Portal do Governo Brasileiro
Início do Conteúdo
VISUALIZAR AULA
 


O sinestésico na literatura: leitura d"O coração denunciador", de Edgar Allan Poe

 

20/09/2013

Autor e Coautor(es)
WALLESKA BERNARDINO SILVA
imagem do usuário

UBERLANDIA - MG ESC DE EDUCACAO BASICA

Eliana Dias e Lazuíta Goretti de Oliveira

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: processos de interlocução
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem oral: escrita e produção de texto
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos
Ensino Médio Literatura Estudos literários: análise e reflexão
Ensino Médio Literatura Representação literária: Natureza, função, organização e estrutura do texto literário
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula
  • Ter percepções sinestésicas enquanto escuta um conto de terror sob luz de velas e atmosfera de suspense.
  • Comparar a leitura do conto "O coração denunciador" com a releitura em vídeo.
  • Ler e discutir análise do conto ouvido e visto em relação à "noção de estranhamento" suscitada no leitor.
  • Produzir um ensaio.
Duração das atividades
1 aula de 100 minutos.
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
  • Ensaio.
Estratégias e recursos da aula

Estratégias e recursos:

  • vela;
  • data show;
  • ambiente escuro;
  • discussões orais e coletivas;
  • leitura e análise coletivas;
  • produção de um ensaio.

 

Módulo 1

Atividade 1

O objetivo dessa atividade é estimular os alunos a ter percepções sinestésicas enquanto escutam um conto de terror sob luz de velas e atmosfera de suspense.

O professor iniciará a aula entregando aos alunos uma vela para cada um.

Professor, para que essa atividade seja exitosa, a aula deve acontecer em um lugar escuro para que sejam alcançados os efeitos sinestésicos esperados.

Com as velas acesas e os alunos sentados em círculo, o professor iniciará a leitura do conto "O coração denunciador/delator", de Edgar Allan Poe:

 

2

Foto arquivo pessoal: alunos da Escola de Educação Básica da UFU (Eseba), no 2º trimestre de 2013.

 

O coração delator

Edgar Allan Poe


É verdade! Nervoso, muito, muito nervoso mesmo eu estive e estou; mas por que você vai dizer que estou louco? A doença exacerbou meus sentidos, não os destruiu, não os embotou. Mais que os outros estava aguçado o sentido da audição. Ouvi todas as coisas no céu e na terra. Ouvi muitas coisas no inferno. Como então posso estar louco? Preste atenção! E observe com que sanidade, com que calma, posso lhe contar toda a história.

É impossível saber como a ideia penetrou pela primeira vez no meu cérebro, mas, uma vez concebida, ela me atormentou dia e noite. Objetivo não havia. Paixão não havia. Eu gostava do velho. Ele nunca me fez mal. Ele nunca me insultou. Seu ouro eu não desejava. Acho que era seu olho! É, era isso! Um de seus olhos parecia o de um abutre - um olho azul claro coberto por um véu. Sempre que caía sobre mim o meu sangue gelava, e então pouco a pouco, bem devagar, tomei a decisão de tirar a vida do velho, e com isso me livrar do olho, para sempre.

