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O conto Machadiano na linguagem teatral

 

16/10/2009

Autor e Coautor(es)
CRISTIANE NERI HORTA
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BELO HORIZONTE - MG ESCOLA DE EDUCACAO BASICA E PROFISSIONAL DA UFMG - CENTRO PEDAGOGICO

Edna Maria Santana Magalhães

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Análise linguística: processos de construção de significação
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos
Ensino Médio Língua Portuguesa Produção, leitura, análise e reflexão sobre linguagens
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem oral: escrita e produção de texto
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos
Ensino Médio Língua Portuguesa Relações sociopragmáticas e discursivas
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: historicidade da linguagem e da língua
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Ampliar o universo literário e relacioná-lo ao contexto sóciocultural de produção da obra literária.

Inferir relações entre as palavras do texto.

Desenvolver uma interpretação de textos diversos e relacioná-los entre si. 

Refletir sobre a forma textual.

Inferir sobre os propósitos do autor ao escolher determinada forma textual.

Utilizar elementos da perigrafia do texto (título) para construir uma interpretação

Produzir textos a partir de estruturas já conhecidas

Comparar diferentes estruturas textuais e seus efeitos estéticos.

Praticar o processo de retextualização - escrita e revisão - a partir de uma narrativa de um conto.

Identificar características das modalidades oral e escrita em diferentes suportes textuais: conto, história em quadrinhos, mangás, teatro.

Produzir uma peça teatral, fazendo as adaptações necessárias quanto o espaço, tempo e ação da narrativa ambientada no século XIX para a atualidade.

Duração das atividades
12 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

.Domínio razoável das habilidades de leitura e de escrita.

.Habilidade de comunicar com concisão as informações de seu interesse.

.Domínio do registro lingüístico adequado aos propósitos do trabalho proposto.

.Reconhecimento da função do uso de um determinado suporte textual.

.Identificação, nos suportes, de fontes de informação (publicação, autores, divulgação, período de circulação).

Estratégias e recursos da aula

Aulas 1e 2: quatro aulas de 50 minutos

Professor,
Converse com os alunos sobre a importância da leitura literária dos grandes escritores imortalizados da Literatura mundial.
Explique que há escritores, que ao escreverem, utilizam referências de outras obras, de outros escritores. Isso acontece com o conto que será lido. Esse recurso utilizado só enriquece ainda mais a obra que será lida.O início nos remete a uma grande obra da Literatura mundial, de um grande escritor.
Apresente a primeira frase do conto que será lido posteriormente - A Cartomante, de Machado de Assis - em projeção de power point, cartaz ou escrita em quadro de giz.

“Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia.”
William Shakespeare

Pergunte aos alunos se eles compreenderam a frase acima, se conhecem o escritor, se já ouviram falar de alguma obra dele.
Após ouvir os alunos, apresente a eles uma breve biografia do escritor inglês.

Quem foi Shakespeare é considerado um dos mais importantes dramaturgos e escritores de todos os tempos. Seus textos literários são verdadeiras obras de arte e permaneceram vivas até os dias de hoje, onde são retratadas freqüentemente pelo teatro, televisão, cinema e literatura.
Biografia e obras
Nasceu em 23 de abril de 1564, na pequena cidade inglesa de Stratford-Avon. Nesta região começa seus estudos e já demonstra grande interesse pela literatura e pela escrita. Com 18 anos de idade casou-se com Anne Hathaway e, com ela, teve três filhos. No ano de 1591 foi morar na cidade de Londres, em busca de oportunidades na área cultural. Começa escrever sua primeira peça, Comédia dos Erros, no ano de 1590 e termina quatro anos depois. Nesta época escreveu aproximadamente 150 sonetos.
Embora seus sonetos sejam até hoje considerados os mais lindos de todos os tempos, foi na dramaturgia que ganhou destaque. No ano de 1594, entrou para a Companhia de Teatro de Lord Chamberlain, que possuía um excelente teatro em Londres. Neste período, o contexto histórico favorecia o desenvolvimento cultural e artístico, pois a Inglaterra vivia os tempos de ouro sob o reinado da rainha Elisabeth I. O teatro deste período, conhecido como teatro elisabetano, foi de grande importância. Escreveu tragédias, dramas históricos e comédias que marcam até os dias de hoje o cenário teatral.
Os textos de Shakespeare fizeram e ainda fazem sucesso, pois tratam de temas próprios dos seres humanos, independente do tempo histórico. Amor, relacionamentos afetivos, sentimentos, questões sociais, temas políticos e outros assuntos, relacionados a condição humana, são constantes nas obras deste escritor.
No ano de 1610, retornou para Stratford, sua cidade natal, local onde escreveu sua última peça, A Tempestade, terminada somente em 1613. Em 23 de abril de 1616 faleceu o maior dramaturgo de todos os tempos, de causa ainda não identificada pelos historiadores.
Principais obras :- Comédias: O Mercador de Veneza, Sonho de uma noite de verão, A Comédia dos Erros, Os dois fidalgos de Verona, Muito barulho por coisa nenhuma, Noite de reis, Medida por medida, Conto do Inverno, Cimbelino, Megera Domada e A Tempestade.
- Tragédias: Tito Andrônico, Romeu e Julieta, Julio César, Macbeth, Antônio e Cleópatra, Coriolano, Timon de Atenas, O Rei Lear, Otelo e Hamlet.
- Dramas Históricos: Henrique IV, Ricardo III, Henrique V, Henrique VIII.

