19/08/2014
Eliana Dias e Lazuíta Goretti de Oliveira
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
---|---|---|
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Análise linguística: modos de organização dos discursos |
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo | Língua Portuguesa | Leitura e escrita de texto |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos |
Ensino Médio | Língua Portuguesa | Produção, leitura, análise e reflexão sobre linguagens |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Língua oral e escrita: processos de interlocução |
MÓDULO 1 - SENSIBILIZAÇÃO PARA ESTUDO DO TEMA
ATIVIDADE 1 - LENDO A BIOGRAFIA DE CORA
Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de 1985) foi uma poetisa e contista brasileira. Cora Coralina, uma das principais escritoras brasileiras, publicou seu primeiro livro aos 76 anos de idade. Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.
É avó das jornalistas Ana Maria Tahan e Célia Bretas Tahan Filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de Jacinta Luísa do Couto Brandão, Ana nasceu e foi criada às margens do rio Vermelho, em casa comprada por sua família no século XIX, quando seu avô ainda era uma criança.
Estima-se que essa casa foi construída em meados do século XVIII, tendo sido uma das primeiras edificações da antiga Vila Boa de Goiás. Começou a escrever os seus primeiros textos aos quatorze anos de idade, publicando-os nos jornais locais apesar da pouca escolaridade, uma vez que cursou somente as primeiras quatro séries, com Mestra Silvina. Publicou nessa fase, 1910, o conto Tragédia na Roça.
Casou-se em 1910 com o advogado Cantídio Tolentino Bretas, com quem se mudou, no ano seguinte, para o interior de São Paulo. Viveria no estado de São Paulo por quarenta e cinco anos, inicialmente nos municípios de Avaré e Jaboticabal, e depois em São Paulo, para onde se mudaria em 1924.
Ao chegar à capital, teve que permanecer algumas semanas trancada num hotel em frente à Estação da Luz, uma vez que os revolucionários de 1924 haviam parado a cidade. Em 1930, presenciou a chegada de Getúlio Vargas à esquina da rua Direita com a praça do Patriarca. Um de seus filhos participou da Revolução Constitucionalista de 1932.
Com a morte do marido, passou a vender livros. Posteriormente mudou-se para Penápolis, no interior do estado, onde passou a produzir e vender linguiça caseira e banha de porco. Mudou-se em seguida para Andradina, até que, em 1956, retornou para Goiás.
Ao completar cinquenta anos de idade, a poetisa relata ter passado por uma profunda transformação interior, a qual definiria mais tarde como "a perda do medo". Nesta fase, deixou de atender pelo nome de batismo e assumiu o pseudônimo que
escolhera para si muitos anos atrás. Durante esses anos Cora não deixou de escrever poemas relacionados com a sua história pessoal,com a cidade em que nascera e com ambiente em que fora criada.
Ela chegou ainda a gravar um LP declamando algumas de suas poesias.Lançado pela gravadora Paulinas Compep,o disco ainda pode ser encontrado hoje em formato CD. Cora Coralina morreu em Goiânia. A sua casa na cidade de Góias foi transformada em museu em homenagem a sua história de vida e produção literária.
Imagem disponível em: http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/cora-coralina-poemas/#.U_Jae_ldVqU Acesso em: 20 ago. 2014.
ATIVIDADE 2 - LENDO POESIAS DE CORA
POESIA 1
Aninha e suas pedras
Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.
( Cora Coralina )
POESIA 2
Minha infância
(Freudiana)
Éramos quatro as filhas de minha mãe.
Entre elas ocupei sempre o pior lugar.
Duas me precederam – eram lindas, mimadas.
Devia ser a última, no entanto,
veio outra que ficou sendo a caçula.
Quando nasci, meu velho Pai agonizava,
logo após morria.
Cresci filha sem pai,
secundária na turma das irmãs.
Eu era triste, nervosa e feia.
Amarela, de rosto empalamado.
De pernas moles, caindo à toa.
Os que assim me viam – diziam:
“- Essa menina é o retrato vivo
do velho pai doente”.
Tinha medo das estórias
que ouvia, então, contar:
assombração, lobisomem, mula sem cabeça.
Almas penadas do outro mundo e do capeta.
Tinha as pernas moles
e os joelhos sempre machucados,
feridos, esfolados.
De tanto que caía.
Caía à toa.
Caía nos degraus.
Caía no lajedo do terreiro.
Chorava, importunava.
De dentro a casa comandava:
“- Levanta, moleirona”.
Minhas pernas moles desajudavam.
Gritava, gemia.
De dentro a casa respondia:
“- Levanta, pandorga”.
Caía à toa…
nos degraus da escada,
no lajeado do terreiro.
Chorava. Chamava. Reclamava.