Agora esse é o ponto. O senhor acha que sou louco. Homens loucos de nada sabem. Mas deveria ter-me visto. Deveria ter visto com que sensatez eu agi — com que precaução —, com que prudência, com que dissimulação, pus mãos à obra! Nunca fui tão gentil com o velho como durante toda a semana antes de matá-lo. E todas as noites, por volta de meia-noite, eu girava o trinco da sua porta e a abria, ah, com tanta delicadeza! E então, quando tinha conseguido uma abertura suficiente para minha cabeça, punha lá dentro uma lanterna furta-fogo bem fechada, fechada para que nenhuma luz brilhasse, e então eu passava a cabeça. Ah! o senhor teria rido se visse com que habilidade eu a passava. Eu a movia devagar, muito, muito devagar, para não perturbar o sono do velho. Levava uma hora para passar a cabeça toda pela abertura, o mais à frente possível, para que pudesse vê-lo deitado em sua cama. Aha! Teria um louco sido assim tão esperto? E então, quando minha cabeça estava bem dentro do quarto, eu abria a lanterna com cuidado — ah!, com tanto cuidado! —, com cuidado (porque a dobradiça rangia), eu a abria só o suficiente para que um raiozinho fino de luz caísse sobre o olho do abutre. E fiz isso por sete longas noites, todas as noites à meia-noite em ponto, mas eu sempre encontrava o olho fechado, e então era impossível fazer o trabalho, porque não era o velho que me exasperava, e sim seu Olho Maligno. E todas as manhãs, quando o dia raiava, eu entrava corajosamente no quarto e falava com ele cheio de coragem, chamando-o pelo nome em tom cordial e perguntando como tinha passado a noite. Então, o senhor vê que ele teria que ter sido, na verdade, um velho muito astuto, para suspeitar que todas as noites, à meia-noite em ponto, eu o observava enquanto dormia.

Na oitava noite, eu tomei um cuidado ainda maior ao abrir a porta. O ponteiro de minutos de um relógio se move mais depressa do que então a minha mão. Nunca antes daquela noite eu sentira a extensão de meus próprios poderes, de minha sagacidade. Eu mal conseguia conter meu sentimento de triunfo. Pensar que lá estava eu, abrindo pouco a pouco a porta, e ele sequer suspeitava de meus atos ou pensamentos secretos. Cheguei a rir com essa ideia, e ele talvez tenha ouvido, porque de repente se mexeu na cama como num sobressalto. Agora o senhor pode pensar que eu recuei — mas não. Seu quarto estava preto como breu com aquela escuridão espessa (porque as venezianas estavam bem fechadas, de medo de ladrões) e então eu soube que ele não poderia ver a porta sendo aberta e continuei a empurrá-la mais, e mais.

Minha cabeça estava dentro e eu quase abrindo a lanterna quando meu polegar deslizou sobre a lingueta de metal e o velho deu um pulo na cama, gritando:

— Quem está aí?

Fiquei imóvel e em silêncio. Por uma hora inteira não movi um músculo, e durante esse tempo não o ouvi se deitar. Ele continuava sentado na cama, ouvindo bem como eu havia feito noite após noite prestando atenção aos relógios fúnebres na parede.

Nesse instante, ouvi um leve gemido, e eu soube que era o gemido do terror mortal. Não era um gemido de dor ou de tristeza — ah, não! era o som fraco e abafado que sobe do fundo da alma quando sobrecarregada de terror. Eu conhecia bem aquele som. Muitas noites, à meia-noite em ponto, ele brotara de meu próprio peito, aprofundando, com seu eco pavoroso, os terrores que me perturbavam. Digo que os conhecia bem. Eu sabia o que sentia o velho e me apiedava dele embora risse por dentro. Eu sabia que ele estivera desperto, desde o primeiro barulhinho, quando se virara na cama. Seus medos foram desde então crescendo dentro dele. Ele estivera tentando fazer de conta que eram infundados, mas não conseguira. Dissera consigo mesmo: "Isto não passa do vento na chaminé; é apenas um camundongo andando pelo chão", ou "É só um grilo cricrilando um pouco". É, ele estivera tentando confortar-se com tais suposições; mas descobrira ser tudo em vão. Tudo em vão, porque a Morte ao se aproximar o atacara de frente com sua sombra negra e com ela envolvera a vítima. E a fúnebre influência da despercebida sombra fizera com que sentisse, ainda que não visse ou ouvisse, sentisse a presença da minha cabeça dentro do quarto.

