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Gerundismo - PARTE 1

 

20/01/2010

Autor e Coautor(es)
Tânia Guedes Magalhães
imagem do usuário

JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Língua Portuguesa Produção, leitura, análise e reflexão sobre linguagens
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

O objetivo desta aula é levar o aluno a perceber a variação linguística existente na língua por meio do fenômeno gerundismo; perceber as diversas opiniões sobre o uso do gerundismo, bem como retomar o uso da forma verbal gerúndio.

Duração das atividades
3 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno
O aluno deve ter habilidades de leitura e escrita, conhecer o fenômeno da Variação Linguística e, por fim, saber o que é a forma verbal "gerúndio".
Estratégias e recursos da aula
                   

Etapa 1

Professor: essa etapa inicial é para introduzir os alunos ao tema gerundismo, uma variedade existente no Português, não aceita pela variedade culta da língua. É necessário atentar para o fenômeno do gerundismo (uso da estrutura: IR + ESTAR + GERÙNDIO) como em "vou estar providenciando", "vamos estar discutindo", "vai estar pensando", "vamos estar planejando".

Assista ao vídeo disponível abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=0DTp0pnI4-I (tempo: 2 minutos)


Após assistir ao vídeo, desenvolva, oralmente, com os alunos, as seguintes questões:

1) Qual foi a notícia dada no jornal?
2) Qual foi a intenção do Governador do Distrito Federal José Roberto Arruda ao querer “demitir” o gerúndio?
3) Segundo o professor de Português no final da reportagem, há uma diferença entre gerundismo e gerúndio. Que diferença é essa?


Etapa 2:

1) Após assistir ao vídeo e desenvolver as questões oralmente, reproduza, distribua e leia os textos I e II abaixo com os alunos.

Pedir que um aluno leia em voz alta para os outros ouvirem. Pode-se alternar a leitura entre vários alunos.


TEXTO I


O senhor pode estar enviando um fax?


Já tratei nesta revista da presença estrangeira em nossa língua. Critiquei - e nunca deixarei de criticar - o uso tolo de palavras e expressões estrangeiras. E o que é o uso tolo? O short que o treinador do Corinthians e da seleção brasileira, Wanderley Luxemburgo, usou durante uma das partidas das finais do último Campeonato Paulista é ótimo exemplo: "Num campeonato short como este...". Que diabos é um campeonato short? Aposto que 99% das pessoas que o ouviram não sabem que isso significa "curto".

O intragável delay que um apresentador da TV Bandeirantes costuma empregar é outro exemplo de uso tolo: "Tivemos um pequeno delay na transmissão." Delay? Que tal "atraso"?

Há também o caso das saboneteiras em que se lê push. É batata! As pessoas vão e puxam a pequena alavanca e nada de sabão. Push, palavra inglesa, não significa "puxar". Push é "empurrar", "pressionar".

Francamente, não me parece necessário dar em inglês a instrução para o uso de uma saboneteira. Alguém pode justificar esse procedimento com o fato de a saboneteira ser importada. E daí? É obrigatório - por lei - traduzir esse tipo de informação.

Pois bem. Às vezes, a influência é mais sutil. Virou moda usar expressões como "O senhor pode estar mandando um fax?" ou "Nós vamos estar providenciando", ou ainda "Não pude estar comparecendo". O que é isso, meu Deus? Que história é essa de "vamos estar providenciando"?

Suponho - posso estar enganado - que isso seja influência inglesa. Talvez a tradução meio literal de frases como "I will be sending", ou "We will be asking", que, ao pé da letra, equivalem a "Estarei enviando" e "Estaremos pedindo (perguntando)", respectivamente.

Como no Brasil não são comuns formas como "estarei", "estaremos" - em seu lugar usam-se as formas "vou estar", "vamos estar" -, na mão de alguns tradutores "We will be sending" acaba virando "Nós vamos estar enviando".

Pronto! Bastou alguém com ares de erudição traduzir ao pé da letra uma expressão legítima e comum em inglês para que a praga pegasse em português.

O pior é que esse tipo de frase passa uma incrível impressão de coisa chique, refinada. É preciso falar assim para estar na moda.

Uma amiga telefonou para uma administradora de cartões de crédito e ouviu da atendente esse tipo de frase umas duzentas mil vezes ("Vamos estar providenciando", "Vamos estar verificando", "A senhora vai estar recebendo", "O computador vai estar emitindo" , "O banco vai e star cobrando", etc., etc., etc.).

No fim, enjoada - enjoadíssima, com o estômago embrulhado, em estado de pré-congestão -, minha amiga ouviu a seguinte pergunta: "A senhora pode estar enviando uma cópia do extrato?" Irônica, respondeu: "Estar enviando eu não posso, mas enviar eu posso". A moça não entendeu a ironia. "Como?", perguntou, atônita. O problema é que casos como esse alimentam a velha idéia de que em língua formal basta dizer algumas palavras e expressões "difíceis" para que o discurso seja bom. Para variar, não se pensa no verdadeiro xis da questão, que é a ordenação das idéias, o pensamento lógico, a estrutura clara, a correção gramatical, a linguagem adequada.

