29/10/2009
BELO HORIZONTE - MG ESCOLA DE EDUCACAO BASICA E PROFISSIONAL DA UFMG - CENTRO PEDAGOGICO
Prof. Luiz Prazeres
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Ensino Médio | Língua Portuguesa | Produção, leitura, análise e reflexão sobre linguagens |
Ensino Médio | Língua Portuguesa | Gêneros discursivos e textuais: narrativo, argumentativo, descritivo, injuntivo, dialogal |
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | Língua Portuguesa | Linguagem escrita: leitura e produção de textos |
Nesta sequência didática, o aluno poderá adquirir a noção de que um texto coeso e coerente apresenta, geralmente, uma progressão temática; saber reconhecer a função de cada parágrafo de um texto canônico, na ordem: introdução, desenvolvimento e conclusão; saber diferenciar tema de assunto; escolher títulos concisos e adequados para os textos que produzir; e poder elaborar esquemas de leitura e de escrita.
Tipologia textual: dissertação, narração, descrição, etc;
Familiaridade com os gêneros textuais recorrentes em revistas e jornais, como artigo de opinião, crônica dissertativa, reportagem.
Estratégia 1
O professor deverá levar para a sala de aula textos de jornais, revistas, dando preferência ao tipo dissertativo, como artigos de opinião, editoriais, reportagens.
Poderá pedir uma leitura individual e/ou coletiva de cada um deles e, em seguida, analisá-los junto com os alunos. Para essa análise, deve ser levado em conta:
1. o caráter informativo dos textos;
2. os temas abordados por eles;
3. o modo como os autores desenvolvem esses temas;
4. a relação entre os parágrafos e a progressão temática.
Tendo isso em mente, o professor fará um esquema resumo do(s) texto(s) lido(s). Para isso, deverá identificar cada parágrafo e fazer uma pequena síntese de cada um deles, a partir das informações explícitas, com o uso de frases curtas, palavras e expressões-chave. Em seguida, o professor deverá discutir com os alunos a função dos parágrafos como partes constitutivas dos textos. Seguem algumas diretrizes:
Primeiro parágrafo: tem a função de introduzir um tema; aborda-o de forma genérica e ampla.
Segundo parágrafo (e demais): tem a função de desenvolver as ideias abordadas no primeiro parágrafo; apresenta argumentos: fatos, exemplos, opiniões, definições, dados estatísticos, testemunhos, pesquisas, relações de causa-consequência, etc.
Último parágrafo: tem a função de concluir o texto; sintetiza as ideias abordadas ao longo dos outros parágrafos; trata o tema de maneira geral e universal, tal como feito na introdução, só que, agora, com uma perspectiva direcionada pelo autor.
Observação:
É importante que o professor conduza a aula de modo que o aluno consiga distinguir, a diferença entre assunto e tema, lembrando que “Assunto” refere-se a conhecimentos amplos sobre uma área do saber. “Tema” refere-se a um conteúdo específico sobre uma área do saber.
Exemplo de assunto: violência
Exemplo de temas dentro desse assunto: violência nos estádios de futebol; violência doméstica; estratégias para combater a violência na nas ruas, etc.
Vale uma comparação:
O tema é uma das prateleiras da estante assunto.
A seguir, mostramos um exemplo de análise de texto de jornal. O professor pode utilizá-lo, nessa primeira etapa da aula, de acordo com os procedimentos que descrevemos acima, e acrescentar análises de outros textos também. O ideal é levar uma cópia do texto para cada aluno, ou, se houver recurso, projetá-lo ampliado para toda a turma.
TEXTO
Uma Coisa de Cada Vez
Suzana Herculano Houzel
Crianças parecem ganhar de 10 a 0 dos adultos em termos de velocidade para aprender coisas novas. Diga-lhes uma palavra nova uma única vez e ela entra permanentemente para o vocabulário infantil. Ensine às crianças uma língua estrangeira e elas a falarão sem sotaque. Coloque-as ao piano e elas aprenderão, com mais facilidade do que qualquer a adulto, a dedilhar uma melodia. Ou não?
