21/05/2014
Eliana Dias e Lazuíta Goretti de Oliveira
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Análise linguística: processos de construção de significação |
Ensino Médio | Língua Portuguesa | Relações sociopragmáticas e discursivas |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Análise linguística: léxico e redes semânticas |
Ensino Médio | Língua Portuguesa | Recursos linguísticos em uso: fonológicos, morfológicos, sintáticos e lexicais |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Análise linguística: organização estrutural dos enunciados |
Ensino Médio | Língua Portuguesa | Produção, leitura, análise e reflexão sobre linguagens |
Estratégias e recursos:
O objetivo desta atividade é os alunos inteirarem-se do gênero artigo e opinião e da temática tratada, bem como listarem as ocorrências referenciais com a palavra "país".
O professor entregará o artigo de opinião abaixo para todos os alunos e pedirá a eles que leiam o artigo e destaquem com cor as expressões que se referem a “país”, conforme negritos feitos no texto abaixo:
Educação e violênciaPor Maurício Pessoa
Estranho país este que comemora o fato de 95% de nossas crianças estarem matriculadas nas escolas quando na verdade devia pedir desculpas pelo fato de as 5% restantes estarem nas ruas. País esquisito este que deixa de investir R$ 1 mil na educação fundamental de cada aluno para gastar R$ 4 mil com um menor infrator. Bizarro e melancólico país este que julga ser cara a educação e não leva em conta o custo da ignorância, verdadeiro quarto escuro de um país que não se leva a sério e nem se respeita. País infeliz que mantêm 95% de suas crianças apenas matriculadas, uma vez que a maioria permanece ausente das salas de aulas e segue o curso mal dado sem interesse, alheia ao processo educacional. Na maioria das escolas fundamentais, os alunos continuam analfabetos funcionais, fazendo com que elas se transformem em fábricas de eleitores. Triste país que todos os dias se comove diante da violência praticada por menores, sem encontrar solução para o problema, sem considerar a história de disparidades enfrentadas pelas suas famílias, mantidas apartadas de quase todos os benefícios sociais. Menores violentos, armados, geralmente recrutados por traficantes, que se responsabilizam pelas necessidades de cada um – mostrando claramente a ausência do Estado -, não podem mesmo frequentar escolas, desconhecidas pelos seus pais e dolorosamente ignoradas por suas famílias, geralmente com os integrantes desempregados, carentes de atendimento médico, de cuidados sociais e de autoestima.
Lamentável país que convive com o indiferentismo social, com as pessoas vivendo processo de isolamento, temerosas das ruas, sem se comunicar com os diversos estratos sociais. País curioso, que não se comove quando a polícia invade barracos e usa de violência contra seus moradores, mas estranha quando agentes da polícia, munidos de mandado judicial, batem às portas de alguém da classe média. Nesse cenário que produz a violência juvenil, surge uma sociedade exacerbada no consumo e que nega, quase sempre, oportunidades aos jovens. O resultado, para ser reconhecido como pessoa, é a violência, que lhe rende dinheiro e algum respeito entre seu grupo, até ser abatido ou preso.
O grande desafio brasileiro é a criação de políticas diferenciadas para atendimento dos menores infratores, já que o sistema penal não dá respostas a esses problemas gerados pela violência.
A sociedade está lentamente aprendendo a conviver com a violência, com a perplexidade, mas permanece anestesiada diante do painel dos horrores publicados todos os dias pela imprensa país afora. A desigualdade social, a indiferença, o preconceito, o racismo e a intolerância somente serão amenizados se o país entender que os caminhos da educação e do trabalho forem assegurados aos milhões de deserdados da sorte. De resto, não custa lembrar que os desimportantes pela ordem tornam-se dramaticamente importantes pela desordem. Fonte: PESSOA, Maurício. Estado de Minas, 05 de março 2007. |
Depois dos destaques, o professor perguntará aos alunos:
Professor, o esperado é que os alunos entendam que se trata de um artigo de opinião, que tem por função persuadir o leitor sobre o que é tratado. Circula tanto por meios impressos (jornais e revistas) quanto por meios virtuais, como em sítios e blogues, na internet. A temática tratada no texto é “educação e violência” e a tese defendida pelo autor é a necessidade de o país, o Brasil, prover meios de minimizar a desigualdade social, a indiferença, o preconceito, o racismo e a intolerância, por meio da criação de políticas diferenciadas para atendimento dos menores infratores. Os argumentos utilizados para a defesa da tese são:
i) não são todas as crianças que estão matriculadas nas escolas;
ii) “[o país] deixa de investir R$ 1 mil na educação fundamental de cada aluno para gastar R$ 4 mil com um menor infrator”;
iii) “os alunos continuam analfabetos funcionais, fazendo com que [as escolas] se transformem em fábricas de eleitores”;
iv) “[o país não] considera a história de disparidades enfrentadas pelas famílias [dos menores infratores], mantidas apartadas de quase todos os benefícios sociais”;
v) ausência dos Estado no cuidado dos menores e, ao mesmo tempo, responsabilização que fica a cargo dos traficantes;
vi) indiferença social;
vii) não há comoção social por conta da violência;
viii) “sociedade exacerbada no consumo e que nega, quase sempre, oportunidades aos jovens”;
ix) “para ser reconhecido como pessoa [o jovem], é a violência, que lhe rende dinheiro e algum respeito entre seu grupo, até ser abatido ou preso.”;
x) “A sociedade está lentamente aprendendo a conviver com a violência, com a perplexidade”.