http://www.suapesquisa.com/shakespeare/

Professor,
Após essa explanação, dê ênfase a uma obra dramática de Shakespeare: Hamlet.
Mostr e aos alunos, que apes ar de ter sido escri ta há séculos, a his tória é atemporal e pode ser “lida” em vár ios suportes textuais. Veja:

1. Texto


http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2338


2. Trailer do Filme

http://www.youtube.com/watch?v=Qsn9opKuWbs


3. Filme em várias versões



O Príncipe dinamarquês finge-se de louco e abandona a noiva Ofélia, para vingar a morte do pai, que lhe aparece como fantasma, denunciando os assassinos. Sir. Laurence Oliver realizou uma das mais felizes adaptações da obra prima de Shakespeare, que imortalizou o personagem sonhador e contemplativo levado pela fatalidade à ação violenta em meio a cruéis dúvidas e hesitações. Reduzindo o texto Oliver manteve a carga emocional e filosófica, usando a câmera com inteligência. Ganhador de quatro Oscars.


Mel Gibson interpreta Hamlet nessa versão mais atualizada da mais conhecida obra de William Shakespeare. Hamlet descobre, através do fantasma de seu pai - o antigo rei da Dinamarca - que seu tio, agora casado com sua mãe e o novo detentor do trono, foi quem o assassinou. Agora a alma de Hamlet passará por provações grandiosas enquanto ele toma coragem para se vingar.

Após terminar seus estudos Hamlet (Kenneth Branagh), Príncipe da Dinamarca, retorna para o Palácio de Elsinore e encontra seu tio Claudius (Derek Jacobi) casado com Gertrude (Julie Christie), sua mãe. Bernardo (Ian McElhinney), Horatio (Nicholas Farrell) e Marcellus (Jack Lemmon), três amigos de Hamlet, falam a ele sobre um fantasma que parece ser seu falecido pai, que morreu há poucos meses. Hamlet acaba vendo aparição e a segue através do bosque. Ao encontrá-la, ela diz que precisa ser vingado, pois, apesar de se ter tido que o falecido monarca morreu devido à uma picada de cobra, a aparição afirma que a serpente que picou seu pai usa agora sua coroa e que, de uma única vez, tudo lhe foi tirado: a vida, a coroa e a rainha. Hamlet jura vingança e quando o rei e a rainha mandam vir amigos de Hamlet, para ver o que está errado com ele, o jovem príncipe assume um ar de louco e fa z alguns atores repre sentarem "A Morte de Gonzaga" que, com algumas modificações, fica bastante similar ao assassinato de seu pai. A reação de Claudius comprova que ele matou realmente o ex-soberano e a vingança agora é uma questão de tempo. Mas várias tragédias estão reservadas para Elsinore.

        4. Em Mangá:

Aulas 3 e 4: quatro aulas de 50 minutos

Profe ssor, antes de apresent ar o conto “A Cartoma nte”, converse com os alunos sobre o escr itor Machado de Assis. Fale das suas qualidades literárias e da sua valorosa contribuição para a nossa Literatura. Eis uma breve biografia do escritor:

