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JORNAL

Professor X Leitura

Terça-feira, 18 de Maio de 2010

Edição 39

EDITORIAL - Professor X Leitura

Professor X Leitura é o tema da 39ª edição do Jornal do Professor, de acordo com a escolha de 50,79% de nossos leitores.

Aqui você vai conhecer experiências de incentivo à leitura desenvolvidas em escolas de Belo Horizonte (MG), Itapetininga (SP), e Porto Alegre (RS); vai saber sobre os programas da TV Escola que auxiliam o professor nas aulas de leitura ou de literatura; e ficar por dentro dos programas desenvolvidos pelo MEC para a distribuição de livros na escola.

Também saberá qual é a importância da leitura para os professores, porque é necessário que eles tenham acesso a livros e sejam leitores.

Ainda nesta edição, trazemos uma entrevista com a professora e pesquisadora da Universidade de Passo Fundo (RS), Tânia Rösing, criadora e coordenadora das Jornadas Literárias.

Ajude-nos a escolher o tema das próximas edições, votando na enquete colocada em nossa página. E aproveite para colaborar enviando sugestões, críticas, textos e músicas!

Seja bem-vindo!

Melhor escola do interior de São Paulo estimula a leitura

Alunos sentados no chão, lendo.

Uma escola de ensino fundamental de Itapetininga, município paulista localizado a 170 Km da capital, obteve excelentes resultados com as estratégias de incentivo à leitura que realiza desde 2002. Desde que passou a desenvolver os projetos permanentes Leitura em Família e Roda de Leitura, a Escola Estadual Professor Astor Vasques Lopes vem obtendo avanços significativos nos índices estaduais e nacionais de avaliação. No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, a escola alcançou em 2007, a nota 5,2, bem acima da média nacional das séries iniciais que foi de 4,2.

Já no Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), a escola com 380 alunos, em sua maior parte oriundos de famílias de baixa renda e instrução, conquistou em 2008 o primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (Idesp) – fase Diretoria Regional de Ensino. Em 2009, obteve a primeira colocação na fase estadual do Idesp, com a média 8,55 - a melhor entre 1.945 escolas estaduais.

“Esse resultado foi uma surpresa muito grande. Foi emocionante”, diz a diretora da escola, Arlete Milanezi Ansbach, há 12 anos nessa função. Formada em letras e em pedagogia, ela acredita que o estímulo à leitura realmente contribuiu muito para a obtenção dessa colocação, embora destaque também o empenho e o acompanhamento de toda a equipe do colégio. “Nossa equipe é maravilhosa e realmente vestiu a camisa”, salienta Arlete.

“O projeto Roda da Leitura começou quando percebemos a dificuldade dos alunos na elaboração de redações e relatos, no Saresp 2002”, diz a professora do 3º ano, Claudete de Araújo Cavalcante, há 22 anos no magistério. Ao fazer uma análise das características sociais e antropológicas das famílias dos alunos, a equipe escolar verificou que havia a necessidade de promover um maior envolvimento dos pais no cotidiano escolar. Para isso, além de promover reuniões que causassem impacto e reflexão, passaram a convidar os pais para participarem dos encontros do Roda da Leitura, uma vez por mês, junto com os filhos.

Na sequência, acabou sendo inserido o projeto Leitura em Família. Os estudantes passaram a levar livros para ler em casa, com o pai, a mãe ou outro familiar, juntamente com um caderno para o parente fazer um registro de suas impressões sobre a leitura. “O retorno é emocionante e muito gratificante”, conta Claudete. Segundo ela, os pais são participantes ativos nos dois projetos, tanto em casa quanto na escola, durante os encontros do Roda da Leitura.

“Foi um trabalho de muito incentivo, motivação e persistência da equipe escolar, que culminou numa grande adesão da família ao gosto e prazer pela leitura”, ressalta a professora Isabel Cristina de Moura, 25 anos de magistério, que dá aulas no 2º ano. Segundo ela, os dois projetos contribuem para a formação da cidadania, de maneira que se complementam e viabilizam resultados surpreendentes na aprendizagem dos alunos. Realizados o ano inteiro, têm um encerramento em cada final de semestre por meio de gincana ou sarau literário ou cultural. Além disso, a escola inteira se dedica à leitura, duas vezes por semana: às terças e quintas-feiras, das 10h30 às 11h30 e das 16h30 às 17h30. Às quartas-feiras, esse horário é voltado para a produção de textos e redações.

