Portal do Governo Brasileiro
Início do Conteúdo
VISUALIZAR AULA
 


Fruição poética: a leitura de poemas

 

23/11/2009

Autor e Coautor(es)
Joseli Rezende Thomaz
imagem do usuário

JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Tavela Weitzel

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

O objetivo desta aula é sensibilizar os alunos para os valores estéticos e literários, promovendo a leitura e a interpretação de poemas selecionados em obras de autores nacionais.

Duração das atividades
4 horas/aula
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Aulas elaboradas para alunos do 6° ano do ensino fundamental que deverão ter noções sobre poemas.

Estratégias e recursos da aula

1ª aula

Professor(a), inicialmente faça uma sondagem na turma, verificando as experiências dos alunos em relação ao texto poético. Conte alguma experiência sua, alguma lembrança da escola. Declame algum poema que precisou decorar e nunca mais esqueceu.
Pergunte se alguém sabe algum poema de cor.
Para aguçar a curiosidade, coloque no quadro a locução "de cor", e conte que saber de cor significa saber pelo coração (cor é coração, em latim).
Promova um trabalho de pura fruição (deleite), por meio de uma boa leitura dos poemas selecionados mais adiante, mobilizando os sentidos e o prazer proporcionado pela poesia. Leia, antes, as considerações abaixo.


Para tocar os alunos emocionalmente é preciso que o professor reflita sobre as múltiplas possibilidades de análise de um poema, considerando as necessidades e as possibilidades dos alunos.
No artigo “O poema, um texto marginalizado”, Gebara (2002) apresenta as formas como o livro didático trata a questão da leitura de poemas e propõe uma alternativa para a leitura e a análise do poema em sala de aula. A maior crítica não está nas formas de leitura (silenciosa, leitura feita pelo professor, leitura feita por alunos, dramatizada, jogral, etc) mas na abordagem utilitária e mecanicista, que não penetra no texto.
Com sua proposta, Gebara desloca o objetivo da simples aplicação de conteúdos programáticos (que se verifica muitas vezes no livro didático) para a reflexão sobre esses objetivos e as estratégias que permitirão alcançá-los.
Assim, segundo a autora, o trabalho com o poema comportaria quatro momentos:
1º momento: leitura de fruição-prazer, na qual todas as impressões, a emoção estética, afloram, sensibilizando o leitor para a próxima etapa.
2º momento: localização e organização de indícios importantes para a análise. Também aqui se faria um trabalho sobre o autor, a obra, etc.
3º momento: análise, ou seja, decomposição do poema nos níveis visual (decomposição do poema no espaço); fônico (organização dos sons); léxico (termos usados, nível da linguagem, etc); morfossintático (das classes de palavras e de suas combinações); semântico (dos efeitos de sentido).
4º momento: síntese, no qual todos os constituintes do poema permitem uma interpretação crítica, não baseada apenas na impressão inicial.

O texto, na íntegra, você encontra em: GEBARA, Ana E.L. O poema, um texto marginalizado. In: BRANDÃO, H. & MICHELETTI, G. Aprender e ensinar com textos didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez, 2002.

Assim, nesse primeiro momento da aula, os alunos deverão apenas ouvir sua leitura, que deverá ser interativa, ou seja, durante a leitura você também deverá dirigir o olhar aos aluno s, buscando envolvê-los na atividade. Por isso, é necessá rio preparar bem a a ula, lendo os poemas inúmeras vezes, até (quase) deco rá-los. É possível que alguns deles já sej am conhecidos pelos al unos, especialmente os poemas de Cecília Meireles. Nesse cas o, tire vantagem da si tuação, buscando a p articipação da turma .

Dia de festa    

            Sidônio Muralha

E tudo que lá
havia,
e tudo o que havia
lá,
que se chamasse alegria
que se chamasse poesia
só sabia
o sabiá.
Ouçam como ele assobia
assobia
o sabiá.

O pinguim       

     Vinícius de Moraes

Bom dia, Pinguim
Onde vai assim
Com ar apressado?
Eu não sou malvado
Não fique assustado
Com medo de mim.
Eu só gostaria
De dar um tapinha
No seu chapéu jaca
Ou bem de levinho
Puxar o rabinho
Da sua casaca.

Roda na rua        

           Cecília Meireles

Roda na rua
a roda do carro.

Roda na rua
a roda das danças.

A roda na rua
rodava no barro.

Na roda da rua
rodavam crianças.

O carro, na rua.

Moda da menina trombuda
                    Cecília Meireles
É a moda
da menina muda
da menina trombuda
que muda de modos
e dá medo.

(A menina mimada!)

É a moda
da menina muda
que muda
de modos
e já não é trombuda.

(A menina amada!)

A seguir, exponha os quatro poemas de forma que todos possam lê-los. Você poderá usar recursos tecnológicos, como computador, data show, ou recorrer a outro recurso, como o quadro de giz, cartazes.
Leia os poemas com a turma.
Selecione 4 grupos para fazer cada um a leitura de um poema.
Se alguém já tiver conseguido decorar um deles, abra espaço para que declame para a turma.