Quando já havia esperado por muito tempo e com muita paciência sem ouvi-lo se deitar, decidi abrir uma fenda — uma fenda muito, muito pequena na lanterna. Então eu a abri — o senhor não pode imaginar com que gestos furtivos, tão furtivos — até que afinal um único raio pálido como o fio da aranha brotou da fenda e caiu sobre o olho do abutre.

Ele estava aberto, muito, muito aberto, e fui ficando furioso enquanto o fitava. Eu o vi com perfeita clareza - todo de um azul fosco e coberto por um véu medonho que enregelou até a medula dos meus ossos, mas era tudo o que eu podia ver do rosto ou do corpo do velho, pois dirigira o raio, como por instinto, exatamente para o ponto maldito.

E agora, eu não lhe disse que aquilo que o senhor tomou por loucura não passava de hiperagudeza dos sentidos? Agora, repito, chegou a meus ouvidos um ruído baixo, surdo e rápido, algo como faz um relógio quando envolto em algodão. Eu também conhecia bem aquele som. Eram as batidas do coração do velho. Aquilo aumentou a minha fúria, como o bater do tambor instiga a coragem do soldado.

Mas mesmo então eu me contive e continuei imóvel. Quase não respirava. Segurava imóvel a lanterna. Tentei ao máximo possível manter o raio sobre o olho. Enquanto isso, aumentava o diabólico tamborilar do coração. Ficava a cada instante mais e mais rápido, mais e mais alto. O terror do velho deve ter sido extremo. Ficava mais alto, estou dizendo, mais alto a cada instante! — está me entendendo? Eu lhe disse que estou nervoso: estou mesmo. E agora, altas horas da noite, em meio ao silêncio pavoroso dessa casa velha, um ruído tão estranho quanto esse me levou ao terror incontrolável. Ainda assim por mais alguns minutos me contive e continuei imóvel. Mas as batidas ficaram mais altas, mais altas! Achei que o coração iria explodir. E agora uma nova ansiedade tomava conta de mim — o som seria ouvido por um vizinho! Chegara a hora do velho! Com um berro, abri por completo a lanterna e saltei para dentro do quarto. Ele deu um grito agudo — um só. Num instante, arrastei-o para o chão e derrubei sobre ele a cama pesada. Então sorri contente, ao ver meu ato tão adiantado. Mas por muitos minutos o coração bateu com um som amortecido. Aquilo, entretanto, não me exasperou; não seria ouvido através da parede. Por fim, cessou. O velho estava morto. Afastei a cama e examinei o cadáver. É, estava morto, bem morto. Pus a mão sobre seu coração e a mantive ali por muitos minutos. Não havia pulsação. Ele estava bem morto. Seu olho não me perturbaria mais.

Se ainda me acha louco, não mais pensará assim quando eu descrever as sensatas precauções que tomei para ocultar o corpo. A noite avançava, e trabalhei depressa, mas em silêncio. Antes de tudo desmembrei o cadáver. Separei a cabeça, os braços e as pernas.

Arranquei três tábuas do assoalho do quarto e depositei tudo entre as vigas. Recoloquei então as pranchas com tanta habilidade e astúcia que nenhum olho humano — nem mesmo o dele — poderia detectar algo de errado. Nada havia a ser lavado — nenhuma mancha de qualquer tipo — nenhuma marca de sangue. Eu fora muito cauteloso. Uma tina absorvera tudo - ha! ha!

Quando terminei todo aquele trabalho, eram quatro horas — ainda tão escuro quanto à meia-noite.
Quando o sino deu as horas, houve uma batida à porta da rua. Desci para abrir com o coração leve — pois o que tinha agora a temer? Entraram três homens, que se apresentaram, com perfeita suavidade, como oficiais de polícia. Um grito fora ouvido por um vizinho durante a noite; suspeitas de traição haviam sido levantadas; uma queixa fora apresentada à delegacia e eles (os policiais) haviam sido encarregados de examinar o local.