(Fátima Schenini)

Professora mineira busca reaproximar livros e alunos

Estudantes do Centro Pedagógico da UFMG

Favorecer e incentivar a leitura de diferentes formas é uma preocupação constante da professora Ana Graziela Cabral, em sua prática docente. Formada em letras, com habilitação em português e inglês, ela atua há quatro anos no magistério, sempre criando diferentes estratégias para estimular o gosto pela leitura entre os estudantes. Alguns de seus projetos foram colocados no Portal do Professor, para serem utilizados por todos os interessados.

“Procuro sempre trabalhar diferentes gêneros e tipos textuais, partindo do texto, do livro, mostrando-o como suporte para a criação de novas realidades, novos mundos”, explica Ana Graziela, que atualmente dá aulas de português no 4º ano do ensino fundamental do Centro Pedagógico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte.

Segundo ela, o projeto que deu melhores resultados foi O livro que marcou a minha vida, que desenvolveu em 2009 juntamente com a professora Cristiane Neri Horta, também do Centro Pedagógico da UFMG, em duas turmas de 3º ano. “A percepção de que em tempos atuais a prática da leitura tem sido preterida em relação a outras, especialmente as ligadas à tecnologia, mostrou-nos a necessidade de promover uma reaproximação entre livro e alunos”, salienta Ana Graziela.

O projeto, em dez aulas, tem como ponto de partida a participação e o exemplo familiar. Os estudantes deverão conversar com os pais ou outros parentes mais velhos sobre um livro que tenham lido e gostado muito quando tinham a mesma idade dos alunos. Em aula posterior, os jovens deverão escrever uma carta para os colegas de outra turma da escola falando sobre o livro que leram, dizendo que foi indicado pelos pais, ou outro familiar. Na mesma carta, eles irão convidar seus colegas para participarem de uma exposição de livros, onde conhecerão – O livro que marcou minha vida. Nesse dia, cada aluno terá que apresentar o seu livro ao colega que convidou, bem como a todos que se interessarem. Os familiares que fizeram a indicação também serão chamados a participar e poderão falar sobre o impacto que a obra teve para eles.

De acordo com Ana Graziela, os resultados obtidos foram muito positivos. Os alunos demonstraram interesse tanto no decorrer do desenvolvimento do projeto quando durante sua conclusão, na atividade de exposição. Em sua opinião, esses alunos, hoje, estão muito abertos a práticas relacionadas à leitura, demonstrando que o projeto gerou frutos que ultrapassam o momento da sua aplicação.

Outro projeto criado por Ana Graziela para estimular a leitura, disponível no Portal do Professor, é na verdade uma proposta de trabalho para desenvolver em um semestre ou em um ano letivo – Noite dos Talentos: valorizando a produção em sala de aula.

Acesse todas as aulas de Ana Graziela disponíveis no Portal do Professor.

(Fátima Schenini)

Incentivo ao prazer da leitura começa na alfabetização

Alunos sentados, lêm livros.

Apaixonada por alfabetização, a professora Beatriz Rocha Gonçalves acredita que o fato de incentivar o prazer da leitura entre os pequenos estudantes poderá transformá-los em futuros autores e leitores. Por essa razão, tem desenvolvido inúmeros projetos de estímulo à leitura com seus alunos de 1º ano, na Escola Estadual de Ensino Fundamental Almirante Álvaro Alberto Motta e Silva, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

“Sempre procuro ler para as crianças os mais variados textos. E, no final de cada ano, noto que elas têm apreciado ler”, destaca Beatriz, que é formada em pedagogia, com habilitação em educação infantil e pós-graduação em alfabetização. Há 14 anos trabalhando com crianças, há nove ela atua na Escola Motta e Silva, onde além de lecionar exerce ainda a função de vice-diretora. O colégio fica na Vila Barracão, uma comunidade pobre da Zona Sul da capital gaúcha e é frequentada por crianças de classes populares.

