08/02/2010
Maria Cristina Weitzel Tavela
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | Língua Portuguesa | Linguagem escrita: leitura e produção de textos |
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo | Língua Portuguesa | Leitura e escrita de texto |
Ensino Fundamental Final | Língua Portuguesa | Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos |
Ensino Médio | Língua Portuguesa | Produção, leitura, análise e reflexão sobre linguagens |
a) Refletir sobre a violência na camada social média
b) Refletir sobre as diferenças formais e linguísticas entre o gênero poesia e o gênero notícia
Etapa 1:
PROFESSOR: Antes de iniciar a leitura do poema abaixo, converse com seus alunos sobre como era feita a compra do leite antigamente: as pessoas não compravam em supermercados como se faz atualmente. Os leiteiros entregavam de madrugada os leites nas casas.
Etapa 2:
PROFESSOR: Leve o poema “Morte do Leiteiro”, de Carlos Drummond de Andrade, fotocopiado para os alunos. Em primeiro lugar, peça que eles façam uma leitura silenciosa a fim de que tenham um primeiro contato com o texto. Por se tratar de um texto poético, subjetivo, essa primeira leitura, sem a intervenção do professor, é fundamental para a construção de sentido do texto. Depois, proponha uma leitura em voz alta, de modo que o maior número possível de alunos participe. Cada aluno pode, por exemplo, ler um verso ou uma frase.
Outra sugestão é levar, se possível, o poema em áudio para os alunos. Esse áudio encontra-se disponível através do link:
http://blog.uncovering.org/archives/2007/07/drummond_morte.html
Morte do Leiteiro
Autor: Carlos Drummond de Andrade
A Cyro Novaes
Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.
Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morador na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.
E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.
Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.
Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.
Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.
Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se to cam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.
FONTE: ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 56 ed. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 178-181.
PROFESSOR: É interessante explorar com os alunos as cores que este poema tem: a bela imagem da morte do leiteiro, na qual o leite (branco) mistura-se com o sangue (vermelho) criando uma nova tonalidade (aurora).
Etapa 2:
Após a leitura do texto, proponha para os alunos as seguintes questões de interpretação do poema que devem ser respondidas por escrito no caderno.
1) Releia os seguintes versos:
"Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro."
Qual seria o sentido mais apropriado para o vocábulo “legenda”?
a) lenda
b) lei
c) norma
d) ditado popular
2) Esta legenda, proclamada na poesia de Drummond, tem correspondência com o nosso dia-a-dia? Por quê?
3) Você conhece outros ditados que se relacionam com este imaginário violento? Quais?
4) O nome do leiteiro não é mencionado:
a) para dar a idéia de que se trata apenas de mais uma morte entre tantas outras comuns às grandes cidades.
b) para dar um ar de mistério ao texto
c) para não expor o nome da vítima
d) por se tratar de um trabalhador de pouca importância social
5) O texto explora a temática do medo da violência das cidades. A expressão "luta brava da cidade" refere-se:
a) à criminalidade, que cresce rapidamente
b) ao desentendimento dos moradores, que se distanciam um dos outros a medida que a cidade cresce
c) a difícil sobrevivência nas cidades, devido a competitividade nos empregos, ao estresse no trânsito, entre outros problemas
d) a luta entre as classes sociais
6) Embora o leiteiro procurasse entregar o leite de modo a não fazer barulho, de vez em quando topava com vários obstáculos, interrompendo o silêncio. Quais são esses obstáculos?
7) O que justificou a atitude impensada do morador que atirou no leiteiro?
8) Releia esta passagem do texto:
"Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha."
O que ela expressa?
a) Indignação
b) Compaixão
c) Indiferença
d) Displicência
9) Muitos profissionais desempenham seu trabalho e, na maioria das vezes, no entanto, nem sequer são percebidos. Esse é o caso do leiteiro em questão. Cite outros profissionais que são imprescindíveis a nossa rotina, mas que não sabemos, ao menos, o nome deles.
Etapa 3:
Agora, leve a notícia abaixo fotocopiada para os alunos. Em primeiro lugar, peça que eles façam uma leitura silenciosa a fim de que tenham um primeiro contato com o texto. Depois, proponha uma leitura em voz alta, de modo que o maior número possível de alunos participe. Cada aluno pode, por exemplo, ler um parágrafo. O texto pode ser encontrado através do link:
Arma de fogo e raiva transformam empresário em assassino
Adão Barbosa ainda não sabia, mas a decisão de comprar uma arma por R$ 500,00 em 2005 mudaria a vida dele e tiraria a de outra pessoa, três anos depois.