Sorri — pois o que tinha a temer? Dei as boas-vindas aos senhores. O grito, disse, fora meu, num sonho. O velho, mencionei, estava fora, no campo. Acompanhei minhas visitas por toda a casa. Incentivei-os a procurar — procurar bem. Levei-os, por fim, ao quarto dele. Mostrei-lhes seus tesouros, seguro, imperturbável. No entusiasmo de minha confiança, levei cadeiras para o quarto e convidei-os para ali descansarem de seus afazeres, enquanto eu mesmo, na louca audácia de um triunfo perfeito, instalei minha própria cadeira exatamente no ponto sob o qual repousava o cadáver da vítima.

Os oficiais estavam satisfeitos. Meus modos os haviam convencido. Eu estava bastante à vontade. Sentaram-se e, enquanto eu respondia animado, falaram de coisas familiares. Mas, pouco depois, senti que empalidecia e desejei que se fossem. Minha cabeça doía e me parecia sentir um zumbido nos ouvidos; mas eles continuavam sentados e continuavam a falar. O zumbido ficou mais claro — continuava e ficava mais claro: falei com mais vivacidade para me livrar da sensação: mas ela continuou e se instalou — até que, afinal, descobri que o barulho não estava dentro de meus ouvidos.

Sem dúvida agora fiquei muito pálido; mas falei com mais fluência, e em voz mais alta. Mas o som crescia - e o que eu podia fazer? Era um som baixo,surdo, rápido — muito parecido com o som que faz um relógio quando envolto em algodão. Arfei em busca de ar, e os policiais ainda não o ouviam. Falei mais depressa, com mais intensidade, mas o barulho continuava a crescer. Levantei-me e discuti sobre ninharias, num tom alto e gesticulando com ênfase; mas o barulho continuava a crescer. Por que eles não podiam ir embora? Andei de um lado para outro a passos largos e pesados, como se me enfurecessem as observações dos homens, mas o barulho continuava a crescer. Ai meu Deus! O que eu poderia fazer? Espumei — vociferei — xinguei! Sacudi a cadeira na qual estivera sentado e arrastei-a pelas tábuas, mas o barulho abafava tudo e continuava a crescer. Ficou mais alto — mais alto — mais alto! E os homens ainda conversavam animadamente, e sorriam. Seria possível que não ouvissem? Deus Todo-Poderoso! — não, não? Eles ouviam! — eles suspeitavam! — eles sabiam! - Eles estavam zombando do meu horror! — Assim pensei e assim penso. Mas qualquer coisa seria melhor do que essa agonia! Qualquer coisa seria mais tolerável do que esse escárnio. Eu não poderia suportar por mais tempo aqueles sorrisos hipócritas! Senti que precisava gritar ou morrer! — e agora — de novo — ouça! mais alto! mais alto! mais alto! mais alto!

— Miseráveis! — berrei — Não disfarcem mais! Admito o que fiz! levantem as pranchas! — aqui, aqui! — são as batidas do horrendo coração!

Disponível em: http://www.releituras.com/eapoe_coracao.asp Acesso em: 18/09/ 2013. 

 

Professor, é imprescindível que sua leitura seja feita com bastante entonação, conforme a atmosfera de mistério exige. Treine antes a leitura a fim de torná-la fluida e parte da sensação de suspense que o conto propicia. Lembre-se de que a entonação é considerada pelos estudiosos como elemento de coesão. 

 

"1. Ritmo: Elemento pouco tratado na linguística, ele é parte na formação do texto. A duração relativa das sílabas está ligada, de um lado, à posição das pausas, acentos e entoação; de outro, a mudança do tempo pode constituir por si só uma função delimitadora ou um realce. Para que fique clara a função do ritmo na obtenção da coesão (e da coerência também), deve-se entendê-lo como uma sucessão de movimentos num jogo de tensão e distensão; assim a análise rítmica é indissociável da rede complexa de significantes que compõem o texto.