Um dos projetos criado por Beatriz é Despertando o Gosto pela Leitura, que pode ser lido no Portal do Professor. Desenvolvido em seis aulas, o projeto possibilita que as crianças se familiarizem com a linguagem e os elementos presentes nos livros de histórias, nos jornais e nos textos instrucionais, presentes em regras de jogos e receitas culinárias, por exemplo. Além disso, o projeto pretende ampliar o vocabulário dos alunos e fazer com que eles interpretem e recontem os textos lidos.

Outro projeto desenvolvido por Beatriz foi Cantigas de Roda, onde ela trabalhou de forma lúdica a leitura e a escrita. A proposta era resgatar cantigas antigas, com pais e avós. Já no projeto Histórias Infantis, além de conhecer as obras, os alunos receberam informações sobre as biografias de autores famosos. A professora diz que foi um trabalho bastante lúdico e os estudantes puderam apreciar as atividades propostas e os jogos (bingo, trilha, memória, entre outros) realizados a partir dos livros trabalhados no projeto. “Os contos de fadas são ótimos para os alunos fantasiarem, criarem e, consequentemente, despertarem o gosto pela leitura”, acredita Beatriz, que também utiliza poesias para alfabetizar as crianças.

“A cada ano, vejo como as crianças estão gostando de ler. Elas começam a retirar livros da biblioteca, espontaneamente, para ler em casa”, ressalta. Segundo a professora, a biblioteca da escola tem algumas obras bem interessantes, mas estão lutando para aumentar o acervo de livros.

Conheça outros projetos da professora Beatriz, no Portal do Professor.

(Fátima Schenini)

A importância de ser um professor leitor

Professora lê para alunos sentados no chão.

O professor entra na sala de aula, pergunta se os alunos leram o livro recomendado. Alguns dizem que sim, outros começam a inventar histórias enquanto os demais desconversam. Dia de prova. A professora permite consultar o livro, mas muitos alunos se saem mal porque não sabem nem em que página estaria a informação necessária para responder as questões. A cena não é agradável para um educador, mas é comum em muitas escolas brasileiras, sejam elas públicas ou particulares. Professores relatam suas experiências em blogs, páginas da internet e nas conversas no corredor do colégio e pedem auxílio a colegas e especialistas para driblar as dificuldades. Inventam artimanhas para prender a atenção dos alunos, mas esquecem que antes de ensinar a ler, é necessário tornarem-se leitores.

Na visão da pós-doutora em Linguística, Letras e Artes Marisa Lajolo, nem todo professor lê por prazer e existem ainda os que não têm acesso à leitura. “Tenho a impressão de que grande parte da formação inicial e continuada oferecida ao professor o encara mais como um ‘formador de leitores’ do que como uma pessoa que precisa ser formada como leitora”, avalia. Ela acredita que uma das melhores formas de trabalhar isso nos professores é buscar seu “histórico de leitura”. “O que leram , quando leram, do que gostaram, do que não gostaram, que experiências de leitura viveram quando eram crianças”, indica. Marisa afirma que aliar essa avaliação a discussões sólidas de questões de linguagem, de escrita e de leitura pode capacitá-los a trabalhar a leitura com seus alunos.

Doutora em Educação, Eleuza Rodrigues Maria Barboza acredita que a leitura e a escrita são a base para a aprendizagem das crianças e dos jovens. Para ela, todos os professores, independentemente da disciplina que lecionam, deveriam trabalhar com as habilidades da leitura e da escrita. “As dificuldades encontradas pelos professores vêm de uma formação que não priorizou o seu próprio desenvolvimento enquanto leitores e escritores proficientes. Saem das universidades e se deparam com uma diversidade imensa de alunos nas suas salas de aula e têm que aprender fazendo e, muitas vezes, sozinhos”, destaca.

