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Um conto modernista e os neologismos

 

21/10/2009

Autor e Coautor(es)
MARTA PONTES PINTO
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UBERLANDIA - MG ESC DE EDUCACAO BASICA

Eliana Dias

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: historicidade da linguagem e da língua
Ensino Médio Língua Portuguesa Gêneros discursivos e textuais: narrativo, argumentativo, descritivo, injuntivo, dialogal
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

• Que a língua que falamos é dinâmica ;
• que há palavras que caem em desuso;
• que vários fatores promovem o aparecimento de novas palavras.

Duração das atividades
3 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
  • Conhecer as características do conto;
  • conhecer alguns estrangeirismos e empréstimos de palavras.
Estratégias e recursos da aula

• uso da internet;
• trabalho em grupo e individual.

Aula 1
Atividade 1


O professor deverá iniciar a aula dividindo com um traço em giz o quadro em duas partes. Em seguida, ficando de um dos lados do quadro, pedirá aos alunos que pensem em palavras que eles não conheciam até há pouco tempo. Ele mesmo, poderá começar escrevendo a palavra deletar. À medida que os alunos forem falando, ele as irá registrando. Passando para a outra parte do quadro, deverá pedir que se lembrem e falem palavras que seus avós, e as histórias usam e que eles nunca ouviram os jovens falando. O professor começa: roca...
Será natural que os alunos não se lembrem de muitas palavras e o professor continuará: roca, fuso, tourador, ancinho...
O professor então colocará sobre as palavras novas o título: neologismos e sobre as velhas, desgastadas pelo tempo, a palavra arcaismos.

Atividade 2

O professor deverá convidar os alunos à sala de informática para lerem sobre o assunto Neologismos no texto de Carlos Drummond de Andrade disponível no site:


http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=1269

Conversar sobre o texto de Drummond com os alunos e apresentar alguns exemplos atuais de neologismos, quais sejam:

PAITROCÍNIO – PAI = PATROCÍNIO - Finalidade lúdica para ironizar a facilidade de vida dos filhos de pais ricos.
PEFELENTO – O deputado X não é pefelista. É pefelento – Adjetivo derivativo da sigla designativa do partido político (PFL) dá uma conotação pejorativa.

Aula 2
Atividade 1

Como forma de motivação para estudo do conto, os alunos, ainda no laboratório de Informática, deverão assistir ao clip disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=TGK-17uK_0M

Atividade 2

Na sequência, os alunos deverão ler o conto de Guimarães Rosa: Sorôco, sua mãe, sua filha.


Importante: Professor, o escritor Guimarães Rosa é um dos principais autores modernistas brasileiros a usar recursos estilísticos diferentes de tudo o que já fôra feito em literatura brasileira.

Sorôco, sua mãe, sua filha
(Guimarães Rosa)

