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O tempo na narrativa

 

21/10/2009

Autor e Coautor(es)
LAZUITA GORETTI DE OLIVEIRA
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UBERLANDIA - MG ESC DE EDUCACAO BASICA

Eliana Dias

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo Língua Portuguesa Linguagem escrita: leitura e produção de textos
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula
  • reconhecer e usar, de forma produtiva e autônoma, estratégias de ordenação temporal no discurso narrativo;
  • reconhecer e usar, de forma produtiva e autônoma, mecanismos de coesão verbal no discurso narrativo;
  • estabelecer relações entre o tema abordado nos textos lidos e questões da realidade. 
Duração das atividades
4 aulas de 50 minutos cada
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
  • conhecer a estrutura básica da narrativa;
  • demonstrar habilidades básicas de leitura;
  • fazer distinção entre linguagem conotativa e denotativa.
  • conhecer as figuras de linguagem.
Estratégias e recursos da aula
  • uso da mídia som / vídeo;
  • utilização do laboratório de informática.

Aula 1

Atividade 

A temática a ser trabalhada nessa aula é coerência textual em textos narrativos. O professor deverá mostrar aos alunos que as narrativas, geralmente, constroem-se com verbos no pretérito, situando os acontecimentos narrados como anteriores ao momento da enunciação, isto é, ao momento da interação verbal em que o texto acontece. A coerência, nesse tipo de texto, pode ser obtida por meio de tempos verbais que apontam para momentos distintos do eixo temporal criado na narrativa, por exemplo, pelo contraste entre aspectos perfeito e imperfeito.

O professor deverá pedir aos alunos que façam a leitura silenciosa do texto abaixo. A seguir, a leitura oral deverá ser feita pelo professor.

Texto:

A Moça Tecelã (Marina Colassanti)


Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.

Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, durante algum tempo.

Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordeno u que fosse de pedra com arremates em prata. < /p>

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo que fazia. Tecer era tudo que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.


Marina Colasanti (1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

Disponível no site:

http://casadebabayaga.blogspot.com/2007/09/moa-tecel-marina-colassanti.html

Após a leitura do texto, o professor deverá propor aos alunos as questões seguintes que deverão ser feitas no caderno e depois comentadas pelo professor.

1. O conto é um texto curto que pertence ao grupo dos gêneros narrativos ficcionais e se caracteriza por apresentar apenas um conflito, poucas personagens, poucas ações e tempo e espaço reduzido.
a. O texto “A moça tecelã” e um conto ficcional? Explique por quê.
b. No conto assim como em outros textos narrativos, o narrador pode ser narrador- observador ou narrador-personagem. Que tipo de narrador o conto “ A moça tecelã” apresenta. Comprove sua resposta com elementos do texto.
b. Quais são as personagens envolvidas na história?
c. Levante hipóteses: Qual é o tempo de duração dos fatos relatados no conto?

2. Nos gêneros narrativos, a seqüência de fatos que matem entre si uma relação de causa e efeito constitui o enredo, cujo sentido e progressão são decorrentes do emprego do tempo verbais no pretérito.
a.. Observe esse trecho do texto: “Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.”
b. O pretérito imperfeito, nesse caso, indica uma ação passada não concluída, enfocando sua duração, ou indica uma ação que se repetia no passado? Justifique.

3. Retire do texto outras palavras e expressões que indicam que as ações da personagem principal, se repetiam no passado.

4. A progressão da narrativa se faz, principalmente, pelos verbos no pretérito perfeito. Transcreva ( ou aponte) um parágrafo do texto que comprove essa afirmação.

5. No texto, “A moça tecelã”, predomina a linguagem conotativa ou figurada.
a. Que figura de linguagem ocorre nos fragmentos abaixo:
“leve, a chuva vinha cumprimentá-la da janela.”; “... o vento e o frio brigavam com as folhas...”
b. Esse tipo de linguagem, figurada, seria adequado a um repórter anunciar o tempo meteorológico? Por quê?