Joaquim Maria Machado de Assis é considerado um dos mais importantes escritores da literatura brasileira. Nasceu no Rio de Janeiro em 21/6/1839, filho de uma família muito pobre. Mulato e vítima de preconceito, perdeu na infância sua mãe e foi criado pela madrasta. Superou todas as dificuldades da época e tornou-se um grande escritor.
Na infância, estudou numa escola pública durante o primário e aprendeu francês e latim. Trabalhou como aprendiz de tipógrafo, foi revisor e funcionário público.
Publicou seu primeiro poema intitulado Ela, na revista Marmota Fluminense. Trabalhou como colaborador de algumas revistas e jornais do Rio de Janeiro. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de letras e seu primeiro presidente.
Podemos dividir as obras de Machado de Assis em duas fases: Na primeira fase (fase romântica) os personagens de suas obras possuem características românticas, sendo o amor e os relacionamentos amorosos os principais temas de seus livros. Desta fase podemos destacar as seguintes obras: Ressurreição (1872), seu primeiro livro, A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878).
Na Segunda Fase ( fase realista ), Machado de Assis abre espaços para as questões psicológicas dos personagens. É a fase em que o autor retrata muito bem as características do realismo literário. Machado de Assis faz uma análise profunda e realista do ser humano, destacando suas vontades, necessidades, defeitos e qualidades. Nesta fase destaca-se as seguintes obras: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1892), Dom Casmurro (1900) e Memorial de Aires (1908).
Machado de Assis também escreveu contos, tais como: Missa do Galo, O Espelho e O Alienista. Escreveu diversos poemas, crônicas sobre o cotidiano, peças de teatro, críticas literárias e teatrais.
Machado de Assis morreu de câncer, em sua cidade natal, no ano de 1908.

Relação das obras:

Romances

Ressurreição - 1872
A mão e a luva - 1874
Helena - 1876
Iaiá Garcia - 1878
Memórias Póstumas de Brás Cubas - 1881
Quincas Borba - 1891
Dom Casmurro - 1899
Esaú e Jacó - 1904
Memorial de Aires - 1908

Poesia

Crisálidas
Falenas
Americanas
Ocidentais
Poesias completas

Contos

A Carteira
Miss Dollar
O Alie nista
Noite de Almirante
O Homem Célebre
Conto da Escola
Uns Braços
A Cartomante
O Enfermeiro
Trio em Lá Menor
Missa do Galo

Teatro

Hoje avental, amanhã luva - 1860
Desencantos - 1861
O caminho da porta, 1863
Quase ministro - 1864
Os deuses de casaca - 1866
Tu, só tu, puro amor - 1880
Lição de botânica - 1906

Professor, após a conversa sobre o autor Machado de Assis, apresente o cont o “A Cartomante”. Os alunos podem fazer a leitura em livros, cópias em papel ou pela internet. Nessa primeira leitura silenciosa, peça que eles estejam atentos ao tipo de linguagem empregada no século XIX e, na medida que aparecerem, verificarem o significado de palavras desconhecidas no conto, no dicionário.

A Cartomante - Machado de Assis

Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869, quando este ria dela , por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consul ta, antes mesmo que eu l he dissesse o que era. Apenas começou a bot ar as cartas, disse-m e: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...
— Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
— Tu crês deveras nessas coisas? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.
Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carre ira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princí pio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio ab rir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
— É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do senhor.
Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como o s óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os d ois mostraram-se grand es amigos dele. Vilela cuidou do enterro, do s sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapa z repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pret endente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é pr eguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparece r depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se c om lágrimas.
No dia s eguinte, estando na rep artição, recebeu Camil o este bilhete de Vilel a: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas; ou então, — o que era ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a idéia, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote largo.
— Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim...
Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas mor ais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a primeira travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse . E inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:
— Anda! agora! empurra! vá! vá!
Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários; e a mesma fras e do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a fi losofia..." Que perdia ele, se...?
Deu por si na calçada, ao pé da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...
— A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu; disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela, curioso e ansioso.
— As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qua l estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo , ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, a s outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e fam iliares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Ad vertiu também que eram urgentes, e que fizera ma l em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.

http://www.releituras.com/machadodeassis_cartomante.asp

Professor, após a leitura do texto:


. Que perguntas os alunos têm sobre o texto lido? Que informações novas eles têm sobre esse mesmo tema?
. Se eles não tiverem perguntas, faça você algumas perguntas que aponte para as seguintes habilidades de leitura: identificação de informações constantes no texto, relacionar a leitura com a realidade social e cultura de sua cidade e país.
. Peça que os alunos apontem as causas apresentadas pelo texto para justificar o final.
. Trabalhe a questão de crime passional, com outros comportamentos do século XIX para justificar tal ato: “lavar a honra com san gue”, “crime de legítima defesa da honra”.
. Relacionar o aspecto acima com a atualidade.
. Promova um debate oral entre os alunos com aqueles que concordam ou que discordam das seguintes questões: o c omportamento de Camilo em relação à amizade de Vilela; o comportamento de Rita em relação ao casamento; a traição; o co mportamento de Vilela diante da traição; como este ficou sabendo de tudo.
. Ao final, peça que eles retomem os principais pontos do conto e redigir uma conclusão sobre as questões debatidas em sala.

