Como observava nos desenhos dos meus alunos em sala de aula, na maioria das vezes em que propunha um tema livre, eles desenhavam sol, nuvens, gramado e casas. E as meninas, borboletas e corações. A partir desta observação, planejei uma aula para desconstruir estes estereótipos arraigados na produção dos alunos.

Aula 01: Desenho com tema livre

A aula foi elaborada partir de uma proposta com tema livre e uso de lápis de cor, giz de cera e canetinha sobre papel sulfite A4. Como de costume, surgiram vários desenhos estereotipados.

Aula 02: Picando o desenho

Na aula seguinte entreguei tesoura e cola para os alunos e orientei para que eles cortassem o desenho em quatro partes.

A seguir, eles foram orientados a trocar 3 partes de seus desenhos com os outros alunos, guardando uma para si.

Após a troca, os alunos deveriam remontar os desenhos com as partes trocadas numa nova superfície, usando cola para juntar as partes.

Foi com muita algazarra e revolta que os alunos remontaram as imagens, sempre alarmados com a possibilidade de seus desenhos ficarem "estranhos", "feios", "diferentes do que queriam ter feito". Um aluno chorou, dizendo que seus pais achariam que ele não sabia mais desenhar.

Nesse momento o professor deve intervir, explicando que na arte as coisas não devem ser necessariamente belas, e que aquele trabalho se tornou coletivo. Um aluno pode oferecer o seu "sol" para o outro, que pode até ter dois "sóis" em sua colagem final.

Após a conclusão do trabalho, os mesmos devem ser analisados em conjunto pelos alunos e professor. As diferenças entre os pedaços devem ser valorizadas. A troca deve ser mostrada como nova possibilidade de uma nova realidade artística.

Aula 03: Rompendo formatos

Nessa aula, os alunos foram orientados a desenhar cada parte de seu rosto numa folha de papel sulfite A4. Um olho numa folha, outro noutra folha, o nariz em outra, e a boca em outra.

Seguindo o mesmo processo do trabalho de remontagem da imagem da aula anterior, os alunos foram orientados, a colar as partes do rosto numa folha de cartolina A1. As partes poderiam pertencer a um mesmo aluno ou serem trocadas.

Nessa aula os alunos já haviam compreendido que não precisavam desenhar a imagem do real, e que o resultado não precisava ser necessariamente belo.

A partir do rosto já montado numa folha grande, os alunos foram divididos em grupos de 04, (o ideal é que sejam mistos de meninos e meninas) e orientados a pintar coletivamente cada um dos rostos. O autor do trabalho original poderia sugerir aos outros 03 como gostaria que fosse pintado o "seu" rosto, mas os outros também poderiam dar sugestões caso não concordassem com o que o autor pediu que fizessem.

A partir daí, enquanto pintavam, surgia uma intensa negociação entre cada aluno, cada um mostrava seu ponto de vista, seu gosto, sua "estética". E a opinião de cada um era avaliada, pois o trabalho seguinte a ser pintado poderia ser o de qualquer um do grupo.

A seguir algumas imagens de rostos formados coletivamente em formato A1:

Participação - Avaliar se o aluno participou da atividade proposta.

Compreensão - Avaliar se o aluno entendeu o processo. Nesse caso, deve-se atentar para o fato de que provavelmente o aluno que mais discordou da atividade inicial, mas a compreendeu na segunda tentativa, pode ter tido um dos maiores desenvolvimentos.

Organização do trabalho - Avaliar se o aluno soube participar e se portar entre o seu grupo na hora da pintura coletiva.

Criatividade - Perceber, no trabalho dos alunos, se ainda existem muitos resquícios dos estereótipos anteriores.