Eleuza que agora atua como secretária de Educação de Juiz de Fora (MG), diz que toda atividade de incentivo à leitura é importante, tanto para alunos quanto para professores. Ela diz que Em Juiz de Fora, algumas escolas começaram a promover a leitura coletiva. Nela, todos os professores e alunos de uma escola trabalham com um livro de literatura previamente escolhido. “Dessa leitura derivam várias atividades que vão desde manifestações de expressão artística, representações teatrais, até atividades de outras áreas como história, geografia, matemática baseadas no livro que todos leram”, conta. Segundo ela, todos aprendem e todos acabam se desenvolvendo nas habilidades da leitura e da escrita.

Em seu trabalho no Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caesd) da Universidade Federal de Juiz de Fora, Eleuza observou que estudos de alguns estados mostraram que 30% dos alunos da 4ª série do ensino fundamental tinham desempenho muito baixo na leitura. Para reverter esse quadro, além de melhorar a formação dos professores, Eleuza aconselha a aliar recursos disponíveis, como a tecnologia à leitura para conseguir bons resultados. “Em uma escola em que o professor pode contar com o computador e a internet, o dinamismo das aulas cresce e o ambiente motivador abre um leque grande de possibilidade de trabalho com recursos que enriquecem tanto o professor quanto os alunos e ainda facilita a comunicação que se estabelece entre eles”, conclui.

Marisa Lajolo completa: “um professor, paradoxalmente, é um profissional que precisa ser conquistado para o exercício de suas tarefas”.

(Rafania Almeida)

Programas da TV Escola discutem a importância da leitura

A partir do momento em que entramos na escola, a prática da leitura se faz presente em nosso cotidiano. Desde as placas de trânsito até os livros que lemos. Porém, a atividade de leitura não corresponde a uma simples decodificação de símbolos, mas sim a interpretar e compreender o que se lê. É nesse contexto que alguns programas do Salto para o Futuro, exibido pela TV Escola há 18 anos, discutem a importância da leitura na educação.

Os programas, feitos em formato de debate, sempre trazem especialistas e abordam assuntos como a cultura da oralidade e a sua importância para o desenvolvimento da escrita; a leitura de textos como atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos; os gêneros discursivos no cotidiano escolar; a produção de textos e o domínio das estratégias de organização da informação e da estruturação textual; a aula de língua portuguesa e o ensino da gramática.

Outro programa exibido pela TV Escola, na área de leitura, é Mestres da Literatura, uma série com 11 episódios. No ar desde 2001, mostra a vida e a obra de escritores brasileiros, como Machado de Assis, Rachel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, entre outros. No site Mestres da Literatura, os professores podem obter informações sobre os escritores, bem como dicas e sugestões para realizar atividades na sala de aula a partir dos episódios da série.

A TV Escola é um canal de televisão criado pelo Ministério da Educação, em 1996, para capacitar, aperfeiçoar e atualizar educadores da rede pública de ensino. Ela pode ser sintonizada via antena parabólica (digital ou analógica), em todo o país, ou nas tevês por assinatura DirecTV (canal 237) e Sky (canal 27). A TV Escola também está disponível pela internet, no Portal do MEC.

(Assessoria de Comunicação da Seed/MEC)

Programas do MEC auxiliam alunos e professores a ler mais

As escolas brasileiras das redes federal, estadual e municipal têm a sua disposição três programas do Ministério da Educação para a distribuição gratuita de livros didáticos: o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) e o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA). Os programas atendem também as entidades parceiras do programa Brasil Alfabetizado.

Para o diretor de Ações Educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Rafael Torino, o maior benefício dos programas é a universalização do atendimento, garantindo acesso a livros de qualidade para alunos e professores, o que contribui para a melhoria da educação pública e viabiliza o contato com obras que podem custar muito caro para uma família sustentar. “É dever da escola garantir o acesso dos alunos e professores aos materiais, e cabe a estes cuidar e conservar os livros”, enfatiza.