Aulas 5 e 6: duas aulas de 50 minutos

Professor,
Inicie essas aulas, dizendo que o conto de Machado de Assis pode ser abordado e lido de diversas formas: slides, histórias em quadrinhos e teatro. Ao apresentá-los, peça que os alunos estejam atentos ao tipo de linguagem utilizada, ao direcionamento ou o enfoque dado pelo suporte textual apresentado, se o tema é estudado em sua amplitude, se todos os fatos do conto escrito são referendados em cada suporte.

. História em quadrinhos

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. Slide

http://www.slideshare.net/rasfam/211-a-cartomante-presentation

Professor,
Quanto à peça teatral, divida a turma em grupos. Cada um se encarregará de escrever uma das cenas propostas a seguir:
1. Camilo recebendo uma carta de Vilela, informando sobre o casamento com Rita.
2. A chegada de Rita e Vilela na cidade de Camilo
3. A morte da mãe de Camilo, os cuidados de Rita e o início do relacionamento extraconjugal.
4. A visita de Rita à Cartomante.
5. O medo de Camilo diante da carta anônima sobre a descoberta da traição.
6. A ida de Camilo à Cartomante
7. A atitude inesperada de Vilela ao descobrir a traição.

Oriente seus alunos ao escrever esse tipo de texto. Primeiro, peça para que eles escolham em que momento histórico a peça será contada. Século XIX ou século XXI? Haverá mais personagens? Quais seriam? Obedeceria à alinearidade do conto de Machado de Assis? Respeitaria o desfecho dado pelo autor?

Atenção, professor! Peça para que cada grupo releia o que escreveu e ouça o que os outros escreveram. É preciso que se façam os ajustes necessários, utilizando marcas de tempo, coerência e coesão entre cenas e falas das personagens.

Professor,
Disponibilizo para você, um texto teatral elaborado pelos meus alunos. Note que a peça foi ambientada para o século atual, algumas personagens foram incluídas e, diferentemente do autor, eles optaram pelo enredo linear, para que o público melhor entendesse o desenrolar da história, quando fosse apresentada.

