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UCA: Narrativas natalinas familiares

 

19/12/2011

Autor e Coautor(es)
NELI EDITE DOS SANTOS
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UBERLANDIA - MG ESC DE EDUCACAO BASICA

Aparecida Clemilda Porto

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Educação Escolar Indígena Línguas Desenvolvimento da linguagem escrita
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo Língua Portuguesa Leitura e escrita de texto
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: processos de construção de significação
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

- Estabelecer relações entre texto e cultura, reconhecendo no texto elementos constituidores de uma cultura.

- Identificar traços caracterizadores da narrativa e analisá-los. 

- Produzir textos usando linguagem não verbal a partir de narrativas natalinas diversas: a de Jesus de Nazaré, a de Rubem Braga e a de João Cabral de Melo Neto.

Duração das atividades
4 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

- Elementos da narrativa.

Estratégias e recursos da aula

 

 Professor, antes de orientar as atividades abaixo, comente com os alunos que algumas vivências de homens e mulheres nos campos da arte, da política, da religião, do fazer científico, do esporte - entre outras - foram tão marcantes que acabaram por transbordar para além do lugar e do tempo em que aconteceram, tornando-se parte da história da Humanidade. Um exemplo deste tipo de experiência diz respeito a um acontecimento ocorrido há mais de dois mil anos, entre o povo judeu, na região da Judeia, quando nasceu uma pessoa que recebeu o nome de Jesus de Nazaré - e que tempos depois ficará mais conhecido como Jesus, o crucificado ou Jesus Cristo. A história dessa pessoa e de sua comunidade tem sido contada e recontada em diferentes tempos e lugares, por diversas vozes, sob múltiplas formas. As atividades a seguir fazem referência a esse acontecimento que, atualmente, faz parte da vida de uma grande parte da população brasileira.

Comente também que a aula não pretende abordar o tema Natal sob ponto de vista religioso, mas como uma sendo parte de uma história inegavelmente conhecida –independente de crenças. Em outros momentos, procure levar para a sala, também como tema para produção de texto, histórias de outras tradições culturais originárias, por exemplo, dos povos africanos, asiáticos, indígenas – entre tantas outras formações humanas.   

 Atividade 1 - Roda de conversa

Alunos dispostos em pequenos círculos de cinco ou seis alunos.

Professor, o objetivo desta atividade é que os alunos narrem episódios ocorridos na época de Natal no âmbito familiar.  Oriente-os a relatarem algum episódio  diferente que tenha acontecido com eles e suas famílias, algo engraçado, triste, complicado ou inesperado. Uma situação que tenha feito de determinado Natal uma lembrança marcante para eles.

Para que não seja cansativo, os relatos devem se restringir ao conjunto de quatro a seis alunos.

 Atividade 2 -    Leitura de Conto de Natal (Rubem Braga)

Alunos organizados em círculo.

Professor, oriente os alunos a lerem o Conto de Natal e responderem às questões sobre ele. 

1               Rubem Braga

    

     Sem dizer uma palavra, o homem deixou a estrada andou alguns metros no pasto e se deteve um instante diante da cerca de arame farpado. A mulher seguiu-o sem compreender, puxando pela mão o menino de seis anos.

     — Que é?

     O homem apontou uma árvore do outro lado da cerca. Curvou-se, afastou dois fios de arame e passou. O menino preferiu passar deitado, mas uma ponta de arame o segurou pela camisa. O pai agachou-se zangado:

     — Porcaria...

     Tirou o espinho de arame da camisinha de algodão e o moleque escorregou para o outro lado. Agora era preciso passar a mulher. O homem olhou-a um momento do outro lado da cerca e procurou depois com os olhos um lugar em que houvesse um arame arrebentado ou dois fios mais afastados.

     — Péra aí...

     Andou para um lado e outro e afinal chamou a mulher. Ela foi devagar, o suor correndo pela cara mulata, os passos lerdos sob a enorme barriga de 8 ou 9 meses.

     — Vamos ver aqui...