Continuando, converse com os alunos e pergunte:
a) Com qual dos poemas mais se identificam e por quê. Se faz lembrar alguma história ou alguma pessoa.
b) Se conhecem os poetas. Fale um pouco sobre eles e proponha a atividade abaixo, para casa, para ser entregue em papel avulso.

2ª aula

Continue abordando os poemas, conforme abaixo.

1) Análise do poema Dia de Festa

- Pergunte se o poema apresenta rimas e quais são elas. Peça para identificarem as rimas, citando os versos onde elas estão.

Entende-se por rima a “homofonia ou conformidade de sons entre dois ou mais versos”. A rima ocorre geralmente em final de verso. Por exemplo, há rima nos versos “que se chamasse alegria / que se chamasse poesia” porque as palavras poesia e alegria  terminam com o mesmo som. Se a rima for entendida como “correspondência de sons”, verificamos que ela também pode existir na prosa. 

(Mais informações no site E-Dicionário de Termos Literários  http://www2.fcsh.unl.pt/edtl )

- Pergunte se há repetições e quais são elas.

No caso desse poema, podemos destacar a repetição nos versos “que se chamasse alegria / que se chamasse poesia”, chamada anáfora. Essa expressão, usada na retórica, e também na literatura, designa a figura que consiste na repetição de um mesmo termo no início de várias frases, criando assim um efeito de reforço e de coerência.

(Mais inf ormações no site E-Dici onário de Ter mos Literários  http:/ /www2.fcsh.unl.pt/edtl< /strong> )

- Um outro recurso utilizado nesse poema é a inversão. Leia o texto abaixo, baseado em Monteiro (1996) e explique aos alunos em que consiste a inversão.

Em sintaxe, a sequência lógica direta consiste na ordem sujeito/verbo/complementos; modificadores depois do modificado; elementos essenciais antes dos acidentais...

O português, no entanto,  é  uma língua de ordem variada e livre; não tem tradição o uso sistemático da seqüência lógica. Em outras palavras, a inversão dos termos sintáticos é permitida em português. Toda vez que se rompe a ordem habitual e se desloca um elemento da sua posição costumeira, quebra-se a expectativa linguística e com isso se obtém realce, eventualmente extraordinário. É importante, no entanto, observar outros fatores que influenciam no “estilo” de cada língua, como por exemplo, a necessidade de clareza, a eufonia, o desejo de pôr em destaque este ou aquele signo, a eurritmia da prosa ou do verso.

A ordem das palavras diferencia na prosa e no verso. Na poesia, a liberdade é ampla, só esbarrando na barreira do inteligível. Resulta disso, o hipérbato e a anástrofe (uma variante do hipérbato).

                                                       (MONTEIRO, J. L. A Estilística. São Paulo: Ática,1996)

Se julgar necessário, dê alguns exemplos de inversão, como o que está abaixo.

Todos os dias, Mariana acorda bem cedo e vai à escola.

Mariana, todos os dias, acorda bem cedo e vai à escola.

Acorda Mariana bem cedo e todos os dias vai à escola.

Em seguida, solicite aos alunos que identifiquem algum caso de inversão no poema Dia de Festa.

- Leve-os a identificar o trocadilho entre sabia/ sabiá/ assobia. Antes, explique o que é trocadilho.

Trocadilho é uma figura de estilo que constitui um jogo verbal para tornar animado, ou para avivar um determinado momento da escrita. Alguns autores consideram que o trocadilho é uma forma de espírito pouco nobre, no entanto, outros discordam dessa opinião, utilizando essa forma de gracejar com as palavras, com o intuito de enfeitar um texto ou poema, animando passagens (...)

(Mais informações no site E-Dicionário de Termos Literários  http://www2.fcsh.unl.pt/edtl )

- Leve-os a concluir que os poetas usam vários recursos literários para causar impressões e sensações. E que as rimas, as repetições, as inversões e o trocadilho foram recursos usados por Sidônio Muralha em Dia de Festa para criar uma leve imagem, com grande musicalidade, dando a impressão de ouvirmos o pássaro cantar, fazendo belos contornos em seu voo.

- Finalize com a atividade abaixo, feita por escrito, em dupla, em sala. (Coloque o poema junto com a atividade).

1) No poema Dia de Festa, Sidônio Muralha usou alguns importantes recursos literários para expressar suas idéias, sensações. Preencha o quadro abaixo, com exemplos retirados do poema.

 

Rima

 

Repetição

 

 

Inversão

 

 

Trocadilho

 

 

 

2) Que impressão ele quis causar quando usou esses recursos?

3ª aula


Faça uma breve retomada da aula anterior. Em seguida, faça a análise dos demais poemas.


1) Análise do poema O pinguim

Volte à leitura do poema ou peça a alguém que o declame.
- Pergunte se o poema apresenta rimas e quais são elas. Peça para identificarem as rimas, citando os versos onde elas estão.
- Leve os alunos a perceber que Vinícius de Moraes usou versos curtos e rimas em im, inho, inha dando a idéia dos passos curtos e rápidos de um pinguim assustado com a proposta um tanto perversa de um menino levado.