Teatro: A Cartomante - Adaptação do conto de Machado de Assis

Narradora: Camilo e Vilela eram grandes amigos. Eles se conheciam desde a infância. Camilo vivia e fora criado por sua mãe. Era mais novo que Vilela e menos ambicioso também. Por ter sido criado e “paparicado” pela mãe, achava que não tinha de estudar muito para ter alguma coisa na vida. Bem diferente era Vilela. Ao se formar em Direito, queria seguir a carreira de juiz. Assim o fez. Mudou-se para a capital e teve uma carreira bem sucedida.
Camilo: e-mail de Vilela, mamãe! Veja as boas novas! Trabalha como juiz, e... casou-se! Que danado! Aqui ele fala que ela é um ano mais velha que ele. Ela é muito meiga e inocente. De uma pureza...
Dona Mariquinhas: E ele fala o nome dela? E ela é bonita? E ela é prendada? E eles pensam em ter filhos logo? Quantos? E a vida de juiz? Trabalha muito? Ganha quanto? Já mudaram para uma casa maior?
Camilo: Calma, mamãe! Quantas perguntas... Assim eu fico tonto...
Dona Mariquinhas: Então responda às perguntas... Rápido...
Camilo: Ela se chama Rita, é a mulher mais bonita que ele já conheceu... Gosta de fazer de tudo para agradá-lo... Filhos? Ele diz que ela ainda quer aproveitar mais a vida e não deformar o corpo que tem...
Dona Mariquinhas: Faz de tudo, heim? Sei... agradar a um homem... aproveitar mais a vida... não deformar o corpo... Isso não está me cheirando bem... Tem nome cristão, mas deve ser uma safadinha....
Camilo: Ele também disse que está voltando no final do ano. Quer se dedicar mais à advocacia e à mulherzinha. Diz também que não precisa ganhar tanto dinheiro assim, basta o amor!
Dona Mariquinhas: Coitado! Está muito apaixonado e mudado também! Tão sério, tão tímido, se envolvendo com uma mulher dessas... Vai voltar para poder controlá-la melhor em uma cidade pequena, isso sim ! E você? Não está na hora de ir trabalhar?
Camilo: Quanta preocupação, mamãe! Esqueceu-se que trabalho como assessor parlamentar? Que faço os meus horários? Que o deputado trabalha poucas horas na se mana?
Dona Mariquinhas: Quero ver quando eu morrer... Sofrerá em ter que viver com esse salariozinho e não receberá mais nada... A única herança que posso deixar para você é essa casa e meus santinhos e minhas simpatias...
Camilo: A casa eu aceito... Mas essas crendices, eu dispenso, mamãe! Não existem!
Narradora: Os meses se passaram e setembro chegou. Camilo esperava ansiosamente seu amigo Vilela e sua esposa. Andava nervoso pela casa. A mãe, acometida por uma doença grave, não mais andava e não mais falava.
Camilo: Já não era sem tempo, meu amigo! Quanta falta você me fez...
Vilela: Meu único e grande amigo! A sua amizade é que me fez falta todo esse tempo que estive fora. Quero que conheça a minha querida esposa Rita!
Rita: Muito prazer! Melhor amigo de meu marido será meu melhor amigo também. Sou Rita de Cássia, mas pode me chamar de Rita.
Camilo: Quando Vilela me teclou contando sobre a sua beleza, ele omitiu muita coisa. É mais gata que a descrição dos e-mails...
Rita: E a senhora, como vai? Como tem passado?
Rita: Coitadinha! Não fala... Nossa! É o sonho dourado de toda nora... ter uma sogra que não fala... Já se casou, Camilo? Tem algum compromisso com alguém?
Vilela: Rita, não fale assim de Dona Mariquinhas, ela é como a minha segunda mãe...
Camilo: Que é isso, Vilela! Mamãe, apesar da doença, é tão bem humorada... É Lógico que ela levou na brincadeira, não é, mamãe?
Dona Mariquinhas: ...
Camilo: Quanto a mim, Rita, ainda não me casei. Não tive a sorte de Vilela em encontrar alguém como você, Rita. Sou um coração solitário, um vulcão adormecido. Ainda não quero me envolver com ninguém. Quero aproveitar mais a vida. De vez em quando rola uns esquemas... mas nada sério. Sou um homem de alma livre.
Narradora: Rita aproveitou a sua chegada e foi se encontrar com suas amigas de infância. Depois que conhecera Vilela, este proibiu que ela se relacionasse com suas antigas amizades. Dizia sempre que não eram do nível esperado de educação. Achava-as vulgares e inconvenientes.
Amiga 1: Querida!!!!!!!!!!!!!!! Uau! Tu tá chique, heim? O maridão cuida direitinho de você...
Rita: Oi, que saudades! Pois é... Vilela gosta de me ver sempre linda e bem cuidada...
Amiga 2: E aí, ele está cada dia mais apaixonado? Ele tem um jeitão tão sério pra você... Parece uns 40 anos mais velho. Tem a cabeça muito antiga.
Rita: É... Ele tem umas idéias muito atrasadas mesmo... Mas foi o melhor que arrumei. Já o amigo dele... SOCORRO! É tudo de bom ponto com ponto br!!!!!!!!!!!!!
Amiga 1: Rita, Rita... Não vá jogar a sua sorte para o alto...
Amiga 2 : Já tenho uma opinião contrária. Se der para conciliar os dois... Que mal tem ? Dá uma apimentada na relação.
Rita: Sei não... Não descarto essa possibilidade... Mas tenho que ter muito cuidado. Vilela não é nada bobo.
Amiga 1: Socialize o amigo, querida!
Rita: Não, de jeito nenhum! O amigo se não pode ser meu, não será de vocês...
Amiga 2: Você não presta mesmo, Rita!