O mais antigo dos programas é o PNLD. Criado em 1929, com outra nome, foi sendo aperfeiçoado ao longo desse período. Desde 2001, inclui em seu atendimento alunos com deficiência visual, por meio de livros em braille. A partir de 2004, o atendimento foi ampliado a alunos com necessidades especiais de escolas de educação especial públicas, comunitárias e filantrópicas, definidas no censo escolar.

Já o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) passou a existir com tal denominação a partir de 1997. A democratização do acesso às fontes de informação, e a formação de alunos e professores leitores são alguns de seus objetivos. O programa distribui acervos literários, obras de referência e de pesquisa, além de materiais relativos ao currículo da educação básica, às bibliotecas escolares.

As obras distribuídas pelo PNBE incluem textos em prosa (novelas, contos, crônica, memórias, biografias e teatro), obras em verso (poemas, cantigas, parlendas, adivinhas), livros de imagens e livros de histórias em quadrinhos.

Ao final de 2010, chegarão às escolas os primeiros acervos de uma coleção especial, chamada PNBE do Professor. Ela é formada por obras de natureza pedagógica, desenhadas para melhorar a prática de ensino de cada área temática. “A melhoria da educação passa necessariamente pela valorização do professor”, destaca Torino.

(Assessoria de Comunicação da Seed/MEC)

Governo federal compra 88% da produção de obras escolares

A produção de obras didáticas para o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), representou, em 2009, 88% do movimento do mercado editorial brasileiro nesse setor.

O levantamento foi feito pela autarquia com base em dados da Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros), e leva em conta os 115 milhões de obras distribuídas a 36,6 milhões de estudantes da educação básica pública, além de 3 milhões de títulos voltados à alfabetização de jovens e adultos. No mesmo período, o mercado privado adquiriu 15 milhões de exemplares.

Escolha – Base da escolha dos livros didáticos que serão usados no próximo ano pelos estudantes da rede oficial de ensino em todo o país, o Guia do PNLD 2011 já está disponível no portal do FNDE na internet. A partir do guia, que traz um resumo das obras avaliadas e selecionadas pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação, professores e diretores de escolas públicas podem discutir seus conteúdos e verificar quais são mais adequadas para o trabalho em suas salas de aula.

A escolha dos livros ocorrerá de 21 de junho a 4 de julho e envolverá as disciplinas de português, matemática, história, geografia, ciências e língua estrangeira (inglês e espanhol), do sexto ao nono ano do ensino fundamental. Somente as redes de ensino público que oficializarem sua participação no PNLD por meio de termo de adesão poderão escolher e receber livros para o próximo ano. O prazo final para a adesão é 31 de maio.

O FNDE encaminhou o termo de adesão, pelo correio, a todos os gestores do país. O documento deve ser assinado pelo prefeito municipal, pelo secretário de educação do estado ou pelo diretor da escola federal e, em seguida, devolvido ao Fundo até o fim deste mês.

(Assessoria de Comunicação Social do FNDE)

Professor desenvolve projetos com crianças carentes

O professor Liberato Ferreira da Silva, de Belo Horizonte (MG), dá aulas de tecnologia da informação para educação básica, robótica educacional e mecatrônica educacional. Ele atua em diferentes projetos, em diversas instituições, tais como o Colégio Izabela Hendrix e a PUC de Minas Gerais. Além disso, é aluno de pedagogia no Centro Universitário Isabela Hendrix.

Natural de Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco, Liberato já morou em inúmeras cidades antes de se fixar em Belo Horizonte. Casado, com duas filhas, ele ainda encontra tempo para desenvolver vários projetos voltados ao atendimento de comunidades carentes.

Um deles é o Projeto Amizade, da Fundação Metodista, onde ele desenvolve o conteúdo – mecatrônica com lixo digital – para crianças de 8 a 15 anos, com computadores doados. “É uma oportunidade que damos às crianças de aprenderem novas tecnologias. Crianças aprendem com muita facilidade, é uma questão de oportunidade”, salienta.

O projeto é realizado em diversos estados: Minas Gerais, Rio de Janeiro, e Paraná são alguns deles. Apesar de todos os projetos serem financiados por instituições cristãs, eles são abertos a comunidade: “penso que a educação é laica", destaca Liberato.

