25/11/2014
Eliana Dias, Lazuíta Goretti de Oliveira
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
---|---|---|
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Análise linguística: processos de construção de significação |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Análise linguística: léxico e redes semânticas |
Os alunos já devem ter noção de como se dão os processos de intertextualidade.
Para "dar o pontapé inicial" às atividades sobre lugar-comum, o professor entregará aos alunos o poema abaixo.
O professor discutirá com os alunos cada uma das partes desse poema, buscando identificar com quais frases ou expressões de uso corriqueiro podemos associá-las. Ao final dessa atividade, o professor introduzirá o tema da aula, que são os lugares-comuns, e sua utilização em artigos de opinião e textos argumentativos.
por ANA MARTINS MARQUES
1
Quebrar o silêncio
e depois recolher
os pedaços
testar-lhes o corte
o brilho
cego
2
Pagar para ver
e receber
em troca
vistas parciais
uns cobres
de paisagem
3
Dobrar a língua
e ao desdobrá-la
deixar cair
uma a uma
palavras
não ditas
4
Perder a hora
e encontrá-la depois
num intervalo
de teatro
nos cantos empoeirados
do domingo
entre um telefonema e outro
dentro do táxi
5
Dar à luz
e então sondar
num átimo
de abismo
– como um espeleólogo
um cosmólogo
um cenógrafo
um guarda-noturno –
a própria
escuridão
6
Perder a cabeça
e então buscá-la
nos últimos lugares
em que esteve
dentro da touca
de banho
sobre o travesseiro
entre os joelhos
entre as mãos
na casa demolida
da infância
sobre suas coxas
mornas
ainda
7
Tirar fotografias
e depois devolvê-las
àqueles de quem as tiramos
à mulher fora de foco
em seu vestido violeta
à casa de janelas verdes
às paisagens
tomadas emprestadas
à casca
de cada coisa
aos vários ângulos
da Torre Eiffel
ao cachorro morto
na praia
8
Cortar relações
e depois voltar-se
verificar se o que restou
suporta
remendo
demorar-se
sobre a cicatriz
do corte
(guardar
por precaução
a tesourinha
para mais tarde)
9
Esperar
horas a fio
e então
desvencilhar-se
das coisas tecidas
na espera
dos ponteiros do relógio
cada um mais lento
que o outro
dos pelo menos
dez cigarros
das poltronas de mogno
uma delas
vazia
10
Quebrar promessas
e ao recolher os cacos
discerni-los
entre aqueles
do silêncio
quebrado
Disponível em: <http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-68/poesia/10-visitas-ao-lugar-comum>. Acesso em: 23 nov. 2014.
Para trabalhar um pouco mais detidamente com os alunos sobre o que são lugares-comuns, o professor entregará aos alunos a definição do dicionário Priberam sobre o que é um lugar-comum:
lugar-comum | s. m. |
Os alunos deverão perceber que trata-se dos também chamados clichês ou frases feitas, que perdem sua carga de originalidade devido ao uso massivo e, por isso, não acrescentam informações novas.
Em seguida, os alunos deverão ser agrupados em duplas para realizar a leitura da crônica abaixo, de Carlos Heitor Cony, para responderem ao questionário seguinte.
CARLOS HEITOR CONY O lugar-comum na literatura e no cinema Afinal, o cinema veio do final do século 19, creio que em 1895, quando os irmãos Lumière projetaram na parede branca de um prédio do Boulevard des Capucines a chegada do trem de Vincennes. Já a literatura vem de mais longe, de Homero, ou mais tarde ainda, vem das cavernas, quando o relato oral fazia as vezes da literatura e do cinema. Sem falar nos recados que os trogloditas deixavam nas paredes das próprias cavernas, dando um recado, uma ameaça ou, mesmo, uma declaração de amor. Citei alguns dos lugares-comuns mais frequentes e irritantes do texto literário, quando as ladeiras são invariavelmente íngremes, o prazer é indescritível, a gargalhada sonora. No cinema, são as malas que são carregadas vazias, um sujeito franzino consegue segurar três, quatro malas com facilidade. Na vida real, sabemos como a mala é realmente mala. E como são feitas? A mulher brigou com o marido que chegou tarde e bêbado, decide voltar para a casa da mãe. Apanha a mala embaixo da cama, abre o armário e as gavetas, em menos de 30 segundos coloca nela todo o enxoval, dos vestidos de noite aos lencinhos e sapatos. Apesar de pequena e abarrotada, a mala fecha maravilhosamente. Na vida real, transportar malas é difícil e fechá-las é dificílimo -quando se consegue fechar. Mais fácil do que fazer ou transportar malas é compor música ou pagar o táxi com o trocado que se traz no bolso da calça. Nesse caso, é impressionante como o cara tem sempre a quantia exata da