Voltando ao "vamos estar enviando", se você trabalha com o público, preste atenção. Veja se também não se rendeu à tentação. Se o fez, pare para pensar. Em vez de "O senhor pode estar enviando um fax?", "Vamos estar providenciando", "Vou estar solicitando", que tal a velha e boa estrutura típica do português do Brasil: "O senhor pode enviar um fax?", "Vamos providenciar", "Vou solicitar"?

Por que eu disse "português do Brasil"? Já afirmei que no Brasil não é comum o futuro do presente. Não temos o hábito de dizer "faremos". Dizemos mesmo "vamos fazer". Na verdade uma frase como "Vamos estar enviando" poderia ser resumida em "Enviaremos". "Vamos enviar" é a construção mais comum entre nós. "Vamos estar enviando" é dose! É o rococó do rococó.

Pasquale Cipro Neto
outubro/98 - Revista CULT

(texto não disponível online)


Após a leitura, peça aos alunos que façam um estudo do texto, a partir das seguintes perguntas:


1) Pasquale usa os três primeiros parágrafos do texto para defender um ponto de vista. O que ele defende? Quais exemplos usa para isso?

2) Qual é, segundo o autor, a explicação para o uso da expressão com gerundismo, como em “vamos estar providenciando”?

3) Explique o sentido da expressão “Bastou alguém com ares de erudição traduzir ao pé da letra ... para que a praga pegasse em português”.

4) Segundo o autor, na norma culta da língua portuguesa, como ficariam os trechos abaixo?

a) Nós vamos estar providenciando.
b) Não pude estar comparecendo.
c) Vamos estar verificando.
d) A senhora pode estar enviando uma cópia?

5) Você concorda com a afirmação de que o gerundismo constitui um uso inadequado da Língua Portuguesa, conforme foi dito na reportagem a que você assistiu?

Etapa 3

Reproduza, distribua e leia o texto abaixo com os alunos.

TEXTO II

GERUNDISMOS

Para aqueles que gostam do "a nível de" no início e meio de frase, entre outras colocações impregnadas de vício de linguagem, segue um artigo de alerta aos usuários fiéis a essas terminologias, etc. Contra a mania (quase doença) do uso do gerúndio.
Novo vício de linguagem - do mesmo naipe de "a nível de" – o gerundismo ameaça tomar conta de nosso idioma. Oriundo de expressões usadas por atendentes de telemarketing, a praga já começa a ser combatida.
O portal IG criou o Dia Contra o Gerúndio, inspirado por um artigo do publicitário e colunista do JT, Ricardo Freire, que se transformou em uma corrente da Internet.
Ricardo Freire está, obviamente, contente com a repercussão alcançada. "Acredito que o texto chamou atenção porque o gerúndio saiu do gueto do telemarketing e tomou as ruas." O pomo da discórdia é o uso do verbo "estar", acompanhado do gerúndio, para designar uma ação no futuro, como "vou estar te ligando" ou "estaremos abrindo".
O jornalista e autor do Manual de Redação e Estilo do Grupo Estado, Eduardo Martins, também já pesquisou o assunto e condena o mau uso do gerúndio. "Isso é uma influência maldigerida do inglês em frases como I will be sending ('vou mandar' e não 'vou estar mandando')", explica Martins, que já abordou o assunto em seu programa De Palavra em Palavra, na Rádio Eldorado, e no suplemento Estadinho.
Leia o texto e divirta-se.

