das extravagâncias do dono foi dar-lhe o seu próprio nome; mas, explicava-o por dous motivos, um doutrinário, outro particular.
- Desde que Humanitas, segundo a minha doutrina, é o princípio da vida e reside em toda a parte, existe também no cão, e este pode assim receber um nome de gente, seja cristão ou muçulmano. .
- Bem, mas por que não lhe deu antes o nome de Bernardo? disse Rubião com o pensamento em um rival político da localidade.
- Esse agora é o motivo particular. Se eu morrer antes, como presumo, sobreviverei no nome do meu bom cachorro. Ris-te, não?
Rubião fez um gesto negativo.
- Pois devias rir, meu querido. Porque a imortalidade é o meu lote ou o meu dote, ou como melhor nome haja. Viverei perpetua-mente no meu grande livro. Os que, porém, não souberem ler, charlarão Quincas Borba ao cachorro, e...
O cão, ouvindo o nome, correu à cama. Quincas Borba, comovido, olhou para Quincas Borba
- Meu pobre amigo! meu bom amigo! meu único amigo!
Disponível em:http://machado.mec.gov.br/images/stories/pdf/romance/marm07.pdf
1.2 – Excerto de Vidas secas, de Graciliano Ramos.
A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pêlo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida.
Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas Baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa nas base, cheia de moscas, semelhante a uma cauda de cascavel.
Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la bem para a cachorra não sofrer muito.
Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que advinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta:
- Vão bulir com a Baleia?
[...]
Ela era como uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se difereciavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiquiro das cabras.
[...]
Pouco a pouco a cólera diminuiu, e sinhá Vitória, embalando as crianças, enjoou-se da cadela achacada, gargarejou muxoxos e nomes feios. Bicho nojento, babão. Inconveniência deixar cachorro doido solto em casa. Mas compreendia que estava sendo severa demais, achava difícil Baleia endoidecer e lamentava que o marido não houvesse esperado mais um dia para ver se realmente a execução era indispensável.
[...]
Fabiano percorreu o alpendre, olhando as barúna e as porteiras, açulando um cão invisível contra animais invisíveis:
-Ecô! ecô!
Em seguida entrou na sala, atravessou o corredor e chegou à janela baixa da cozinha. Examinou o terreiro, viu Baleia coçando-se a e esfregar as peladuras no pé de turco, levou a espingarda ao rosto. A cachorra espiou o dono desconfiada, enroscou-se no tronco e foi-se desviando, até ficar no outro lado da árvore, agachada e arisca, mostrando apenas as pupilas negras. Aborrecido com esta manobra, Fabiano saltou a janela, esgueirou-se ao longo da cerca do curral, deteve-se no mourão do canto e levou de novo a arma ao rosto. Como o animal estivesse de frente e não apresentasse bom alvo, adiantou-se mais alguns passos. Ao chegar às catingueiras, modificou a pontaria e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos de Baleia, que se pôs latir desesperadamente.
Ouvindo o tiro e os latidos, sinhá Vitória pegou-se à Virgem Maria e os meninos rolaram na caca chorando alto. Fabiano recolheu-se.
E Baleia fugiu precipitada, rodeou o barreiro, entrou no quintalzinho da esquerda, passou rente aos craveiros e às panelas de losna, meteu-se por um buraco da cerca e ganhou o pátio, correndo em três pés. Dirigiu-se ao copiar, mas temeu encontrar Fabiano e afastou-se para o chiqueiro das cabras. Demorou-se aí por um instante, meio desorientada, saiu depois sem destino, aos pulos.
[...]
Encaminhou-se aos juazeiros. Sob a raiz de um deles havia uma barroca macia e funda. Gostava de espojar-se ali: cobria-se de poeira, evitava as moscas e os mosquitos, e quando se levantava, tinha as folhas e gravetos colados às feridas, era um bicho diferente dos outros. Caiu antes de alcançar essa cova arredada. Tentou erguer-se, endireitou a cabeça e estirou as pernas dianteira, mas o resto do corpo ficou deitado de banda. Nesta posição torcida, mexeu-se a custo, ralando as patas, cravando as unhas no chão, agarrando-se nos seixos miúdos. Afinal esmoreceu e aquietou-se junto às pedras onde os meninos jogavam cobras mortas. Uma sede horrível queimava-lhe a garganta. Procurou ver as pernas e não as distinguiu: um nevoeiro impedia-lhe a visão. Pôs-se a latir e desejou morder Fabiano. Realmente não latina: uivava baixinho, e os uivos iam diminuindo, tomavam-se quase imperceptíveis.
Capítulo na íntegra, disponível em: http://www.tirodeletra.com.br/conto_canino/Baleia.htm
1.3 – “Tentação”, de Clarice Lispector
Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.
Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo. Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.
A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.
Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-la dobrar a outra esquina.
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.