6. Localize e transcreva do texto o trecho em que o narrador afirma que a moça foi ficando mais velha, empregando para isso linguagem figurada.

7. Em dois momentos distintos no texto, o narrador afirma: “Tecer era tudo que fazia.Tecer era tudo que queria fazer”. Qual era o espírito da moça tecelã em cada ocorrência?

8. O que se pode inferir sobre o marido da tecelã, nessa fala:
a) “Por que ter casa, se podemos ter um palácio?”
b) Que sentimento do marido levou a moça tecelã a livrar-se dele? Como ela fez isso?

9. A tecelã idealiza o marido perfeito e transforma-o numa figura concreta com sua habilidade mágica.
a. Transcreva do texto a passagem do texto em que o narrador descreve o companheiro da tecelã. B. b.Qual a finalidade dessa descrição na narrativa?

10. A tecelã ao tecer o seu destino, faz escolhas e as concretiza. Ao se decepcionar com suas escolhas ela as destece. O que atitude de destecer o marido revela da tecelã, em relação ao comportamento da mulher , principalmente no casamento?

 Aula 2

Atividade 

O professor deverá levar os alunos ao laboratório de informática, com o seguinte objetivo: pesquisar sobre a obra clássica, Odisséia, de Homero, especificamente sobre Penélope.
Assim como a moça tecelã de Marina Colasanti, também Penélope tem o seu destino traçado nas tramas de um bordado. Ela espera mais de vinte anos por seu marido Ulisses que partiu para a guerra. Para não atender ao pedido de pai para casar-se novamente, ela impõe uma condição: só se casaria quando terminasse de tecer uma colcha. Então, durante o dia ela tecia e durante a noite ela desmanchava.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pen%C3%A9lope

Aula 3
Atividade

Produção de texto

O professor deverá pedir aos alunos que leiam o texto “maneira de amar “ de Carlos Drummond de Andrade. A seguir apresentar a eles a(s) proposta(s) de produção de texto.

Disponível no site:
www.baixaki.com.br/.17071-os-girassois.htm

Texto:

Maneira de Amar
Carlos Drummond de Andrade

O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não faze ndo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho. Depois qu e o jardineiro saiu, as flores fica ram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. “Você o tratava mal, agora está arrependido.” “Não”, respondeu, “estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava.”

Disponível no site:
http://www.pensador.info/frase/MzE0Njc5/

Proposta 1:

No texto “A moça tecelã”, de Marina Colasanti, a jovem consegue tudo – ou quase tudo – com a mágica realizada por suas mãos. Com essa habilidade, ela idealiza o próprio companheiro e transforma-o numa figura concreta.

No texto “Maneira de amar” de Carlos Drummond de Andrade, verifica-se o contrário do comportamento da tecelã: o jardineiro aceita a maneira diferente de amar do girassol, isto é, o jardineiro não idealizava o outro, compreendia o girassol e o respeitava-o.

Produza um texto, respondendo às perguntas: as pessoas são obrigadas a ser do jeito que os outros gostariam que eles fossem? Isso é possível?

Proposta 2

Se você tivesse a habilidade e o poder da moça tecelã, o que você gostaria de tecer? O que você gostaria de destecer no mundo de hoje?

 
Produza um texto narrativo, assim como Marina Colassanti, crie uma personagem, uma moça tecelã ou um moço tecelão que numa habilidade  mágica, vai realizando seus  desejos na trama de um bordado.

Avaliação

A avaliação dar-se-á de forma processual, isto é, em todos os momentos em que os alunos estiverem participando das discussões propostas e, individualmente, por meio da realização das diferentes atividades escritas. Em relação à produção de texto, os alunos serão avaliados, considerando o atendimento à proposta, especificamente em relação ao emprego das formas verbais do pretérito na construção do texto narrativo.

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