O silêncio exerce inúmeras funções, podendo-se destacar: fim do texto; o locutor necessita de tempo para refletir; perdeu o interesse em prosseguir seu discurso; não pode ou não quer dar uma resposta (por exemplo, porque não quer comprometer-se abertamente); cala-se intencionalmente (por exemplo, por cortesia, para não magoar o interlocutor). Estas duas últimas funções são particularmente importantes para   o interlocutor poder constituir o conteúdo semântico ou pelo menos temático do que não foi dito (quem cala, consente). Ocorre também a ameaça, especialmente se há uma interrupção definitiva (aposiopese)."

FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 11ª. ed. São Paulo: Ática,  2009. Disponível em: http://www.academia.edu/1416996/Coesao_e_coerencia_textuais Acesso em: 18/09/ 2013.

Professor, uma sugestão, por exemplo, é durante a leitura dos trechos:

 "E agora, altas horas da noite, em meio ao silêncio pavoroso dessa casa velha, um ruído tão estranho quanto esse me levou ao terror incontrolável. Ainda assim por mais alguns minutos me contive e continuei imóvel. Mas as batidas ficaram mais altas, mais altas! Achei que o coração iria explodir. E agora uma nova ansiedade tomava conta de mim — o som seria ouvido por um vizinho! Chegara a hora do velho! Com um berro, abri por completo a lanterna e saltei para dentro do quarto."

"Sem dúvida agora fiquei muito pálido; mas falei com mais fluência, e em voz mais alta. Mas o som crescia - e o que eu podia fazer? Era um som baixo, surdo, rápido — muito parecido com o som que faz um relógio quando envolto em algodão. Arfei em busca de ar, e os policiais ainda não o ouviam. Falei mais depressa, com mais intensidade, mas o barulho continuava a crescer. Levantei-me e discuti sobre ninharias, num tom alto e gesticulando com ênfase; mas o barulho continuava a crescer. Por que eles não podiam ir embora? Andei de um lado para outro a passos largos e pesados, como se me enfurecessem as observações dos homens, mas o barulho continuava a crescer." 

  • a leitura pode ser feita com bastante velocidade para simular as batidas do coração cada vez mais intensas. Outra dica é dar pausas, o que provoca ansiedade nos ouvintes.

Professor, combine antecipadamente com alguém de sua escola uma intervenção assustadora e inesperada no momento da leitura. Pode ser desde um barulho na porta, por exemplo, até a caracterização de um personagem que adentra a sala onde acontece a leitura. Isso ajudará os alunos a permanecerem e a se concentrarem ainda mais no clima de suspense do conto.

 

Algumas fotos do arquivo pessoal do trabalho realizado com os alunos da Escola de Educação Básica da UFU (Eseba), no 2º trimestre de 2013:

 

7    6

6    5     4

3    2     1

Após a leitura, o professor deverá iniciar uma conversa com os alunos acerca de suas sensações durante a leitura do conto. Algumas sugestões de abordagem:

  • O que sentiram durante a leitura do conto?
  • O que, na opinião de vocês, causou essa sensação?
  • Essa sensação é de ordem física, emocional ou ambas?
  • E no momento da intervenção sonora?
  • Se o conto tivesse sido lido com entonação "normal", sem ênfase, como uma leitura cotidiana de sala de aula, a sensação de vocês seria a mesma? Comentem.
  • Se o conto tivesse sido lido sob luz elétrica, em uma ambiente claro, a a sensação de vocês seria a mesma? Comentem. 

Professor, a ideia é que os alunos concluam que a leitura com entonação bem como o ambiente escuro sob luz de velas colaboram para a sensação física que o suspense do conto permite. Os alunos devem, então, entender como elementos para além do texto verbal (entonação, o barulho inesperado, a escuridão  e a luz de vela) aliados a ele sugerem efeitos no corpo, ou seja, efeitos sinestésicos. E isso garante vivências únicas com a temática terror/suspense.