Disponível em: http://www.tirodeletra.com.br/conto_canino/Tentacao-ClariceLispector.htm
1.3 – Crônica de Hilda Hilst
O País está vivendo uma crise de abandono, de total desamparo. Milhares de pessoas famintas, milhares de pessoas nas filas quilométricas da saúde, da Previdência, etc, etc. Tanto nos confins do país, em Monte Santo, na Bahia, onde os bebês têm morrido de fome, onde não há nem o mandacaru, onde a miséria é absoluta, como nas capitais, nas cidades onde pessoas moram em bueiros e se alimentam de lixo. Em Pirajuí (SP), uma família não vê um litro de leite há três meses e a filha de dez anos mama nas tetas de Dindinha, uma cachorra.
Publicada no Correio Popular de Campinas, 30 de janeiro de 1994 e compilada em:
HILST, Hilda. Cascos & carícias: crônicas reunidas. São Paulo: Nankin Editorial, 1998, p.111.
Trecho Disponível em: http://www.ufjf.br/darandina/files/2010/02/artigo11a.pdf
Atividade 5 – Personificação x zoomorfização
O objetivo desta atividade é criar um manifesto em defesa do estatuto de humanidade ou de “zôo ética”
O professor enviará por e-mail, ou disponibilizará em seu blog, os seguintes textos para discussão em sala ou para leitura e interpretação autônoma dos alunos. Esses servirão de elementos motivadores para a escrita de um manifesto em favor dos direitos humanos atrelados aos valores de uma “zôo ética” na sociedade.
A atividade pode ser aplicada como avaliação final da discussão em torno do tema.
Sobre o manifesto:
http://www.infoescola.com/literatura/manifesto/
http://www.mundoeducacao.com.br/redacao/manifesto.htm
TEXTO I
Disponível em: http://pousadaluaazul.com.br/planetapraia/?p=1780
TEXTO II
Rock da cachorra
Leo Jaime
Uauuu! Uauuu! Uauuu!
Uauuu! Uauuu! Uauuu!
Uauuu! Uuuuuu!...
Baptuba! Uap Baptuba!
Baptuba! Uap Baptuba!
Baptuba!
Troque seu cachorro
Por uma criança pobre
(Baptuba! Uap Baptuba!)
Sem parente, sem carinho
Sem rango, sem cobre
(Baptuba! Uap Baptuba!)
Deixe na história de sua vida
Uma notícia nobre...
Troque seu cachorro
(Uauuu!)
Troque seu cachorro
Por uma criança pobre...
Tem muita gente por aí
Que tá querendo levar
Uma vida de cão
Eu conheço um garotinho
Que queria ter nascido
Pastor-alemão
[...]
Seja mais humano
Seja menos canino
Dê guarita pro cachorro
Mas também dê pro menino
Se não um dia desse você
Vai amanhecer latindo
Uau! Uau! Uau!...
Troque seu cachorro
Por uma criança pobre
(Baptuba! Uap Baptuba!)
Sem parente, sem carinho
Sem rango, sem cobre
(Baptuba! Uap Baptuba!)
Deixe na história de sua vida
Uma notícia nobre...
Disponível em: http://letras.terra.com.br/eduardo-dusek/117822/
TEXTO III
Creche para cachorro se espelha em escola infantil
Vinícius Queiroz Galvão
Diferentemente dos hotéis caninos, em que os bichos ficam hospedados por um período curto quando os donos viajam, as creches para cães têm atraído cada vez mais os paulistanos donos de cachorro. Nelas, os bichos vão todo dia (R$ 580 mensais, de segunda a sexta) com regras tão parecidas e rígidas quanto as das escolas.
Têm horário de entrada e saída, lista de presença, recreação, banho de piscina, atividades físicas, passeios no parque, escovação diárias de dentes e pelos, exames períodicos de sangue e de fezes, transporte que vai buscar e deixar em casa e até horário de descanso para dormir em colchões. E nem pensar em chamar a van de carrocinha. Tem cachorro que vai de táxi.
Para os tratadores, a comparação com crianças é mesmo inevitável. No aniversário dos animais, os donos levam bolo – para os cachorros, naturalmente – e lembrancinhas. Os que brigam passam o dia de castigo, amarrados um de frente para o outro. Mordida dá suspensão. Como numa escola, os cães são só entregues aos donos.
[...]
“A maioria dos donos são casais solteiros, então eles veem o cão como filho. Já vi casos de divórcio porque o marido discordava da educação que a mulher dava ao cachorro. Temos sempre que alertar que são bichos”, diz Patrícia Pedreca, tratadora da Creche que chega a ter 65 cachorros por dia.
Disponível em: http://acervo.folha.com.br/fsp/2010/02/28/15
Os três melhores textos podem ser veiculados em redes sociais, como o facebook, ou postados no blog da turma ou da escola.
BRANDÃO, Roberto de Oliveira. As figuras de linguagem. São Paulo: Ática, 1989.
CHERUBIM, Sebastião. Dicionário de figuras de linguagem. São Paulo: Pioneira, 1989.
MACIEL, Maria Ester. O animal escrito: um olhar sobre a zooliteratura contemporânea. São Paulo: Lumme Editor, 2008.
As avaliações ocorrerão de forma processual, ao longo de todas as atividades ministradas, as quais contemplam o desenvolvimento das habilidades de leitura participativa e identificatória de elementos linguísticos e escrita de um texto dissertativo. Porém é necessário:
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