20/10/2009
Eliana Dias
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
---|---|---|
Ensino Médio | Literatura | Literatura brasileira, clássica e contemporânea: criações poéticas, dramáticas e ficcionais da cultura letrada |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos |
Conhecer o gênero textual narrativa;
ter habilidades básicas de leitura.
- Xerox de textos literários.
- Utilização do laboratório de informática.
AULA 1
ATIVIDADE
Como forma de introdução do tema, o professor deverá entregar a cada grupo uma cópia xerocada de um dos textos "Morte e Vida Severina" de João Cabral de Melo Neto, "Vou-me embora pra Pasárgada" de Manuel Bandeira, "José", de Carlos Drummond de Andrade e "Juca Mulato" de Menotti del Picchia. Cada grupo deverá estudar o texto que recebeu, para entendê-lo melhor e dar a ele a expressividade que o texto exige. Os textos já estarão separados com A, B C, ou outros como forma de marcar as falas.
Morte e vida Severina JOÃO CABRAL DE MELO NETO
— O meu nome é Severino, A
não tenho outro de pia. A
Como há muitos Severinos, A
que é santo de romaria, A
deram então de me chamar A
Severino de Maria A
como há muitos Severinos B
com mães chamadas Maria, B
fiquei sendo o da Maria B
do finado Zacarias. B
Mais isso ainda diz pouco: C
há muitos na freguesia, C
por causa de um coronel C
que se chamou Zacarias C
e que foi o mais antigo C
senhor desta sesmaria. C
Como então dizer quem falo D
ora a Vossas Senhorias? D
Vejamos: é o Severino D
da Maria do Zacarias, D
lá da serra da Costela, D
limites da Paraíba. D
Mas isso ainda diz pouco: E
se ao menos mais cinco havia E
com nome de Severino E
filhos de tantas Marias E
mulheres de outros tantos, E
já finados, Zacarias, E
vivendo na mesma serra E
magra e ossuda em que eu vivia. E
Somos muitos Severinos Todos
iguais em tudo na vida: Todos
na mesma cabeça grande Todos
que a custo é que se equilibra, Todos
no mesmo ventre crescido Todos
sobre as mesmas pernas finas Todos
e iguais também porque o sangue, Todos
que usamos tem pouca tinta. Todos
E se somos Severinos F
iguais em tudo na vida, F
morremos de morte igual, F
mesma morte severina: F
que é a morte de que se morre G
de velhice antes dos trinta, G
de emboscada antes dos vinte G
de fome um pouco por dia G
(de fraqueza e de doença H
é que a morte severina H
ataca em qualquer idade, H
e até gente não nascida). H
Somos muitos Severinos A
iguais em tudo e na sina: A
a de abrandar estas pedras B
suando-se muito em cima, B
a de tentar despertar C
terra sempre mais extinta, C
a de querer arrancar Todos
alguns roçado da cinza. Todos
Mas, para que me conheçam Todos
melhor Vossas Senhorias Todos
e melhor possam seguir Todos
a história de minha vida, Todos
passo a ser o Severino Todos
que em vossa presença emigra. Todos
Vou-me embora pra PasárgadaMANUEL BANDEIRA
Vou-me embora pra Pasárgada A
Lá sou amigo do rei A
Lá tenho a mulher que eu quero A
Na cama que escolherei A
Vou-me embora pra Pasárgada B
Aqui eu não sou feliz B
Lá a existência é uma aventura B
De tal modo inconsequente B
Que Joana a Louca de Espanha B
Rainha e falsa demente B
Vem a ser contraparente B
Da nora que nunca tive B
E como farei ginástica A
Andarei de bicicleta B
Montarei em burro brabo C
Subirei no pau-de-sebo D
Tomarei banhos de mar! E
E quando estiver cansado C
Deito na beira do rio C
Mando chamar a mãe-d'água C
Pra me contar as histórias C
Que no tempo de eu menino C
Rosa vinha me contar C
Vou-me embora pra Pasárgada C
Em Pasárga da tem tudo F
É outra civilização F
Tem um processo seguro F
De impedir a concepção F
Tem telefone automático G
Tem alcalóide à vontade G
Tem prostitutas bonitas G