Para alguns estudiosos do aprendizado motor, é um engano considerar a capacidade infantil de aprendizado universalmente superior à dos adultos. Em vez de ter um cérebro indiscriminadamente mais “lento” para o aprendizado, a desvantagem dos adultos pode estar em um efeito bem específico: interferência de tarefas.
Se tentarem aprender uma, e apenas uma, tarefa motora, como um dedilhado ao piano, adultos e crianças mostrarão a mesma velocidade de melhora – e os adultos, em geral, terão melhor desempenho. Se, no entanto, tentarem aprender cinco dedilhados diferentes ao mesmo tempo, ou apenas dois, as crianças aprenderão igualmente bem – mas os adultos terão dificuldade para se lembrar até do primeiro dedilhado. Isso é a interferência entre tarefas: a tentativa de um segundo aprendizado simultâneo perturba o primeiro, e o adulto acaba não aprendendo nenhum dos dedilhados, não porque seja intrinsecamente mais lento, e sim porque seu aprendizado é sujeito a interferências.
Faz sentido que o aprendizado das crianças seja imune a interferências entre tarefas. O mundo traz muito mais novidades para o cérebro de uma criança do que para o de um adulto, e essas são registradas por um cérebro infantil abundante em matéria-prima como um caderno de muitas páginas, capaz, portanto, de fazer anotações em várias frentes ao mesmo tempo. Finda a adolescência, a matéria-prima ainda está lá, mas o caderno de entrada, agora com uma página, somente anota uma novidade de cada vez.
Isso não quer dizer que o adulto não consegue mais aprender nem que tem mais dificuldade do que as crianças. Pode precisar ir aos poucos, mas o cérebro adulto também chega lá. Não aprendemos mais cinco músicas novas ao mesmo tempo, mas deem-nos algumas horas para estudarmos uma só e o resultado pode ser um concerto que nenhuma criança tocará. Temos algo valioso em nosso cérebro que as crianças estão apenas adquirindo: a bagagem de vários anos de vida. E continuamos acumulando mais, talvez até tão bem quanto as crianças – desde que seja uma coisa de cada vez.
Suzana Herculano Houzel, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de “Sexo, Drogas e Rock’n Roll & Chocolate, e de “o Cérebro Nosso de Cada Dia” (ed. Vieira e Lent)
(FONTE: http://www.suzanaherculanohouzel.com/na-mdia/, acessado em 07/08/2007. Texto publicado na Folha de S. Paulo.)
Após a leitura do texto, o professor apresentará aos alunos o esquema a seguir, tendo em vista a síntese de cada parágrafo.
Título: Uma Coisa de Cada Vez
Assunto: Processo de aprendizagem
Tema: diferenças entre adultos e crianças quanto ao processo de aprendizagem.
A partir desse esquema, o professor deve mostrar ao aluno a progr essão temáti ca do texto em análise, de forma coesa. Deve salientar que o texto aborda o tema de maneira progressiva, aprofundando-o gradualmente.
Inicialmente, a autora apresenta um pensamento do senso comum (sentido genérico). Posteriormente, apresenta um conceito – interferência entre tarefas – e o desenvolve com mais detalhes (sentido específico).
No último parágrafo, a autora conclui o texto dizendo, de forma sintética, que os adultos podem aprender tão bem quanto as crianças, desde que seja uma coisa de cada vez.
Note-se que há, aí, menores detalhamentos em relação aos parágrafos de desenvolvimento, uma vez que o último parágrafo também tende a ser mais genérico, assim como o a introdução. Nesse texto, a autora trata de um conhecimento compartilhado, o de que adultos têm bagagem de vida. Por fim, retoma a comparação anunciada no início do texto.
Estratégia 2
Após essa prática inicial de análise de textos da mídia, o professor deve propor o processo inverso: orientar os alunos quanto à criação de esquemas para que eles possam escrever seus próprios textos.