      AQUELE carro parara na linha de resguardo, desde a véspera, tinha vindo com o expresso do Rio, e estava lá, no desvio de dentro, na esplanada da estação. Não era um vagão comum de passageiros, de primeira, só que mais vistoso, todo novo. A gente reparando, notava as diferenças. Assim repartido em dois, num dos cômodos as janelas sendo de grades, feito as de cadeia, para os presos. A gente sabia que, com pouco, ele ia rodar de volta, atrelado ao expresso daí de baixo, fazendo parte da composição. Ia servir para levar duas mulheres, para longe, para sempre. O trem do sertão passava às 12h45m.
      As muitas pessoas já estavam de ajuntamento, em beira do carro, para esperar. As pessoas não queriam poder ficar se entristecendo, conversavam, cada um porfiando no falar com sensatez, como sabendo mais do que os outros a prática do acontecer das coisas. Sempre chegava mais povo – o movimento. Aquilo quase no fim da esplanada, do lado do curral de embarque de bois, antes da guarit a do guarda-chaves, pe rto dos empilhados d e lenha. Sorôco ia t razer as duas, conforme. A mãe de Sorôco era de idade, com para mais de uns s etenta. A filha, ele só tinha aquela. Sorôco era viúvo. Afora essas, não se conhecia dele o parente nenhum.
      A hora era de muito sol – o povo caçava jeito de ficarem debaixo da sombra das árvores de cedro. O carro lembrava um canoão no seco, navio. A gente olhava: nas reluzências do ar, parecia que ele estava torto, que nas pontas se empinava. O borco bojudo do telhadilho dele alumiava em preto. Parecia coisa de invento de muita distância, sem piedade nenhuma, e que a gente não pudesse ima ginar direito nem se acostumar de ver, e não sendo de ninguém. Para onde ia, no levar as mulheres, era para um lugar chamado Barbacena, longe. Para o pobre, os lugares são mais longe.
      O Agente da estação apareceu, fardado d e amarelo, com o livro de capa preta e as bandeirinhas verde e vermelha debaixo do braço. – "Vai ver se botaram água fresca no carro..." – ele mandou. Depois, o guarda-freios a ndou mexendo nas man gueiras de e ngate. Alguém deu avis o: – "El es vêm!... " Apontavam, da Rua de Baixo, onde morava Sorôco. Ele era um homenzão, brutalhudo de corpo, com a cara grande, uma barba, fiosa, encardida em amarelo, e uns pés, com alpercatas: as crianças tomavam medo dele; mais, da voz, que era quase pouca, grossa, que em seguida se afinava. Vinham vindo, com o trazer de comitiva.
      Aí, paravam. A filha – a moça – tinha pegado a cantar, levantando os braços, a cantiga não vigorava certa, nem no tom nem no se-dizer das palavras – o nenhum. A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os espantados, vinha enfeitada de disparates, num aspecto de admiração. Assim com panos e papeis, de diversas cores, uma carapuça em cima dos espalhados cabelos, e enfunada em tantas roupas ainda de mais misturas, tiras e faixas, dependuradas – virundangas: matéria de maluco. A velha só estava de preto, com um fichu preto, ela batia com a cabeça, nos docementes. Sem tanto que diferentes, elas se assemelhavam.
       Sorôco estava dando o braço a elas, uma de cada lado. Em mentira, parecia entrada em igreja, num casório. Era uma tristeza. Parecia enterro. Todos ficavam de parte, a chusma de gente não querendo afirmar as vistas, por causa daqueles transmodos e despropósitos, de fazer risos, e por conta de Sorôco – para não parecer pouco caso. Ele hoje estava calçado de botinas, e de paletó, com chapéu grande, botara sua roupa melhor, os maltrapos. E estava reportado e atalhado, humildoso.       Todos diziam a ele seus respeitos, de dó. Ele respondia: – "Deus vos pague essa despesa... "
      O que os outros se diziam: que Sorôco tinha tido muita paciência. Sendo que não ia sentir falta dessas transtornadas pobrezinhas, era até um alívio. Isso não tinha cura, elas não iam voltar, nunca mais. De antes, Sorôco agüentara de repassar tantas desgraças, de morar com as duas, pelejava. Daí, com os anos, elas pioraram, ele não dava mais conta, teve de chamar ajuda, que foi preciso. Tiveram que olhar em socorro dele, determinar de dar as providências de mercê. Quem pagava tudo era o Governo, que tinha mandado o carro. Por forma que, por força disso, agora iam remir com as duas, em hospícios. O se seguir.
      De repente, a velha se desapareceu do braço de Sorôco, foi se sentar no degrau da escadinha do carro. – "Ela não faz nada, seo Agente..." – a voz de Sorôco estava muito branda: – "Ela não acode, quando a gente chama..." A moça, aí, tornou a cantar, virada para o povo, o ao ar, a cara dela era um repouso estatelado, não queria dar-se em espetáculo, mas representava de outroras grandezas, impossíveis. Mas a gente viu a velha olhar para ela, com um encanto de pressentimento muito antigo – um amor extremoso. E, p rincipiando baixinho, mas depois puxando p ela voz, ela pegou a cantar, também, tomando o exemplo, a cantiga mesma da out ra, que ninguém não entendia. Agora elas cantavam junto, não paravam de cantar.
     Aí que já estava chegando a horinha do trem, tinham de dar fim aos aprestes, fazer as duas entrar para o carro de janelas enxequetadas de grades. Assim, num consumiço, sem despedida nenhuma, que elas nem haviam de poder entender. Nessa diligência, os que iam com elas, por bem-fazer, na viagem comprida, eram o Nenêgo, despachado e animoso, e o José Abençoado, pessoa de muita cautela, estes serviam para ter mão nelas, em toda juntura. E subiam também no carro uns rapazinhos, carregando as trouxas e malas, e as coisas de comer, muitas, que não iam fazer míngua, os embrulhos de pão. Por derradeiro, o Nenêgo ainda se apareceu na plataforma, para os gestos de que tudo ia em ordem. Elas não haviam de dar trabalhos.
     Agora, mesmo, a gente só escutava era o acorcôo do canto, das duas, aquela chirimia, que avocava: que era um constado de enormes diversidades desta vida, que podiam doer na gente, sem jurisprudência de motivo nem lugar, nenhum, mas pelo antes, pelo depois.
     Sorôco. Tomara aquilo se acabasse. O trem chegando, a má quina manobrando sozinha para vir pegar o carro. O trem a pitou, e passou, se foi, o de sempre. Sorôco nâo esperou tudo se sumir. Nem olhou. Só ficou de chapéu na mão, mais de barba quadrada, surdo – o que nele mais espantava. O triste do homem, lá, decretado, embargando-se de poder falar algumas suas palavras. Ao sofrer o assim das coisas, ele, no oco sem beiras, debaixo do peso, sem queixa, exemploso. E lhe falaram: – "O mundo esta dessa forma... " Todos, no arregalado respeito, tinham as vistas neblinadas. De repente, todos gostavam demais de Sorôco.
     Ele se sacudiu, de um jeito arrebentado, desacontecido, e virou, pra ir-s'embora. Estava voltando para casa, como se estivesse indo para longe, fora de conta.
Mas, parou. Em tanto que se esquisitou, parecia que ia perder o de si, parar de ser. Assim num excesso de espírito, fora de sentido. E foi o que não se podia prevenir: quem ia fazer siso naquilo? Num rompido – ele começou a cantar, alteado, forte, mas sozinho para si – e era a cantiga, mesma, de desatino, que as duas tanto tinham cantado. Cantava continuando.
      A gente se esfriou, se afundou – um instantâneo. A gente... E foi sem combinação, nem ninguém entendia o que se fizesse: todos, de uma vez, de dó do Sorôco, principiaram também a acompanhar aquele canto sem razão. E com as vozes tão altas! Todos caminhando, com ele, Sorôco, e canta que cantando, atrás dele, os mais de detrás quase que corriam, ninguém deixasse de cantar. Foi o de não sair mais da memória. Foi um caso sem comparação.
      A gente estava levando agora o Sorôco para a casa dele, de verdade. A gente, com ele, ia até aonde que ia aquela cantiga.

