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JORNAL
Edição 119 - Semana Nacional de Ciência e Tecnologia-2015
10/11/2015
 
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Fuad Daher Saad (USP): “Crianças podem e devem pôr as mãos na massa”

O professor Fuad Saad coordena o Show de Física desde 1986

O professor Fuad Saad coordena o Show de Física desde 1986

Autor: Arquivo pessoal


Professor associado da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador na área de ensino de física, Fuad Daher Saad diz que temas científicos e tecnológicos, se apresentados de forma adequada, despertam grande interesse em crianças e jovens. “As escolas devem promover condições e estimular professores das áreas científicas a realizar atividades experimentais nas aulas”, afirma. Segundo ele, as crianças podem e devem “pôr as mãos na massa”, além de observar e realizar atividades experimentais interessantes.

Saad é criador e coordenador do Show de Física do Instituto de Física da USP, que exibe, diariamente, experimentos de diversas áreas da física a estudantes da educação básica. (Fátima Schenini)

Jornal do Professor O senhor acredita que crianças e adolescentes se interessem por temas científicos e tecnológicos? O que escolas e professores podem fazer para aumentar esse interesse? Qual a importância do lúdico nesse tipo de aprendizado?

Fuad Saad — Crianças e adolescentes manifestam grande interesse por temas científicos e tecnológicos quando os mesmos são adequadamente apresentados. É importante observar visitas de jovens a centros e museus de ciências, onde há interatividade dos visitantes com os temas exibidos, para sentir o entusiasmo, o interesse e a interatividade deles com as apresentações. Já visitei cerca de 40 centros de ciências ao redor do mundo e sempre observei o entusiasmo das crianças no contato com temas científicos e tecnológicos. As escolas devem promover condições e estimular professores das áreas científicas a realizar atividades experimentais nas aulas. Eles devem convidar a pôr as mãos na massa e observar e realizar atividades experimentais interessantes.

Meus estudantes da licenciatura em física são convidados a verificar quantas experiência podem ser realizadas, em sala de aula, com garrafas plásticas. Eles chegaram a contar 20 experimentos simples. Um cientista ou um tecnólogo não é formado apenas nas universidades, mas ao longo de sua vida (desde criança até a academia). Trata-se de um processo no qual, desde cedo, crianças e adolescentes podem e devem pôr as mãos na massa.

Os professores da educação básica estão bem preparados para ensinar conteúdos científicos e tecnológicos? Como está a formação de professores na USP, especificamente na área de ensino de física?

— Posso falar de minha experiência profissional. Ministrei e continuo a ministrar cursos de extensão para professores da educação básica. Dezenas de cursos. O despreparo deles para abordar conteúdos científicos e tecnológicos é dramático. Continuamos a observar, na maioria dos casos, cursos de giz e quadro negro. Pouca ou nenhuma atividade experimental é desenvolvida. Observamos alguns poucos exemplos. Dentre eles, plantar feijão...

Não posso falar sobre a formação de professores na USP, dada a amplitude e diversidade do problema. Com relação à licenciatura de física, é possível observar a preocupação com uma formação mais atualizada de nossos futuros professores. Entretanto, esses futuros professores pouco se interessam pelo magistério em razão dos baixos salários oferecidos. Além disso, os docentes encontram inúmeros obstáculos em sala de aula: falta de infraestrutura (laboratórios e equipamentos experimentais), pequeno número de aulas (duas semanais, em média), indisciplina, número excessivo de alunos por classe etc.

É importante que os professores da educação básica participem de oficinas ou cursos de formação continuada para conhecer novas técnicas de ensino nas áreas de ciência e tecnologia? Qual o papel da academia na disseminação de conhecimentos científicos entre professores da educação básica e a população em geral?

— A atual formação de nossos professores da educação básica é deficiente, e tal cenário produz um ensino sabidamente medíocre. É importante a participação dos professores em cursos de extensão ou de formação continuada que abordem não somente o aprendizado de novas técnicas de ensino nas áreas de ciência e tecnologia, mas também de novos conteúdos. É sempre importante recordar que o aumento da quantidade de informações, que são geradas de forma explosiva, constitui verdadeiras ondas de choque, deixando professores e alunos perplexos, despreparados que estão para entender o atual mundo científico e tecnológico. Nossas universidades não têm se preocupado adequadamente com o processo de formação de professores da educação básica e pouco têm feito para a difusão de conhecimentos científicos entre professores da educação básica e a população. Eu e muitos colegas do Instituto de Física da USP temos ministrados cursos de extensão para a educação básica. Mas isso é muito pouco tendo em vista as dimensões do problema.