corrida. Mete a mão no bolso e de lá sai o preço marcado no taxímetro, incluindo centavos. O boy vem trazer o telegrama ou a cesta de flores, no primeiro bolso em que o cara mete a mão tem a moeda exata para a gorjeta. E, na hora de compor um desses sucessos imortais, que até hoje cantamos e louvamos, é comovente a facilidade com que, de uma goteira no sótão, que marca um ritmo primário e indeciso, sai um sucesso como ""Night and Day". Num filme sobre a vida de Strauss, do rodar de uma carruagem que corre os bosques de Viena, o compositor fez do princípio ao fim uma enorme valsa sobre os citados bosques. Estava sem inspiração, pensando em outra coisa, o balanço do carro fez com que o carro lhe desse, inteira, uma valsa imortal. Zequinha de Abreu viu um tico-tico comendo fubá no peitoril de janela, atravessava uma fase negra, nada saía de seus dedos ao piano, e, de repente, em pouco mais de um minuto, compôs o famoso chorinho. George Gershwin ia andando pela rua quando viu um moleque sapateando sem música. Neste momento, surge uma mudança, com o piano amarrado do lado de fora do caminhão. Ele nem pede licença aos transportadores. Em pé mesmo, e aproveitando o ritmo do sapateado do menino, faz seu primeiro sucesso, ""Swanee". Passando por aí ao acaso, Al Jolson ouve a música uma única vez e sem nenhum ensaio a eterniza, fabricando uma letra que, no cinema, ninguém sabe quem fez. Mais extraordinário é que, num filme de suspense, todas as gavetas têm sempre uma arma à disposição para a defesa ou o ataque. E toda cortina branca que o vento balança é sinal de que um fantasma ou um criminoso vai aparecer na janela e tentar fazer estrago. Mesmo uma obra-prima, como ""Cidadão Kane", repete diversos lugares-comuns e alguns de seus achados mais geniais foram chupados de outros filmes. Basta citar a cena de Orson Welles caminhando entre os espelhos, feita alguns anos antes por Chaplin, em ""O Circo". De lá para cá, virou lugar-comum, inclusive quando não há espelho e os irmãos Marx, Bob Hope, Dany Kaye, Jerry Lewis e outros comediantes repetem o mesmo truque. Mas o lugar-comum mais inarredável do cinema talvez seja aquela idazinha ao bar para tomar um drinque. O sujeito entra na sala para matar, roubar, amar ou fazer qualquer coisa, mas vai direto ao bar ou à mesa onde há copos e garrafas. Ouve-se o barulho da bebida enchendo o copo. Por essas e por outras, em pouco mais de cem anos o cinema já está tão cansado quanto a literatura. De minha parte, já estou cansado também desta ladeira íngreme que todos os dias tenho de subir para ganhar o pão de cada dia. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1907200229.htm>. Acesso em: 23 nov. 2014. |
Leia o artigo de opinião abaixo, destacando os lugares-comuns utilizados pelo autor.
Temas polêmicos Dante Filho
Fujo dos temas polêmicos. "Você é contra ou a favor da diminuição da maioridade penal?" "Você concorda com o casamento gay?" "Você é contra o aborto?" "E aí, vamos liberar a maconha?" "E as cotas raciais, qual sua opinião?" Neste momento, olho o meu interlocutor, e respondo: minha opinião depende da hora que você me perguntar. A cada cinco minutos mudo de ideia. Fico sempre em cima do muro, mesmo que ele esteja repleto de cacos de vidro pontiagudos. Fico me equilibrando na pontinha dos pés para não cair para nenhum dos lados. Não gosto de polaridades. Prefiro as nuances. Preto ou branco, oito ou oitenta, céu ou inferno, não acredito nisso; vejo sempre tudo cinza, números fracionados, elementos fragmentados da realidade. O mundo é muito complicado para que tenhamos uma opinião definitiva sobre qualquer assunto. Prefiro ficar na posição de "observador neutro", pois assim posso exercer meu senso crítico sem nunca ter que assumir coisa alguma. Sei que isso é uma grande canalhice. Mas prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo e todos. Não espero compreensão de ninguém, principalmente daqueles que gostam de ter uma posição firme sobre temas humanos demasiadamente humanos. Pergunte à vaquinha no pasto se ela é contra ou a favor do consumo de carne vermelha. Pergunte a uma criança o que ela acha do conflito entre Israel e Palestina. O problema atual é esse: todo mundo acha que pode ter uma opinião consistente sobre todas as coisas. Passe distraidamente os olhos nas redes sociais e veja como as pessoas estufam o peito para mostrar seus palpites abalizados, passando pelas guerras do Peloponeso, adentrando a psicologia dos varões de Plutarco, comentando com fúria as peripécias da mídia