PARA VOCÊ ESTAR PASSANDO ADIANTE
Por Ricardo Freire

Este artigo foi feito especialmente para que você possa estar recortando e possa estar deixando discretamente sobre a mesa de alguém que não consiga estar falando sem estar espalhando essa praga terrível da comunicação moderna: o gerundismo. Você pode também estar passando por fax, estar mandando pelo correio ou estar enviando pela Internet. O importante é estar garantindo que a pessoa em questão vá estar recebendo esta mensagem, de modo que ela possa estar lendo e, quem sabe, consiga até mesmo estar se dando conta da maneira como tudo o que ela costuma estar falando deve estar soando nos ouvidos de quem precisa estar escutando.
Sinta-se livre para estar fazendo tantas cópias quantas você vá estar achando necessárias, de modo a estar atingindo o maior número de pessoas infectadas por esta epidemia de transmissão oral. Mais do que estar repreendendo ou estar caçoando, o objetivo deste movimento é estar fazendo com que esteja caindo a ficha nas pessoas que costumam estar falando desse jeito sem estar percebendo.
Nós temos que estar nos unindo para estar mostrando a nossos interlocutores que, sim!, pode estar existindo uma maneira de estar aprendendo a estar parando de estar falando desse jeito. Até porque, caso contrário, todos nós vamos estar sendo obrigados a estar emigrando para algum lugar onde não vão estar nos obrigando a estar ouvindo frases assim o dia inteirinho.
Sinceramente: nossa paciência está estando a ponto de estar estourando. O próximo "Eu vou estar transferindo a sua ligação" que eu vá estar ouvindo pode estar provocando alguma reação violenta da minha parte. Eu não vou estar me responsabilizando pelos meus atos. As pessoas precisam estar entendendo a maneira como esse vício maldito conseguiu estar entrando na linguagem do dia-a-dia. Tudo começou a estar acontecendo quando alguém precisou estar traduzindo manuais de atendimento por telemarketing. Daí a estar pensando que "We'll be sending it tomorrow" possa estar tendo o mesmo significado que "Nós vamos estar mandando isso amanhã" acabou por estar sendo só um passo. Pouco a pouco a coisa deixou de estar acontecendo apenas no âmbito dos atendentes de telemarketing para estar ganhando os escritórios. Todo mundo passou a estar marcando reuniões, a estar considerando pedidos e a estar retornando ligações.
A gravidade da situação só começou a estar se evidenciando quando o diálogo mais coloquial demonstrou estar sendo invadido inapelavelmente pelo gerundismo. A primeira pessoa que inventou de estar falando "Eu vou tá pensando no seu caso" sem querer acabou por estar escancarando uma porta para essa infelicidade lingüística estar se instalando nas ruas e estar entrando em nossas vidas. Você certamente já deve ter estado estando a estar ouvindo coisas como "O que cê vai tá fazendo domingo?", ou "Quando que cê vai tá viajando pra praia?", ou "Me espera, que eu vou tá te ligando assim que eu chegar em casa".
Caramba! O que a gente pode tá fazendo pra que as pessoas tejam entendendo o que esse negócio pode ta provocando no cérebro das novas gerações? A única solução vai estar sendo submeter o gerundismo à mesma campanha de desmoralização à qual precisaram estar sendo expostos seus coleguinhas contagiosos, como o "a nível de", o "enquanto", o "pra se ter uma idéia" e outros menos votados.
A nível de linguagem, enquanto pessoa, o que você acha de tá insistindo em tá falando desse jeito?

(texto recebido por email, atribuído a Ricardo Freire)

Fazer, oralmente, a seguinte discussão com os alunos, a partir das seguintes questões:

1) Qual é o tema?
2) Qual é a polêmica apresentada nos textos?
3) Você já ouviu alguém usar o “gerundismo”?
4) O autor defende o uso do gerundismo?
5) Qual foi a estratégia usada para criticar o uso do gerundismo?
6) Os textos I e II apresentam opiniões convergentes sobre o gerundismo?

Recursos Complementares

Para estudo do professor:

http://www.youtube.com/watch?v=Rz88v_LO07k

Avaliação

Peça aos alunos que façam uma pesquisa na internet, selecionando vídeos que tratam do gerundismo. Após pesquisarem, assistam ao vídeo e  observem os seguintes aspectos:

- o uso do gerundismo, em geral, é aceito ou condenado pelas pessoas?
- segundo sua pesquisa, que grupo profissional mais uma o gerundismo?


Peça aos alunos que guardem essas respostas para dar continuidade ao trabalho na aula Gerundismo – parte 2.

Opinião de quem acessou

Cinco estrelas 2 classificações

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Opiniões

  • OSEIAS SOSA DA SILVA, colegio são felipe , Pará - disse:
    oseiassousas@hotmail.com

    27/02/2012

    Cinco estrelas

    aula muito boa. ajudará a minimizar esse mal, uma vez que muitas passoas fazem uso desse vício por falta de informaçaõ e conhecimento da língua


  • regina celia ferreira, E.E.M.ROMEU DE CASTRO MENEZES , Ceará - disse:
    reginacarmelitinha@bol.com.br

    24/03/2010

    Cinco estrelas

    FIQUEI MARAVILHADA COM ESTA AULA, ALIÁS É ASSIM QUE TRABALHO COM MEUS ALUNOS.MOSTRANDO-LHES AS INADEQUAÇÕES NO USO DA LÍNGUA, PROVOCANDO-LHES REFLEXÕES E AS CORREÇÕES LOGICAMENTE. MUITO BOM SERIA SE , REALMENTE , TODAS AS ESCOLAS PUDÉSSEM TER APARELHOS TECNOLÓGICOS SUFICIENTES PARA QUE OS PROFESSORES PUDÉSSEM TRABALHAR COM MAIS DESENVOLTURA JUNTO AOS SEUS ALUNOS.ABRAÇÃO.


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