O senhor coordena o Show de Física do Instituto de Física da USP desde 1986. Conforme a apresentação desse projeto na internet, ele não tem o objetivo de ensinar física, mas de “preparar o emocional de cada estudante para aprender”. O que significa isso? Que é importante estimular o interesse dos alunos para que a aprendizagem possa ocorrer?

— Cerca de 700 mil estudantes já assistiram ao Show de Física. Ele foi criado para oferecer a nossos estudantes uma outra face da ciência que não aquela comumente oferecida em nossas escolas, em aulas apenas expositivas, com ausência de atividades experimentais. Essas aulas induzem a um grande desinteresse da maioria dos estudantes. Tenho plena consciência de que o aprendizado formal de física dá-se em sala de aula. O show procura preparar o emocional do estudante para o ensino da disciplina. Daí seu formato, que visa a motivar os estudantes para essa importante ciência e suas aplicações. Nunca é demais recordar que motivação significa motor da ação.

Quais as principais atrações do Show de Física? A quem se dirige? Quais os principais resultados obtidos até o momento?

— Com duração de aproximadamente duas horas e duas apresentações diárias (manhã e tarde), o show exibe experimentos de diversas áreas da física (eletromagnetismo, mecânica, calor, ótica etc.). São experimentos interativos, impactantes e desafiadores, sempre com a participação do público presente (até 160 estudantes, além de professores da educação básica, universitários e público diversificado). Ao longo desses quase 30 anos, desde a implantação, o show atrai um público crescente. Como exemplo de alguns resultados obtidos, é possível destacar estudantes que apresentam o show e passam a se interessar pela carreira do magistério; outros que foram nossos monitores e hoje apresentam o show em tevês e em diversos eventos culturais no país; diversas universidades, hoje, apresentam shows inspirados em nosso exemplo. Além disso, diversos estudantes de nosso curso de licenciatura em física optaram pela carreira e o fizeram inspirados no show que assistiram quando alunos no ensino médio. O show é apresentado por monitores (estudantes de licenciatura), após um adequado treinamento. Atualmente, dispomos de 16 estudantes que apresentam o show regularmente.

Foi realizada em todo o Brasil, no período de 19 a 25 de outubro, a 12ª edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Qual a contribuição de eventos como esse para a popularização da ciência no Brasil?

— São eventos extremamente importantes. Não são poucos os cientistas de nossas universidades que procuram levar para a comunidade, de forma acessível, parte dos conhecimentos técnicos e científicos que nelas estejam envolvidos. Tanto em nossos centros de pesquisas como em outros países, as instituições procuram abrir as portas de seus laboratórios às comunidades. Com isso, visam também a estimular o interesse dos jovens para as carreiras de áreas científicas e tecnológicas. Nosso país é cobrado para atuar mais intensamente nessa área de difusão científica tecnológica. Muitos setores da USP vêm se destacando nessas atividades.

Qual a importância de realizar eventos como feiras de ciências nas escolas?

— São eventos altamente meritórios, por vários motivos: despertam o interesse dos estudantes para temas científicos e tecnológicos; convidam estudantes a propor projetos ligados a essas áreas; estimulam jovens a pesquisar em várias fontes. Os estudantes põem a mão na massa. E o professor se transforma no animador nesse processo. Frequentemente, as famílias colaboram. Finalmente, os esforços de verdadeiras comunidades de pesquisas são recompensadas ao apresentar projetos em eventos como as feiras de ciências.

Muitos pesquisadores ou profissionais altamente qualificados e motivados emergiram de cenários tão estimulantes de nossas feiras de ciências. Muitos professores de física do ensino médio incorporaram, em suas práticas pedagógicas diárias, projetos desenvolvidos e apresentados por estudantes em feiras ciências. É estimulante visitar uma feira de ciências e ouvir as explicações de jovens estudantes com relação ao projeto desenvolvido.

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