golpista, até pontificando com grande sabedoria acerca da mastectomia da senhora Brad Pitt. A cacofonia opinativa às vezes torna-se engraçada. Muitos querem opinar - e ainda serem respeitados. Com isso, somos obrigados a ficar sérios e se mostrar respeitosos quando ouvimos alguém discorrer sobre as terapias da quinta dimensão, seres cósmicos que habitam nosso quarteirão disfarçados de cachorros, sexo tântrico dentro de elevadores ou ainda teorias xamânicas que explicam a matéria escura e a colisão das galáxias. Talvez essa seja a desvantagem da democracia. Qualquer maluco pode sair por aí falando o que der na telha sem que tenhamos o poder de mandar colocá-lo numa camisa de força. Vivemos a grande Era da Picaretagem. Adentre uma livraria e veja o espaço que disponibilizam para livros de autoajuda. Dá para levar a sério as pessoas? É possível acreditar que um País possa se desenvolver culturalmente com este indicador esfregando nossas caras todos os dias? Prefiro não responder. Como disse, fujo de temas polêmicos. Gosto de sossego. Por que não me interpelam sobre assuntos consagrados pelo senso comum? Você é contra ou a favor da violência? Você acha que crime de pedofilia deve ser punido? É contra ou a favor da paz mundial? E a fome? Tem que acabar? Vejam como é fácil ficar teorizando sobre o óbvio. Estas questões fluem. Não é nem preciso ser do PT para respondê-las com sabedoria. Nestas horas, minhas respostas sobre estas indagações de transcendental interesse social me transformam numa espécie de oráculo de Delfos. Falo sobre elas durante horas, pacificando-as e colocando-as longe dos acicates dos polemistas. Mesmo assim, os chatos não dão trégua. Eles insistem em manter a chama do "contra ou a favor" acesa como se estivessem a serviço de Torquemada. Querem que opinemos de todas as maneiras – "você acha que o bolsa-família tem que acabar?" - como se isso fosse um dado existencial irrecorrível, uma cláusula pétrea da Constituição ou elemento essencial da natureza selvagem. Calma, meninos e meninas, a vida pode ser feita de outra matéria, mais leve e etérea, sem o ranço gerado pelas forças contrárias, com vibração e alegria, mesmo que às vezes tenhamos que respirar profundamente em busca de paciência e serenidade, num espaço azul em que flutua nossa paz de espírito. Nemastê.
Disponível em: <http://www.douradosnews.com.br/especiais/opiniao/leia-o-artigo-temas-polemicos-por-dante-filho>. Acesso em: 23 nov. 2014. |
Após a leitura do texto, o professor verificará se os alunos identificaram os lugares-comuns presentes no texto e discutirá com eles em que medida a utilização de lugares-comuns pode prejudicar (ou não) a construção textual, sobretudo nos textos argumentativos (tal como o artigo de opinião acima), uma vez que nos textos argumentativos espera-se algum argumento novo, inédito, original, que fuja ao lugar-comum.
Em seguida, os alunos deverão reescrever os trechos em que houve a utilização de lugares-comuns, substituindo por uma expressão mais criativa, original.
Os alunos terão duas opções de produção textual:
Ou
2. Escrever um artigo de opinião sobre um tema que esteja sendo discutido em uma das disciplinas escolares (atualmente), evitando o uso indiscriminado de lugares-comuns.
Após uma revisão textual e eventual reescrita, os alunos deverão socializar os textos produzidos, montando uma exposição desses textos na escola onde estudam, ou publicando-os em uma plataforma on-line.
Lista de lugares-comuns que devem ser evitados.
Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/tutoriais/2798958>. Acesso em: 23 nov. 2014.
Material comentando sobre o uso dos lugares-comuns em redações:
Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/cliche-lugar-comum-prejudica-redacao.htm>. Acesso em: 23 nov. 2014.
Texto publicado na Revista Língua Portuguesa sobre os lugares-comuns:
Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br/textos/105/artigo314963-1.asp>. Acesso em: 23 nov. 2014.
Os alunos serão avaliados processualmente durante todas as atividades, sendo observada a participação efetiva nas atividades propostas.
Como instrumento de avaliação quantitativa, o professor poderá avaliar os textos produzidos pelos alunos na Atividade 1 do Módulo 2, observando a adequação no uso (ou não) de lugares-comuns para a produção de textos.
Quatro estrelas 1 classificações
Denuncie opiniões ou materiais indevidos!
13/02/2015
Quatro estrelasMuito bem estruturado o planejamento das aulas, um tema pertinente e instigante. Parabéns Professor