Sobre a escolha dos temas, é necessário frisar que melhor será a escrita de um texto cujo tema seja familiar e agradável a quem escreve. Portanto, antes de se pedir uma redação ao aluno, é recomendável verificar a escolha de um tema adequado, muitas vezes decorrente de uma pesquisa ou de uma leitura prévia de outros textos relacionados.
A seguir, apresentamos dois exemplos de esquemas.
Escolhido um tema, cada parágrafo abordará um aspecto desse mesmo tema. Usando a linguagem da arquitetura, podemos dizer que se trata de uma “planta” do texto: um planejamento do que se quer expor, das ideias mais importantes. A partir dos esquemas a seguir, o professor escreverá um texto coletivo, junto com os alunos. Pode utilizar a lousa (quadro negro) mesmo.
ESQUEMA DE TEXTO (EXEMPLO 1)
Tema - Adolescência: fase de transição
ESQUEMA DE TEXTO (EXEMPLO 2)
Tema - A relação entre homens e animais
Sugerimos que o professor trabalhe, com seus alunos, algumas propostas de redação de vestibulares mais conhecidos.
Segue o site da FUVEST, onde há propostas de vários anos. O site disponibiliza as melhores redações dos candidatos, julgadas pela banca. O professor pode mostrá-las aos alunos, como forma de incentivo.
http://www.fuvest.br/vest2009/provas/provas.stm , acesso em 08/09/09.
Após esse trabalho orientado pelo professor, o aluno deverá ser capaz de fazer, por si só, esquemas de leitura e escrita. Como prática de leitura, o esquema feito pelo aluno demonstra o grau de compreensão que ele tem dos textos lidos, a partir das ideias selecionadas. Isso pode favorecer a compreensão global de cada texto e até mesmo a elaboração de resumos. Como prática da escrita, o aluno sentirá mais segurança para escrever e certamente escreverá com mais facilidade e fluência.
Como avaliação, portanto, o professor deverá estabelecer os seguintes passos:
1º) Oferecer ao aluno um texto dissertativo (um artigo de opinião, uma reportagem, um editorial, etc) e pedir que ele faça um esquema de leitura, tal como apresentamos para o texto Uma Coisa de Cada Vez, na seção anterior. Nesse esquema, devem ser destacadas as ideias principais de cada um dos parágrafos.
2º) Pedir ao aluno que faça um esquema de redação, com um tema já em mente, e, em seguida, desenvolver a escrita a partir desse esquema. Na seção anterior, apresentamos dois exemplos: “Adolescência: fase transição” e “A Relação entre os homens e os animais”.
A atividade pode ser realizada individualmente ou em duplas, a critério do professor. Fica também a critério do professor atribuir nota à atividade ou não. É importante que essa estratégia der avaliação seja sempre utilizada, a fim de que os alunos possam amadurecer sua escrita gradualmente.
Observações:
Vale observar que há textos que podem não apresentar uma progressão linear, ou seja, podem apresentar outras estratégias de desenvolvimento de seu conteúdo. Porém, o texto que desenvolve um tema progressivamente tende a gerar uma leitura mais fluida e a ser mais claro. É importante que o aluno tenha essa noção.
Quatro estrelas 6 classificações
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24/08/2011
Cinco estrelasmuito grato, ajudou bastante...
06/10/2010
Quatro estrelasGostei muito. Obrigada por ter atendido minha solicitação.
30/08/2010
Cinco estrelasParabéns por apresentar estratégias significativas para o professor enriquecer suas aulas, gostaria de receber mais sugestões de prática de análise de textos dissertativos.
02/08/2010
Quatro estrelasParabéns, gostei da atividade e da forma e a metodologia.Com certeza irá contribuir muito com minha prática. Estou precisando de mais sugestões com progressão textual.Logo, logo enviarei algo para partilharmos mais. Abraços> Elzilene de Sales.
23/04/2010
Quatro estrelasEsta sugestão de aula é enriquecedora, favorece o aprendizado do aluno e facilita o trabalho do professor, de certa forma.
24/03/2010
Quatro estrelasSUA SUGESTÃO É ÓTIMA, PARABÉNS