Aula 3
Atividade 1

O professor deverá conversar sobre o conto com os alunos. Enfatizar:

- personagens;

- espaço;

- narrador;

- tempo da narrativa.

Atividade 2

Logo após, os alunos deverão individualmente responder, por escrito, as questões propostas abaixo e depois corrigi-las aproveitando ao máximo as respostas dos alunos e acrescentando informações sobre o modernismo e sobre os neologismos.

Exercícios de compreensão e interpretação:

1- Resuma, em poucas palavras, o enredo do conto.
2- Os habitantes do lugar estavam curiosos para saberem como seria o desfecho do caso, mas “Todos ficaram de parte, a chusma de gente não querendo afirmar as vistas...” Explique essa atitude.
3- Na opinião do povo, o que representaria para Sorôco a partida das duas mulheres?
4- O fim do conto confirma isso? Justifique sua resposta.
5- A cantiga que se constituiu em fator de desequilíbrio ente as duas mulheres e o restante dos personagens, se tornou mais tarde fator de aproximação. Explique o que ocorreu.
6- O impacto maior na leitura da obra de Guimarães Rosa dá-se elo es tilo.
7- Explique o que se pode entender por:
vistoso, telhadilho, fiosa, se-dizer, virundangas, fichu, docementes, transmodos, maltrapos. Se não conseguir entender o significado das palavras sem utilizar o dicionário, procure as palavras nele e se elas já estiverem dicionarizadas você as encontrará.

Importante:  Professor, Guimarães Rosa não foi o único escritor moderno com gosto pela criação de novos termos. Antes dele, a prática foi tornada célebre pelo irlandês James Joyce. Rosa tinha mania de "palavrizar" (um termo, claro, inventado por ele). O autor tinha absoluto horror ao lugar-comum. A linguagem cotidiana, acreditava ele, estava totalmente desgastada pelo uso: só expressava clichês, e não idéias. Para recuperar-lhe a vitalidade, a única solução era partir para a invenção mais radical. "Cada autor deve criar seu próprio léxico, do contrário não pode cumprir sua missão", dizia Rosa.

Recursos Complementares
Avaliação

Para avaliar a participação dos alunos nas tarefas, o professor primeiramente deverá considerar o conhecimento prévio que cada  aluno possui. Ao professor caberá o papel de acompanhar todo o processo, sabendo que o "erro" faz parte do processo de aprender e deve ser utilizado de forma construtiva para o crescimento do aluno e para que o professor repense os procedimentos e sua maneira de avaliar.

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