De dentro a casa se impacientava:
” – Levanta, perna-mole…”
E a moleirona, pandorga, perna-mole
se levantava com seu próprio esforço.
Meus brinquedos…
Coquilhos de palmeira.
Bonecas de pano.
Caquinhos de louça.
Cavalinhos de forquilha.
Viagens infindáveis…
Meu mundo imaginário
mesclado à realidade.
E a casa me cortava: “menina inzoneira!”
Companhia indesejável – sempre pronta
a sair com minhas irmãs,
era de ver as arrelias
e as tramas que faziam
para saírem juntas
e me deixarem sozinha,
sempre em casa.
A rua… a rua!…
(Atração lúdica, anseio vivo da criança,
mundo sugestivo de maravilhosas descobertas)
- proibida às meninas do meu tempo.
Rígidos preconceitos familiares,
normas abusivas de educação
- emparedavam.
A rua. A ponte. Gente que passava,
o rio mesmo, correndo debaixo da janela,
eu via por um vidro quebrado, da vidraça
empanada.
Na quietude sepulcral da casa,
era proibida, incomodava, a fala alta,
a risada franca, o grito espontâneo,
a turbulência ativa das crianças.
Contenção… motivação…Comportamento estreito,
limitando, estreitando exuberâncias,
pisando sensibilidades.
A gesta dentro de mim…
Um mundo heroico, sublimado,
superposto, insuspeitado,
misturado à realidade.
E a casa alheada, sem pressentir a gestação,
acrimoniosa repisava:
” – Menina inzoneira!”
O sinapismo do ablativo
queimava.
Intimidada, diminuída. Incompreendida.
Atitudes impostas, falsas, contrafeitas.
Repreensões ferinas, humilhantes.
E o medo de falar…
E a certeza de estar sempre errando…
Aprender a ficar calada.
Menina abobada, ouvindo sem responder.
Daí, no fim da minha vida,
esta cinza que me cobre…
Este desejo obscuro, amargo, anárquico
de me esconder,
mudar o ser, não ser,
sumir, desaparecer,
e reaparecer
numa anônima criatura
sem compromisso de classe, de família.
Eu era triste, nervosa e feia.
Chorona.
Amarela de rosto empalamado,
de pernas moles, caindo à toa.
Um velho tio que assim me via
dizia:
“- Esta filha de minha sobrinha é idiota.
Melhor fora não ter nascido!”
Melhor fora não ter nascido…
Feia, medrosa e triste.
Criada à moda antiga,
- ralhos e castigos.
Espezinhada, domada.
Que trabalho imenso dei à casa
para me torcer, retorcer,
medir e desmedir.
E me fazer tão outra,
diferente,
do que eu deveria ser.
Triste, nervosa e feia.
Amarela de rosto empapuçado.
De pernas moles, caindo à toa.
Retrato vivo de um velho doente.
Indesejável entre as irmãs.
Sem carinho de Mãe.
Sem proteção de Pai…
- melhor fora não ter nascido.
E nunca realizei nada na vida.
Sempre a inferioridade me tolheu.
E foi assim, sem luta, que me acomodei
na mediocridade de meu destino.
( Cora Coralina )
POESIA 3
Mãe
Renovadora e reveladora do mundo
A humanidade se renova no teu ventre.
Cria teus filhos,
não os entregues à creche.
Creche é fria, impessoal.
Nunca será um lar
para teu filho.
Ele, pequenino, precisa de ti.
Não o desligues da tua força maternal.
Que pretendes, mulher?
Independência, igualdade de condições…
Empregos fora do lar?
És superior àqueles
que procuras imitar.
Tens o dom divino
de ser mãe
Em ti está presente a humanidade.
Mulher, não te deixes castrar.
Serás um animal somente de prazer
e às vezes nem mais isso.
Frígida, bloqueada, teu orgulho te faz calar.
Tumultuada, fingindo ser o que não és.
Roendo o teu osso negro da amargura.
( Cora Coralina )
POESIA 4
Considerações de Aninha
Melhor do que a criatura,
fez o criador a criação.
A criatura é limitada.
O tempo, o espaço,
normas e costumes.
Erros e acertos.
A criação é ilimitada.
Excede o tempo e o meio.
Projeta-se no Cosmos
( Cora Coralina )
POESIA 5
Velho
Estás morto, estás velho, estás cansado!
Como um suco de lágrimas pungidas
Ei-las, as rugas, as indefinidas
Noites do ser vencido e fatigado.
Envolve-te o crepúsculo gelado
Que vai soturno amortalhando as vidas
Ante o repouso em músicas gemidas
No fundo coração dilacerado.
A cabeça pendida de fadiga,
Sentes a morte taciturna e amiga,
Que os teus nervosos círculos governa.