     Com esforço ele afrouxou o arame do meio e puxou-o para cima. Com o dedo grande do pé fez descer bastante o de baixo. Ela curvou-se e fez um esforço para erguer a perna direita e passá-la para o outro lado da cerca. Mas caiu sentada num torrão de cupim!

     — Mulher!

     Passando os braços para o outro lado da cerca o homem ajudou-a a levantar-se. Depois passou a mão pela testa e pelo cabelo empapado de suor.

     — Péra aí...

     Arranjou afinal um lugar melhor, e a mulher passou de quatro, com dificuldade. Caminharam até a árvore, a única que havia no pasto, e sentaram-se no chão, à sombra, calados.

     O sol ardia sobre o pasto maltratado e secava os lameirões da estrada torta. O calor abafava, e não havia nem um sopro de brisa para mexer uma folha.
De tardinha seguiram caminho, e ele calculou que deviam faltar umas duas léguas e meia para a fazenda da Boa Vista quando ela disse que não agüentava mais andar. E pensou em voltar até o sítio de «seu» Anacleto.

     — Não...

     Ficaram parados os três, sem saber o que fazer, quando começaram a cair uns pingos grossos de chuva. O menino choramingava.

     — Eh, mulher...

     Ela não podia andar e passava a mão pela barriga enorme. Ouviram então o guincho de um carro de bois.

     — Oh, graças a Deus...

     Às 7 horas da noite, chegaram com os trapos encharcados de chuva a uma fazendinha. O temporal pegou-os na estrada e entre os trovões e relâmpagos a mulher dava gritos de dor.

    — Vai ser hoje, Faustino, Deus me acuda, vai ser hoje.

     O carreiro morava numa casinha de sapé, do outro lado da várzea. A casa do fazendeiro estava fechada, pois o capitão tinha ido para a cidade há dois dias.

     — Eu acho que o jeito...

     O carreiro apontou a estrebaria. A pequena família se arranjou lá de qualquer jeito junto de uma vaca e um burro. No dia seguinte de manhã o carreiro voltou. Disse que tinha ido pedir uma ajuda de noite na casa de “siá” Tomásia, mas “siá” Tomásia tinha ido à festa na Fazenda de Santo Antônio. E ele não tinha nem querosene para uma lamparina, mesmo se tivesse não sabia ajudar nada. Trazia quatro broas velhas e uma lata com café. Faustino agradeceu a boa-vontade. O menino tinha nascido. O carreiro deu uma espiada, mas não se via nem a cara do bichinho que estava embrulhado nuns trapos sobre um monte de capim cortado, ao lado da mãe adormecida.

     — Eu de lá ouvi os gritos. Ô Natal desgraçado!

     — Natal?

     Com a pergunta de Faustino a mulher acordou.

     — Olhe, mulher, hoje é dia de Natal. Eu nem me lembrava...

     Ela fez um sinal com a cabeça: sabia. Faustino de repente riu. Há muitos dias não ria, desde que tivera a questão com o Coronel Desidério que acabara mandando embora ele e mais dois colonos. Riu muito, mostrando os dentes pretos de fumo:

    — Eh, mulher, então “vâmo” botar o nome de Jesus Cristo!

     A mulher não achou graça. Fez uma careta e penosamente voltou a cabeça para um lado, cerrando os olhos. O menino de seis anos tentava comer a broa dura e estava mexendo no embrulho de trapos:

     — Eh, pai, vem vê...

     — Uai! Péra aí...

     O menino Jesus Cristo estava morto.

Disponível em: <http://www.releituras.com/rubembraga_contonatal.asp>. Acesso em 10 dez. 2011.

Exercícios: 

a) Procurem no dicionário o significado das seguintes palavras: sapé; várzea; guincho; carreiro; estrebaria; acuda (acudir); farpado; cupim.

b) Identifiquem os personagens e suas características. Possivelmente, qual seria a condição sócio-econômica das personagens?

c) Observem os lugares por onde as personagens se movimentam. Em que tipo de lugar ocorre a narrativa? Quais palavras e expressões permitem identificá-lo? 

d) Tomando como base as expressões "Péra aí", "Vem vê" e "Uai", provavelmente, em qual região do Brasil se passa a narrativa?