Para a gente namorar G
E quando eu estiver mais triste H
Mas triste de não ter jeito H
Quando de noite me der H
Vontade de me matar H
— Lá sou amigo do rei — Todos
Terei a mulher que eu quero Todos
Na cama que escolherei. Todos
Vou-me embora pra Pasárgada. Todos
JoséCARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
E agora, José? Todos
A festa acabou, Todos
a luz apagou, Todos
o povo sumiu, Todos
a noite esfriou, Todos
e agora, José? Todos
e agora, você? Todos
você que é sem nome, Todos
que zomba dos outros, Todos
você que faz versos, Todos
que ama, protesta? Todos
e agora, José? Todos
Está sem mulher, A
está sem discurso, A
está sem carinho, A
já não pode beber, B
já não pode fumar, B
cuspir já não pode, B
a noite esfriou, C
o dia não veio, C
o bonde não veio, C
o riso não veio, C
não veio a utopia D
e tudo acabou D
e tudo fugiu D
e tudo mofou, D
e agora, José? Todos
E agora, José? Todos
Sua doce palavra, Todos
seu instante de febre, Todos
sua gula e jejum, E
sua biblioteca, E
sua lavra de ouro, E
seu terno de vidro, E
sua incoerência, E
seu ódio – e agora? E
Com a chave na mão F
quer abrir a porta, F
não existe porta; F
quer morrer no mar, G
mas o mar secou; G
quer ir para Minas, H
Minas não há mais. H
José, e agora? H
Se você gritasse, Todos
se você gemesse, Todos
se você tocasse Todos
a valsa vienense, Todos
se você dormisse, Todos
se você cansasse, Todos
se você morresse... Todos
Mas você não morre, Todos
você é duro, José! Todos
Sozinho no escuro A
qual bicho-do-mato, A
sem teogonia, B
sem parede nua B
para se encostar, B
sem cavalo preto C
que fuja a galope, C
você marcha, José! Todos
José, para onde? Todos
Juca Mulato MENOTTI DEL PICCHIA
Anoiteceu. Todos
Juca Mulato cisma. Todos
Cansado ele? E por quê? Não fôra essa jornada A
a mesma luta, palmo a palmo, com a enxada A
a suster no café as invasões da aninga? A
E, como de costume, um cálice de B pinga,
um cigarro de palha, uma jantinha à toa, B
um olhar dirigido à filha da patroa? BJuca Mulato pensa: a vida era-lhe um nada... C
Uns alqueires de chão, o cabo de uma enxada, C
um cavalo pigarço, uma pinga da boa, C
o cafezal verdoengo, o sol quente e inclemente... C
Nessa noite, porém, parece-lhe mais quente D
o olhar indiferente D
da filha da patroa... D
Tudo ama! E
As estrelas no azul, os insetos na lama,E
a luz, a treva, o céu, a terra, tudo,E
num tumultuoso amor, num amor quie-to e mudo, E
tudo ama! Há amor na alucinada F
fascinação do abismo,F
amor paradoxal, humano e forte,F
que se traduz nas febres do sadismo,Todos
nessa atração perpétua para o Nada, Todos
nessa corrida doida para a Morte. Todos
Juca Mulato sofre. Em cismas se
aquebranta. Todos
Uma viola geme, uma voz triste canta: Todos
"Antes de amar eu dizia: G
para cortar na raiz G
esta constante agonia G
preciso amar algum dia,
amando serei feliz". "Amei... desventura minha! G
Quis curar-me e piorei.G
O amor só mágoas continhaG
e aos tormentos que já tinha,G
novos tormentos juntei". G
Juca Mulato apeia. H
É macabro o pardieiro.H
Junto à porta cochila o negro feiticeiro.H
Dize, Juca Mulato, o mal que te tortura. H
- Roque, eu mesmo não sei de este mal tem cura...G
Dize Juca Mulato, de quem é esse olhar?H- Da filh a da pa troa. Juca Mulato! GEsquece o olhar inatingível!H
E Mulato parou.A
Do alto daquela serra,A
cismando, o seu olhar era vago e tristonho:A
"Se minha alma surgiu para a glória do sonho,G
o meu braço nasceu para a faina da terr a."G
Reviu o cafezal, as plantas alinhadas, B
todo o heróico labor que se agita na empreita, B
palpitou na esperança imensa das floradas, B
pressentiu a fartura enorme da colheita...B
Consolou-se depois:B "O Senhor jamais erra..C.