2) Análise do poema Roda na rua

- Leve os alunos a perceber que Cecília Meireles utiliza a repetição do fonema r (ver abaixo sobre o recurso da aliteração) com um determinado propósito. Pergunte se eles conseguem perceber esse propósito.
(Professor: a aliteração é usada por ela, para produzir um som semelhante ao de uma engrenagem martelando, girando.)

 

Aliteração: “sequência de fonemas consonantais idênticos ou congêneres, dentro da mesma unidade métrica”. Serve para efeitos de harmonia imitativa ou onomatopeia. (Geir Campos)
(Mais informações no site E-Dicionário de Termos Literários http://www2.fcsh.unl.pt/edtl )

 

- Pergunte aos alunos quais tipos de rodas a poetisa compara e qual a intenção dela ao fazer essa comparação.

3) Análise do poema Moda da menina trombuda

- Verifique se os alunos já entenderam que a repetição de um fonema tem um propósito, uma finalidade, perguntando se no poema Moda da menina trombuda esse recurso foi utilizado novamente.
(Professor: nesse poema, Cecília Meireles explora o m, aproximando-o, ora de sons mais fechados (e, u), ora de som mais aberto (a), mudando o rumo do poema para mais duro ou mais macio.)

- Pergunte aos alunos se nesse poema há alguma comparação e qual seria.
(Professor: a comparação aqui é entre a menina trombuda, que dá medo (a mimada) e a menina que muda de modos (a amada). A crítica existe, mas antes de ser sisuda, exemplar, é leve, engraçada.)

(Professor: outras atividades orais ficarão a seu cargo, tendo em vista o conhecimento que tem dos seus próprios alunos e o grau de aceitabilidade dos textos levados para a sala de aula.)

- Proponha em seguida, a elaboração, por escrito, das atividades abaixo. (Não se esqueça de que os poemas devem acompanhar as atividades). Parte das questões poderá ser feita em casa.

Após a leitura dos poemas e as análises que fizemos em sala de aula, responda às perguntas abaixo:

1) No poema de Vinícius de Moraes há um diálogo. Quem são os participantes?

2) Ainda sobre o poema Pinguim, marque a resposta correta:

(   )  Apenas o menino se expressa falando; o pinguim nada responde, ele tem muita pressa e não sabemos por quê.

(    )  O menino e o pinguim conversam animadamente; ambos se divertem brincando no gelo.

(   )  O pinguim ouve o garoto, mas nada responde. Ele tem pressa, porque o garoto tem ideias estranhas.

 

3) Explique claramente por que o pinguim do poema de Vinícius de Moraes está tão apressado.

4) Podemos perceber o andar curto e apressado do pin guim< /p>

(  ) pelos verso s curtos e as r imas em im, inho, in ha

(  ) pelos versos curtos apenas

(  ) pelas rimas

5) Qual é a intenção de  Cecília Meireles ao repetir o som r, no poema Roda na rua?

6) Que comparação existe nesse poema?

7) Ainda sobre Roda na rua, que lembranças a poetisa quer provocar (evocar)  no nosso imaginário?

8) Moda da menina trombuda é um poema que nos faz pensar em dois momentos diferentes de uma menina. Quais são eles?

4ª aula

 

Faça a correção das atividades da aula anterior.

Sobre a pesquisa proposta na 1ª aula, selecione um elemento de cada grupo e peça que apresente o resultado.  

Faça circular as informações entre todos os alunos.

Para finalizar, promova um desafio com o poema abaixo:

 

Ritmo

        Mário Quintana

Na porta

A varredeira varre o cisco

varre o cisco

varre o cisco

Na pia

a menininha escova os dentes

escova os dentes

escova os dentes

No arroio

a lavadeira bate a roupa

bate a roupa

bate a roupa

até que enfim

                     se desenrola

                                      toda a corda

e o mundo gira imóvel como um pião!
Recursos Complementares

Avaliação

Com base na leitura do poema " Ritmo", responda:qual é o principal recurso literário usado pelo poeta para criar a sensação de mesmice?

(Professor: o poeta reproduz pelo som dos versos os movimentos repetitivos da varredeira, de alguém que escova os dentes, de alguém que bate a roupa. Na última estrofe ele tenta romper a mesmice diária, no entanto, isso não acontece, porque gente imóvel faz um mundo imóvel.)

Opinião de quem acessou

Cinco estrelas 1 classificações

  • Cinco estrelas 1/1 - 100%
  • Quatro estrelas 0/1 - 0%
  • Três estrelas 0/1 - 0%
  • Duas estrelas 0/1 - 0%
  • Uma estrela 0/1 - 0%

Denuncie opiniões ou materiais indevidos!

Opiniões

Sem classificação.
REPORTAR ERROS
Encontrou algum erro? Descreva-o aqui e contribua para que as informações do Portal estejam sempre corretas.
CONTATO
Deixe sua mensagem para o Portal. Dúvidas, críticas e sugestões são sempre bem-vindas.