Atividade 2

O objetivo é comparar a leitura do conto "O coração denunciador" com a releitura em vídeo.

Depois da escuta sinestésica do conto "O coração denunciador", os alunos assistirão ao vídeo que adapta o enredo.

Professor, apague as luzes da sala para os alunos assistirem ao filme.

https://www.youtube.com/watch?v=6D7aUJToxDg Acesso em: 18/09/ 2013. 

8

 

Após o vídeo, o professor deverá questionar:

  • A sensação de assistir ao vídeo foi a mesma da leitura? Caso não, o que difere e por quê?
  • Quais elementos para além do verbal são utilizados nessa adaptação do conto? Em que eles contribuem?
  • O que colabora, nessa versão, para o suspense? Esses elementos são os mesmos utilizados na construção verbal do enredo? Discutam as diferenças e semelhanças.
  • Em sua opinião, qual das atividades mais "mexeu/tocou" vocês: a leitura sob luz de velas ou o vídeo assistido no escuro? Por quê?

 

Professor, a ideia é que os alunos entendam que se trata de duas possibilidades diferentes de contato com o conto "O coração denunciador". A leitura do conto sob luz de velas propicia vivências sinestésicas originárias, em grande parte, pela entonação da leitura e pela escuridão entrecortada pela luz das velas, o que sugere uma atmosfera macabra. Como os alunos estão presentes fisicamente nessa atmosfera, há rebatimentos no corpo. Já no vídeo, é possível ter sinestesia no corpo, todavia não é regra. O macabro é alcançado pela escolha sugestiva de imagens ou pela ausência delas, uso de sobreposições de imagens, foco, áudio, presença de cores sóbrias, entonação do narrador-personagem.

Atividade 3

Ler e discutir análise do conto ouvido e visto e discutir posicionamentos acerca da "noção de estranhamento" suscitadas no leitor.

O professor exibirá em data show o artigo: "O fantástico e o estranho em 'O Coração denunciador', de Edgar Allan Poe, e o lerá junto com os alunos.

Disponível em: http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/insolito/lilian.pdf Acesso em: 16/09/ 2013.

Professor, ao longo da leitura, suscite discussões sobre alguns trechos que analisam a "noção de estranhamento" do leitor, como denomina a autora do artigo.

Sugestões de trechos:

"Edgar Allan Poe, em seus contos, provoca o sentimento de estranheza e de medo, a partir dos temas evocados, quase sempre relacionados a antigos tabus, frequentemente escrevendo sobre personagens doentios, obsessivos, com vocação para o crime e para a morte, dominados por maldições hereditárias, seres que oscilam entre a loucura e a lucidez, num transe assustado como se houvesse um terrível pesadelo, apresentando uma narrativa dramática que leva o leitor a um mundo labiríntico subjetivo que chega a causar calafrios nos mais desavisados." (p. 70-71).
 
"(...) o mais denso em termos de demonstrar a ambiguidade psicológica ao investigar a paranoia de um homem. A própria “economia” de palavras é indício do que o autor pretende ressaltar na narrativa" (p. 70).
 
"Toda a narrativa ganha intensidade pela maneira com que o narrador se refere à sua vítima e trata da razão de seu temor, como que dissociando o olho do velho" (p. 72).
 
"Nesse mesmo trecho é possível perceber que o narrador tenta convencer o leitor acerca de sua sanidade, mas ao contar a história não somente revelará sua total insanidade mas também a ausência de razões claras, racionalmente compreensíveis para suas atitudes, além, é claro, da loucura. Os recursos aqui utilizados pelo autor revelam as funções do fantástico, segundo as teorias propostas por Todorov, nas quais a repetição e o excesso marcado produzem no leitor um efeito particular de medo e, ao mesmo tempo, de curiosidade. Mas, ao admitir que não é louco, o narrador prova exatamente o contrário, uma vez que não encontra justificativa plausível para o seu crime" (p.73).
 
