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A POESIA É INTERSEMIÓTICA

 

19/01/2010

Autor e Coautor(es)
Maria Auxiliadora Cunha Grossi
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UBERLANDIA - MG Universidade Federal de Uberlândia

Aparecida Clemilda Porto

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Literatura Outras expressões: letras de música, hip hop, quadrinhos, cordel
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Com esta aula o aluno poderá:

a) compreender a função da poesia, os diferentes espaços que ela ocupa,
b) conhecer os significativos diálogos que ela trava com outras linguagens.
c) compreender que, cada vez mais, a poesia está presente em meios de comunicação, como no computador, vídeo, poema-cartaz, nos outdoors e nas canções.
d) perceber a magia da poesia de maneira a senti-la não somente como um código a ser analisado e interpretado do ponto de vista dos recursos estilísticos do texto poético, mas também do ponto de vista de sua associação com a música, a visualidade.

Duração das atividades
3 aulas de aproximadamente 50 minutos cada
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

De maneira muito preliminar, ao molde da formação dos primeiros conhecimentos e contatos com o tema, de maneira a “nomear” os conceitos, introduzir: Conceito de Poesia, momento em que o professor deverá, primeiramente, ouvir dos alunos, as suas próprias impressões sobre o que seja a poesia. Em seguida, o professor poderá acrescentar/adequar às impressões dos alunos algumas ideias básicas sobre a teoria da poesia.
Conceito de Imagem, quando será explorado o conceito de imagem na palavra e de imagem como representação visível de um objeto artístico, cinema, vídeo, quadro, escultura, desenho etc.
Conceito de significante, o que nos permite perceber o som, a imagem acústica da palavra; e de significado, o que nos remete à ideia e ao possível sentido da palavra.

Estratégias e recursos da aula

Estratégias e recursos da aula

a) Introduzir/desenvolver (sempre), a cada aula, antes de qualquer diálogo, o mote: onde está a poesia?

Aula 1

Atividade 1 – 50 minutos

Motivação

O espaço para esta aula é aberto: biblioteca, sala de aula, sala de vídeo. O professor introduz uma conversa se orientando pelos seguintes eixos de diálogo:

a) A palavra poesia vem do grego “poíesis” e significa “obra”, o que foi feito com alguma intenção, com sentido de colocar sentimento naquilo que se faz. Significa também “ato com atitude”, algo a mais que a gente coloca na criação de alguma coisa. Mas, com o tempo tudo isto mudou.
b) Mas afinal, o que é poesia? (Retomada dos conhecimentos prévios)
c) O que é poema?
d) Onde você pode encontrar a poesia?
e) Dizem que a música é para ser ouvida, as artes são para serem vistas, a poesia é para ser lida. O que vocês me dizem destas ideias?
f) A poesia está cada vez mais ocupando outros espaços de comunicação como: o computador, o vídeo, a propaganda, o poema-cartaz, os outdoors, as canções. Vocês poderiam dar exemplos destes tipos de espaços onde podemos encontrar a poesia?
g) Poeta é o que faz. Se mantivermos a origem deste sentido perceberemos que a poesia pode estar muito além das páginas dos livros, do que é escrito ou falado. Se o poeta é o que faz, então o poeta poderá “fazer”, criar atitudes, gestos poéticos. Além disso, entenderíamos que a poesia poderia estar em diferentes espaços sociais. Que espaços seriam estes? Neste momento, o professor introduz um diálogo no qual a intenção é mostrar que em pequenos momentos mais comuns de nossa vida cotidiana, nos encantamentos, nos estados de prazer, podemos encontrar a poesia, como por exemplo, ao atravessar uma rua, dentro de um ônibus, em uma fila de banco, na sala de aula. Assim, seríamos poetas por identificar a existência do poético no que nos rodeia.
h) Incentivar as falas do grupo para permitir que os alunos identifiquem estes momentos e comentem sobre a poesia neles presente.
i) Comentar as respostas.