Narradora: Semanas se passaram e a mãe de Camilo veio a falecer. Camilo ficou desconsolado, transtornado pela dor da perda daquela que sempre esteve ao seu lado. Vilela cuidou de toda parte difícil: velório, enterro, missa e do inventário. Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor. Como daí, chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela; era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente, era mulher e bonita. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e outros passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites – ela mal, ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Nestes momentos, os olhos de Rita, sempre teimoso s, procuravam muita v ez os dele. Camilo ficava desconsertado e fugia do seu olhar penetrante. As coisas se acertaram no aniversário de Camilo.
Vilela: Para o meu m elhor amigo algo que lhe fazia fal ta e que sempre quis ter... Espero que você goste...
Camilo: Vilela, um netbook, como o seu! Agora, sim! Vou poder me conectar em qualquer lugar. Obrigado, meu amigo!
Rita: Eu também tenho algo para você...
Vilela: Um cartão, minha querida? Veja só... Enquanto as pessoas mandam torpedos, ela ainda escreve cartões; essa minha esposa é mesmo de ouro!
Rita: Não, não! É uma oração de bênção que copiei... Da santinha de devoção de sua querida e inesquecível mãe, que Deus a tenha!
Camilo: Ah, sei! Muito obrigado! Essas lembranças de mamãe sempre me emocionam.
Narradora: É claro que não se tratava de oração coisa nenhuma. Tratava-se de um cartão de palavras vulgares, marcando um encontro no cyber café. Camilo não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho. Isso foi o primeiro passo para os encontros escondidos entre os dois. Passeavam de táxi. O motorista era um velho conhecido de Dona Mariquinhas. Seu Rodolfo era um senhor discreto e confiável.
Rodolfo: Sempre para o mesmo local, senhor Camilo?
Camilo: Sim, com a rapidez de costume. Passe pelas ruas dos bairros e não pelas ruas principais. Leve-me para a Lagoinha, certo?
Rodolfo: Certamente, senhor. Busco a Dona Rita? Ou ela já está a sua espera?
Camilo: Ela já está lá, certamente. Vamos rápido!
Narradora: Quando Camilo chegou, Rita já estava a sua espera. Camilo estava nervoso.
Rita: Meu querido, que saudades!
Camilo: Deixe disso, Rita. Estou nervoso. Recebi uma mensagem anônima em meu orkut, avisando que o nosso caso já é conhecido por todos. E agora? E Vilela? Já disse algo?
Rita: Calma, meu querido. Vilela está mais romântico que nunca. É claro que anda mais calado. Mas é por causa do escritório...
Camilo: Resolvi evitar de ir a sua casa por uns tempos. Não podemos facilitar. Direi que ando muito ocupado na Assembléia. Ele vai entender. Também com todos esses escândalos no senado...
Rita: Isso é uma desculpa sua. Já está desinteressado por mim. Conseguiu o que queria e agora me descarta...
Camilo: Não é nada disso, meu amor. Temos que ter o maior cuidado. Não quero perder a amizade de Vilela e muito menos o seu amor...
Narradora: Despediram-se com mais tristeza que antes. Rita estava desconfiada. Acreditava que era apenas uma desculpa de Camilo. O relacionamento já não era mais o mesmo. Ele estava indiferente e frio com ela. Com certeza, já havia outra na jogada. Aproveitou que estava distante de casa, e foi a uma casa que haviam lhe falado. Era uma cartomante, recomendada e confiável. Como era perto, foi a pé até lá.
Auxiliar da Cartomante: Boas vibrações para você! Madame Cacilda sabe de tudo o que aconteceu, o que acontece e o que acontecerá... Tem horário ma rcado?
Rita: Não... estava passando...
Auxiliar da Cartomante: Atendimento de urgência? Pagamento adiantado e o valor cobrado é maior por que para fazer a sintonia com o universo paralelo, com a energia que envolve o Cosmos, a conexão com os espíritos...
Rita: Sei, quanto é ?
Auxiliar da Cartomante: Pagamento em cartão: 250,00. Pagamento em cash: 249,99. Cheque pré-datado: 250,00, Carnezinho...
Rita: Tome logo. E este é para você parar de falar na minha cabeça.
Auxiliar da Cartomante: Uau! A senhora nunca mais ouvirá a minha voz...
Rita: Boa tarde, senhora! Eu vim aqui para...
Cartomante: Não precisa me dizer. Madame Cacilda sabe de tudo o que aconteceu, o que acontece e o que acontecerá... Existe um homem em sua vida e você gosta muito dele...
Rita: Como a senhora sabe?
Cartomante: Não apenas gosta, mas deseja estar com ela sempre que pode. Mas a senhora tem medo dele te esquecer... Mas não é verdade. Ele o ama, sim. E você sabe: Madame Cacilda sabe de tudo o que aconteceu, o que acontece e o que acontecerá...
Rita: Ai, obrigada, Dona Cacilda! Estou m ais tranqüila. Ele me ama! Ele me ama!
Narradora: Rita esperou o tempo passar . Dia s se foram. Então, resolveu cham ar Camilo para conversarem no quartinho de pensão da Lagoinha.
Rita: Ria, ria. Os homens são assim. Não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe disse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: “A senhora gosta de uma pessoa...” Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
Camilo: Errou!
Rita: Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Camilo: Juro, Rita que lhe quero muito. Seus sustos parecem de criança. A melhor cartomante sou eu mesmo. É imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo e depois...
Rita: Qual saber! Tive muito cuidado, ao entrar na casa.