“Como mecatrônica envolve várias áreas do conhecimento, as crianças se sentem mais valorizadas e começaram a se interessar mais pelo conteúdos na escola. Alguns já são monitores em matemática e várias outras disciplinas”, conta o professor. Segundo ele, é preciso ter uma visão maior de educação, incentivando para a leitura e passando uma noção empreendedora, de "como vender seus projetos".

Liberato diz que fará um seminário, em junho, na Semana do Meio Ambiente da Câmara de Dirigentes Lojistas da capital mineira, sobre o tema – Como podemos reutilizar lixo digital. "Os desafios são muitos, pois são mais de 2 bilhões de lixo digital."

Saiba mais sobre os projetos desenvolvidos pelo professor Liberato

(Fátima Schenini)

Livros precisam ser mais baratos

Tânia Rösing

Doutora em Teoria Literária, com graduação em letras e em pedagogia, a professora e pesquisadora da Universidade de Passo Fundo (RS), Tânia Mariza Kuchenbecker Rösing, coordena o Centro de Referência de Literatura e Multimeios da instituição.

Idealizadora e coordenadora das Jornadas Literárias de Passo Fundo, ela integra o Comitê Assessor de Artes e Letras da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e o Conselho Diretivo do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL).

De acordo com Tânia Rösing, os livros precisam ser disponibilizados em livrarias, mercados, e supermercados a preços acessíveis, para que as pessoas sejam estimuladas a incluí-los em sua cesta básica.

Jornal do Professor – Em sua opinião, o que seria necessário fazer para estimular a leitura em nosso país?

Tânia Rösing – A mídia brasileira ocupa tempo nobre para a divulgação de produtos que, na maioria das vezes, não visam à formação do indivíduo, muito menos do cidadão. Campanhas bem feitas, com forte apelo à importância da leitura tomada em sentido amplo – do impresso ao digital – poderão despertar o interesse de crianças, jovens e adultos sobre a leitura que circula por diferentes suportes.

Os livros precisam ser disponibilizados em livrarias, mercados, supermercados a preços módicos, estimulando as pessoas a incluí-los em sua cesta básica. Infelizmente, o livro ainda não é uma necessidade. A cadeia produtiva do livro não faz nenhum esforço para diminuir o preço do livro para estimular as pessoas a se envolverem com ele.

O mais importante, no entanto, é oferecer uma formação continuidade a professores e pais, capazes de transformá-los, primeiro, em leitores e, na seqüência, como mediadores de leitura. Esse processo deve ser permanente, duradouro. Se não forem desenvolvidos projetos piloto em que haja uma proximidade com os desejados agentes de leitura, essas pessoas não conseguirão seduzir outras pessoas para a leitura.

O setor empresarial, industrial, comercial deve participar desse esforço, contribuindo para a formação desses leitores que, certamente, transformar-se-ão em mão-de-obra especializada para o mercado de trabalho.

Escola-família-sociedade precisam conscientizar-se de que as inovações tecnológicas passam pela leitura e pela escrita. Por isso mesmo, há que se investir na formação de leitores, de mediadores de leitura leitores.

JP – Como os professores e as escolas podem contribuir para formar jovens leitores?

TR – Devem constituir-se, primeiramente, como leitores. A partir do exemplo, do envolvimento com livros e materiais de leitura apresentados em diferentes suportes, da fala sobre suas experiências de leitura poderão fomentar a curiosidade dos alunos sobre determinados assuntos, sobre determinados livros, sobre possibilidades de navegar na internet para encontrar materiais sobre esse livro, sobre o tema determinado.

A riqueza de livros que está sendo disponibilizada pelo Ministério da Educação e pelo Ministério da Cultura para as escolas precisa ser dinamizada pelos professores, pelos responsáveis pelas bibliotecas escolares. É crime deixar livros em caixas, fechados, proibindo o acesso aos alunos.