Aula 2

Atividade 1

Propor aos alunos a leitura do poema de Arnaldo Antunes, denominado Nome Não. 

Nome não

os nomes dos bichos não são os bichos
o bichos são:
macaco gato peixe cavalo
macaco gato peixe cavalo
vaca elefante baleia galinha

os nomes das cores não são as cores
as cores são:
preto azul amarelo verde vermelho marrom

os nomes dos sons não são os sons
os sons são

só os bichos são bichos
só as cores são cores
só os sons são
som são, som são
nome não, nome não
nome não, nome não

os nomes dos bichos não são os bichos
os bichos são:
plástico pedra pelúcia ferro
plástico pedra pelúcia ferro
madeira cristal porcelana papel

os nomes das cores não são as cores
as cores são:
tinta cabelo cinema sol arco-íris tevê

os nomes dos sons não são os sons
os sons são

só os bichos são bichos
só as cores são cores
só os sons são
som são, nome não
nome não, nome não
nome não, nome não

O poema pode ser também ouvido, acessando o link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=2u6TTaxM8hY&feature=player_embedded 

Distribuir cópias do poema para os alunos. Fazer a leitura individual e coletiva com o grupo.

Neste poema há um interessante jogo que envolve os sons e as ideias, quando o poeta diz em seus versos que os nomes dos bichos não são os bichos/ os bichos são: macaco, gato, peixe, cavalo, vaca, elefante, baleia, galinha/ os nomes das cores não são as cores/ as cores são: preto, azul, amarelo, ver de, vermelho, marrom / os nomes dos sons não são os sons/ os sons são/ só os bichos são bichos/ só as cores são cores/ só os sons são/ sons são/ sons são/ nome não/ nome não/ nome não...
Percebemos, neste poema, um dinâmico jogo que parte da ideia de que os nomes dados às coisas ou aos seres, por meio das palavras, são códigos que poderão ultrapassar os limites do sentido referencial, usual e atingir o contexto subjetivo. Ou seja, o nome das coisas não são as coisas em si, mas representam as coisas. De fato, as palavras são representações, são símbolos que nos pegam de surpresa quando as percebemos em seus mais inesperados sentidos. E isto só é possível quando praticamos uma leitura ‘ao avesso’, uma leitura que subverte a sua ordem aparente. A palavra, nesta acepção, está revestida de imagens, de associações que refinam com delicada sutileza os significados e os significantes nela presentes, desvinculados de seu sentido normativo, lógico.

Atividade 2

a) Partindo desta conversa inicial, os alunos deverão perceber da ideia de que as palavras, muitas vezes, fazem parte de um jogo sensorial, outros jogos podem ser propostos. Esta atividade tem como objetivo provocar um jogo sensório através de associações e analogias, da interação de sensações e impressões adquiridas a partir do sentido das palavras no jogo de sons e imagens. Este jogo sensório, visto muitas vezes nas metáforas, sugere que as palavras são sons, são poesias e não simplesmente um ‘nome’. E que os nomes dados às coisas ou aos seres através das palavras são códigos que poderão ultrapassar os limites do sentido referencial, usual e atingir o contexto subjetivo.

1º. Momento - Distribuir folhas de papel e canetas coloridas. Pedir que os alunos escrevam todas as palavras que lhe vêm à cabeça.