O objetivo é os alunos perceberem que as expressões referenciais que portam a palavra "país" são constituídas por determinantes e modificadores.
Depois de responderem aos questionamentos iniciais sobre a configuração do gênero no qual o texto está alocado, o professor pedirá que, em duplas, os alunos analisem a recorrência da palavra "país" ao longo do texto. Para isso, os alunos deverão nortear-se pelos questionamentos:
Professor, é esperado que os alunos percebam que "país" é acompanhado por determinantes (pronomes, numerais, artigos, adjetivos) e por modificadores (adjetivos, numerais, orações subordinadas).
Professor, é esperado que os alunos entendam que são esses determinantes e modificadores os grandes responsáveis pela argumentação que vai consolidando-se ao longo do texto.
Deverá ser dado um tempo para os alunos discutirem as questões acima e depois o professor deverá direcionar a discussão coletivamente, contando com a intervenção dos alunos.
O objetivo é os alunos concluírem que a retomada de um mesmo referente ajuda argumentativamente a defesa de um ponto de vista.
Depois de discutidas as expressões pontuais que têm por núcleo sintagmático a palavra "país", o professor pedirá que os alunos identifiquem e discutam duas estratégias utilizadas pelo produtor de texto, para evidenciar a argumentação: a primeira é o uso do paralelismo sintático e a segunda é o uso da gradação que ele utiliza para se referir a país.
Professor, é esperado que os alunos identifiquem o uso do paralelismo de estrutura sintática (“País este que”), o que contribui para não somente marcar a “evolução” das instâncias do objeto de discurso "país" a cada vez que é retomado no discurso, como colabora à progressão textual. O que se percebe é que os nomes-núcleo das anáforas correferenciais, “país”, são idênticos, todavia, esse objeto de discurso nunca é exatamente o mesmo, porque ele sofre constantes atualizações à medida que o texto progride e evidencia o objetivo do produtor desse artigo de opinião que é fazer com que o leitor adote a mesma posição dele quanto à necessidade de o país, o Brasil, prover meios de minimizar a desigualdade social, a indiferença, o preconceito, o racismo e a intolerância, por meio da criação de políticas diferenciadas para atendimento dos menores infratores. Para isso, o produtor constrói um discurso questionador quanto às ações que o Brasil tem feito no que concerne aos menores infratores, depreciando-as. Ele utiliza como estratégia discursivo-argumentativa uma gradação em torno do objeto de discurso “país”, que evidencia um crescendum do tom de insatisfação das ações tomadas pela nação contra os menores infratores. Esse crescendum é evidenciado não apenas por vias formais, que seriam os determinantes e ou modificadores que acompanham o nome-núcleo das anáforas, como e especialmente pelo próprio discurso que vai delineando-se via predicações, ativando cadeias inferenciais (o que é ser um país que valoriza a educação e quais as consequências de um país em que a educação é desvalorizada), e possibilitando que o objeto de discurso “país” vá sendo transformado paulatinamente, cumprindo o projeto argumentativo do enunciador.
Na última ocorrência do objeto de discurso, “o país”, no último parágrafo, o que se tem, apesar de não formalmente constar algum determinante ou modificador para o nome-núcleo da expressão referencial, é um objeto completamente reconstruído no e pelo discurso: “o país” de que se trata é um país que carrega a somatória de todas as outras ocorrências formalmente explicitadas no cotexto mais as inferências geradas por todo entorno discursivo que concorre à tese defendida pelo enunciador.
Iniciar um artigo opinativo cujo título é “Educação e violência” e seguidamente introduzir o objeto de discurso “estranho país” direciona os rumos do que será exposto – ativa a construção de um modelo subjetivo de contexto em que o produtor calcula que o leitor conceberá inferencialmente o tom depreciativo ou desfavorável criado pelas relações entre as ocorrências “educação”, “violência” e “estranho país”. Certamente, “estranho” nesse contexto não tem um tom de excentricidade ou algo incomum; mas de impertinência, de repulsão, de depreciação. Nisso consuma-se o fato de que a referenciação, ou seja, a retomada e a reconstrução de objetos de discurso colabora argumentativamente à tese defendida pelo texto.
Depois de um tempo dado aos alunos, o professor deverá iniciar a análise dessas estratégias, mobilizando os alunos a participarem do raciocínio.
Ao final, os alunos terão que concluir, respondendo à pergunta do professor:
Os alunos terão de escrever um breve ensaio respondendo à pergunta acima, embasando-se no texto trabalhado em sala de aula.
Os ensaios, depois das reescritas, deverão ser lidos em sala.
Para leitura do professor:
SILVA, Walleska Bernardino. A relação entre referenciação e argumentação. 2008. 193 f. Dissertação (Mestrado)- Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2008. Disponível em: http://repositorio.ufu.br/handle/123456789/2341 Acesso em: 19 de maio 2014.
Os alunos serão avaliados qualitativamente em função da compreensão de que a retomada de um mesmo referente argumenta em favor de um ponto de vista, especialmente, porque esse referente é determinado e modificado pelas expressões das quais participa e porque ele sofre modificações ao longo do texto, considerando todas as informações e conhecimentos que vão sendo disponibilizados ao leitor.
Cinco estrelas 1 classificações
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30/05/2014
Cinco estrelasGostei muito, pois provoca a reflexão do aluno.