Sem porte de arma, o empresário da construção civil explica que comprou o revólver como forma de defesa, jamais imaginou que tivesse que usá-lo, mas matou ontem o pedreiro Francisco dos Santos da Silva, no bairro Canguru.
Barbosa conta que deixou-se levar pelo nervosismo durante um protesto na Rua Katinguá. Os moradores haviam fechado a via em manifestação contra a violência no trânsito. "Fiquei com medo, cercaram o carro, quebraram os vidros de uma caminhonete. Disse que iria atirar para o chão, nem vi onde acertei", recorda emocionado.
O comerciante explicou que até a tarde de ontem desconhecia os motivos do protesto. Também não conhecia Francisco dos Santos Silva, de 37 anos, o pedreiro que ele matou.
Pai de três filhos, Barbosa deseja o impossível: "voltar no tempo", e conforma-se apenas em imaginar como seria o encontro com a família do pedreiro morto. "Eu pediria desculpas, muita, muita, muita".
Manifestação - As pessoas que participaram do protesto na noite de terça reivin dicavam uma lombada eletrônica como forma de reduzir a velocidade dos carros na via, depois que três acidentes assustaram os moradores.
Apesar da tentativa de conter a violência no trânsito, e pela paz, acabaram presenciando um assassinato.
Hoje, mais um acidente mostrou que os morador es têm motivo para prot estar. Ou tra co lisão deixou uma mulher ferida.
Ana Macedo, 39 anos, foi socorrida pelo Samu (Serviço Móvel de Atendimento de Urgência), mas o motociclista que a atropelou fugiu.
Fonte: Campo Grande News
ETAPA 4:
Após a leitura do texto, responder, por escrito, os seguintes exercícios:
1) Esse texto guarda semelhanças e diferenças com o texto anterior. Indique pelo menos três delas.
2) Qual poderia ser o objetivo deste texto?
a) distrair
b) informar
c) opinar
d) persuadir
3) Tanto no texto 1 quanto no 2 os trabalhadores mortos são considerados como:
a) vítimas indefesas
b) bandoleiros
c) perturbadores da ordem social
d) bandidos
4) Um protesto contra violência no trânsito acabou gerando um caso de morte. Isto aconteceu por quê?
a) confundindo o protesto com uma possível agressão contra si, o empresário, armado, levado pelo medo não titubeou
b) acostumado à violência e defrontando-se com uma, o empresário, já prevenido, defende-se ante o ataque
c) já prevenido, o empresário, a fim de manter a ordem social, dispara contra um dos perturbadores.
d) para evitar um mal maior, comum em protestos de rua, o empresário, já preparado, projeta tiros contra um dos manifestantes.
5) No texto 2, encontramos outras formas de retomar o temo "Adão Barbosa". Quais são elas?
6) Na sua opinião, em relação ao porte de arma de fogo para pessoas civis, o governo deveria: proibir, restringir ou liberar? Por quê?
ETAPA 5:
Agora é um ótimo momento para sistematizar as diferenças entre a linguagem poética e a linguagem jornalística. Os alunos devem ser capazes de perceber que a poesia, como forma de expressão artística, é dotada de uma liberdade que os textos jornalísticos não têm. Para isso, precisam refletir sobre as diferenças existentes entre os dois textos:
1) Os textos são diferentes quanto ao gênero, uma vez que o texto 1 é uma poesia e está escrito em versos. Já o texto 2 é uma notícia e está escrito em prosa.
2) No texto 1, os personagens não identificadas por nomes, pois não há essa obrigatoriedade. Não sabemos o nome do leiteiro nem de seu algoz.
3) O texto 1 foi escrito com uma linguagem poética, bela. Já o texto 2, foi escrito com uma linguagem objetiva, sem fins estéticos.
Propor aos alunos que desenvolvam um pequeno texto narrativo que conte a história de um inocente, morto devido ao medo generalizado da violência. Para isso, os alunos devem imaginar:
1) quem será a vítima
2) quem será seu assassino
3) em que situação eles se encontrarão
4) como será o crime
Depois, faça uma "roda de leitura": com os alunos sentados em círculo, eles devem ler suas produções para os colegas e se divertir ouvindo as histórias deles.
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