2º. Momento - Separar, na lousa, em colunas, as palavras que eles escreveram aleatoriamente, classificando-as, por exemplo, em: palavras brancas, palavras gostosas, palavras sonoras, palavras frias, palavras azuis, amarelas, vermelhas, verdes, pretas, perfumadas, sólidas e assim sucessivamente. Observar, nestas respostas, os tipos de associações que foram feitas por eles. Tais associações permitem ao aluno perceber outros elementos que se relacionam com o significado da palavra, como a imagem visual, olfativa, tátil auditiva, gustativa. Assim, as relações entre significado e significante são enriquecidas uma vez que a palavra falada não tem somente o “escrito” como representação. Vejamos como estas associações se dão:

Elas devem ser bem percebidas e diferenciadas uma vez que cada aluno percebe a palavra de maneiras diferentes. Em uma situação em que esta atividade foi aplicada, alguns alunos apelaram para uma leitura menos literal do significado das palavras, enquanto outros se apoiaram mais no sentido referencial. Assim, a palavra ‘branca’, por exemplo, poderia significar ao mesmo tempo ‘paz’, ‘nebulosa’, ‘vazio’. A palavra ‘gostosa’ poderia significar ‘sorvete’,‘bolo’, mas também ‘lenga-lenga’, ‘luar’. A palavra ‘sonora’ poderia significar ‘tambor’, ‘estrondo’, mas também ‘paralelepípedo’, ‘pirula’ (palavra inventada sem um sentido, mas um significante) e assim sucessivamente. Assim, percebemos que o conceito de determinada palavra dado pelo aluno poderá estender-se ao significante (imagem acústica da palavra) e não somente ao significado (idéia ou sentido d a palavra). Foi o caso do aluno que considerou como ‘gostosa’ a palavra lenga-lenga. Na verdade, o que foi considerado gostoso nesta palavra não diz respeito ao sabor, mas ao seu som. Ou melhor, diz respeito ao sabor do som. Este tipo de associação é tanto mais possível quanto mais o aluno está em contato com a palavra enquanto jogo, imagem, brincadeira. E os vídeo-poemas de Arnaldo Antunes muito favorecem ricas associações.

Recursos Complementares


(A aula sugerida se baseou em artigo publicado para programas da TV Educativa do Rio de Janeiro. Fonte: GROSSI, Maria Auxiliadora Cunha. Poesia, música e jogo: nas malhas do bordado o risco da palavra. Texto produzido para uma série de programas da TV Educativa do Rio de Janeiro. Julho 2005. Programa 4: Bardos e Trovadores. Publicação eletrônica. www.tvebrasil.com.br/salto

Avaliação

A avaliação se dará de forma coletiva, durante todos os momentos das atividades. O professor deverá fazer perguntas antes de iniciar a aula, com o objetivo de retomar o tema e fazer um diagnóstico para saber o que os alunos apreenderam. Também observará o nível de participação com as respostas ou sugestões propostas pelo grupo e/ou de forma individual. É importante que o professor perceba o desenvolvimento dos trabalhos e o consequente avanço do conhecimento dos alunos no que diz respeito aos conceitos assimilados e ao aprimoramento da expressão criativa por meio do exercício da linguagem poética.

Opinião de quem acessou

Cinco estrelas 3 classificações

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Opiniões

  • Thais Santos, FASB , São Paulo - disse:
    tsantos173@gmail.com

    11/09/2012

    Cinco estrelas

    Bela aula! Essa é de longe a aula que coloca em prática toda a teoria ensinada em um curso de Letras. Parabéns!


  • Maria Rosalina Alves Arantes, CEFAPRO - Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação , Mato Grosso - disse:
    m.rosalina@brturbo.com.br

    29/07/2010

    Cinco estrelas

    Muito bem elaborada a aula. Levou em consideração a oralidade e a expressão escrita, compactuando com as orientações curriculares do MEC e com as necessidades de aprendizagem de nossos alunos. Também explorou a sonoridade poética, o gênero e suas especificidades, o pré-conceito dos alunos em relação ao gênero, além de valorizar o senso poético: ele está presente em todas as manifestações de arte, prosa, lírica, plástica, marketing... Parabéns!!!


  • keithy juliane, edesio castanho , São Paulo - disse:
    kekaol@ig.com.br

    24/03/2010

    Cinco estrelas

    parabéns são pessoas assim que precisamos para nos ajudar a melhorar a qualidade da educação dada aos nossos alunos


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