Camilo: Onde é a casa?
Rita: Aqui perto, na Rua Itapecerica. A rua estava deserta. Calma; eu não sou maluca.
Camilo: Você crê nessas coisas?
Rita: Há mais coisas entre o céu e a Terra do que sonha a nossa vã filosofia. Se você não acredita, paciência. O certo é que a cartomante adivinhara tudo. Quer mais? Agora estou tranquila e satisfeita...
Camilo: Mesmo assim, temos de ter cuidado. A partir de hoje, verifique se Vilela recebeu ou receberá algum e-mail, mensagem, torpedo sem remetente. As letras são coloridas. Se encontrar ou se ele receber, Apague-as.
Rita: Confie em mim. Eu é que leio os e-mails e mensagens e até hoje nada chegou pra ele. Ele é tão certinho que nem sabe usar o msn... Além de detestar o orkut.
Narradora: Despediram dessa vez mais seguros. Camilo entrou no táxi do Seu Rodolfo e ficou pensando. Sentia-se “a última coca cola do deserto”. Sabia que era amado por Rita. Ficou feliz em saber que ela ia em cartomantes por causa dele. Estava já saído da pensão onde se encontrava com Rita, quando avistou duas mulheres que eram da mesma cidade que sua mãe.
Vizinhas: Bom dia, Camilo! Onde você vai tão apressado?
Camilo: Por aí... bom dia pra vocês também...
Vizinhas: Calma, Camilinho... Espere, vamos conversar... Você tem vindo sempre aqui, não é...
Camilo: É que..............
Vizinhas: Não precisa nos contar. Já sabemos de tudo!
Camilo: Tudo o quê?
Vizinhas: TUDO, querido. Não se preocupe, seu segredo está bem guardado. Pode ir, viu?
Narradora: Camilo passou em frente à casa da cartomante, olhou de passagem e foi embora. No dia seguinte, na Assembléia, Camilo recebeu uma carta de Vilela. Era mais de meio-dia. Camilo saiu logo. Ficou intrigado. Por que se encontrar com Vilela em casa dele?
Mensageiro: Seu Camilo está?
Camilo: Sou eu!
Mensageiro: Car ta para o senhor. Assine aqui, por favor?
Camilo: Carta? Nossa! Com a velocidade do e-mail, quem está ainda enviando cartas?
Mensageiro: Pois é. Leia a mensagem e preciso que o senhor escreva a resposta no próprio papel e devolva.
Camilo: Que estranho! Ora, do Vilela? Estranho... “Vem já, já, à nossa casa; é urgente”. Por que não no escritório?. Será que ele descobriu algo?
Mensageiro: O que o senhor disse?
Camilo: Não, nada. Tome.
Narradora: Estranhamente, o mensageiro ao sair da Assembléia, destruiu o papel. E foi para uma lan house.
Dono da Lan house: E aí? Tudo certo?
Mensageiro: Encomenda entregue e com sucesso. E o dinheiro quando cai na conta?
Dono da Lan house: Que conta? A pessoa não quer deixar vestígios. Já deixou em nossa caixa de correio esse envelope.
Mensageiro: Poxa! Quanta generosidade, heim! To feito!
Narradora: Logo depois, Camilo saiu. Antes de se dirigir à casa de Vilela, Camilo se lembrou de passar na pensão.. Talvez, Rita havia deixado um recado para ele. Não dispensou o Seu Rodolfo. Entrou rapidamente e não achou nada, nem nin guém. Saiu desconfiado. Com certeza, Vilela já sabia de tudo.
Seu Rodolfo: Preocup ado, Senhor Camilo? Ou será o calor que faz esses dias. Realmente a temperatura está alta...
Camilo: Não é nada... Preciso chegar o quanto antes na casa de meu amigo Vilela...
Seu Rodolfo: Acho que não será possível. Olhe, um acidente mais a frente. Até tirarem o carro e a moto demorará mais de uma hora...
Narradora: Camilo nem ouvia mais as palavras do motorista. Só via a sua frente o e-mail de Vilela. Positivamente tinha medo. Pensou em ir até lá armado. Logo rejeitava a idéia, envergonhado de tais pensamentos. A agitação na rua era grande. Camilo olhou a sua direita e viu a casa da cartomante. Sem muito pensar, desceu do táxi e pediu ao motorista que o esperasse. Não demoraria. Entrou, subiu uma escada sombria, bateu à porta.
Cartomante: Já estava a sua espera. Entre. Madame Cacilda tem algo a lhe falar. Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor teve um grande susto... O senhor quer saber se lhe acontecerá alguma coisa ou não...
Camilo: A mim e a ela...
Cartomante: Espere. As cartas dizem-me... Não tenha medo de nada. Nada acontecerá nem a um nem a outro... Ele, o terceiro, nada sabe. Mas... aja com cautela... O senhor é alvo de inveja e despeito. Sua amada é muito linda, formosa e generosa... O amor de vocês é intenso...
Camilo: Ai! Que alívio! Obrigado!!!!
Cartomante: Vá, vá ragazzo innamorato...
Camilo: Quanto lhe devo?
Cartomante: Pergunte ao seu coração... Vejo bem que o senhor gosta muito dela. E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo.
Narradora: Camilo não pensou duas vezes, tirou uma nota de cem reais e deu-lhe. Pegou o táxi e pediu para que ele fosse para a casa de Vilela. Camilo já estava mais calmo. Às vezes, queria rir de seus pensamentos. O coração ia alegre e impaciente. Chegou à casa de seu amigo. Ao descer, percebeu que a casa estava silenciosa. Ia bater na porta, quando inesperadamente, Vilela a abriu.
Camilo: Desculpa, mas não pude vir mais cedo. O que há?
Narradora: Vilela não lhe respondeu. Estava esquisito; Fez-lhe um sinal e entraram. Camilo ficou aterrorizado com o que viu.
Camilo: Nãaaaaaaaaao!!!!!!!!
Narradora: Vilela voltou-se para ele e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.