Vai! Esquece a emoção que na alma tumultua.C
Juca Mulato volta outra vez para a terra, D
procura o teu amor numa alma irmã da tua. D
Esquece calmo e forte. O destino que impera Todos
um recíproco amor às almas todas deu. Todos
Em vez de desejar o olhar que te exaspera.Todos
procura esse outro olhar que te espreita e te pelo teu..." todos
Textos disponíveis em:
www.memoriaviva.com.br/drummond/poema022.htm
www.culturabrasil.pro.br/bandeira.htm
www.releituras.com/joaocabral_morte.asp
http://leaoramos.blogspot.com/2008/01/em-juca-mulato-menotti-del-picchia.html
Importante: O professor deverá levar os alunos à sala de informática para pesquisarem a biografia e obras de Manuel Bandeira, Menotti Del Picchia, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade com o objetivo de enriquecerem a aula com informações disponíveis nos sites relacionados acima.
Cada grupo deverá coletar informações sobre esses poetas. Como de "Morte e vida severina" e "Juca Mulato" temos apenas um fragmento, os alunos lerão o texto integral ou o resumo do texto, para apresentá-los à classe antes da apresentação do jogral. O grupo que apresenta "Juca Mulato" pode comparar Salomé personagem do vídeo à amada do Mulato. Cada texto foi dividido para grupos de 8 alunos. Esse número poderá ser alterado caso a turma seja maior ou menor.
AULAS 2, 3
ATIVIDADE
O professor deverá disponibilizar para os alunos duas aulas para que eles se preparem. Nessas aulas, eles poderão ensaiar, pedir orientação da professora para jogralizar os textos: altura de voz, espaço físico a ser utilizado, entonação, etc.
AULAS 3, 4, 5
ATIVIDADE
Os alunos deverão, depois da apresentação em sala, saírem parando as pessoas nos corredores, pátio e cantina da escola e se declamarem levando conhecimento para outros alunos e despertando o prazer de recitar e ouvir poesias.
Importante: Professor, a linguagem oral é um objeto de ensino importante na escola. A prática do jogral é uma opção muito interessante na tarefa de desenvolver a oralidade.
O professor deverá levar em consideração o desenrolar de todo o processo da atividade, os momentos coletivos, a valorização das obras lidas e jogralizadas, as competências individuais, tais como: pronúncia, o desenvolvimento do vocabulário e a socialização do indivíduo.
Quatro estrelas 6 classificações
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20/05/2013
Cinco estrelasMuito boa, dinâmica. Parabéns!
03/02/2012
Cinco estrelasE um das maneira mais dinanca que há no momento em dá aulos com esse tipo de metodologia
24/03/2010
Cinco estrelasA proposta da professora é excelente, porque o encentivo da leitura através da poesia moderna da forma colocada torna-se atrativa para os alunos. minha nota para aula é 90.
24/03/2010
Quatro estrelasAchei ótima, bem dinâmica além de envolver outras pessoas no processo da leitura, vejo a leitura a partir de processo iguais a este.
24/03/2010
Cinco estrelasEsta é uma atividade muito importante porque a poesia é sensibilizadora. Os espaços escolares em geral, estão muito carentes de sensibilidade. Inclusive, recital e jogral tornou-se algo tão raro que os alunos acham estrando. Portanto, este resgate será exponencial.
24/03/2010
Cinco estrelasAmei a forma da proposta de reencontrar e colocar em prática os poemas em estudo. Ótima a oportunidade de disseminar cultura aos alunos. Eunice