 Ainda em círculo, três ou quatro fazem a leitura de suas respostas em voz alta. Antes de passar de uma questão para a outra, complemente as respostas que eventualmente estiverem incompletas.

Atividade 3: Ilustrando o Conto de Natal e a narrativa de nascimento de Jesus de Nazaré.

Alunos organizados em duplas.

Professor, entregue aos alunos uma folha sulfite e oriente-os a dividirem-na em três partes. Na primeira parte, apelando para suas memórias e trocando ideias com os colegas, eles deverão ilustrar o nascimento do menino chamado Jesus. Na segunda parte, a principal cena do Conto de Natal. A terceira parte deve permanecer em branco até a Atividade 5.

Atividade 4 - Assistindo o desenho animado Morte e vida Severina.

Alunos continuam em duplas.

Para assistir ao auto de natal pernambucano intitulado Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, apenas um aluno por dupla deve conectar o laptop à rede.  Oriente os alunos a acessarem o endereço <http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=5944>. Trata-se da adaptação, em formato de desenho animado, dessa obra clássica da literatura brasileira, publicada em 1956.

2      João Cabral de Melo Neto


Atividade 5 - Produção de texto não verbal

Alunos continuam organizados em duplas.

Terminada a exibição do filme, solicite aos alunos que produzam a ilustração da cena que guarda semelhanças com as duas cenas já registradas em sua folha na atividade anterior. Três histórias, três tempos, três lugares, diferentes personagens e o mesmo tema: nascimento. Incentive os alunos a representarem a cena indicada com o máximo de criatividade e detalhes.

As produções devem ser expostas no varal criativo. Caso a sala não possua o varal, para instalá-lo, basta esticar cordão de algodão ou de nylon em toda a extensão da sala, rente às paredes, e deixar ali prendedores. Se não tiver prendedores, use fita crepe para afixar as folhas.

Recursos Complementares

Mais informações sobre Morte e Vida Severina:

Sinopse:

"Morte e Vida Severina em Desenho Animado é uma versão audiovisual da obra prima de João Cabral de Melo Neto, adaptada para os quadrinhos pelo cartunista Miguel Falcão. Preservando o texto original, a animação 3D dá vida e movimento aos personagens deste auto de natal pernambucano, publicado originalmente em 1956. Em preto e branco, fiel à aspereza do texto e aos traços dos quadrinhos, a animação narra a dura caminhada de Severino, um retirante nordestino, que migra do sertão para o litoral pernambucano em busca de uma vida melhor."

Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=item&item_id=5944>. Acesso em 10 dez. 2011.

Comentário:

"Em Morte e Vida Severina, longo poema que saiu no livro Duas Águas, de 1956, harmonizam-se forma e temática social. Neste auto de Natal pernambucano, o autor trata da luta de Severino, um retirante do agreste, pela sobrevivência. Guiado pelo rio Capibaribe rumo ao litoral, Severino busca chegar à capital, almejando uma vida digna. Pelo caminho, depara-se com as diversas facetas da morte - causada pela seca; pela fome, que corroi as entranhas do país, e pela disputa por terras áridas. Ele tenta a todo custo fugir da destruição e corre em busca da perspectiva de dias melhores, mas a cidade grande revela uma realidade tão dura quanto a do sertão. Diante de tal situação-limite, Severino planeja o suicídio atirando-se da ponte sobre o rio Capibaribe, que o guiara até ali. Contudo, após presenciar o nascimento de uma criança (filho de José, o mestre "carpina", numa clara alusão ao nascimento de Cristo), reacende-se no coração do herói a esperança de vencer a vida "severina", e Severino acaba por desistir de seu intento."

Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/morte-vida-severina-401000.shtml>. Acesso em 10 dez. 2011.

Avaliação

A avaliação deve ser processual. Professor, observe se os alunos dialogam entre si, se relatam dados de determinada cultura (cristã). Esteja atento para que o recorte não recaia no aspecto religioso, mas se mantenha no campo da cultura. Verifique também se conseguem, por meio texto não verbal,  produzir as cenas que revelam o tema nascimento, abordado de diferentes maneiras pelos textos em estudo.

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