Estás velho estás morto! Ó dor, delírio,
Alma despedaçada de martírio
Ó desespero da desgraça eterna.
( Cora Coralina )
*Poesias disponíveis em: http://www.poesiaspoemaseversos.com.br/cora-coralina-poemas/#.U_Jae_ldVqU Acesso em: 20 ago 2014.
MÓDULO 2 - REFLETINDO SOBRE A LÍNGUA
ATIVIDADE 1 - ESTUDANDO OS VERBOS NO TEXTO "MASCARADOS"
Mascarados
Cora Coralina
Saiu o Semeador a semear
Semeou o dia todo
e a noite o apanhou ainda
com as mãos cheias de sementes.
Ele semeava tranquilo
sem pensar na colheita
porque muito tinha colhido
do que outros semearam.
Jovem, seja você esse semeador
Semeia com otimismo
Semeia com idealismo
as sementes vivas
da Paz e da Justiça.
1. O poema de Cora Coralina apresenta uma ação que aparece no texto todo. Responda:
Que ação é essa? .................................................................................................................................................................................................................................................
2. Sublinhe no poema, todos os verbos de ação.
3. Leia o verso abaixo:
SAIU O SEMEADOR A SEMEAR. |
Professor, lembre-se de que o mais importante é o aluno gostar de ler poesias. O trabalho com os verbos ajudará o estudante a entender o texto.
Mostre aos alunos, no datashow, a ANÁLISE DO TEXTO abaixo feita por Euler Jackson.
O poema “Mascarados” da escritora Cora Coralina é composto de três estrofes, sendo as duas primeiras compostas de quatro versos e a última composta de cinco. Na primeira leitura, o texto deixa transparecer a figura de um personagem rural, agricultor que semeia pela terra sementes. Podemos perceber isto no primeiro verso da primeira estrofe “saiu o semeador a semear”. O texto coloca o personagem fazendeiro semeando dia e noite de forma tranquila, sem pressa, uma vez que as sementes não se acabam “semeou o dia todo e a noite e apanhou ainda com as mãos cheias de sementes”. Outro aspecto claro é o trabalho coletivo em que o trabalhador não se preocupa com a colheita, uma vez que teria colhido do que os outros plantaram “... porque muito tinha colhido do que outros semearam”. A última estrofe do poema coloca o personagem não mais como agricultor. A autora inicia o primeiro verso dando um conselho à juventude e o fazendeiro se torna um jovem qualquer que recebe instruções para semear valores. Percebe-se isso de forma clara nos últimos versos “Jovem... semeia com otimismo, idealismo as sementes vivas da paz e da justiça”. Não podemos negar que a vida de um agricultor em semear sementes para produzir alimentos e matar a fome, não se diferencia das sementes vivas, colocadas pela autora como valores que a humanidade está deixando entrar em extensão, trazendo fome de boas maneiras, pois estão dando espaço para as várias formas de violência e de injustiças sociais como, homicídios, furtos, espancamentos, abusos, fome, miséria, etc. Portanto, o futuro está nas mãos dos jovens e é dever dos adultos promover o resgate dos valores para que nossos futuros políticos, professores, médicos, pais, etc., construam uma sociedade evoluída para melhor em que todos possam se beneficiar das colheitas. |
SANTOS. Euler Jackson Jardim. Análise poética. Mascarados. Cora Coralina. Disponível em: http://eulerjackson.blogspot.com.br/2012/03/analise-de-texto-poetico.html Acesso em: 19 ago 2014.
ATIVIDADE 2 - PREPARANDO UMA DISCUSSÃO SOBRE O TEMA DO TEXTO
Em seu sentido literal, os versos nos fazem entender que o semeador ainda não tinha terminado o seu trabalho quando a noite chegou. É possível ampliar o significado de ação de semear, ou seja, é possível semear outras coisas além de sementes. |
Essa constatação pode dar um boa discussão em sala de aula.
Pergunte:
ATIVIDADE 3 - PRODUZINDO POESIAS
Coloque no quadro temas que possam inspirá-los. Fale sobre cada um deles. Aspectos que podem mencionar em seus textos etc.
Sugestões:
FAMÍLIA
DISCIPLINA
CONSELHO
COMPORTAMENTOS
ADOLESCÊNCIA
VIDA
Para o professor:
Poesias de Cora Coralina - http://www.paralerepensar.com.br/coracoralina.htm Acesso em: 19 ago 2014.
Cora Coralina e sua casa silenciosa - http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/dezembro2011/arquivos_pdf/artigos_cora_coralina.pdf Acesso em: 19 ago. 2014.
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10/09/2014
Cinco estrelasAdorei a aula amo Cora Coralina