Outra forma que pode ser utilizada pelos professores é a atitude perene de levantamento de interesses e necessidades dos jovens com os quais se relacionam. A partir desses dados, poderão indicar obras para leitura que possam envolvê-los.

JP – Os professores saem das universidades preparados para estimular a leitura entre seus alunos?

TR – Os alunos que frequentam as licenciaturas já ingressam nesses cursos desmotivados pela leitura. Não entendem que serão profissionais da leitura e da escrita em qualquer área do conhecimento. Se os professores universitários não se derem conta de que precisam despertar o gosto pela leitura, o que tem acontecido muito em nosso país e na América Latina como um todo, há que se criar programas de caráter nacional que possam despertá-los sobre o compromisso com a leitura, sobre o manuseio de livros em bibliotecas, sobre a leitura de textos em diferentes suportes, sobre a imprescindível necessidade de saber ler as manifestações artísticas e culturais.

Constata-se, no presente momento, que apenas uma minoria sai motivada pela leitura e pela escrita. É necessário deixar de lado a pressuposição de que os calouros ingressam na universidade sendo leitores e produtores de textos. Torna-se mais que urgente preparar esses jovens para a leitura e para a escrita.

JP – Diante de uma rotina de muitas atividades, como o professor pode inserir a prática da leitura no seu dia a dia?

TR – A “rotina” de muitas atividades precisa ser rompida com o oferecimento de materiais diferenciados para a leitura. Usar os recursos da publicidade, da propaganda surte efeitos inesperados. A leitura precisa ser entendida como uma necessidade de preparação do indivíduo e de desencadeamento do seu papel na sociedade. Novidades, descobertas científicas, poemas diferenciados, minicontos, textos de humor, tudo isso pode despertar o interesse pela leitura.

JP – Qual o papel da família para a formação do leitor?

TR – A família também não considera o livro uma necessidade. Preparar pais, cuidadores, avós é tarefa da escola. A disciplina na formação do indivíduo inclui momentos de leitura compartilhada. Aliás, momentos de leitura para ouvir, outros para ver, outros para brincar, outros para ler, outros, ainda, para compartilhar.

JP – A senhora é a criadora das Jornadas Literárias de Passo Fundo, evento que se tornou conhecido nacionalmente. Qual seu objetivo com a criação das Jornadas?

TR – Há 29 anos, buscamos alcançar o mesmo objetivo: formar leitores literários, capazes de valorizar e de interpretar textos apresentados em distintos suportes e constituídos pelas manifestações artísticas e culturais. Trabalhamos do impresso ao digital.

JP – Quais as principais realizações, desde a criação, e os melhores resultados obtidos até agora pelas Jornadas?

TR – Ampliação do número de leitores multimidiais, reprodução de seminários de leitura paralelamente a feiras do livro na região, título de Passo Fundo como Capital Nacional da Literatura, a partir de pesquisa encomendada pela Câmara Sul-Rio-Grandense do Livro, Passo Fundo é a cidade que mais lê no país – 6,5 livros por pessoa ano, criação do Centro de Referência de Literatura e Multimeios – Mundo da Leitura, criação do Programa Mundo da Leitura em televisão, criação da Jornadinha (evento paralelo à Jornada destinado a crianças e jovens – na última edição, participaram 17.000), prêmios nacionais, reconhecimento nacional e internacional, pesquisas publicadas sobre as diferentes ações.

JP – É importante realizar eventos como feiras de livros?

TR – É importante sim. Mas é necessário ter consciência de que a feira por si só não forma leitores. É mais que importante preparar os leitores para encontrar os autores do que um simples passeio entre livros.

JP – E na escola, que tipo de ação tem melhores resultados?

TR – As práticas leitoras multimidiais têm trazido novo ânimo a crianças e jovens para a leitura.

JP – Algumas pessoas e municípios têm criado ações para estimular a leitura. Há livros em paradas de ônibus, que podem ser lidos, gratuitamente, montagem de bibliotecas em periferias, entre outras iniciativas. O que a senhora acha disso?

TR – Qualquer iniciativa que ponha livros de qualidade indubitável nas mãos dos leitores e dos leitores em formação é válida.