"Assim, é possível dizer que o assassinato ilustra a extensão da loucura do narrador, que separa a identidade da vítima dos elementos que lhe incomodam, sendo, portanto, capaz de cometer o assassinato, bem como de mutilar o corpo. Sua insanidade se volta contra ele quando imagina que outras partes do corpo morto, como o coração, poderiam se revelar contra ele.Sua superacuidade de sentidos, agora o trai, uma vez que ele se mostra incapaz de distinguir entre sons reais e imaginários – e o leitor “vive” essa tensão! É por conta disso que acaba por ignorar os gritos do velho quando toma ciência de que está à beira da morte e que, fatalmente, levariam a polícia a casa" (p.75).
 
"Na tentativa de acrescentar o entendimento do estranho à análise desta narrativa, o conto pode ser entendido como representativo do fantástico estranho, uma vez que o caráter insólito dos objetos de alucinação do narrador é posteriormente entendido e racionalmente explicado através da contradição que ele mesmo opera na narrativa – sua clareza de sentidos é, na verdade, confundida com extremo terror e perda de controle e como ninguém, além dele mesmo, notava o que lhe causava mal estar, considerou-os vilões, dando-se ao direito de praguejar por zombarem dele" (p. 76).
 
"Considerando o aspecto simbólico como forma de reforçar a ideia do estranhamento, temos os temas da luta entre o amor e o ódio, quando o narrador confessa amar o velho, mas seus sentimentos odiosos se apoderam dele e ele projeta todo esse ódio em uma cópia imaginária de si mesmo: o olho que não reflete a imagem que ele mesmo não quer ver (...) Outro símbolo igualmente relevante é a ideia de aproximar o olho ao de um animal, o “olho de abutre”, como forma de justificar suas ações, implicitamente causando uma comparação entre a vítima e o caçador implacável. (...)  Por fim, o próprio olho é simbólico, uma vez que o narrador acredita que o velho olha para ele com o “olho diabólico” para destruí-lo. Ao mesmo tempo em que apresenta a obsessão pelo olho, o narrador quer dissociar a imagem do velho daquele símbolo do demônio, em uma tentativa de poupar o velho de sua violenta reação contra o objeto de seu terror, revelando sua inabilidade em reconhecer que o olho é a identidade do homem, simbolizando a essência humana, indissociável do corpo – o olho não pode ser exterminado sem que o velho morra" (p. 77).
 
 
Ao final da leitura e dos apontamentos, o professor pedirá aos alunos um ensaio sobre sua sensações e posicionamentos acerca do conto "O coração denunciador", de Edgar Allan Poe. Esses ensaios, após revisões e reescritas, deverão constar do blogue da sala ou ter indicações para publicações em periódicos, por exemplo.
Recursos Complementares

Para leitura do professor:

Artigos:

Livro:
Avaliação

Nessa proposta, a avaliação está na capacidade de o professor perceber o quão sinestésicas e únicas podem ser as leituras de contos de suspense e terror aos alunos. Essa avaliação perpassa os comentários dos discentes quanto às suas sensações de ordem fisico-psicológicas e culmina na produção do ensaio sobre essas sensações.

Opinião de quem acessou

Sem estrelas 0 classificações

  • Cinco estrelas 0/0 - 0%
  • Quatro estrelas 0/0 - 0%
  • Três estrelas 0/0 - 0%
  • Duas estrelas 0/0 - 0%
  • Uma estrela 0/0 - 0%

Denuncie opiniões ou materiais indevidos!

Sem classificação.
REPORTAR ERROS
Encontrou algum erro? Descreva-o aqui e contribua para que as informações do Portal estejam sempre corretas.
CONTATO
Deixe sua mensagem para o Portal. Dúvidas, críticas e sugestões são sempre bem-vindas.