Aula 6: duas aulas de 50 minutos

Professor, converse com os seus alunos e, a partir do texto teatral escrito, promova a encenação desse para a escola.
Divida a turma em personagens que atuarão na peça, pessoas para criarem o cenário, alunos para criar a trilha sonora e musical da peça, um grupo para orientar e arrumar o figurino de quem vai apresentar, o desenho do convite e divulgação da peça.
Definidas as funções de cada aluno, faça a primeira leitura da peça com as personagens. Enf atize a entonação, a parte gestual, a projeção de voz.

Aulas 7, 8 e 9: duas aulas de 50 minutos

Professor, promova o ensaio nestas aulas. Enquanto as personagens treinam as falas, as outras equipes viabilizariam as respectivas tarefas: confeccionar convite, divulgação, cenário, escolha da trilha - ruídos, músicas, vários sons para dar mais credibilidade ao texto teatral.

Aulas 10, 11 e 12: duas aulas de 50 minutos

Professor, para finalizar esse trabalho, apresente a peça para os alunos das outras salas e para a comunidade escolar. Registre esse momento com fotos e/ou filmagem para ser apresentada posteriormente aos alunos que encenaram. Faça uma exposição das fotos dos variados momentos da peça: desde os ensaios, confecção de cenários, convite até a apresentação.

Recursos Complementares

Professor,

Maiores detalhes de como abordar o trabalho com gêneros textuais distintos, acesse os links vimculados à seguinte página

http://www.pucrs.br/gpt/index.php. [Acesso em 13/09/2009]

Avaliação

Professor,
Compare as relações feitas pelos alunos entre a história de Hamlet, o conto estudado, o texto teatral em sua produção escrita. Avalie como eles fazem essas relações, que elementos dos textos são abordados e quais as contribuições extras que eles trazem. Verifique a qualidade das informações existentes, como se dá a vinculação gramatical (coesão) e semântica (coerência) no texto. Analise se o texto final apresentou as características de uma peça de teatro.Discuta, com os grupos, o que poderia ser alterado, caso fosse necessário, para que o texto ficasse mais adequado à proposta sugerida. Individulmente, peça aos alunos que façam uma análise dos aprendizados que acham ter desenvolvido ao longo desse trabalho e o que deveria ser ainda melhor desenvolvido. Que sugestões teriam para o êxito nos próximos trabalhos? Em relação ao desempenho escrito, quais as dificuldades detectadas por eles?
Diante desses aspectos apontados pelos alunos, estabeleça uma linha de intervenção e de orientação para ajudar na melhoria da escrita dos alunos. Partir da organização lógica das idéias, coesão e coerência do gênero textual produzido por eles, o texto teatral.Por fim, verificar os aspectos predominantes da língua formal e as variantes linguísticas, presentes nesse tipo de texto.

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