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A crônica como instrumento de crítica.

 

15/05/2010

Autor e Coautor(es)
Tânia Guedes Magalhães
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JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Cristina Weitzel

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e escritos
Ensino Fundamental Final Língua Portuguesa Língua oral e escrita: prática de escuta e de leitura de textos
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Compreender o gênero crônica e suas características, desenvolvendo a crítica e a denúncia.

Duração das atividades
4 aulas de 50 minutos.
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Habilidades básicas de leitura e escrita.

Estratégias e recursos da aula

Etapa 1   

A) Ao iniciar a aula, entregue aos alunos uma cópia do texto abaixo:   

O triste sono sem mãe (Fritz Utzeri – Jornal do Brasil, 1º caderno, 15/05/2000)

       Na manhã fria de Ipanema, o menino dorme um sono profundo. Estaria sonhando? Enrolado numa manta, encolhido para proteger-se do frio, falta algo àquele menino sem nome no dia de festa. O Dia das Mães. Quem será a mãe do menino? Por que não estão juntos nesse dia, como tantos filhos e tantas mães, de todas as idades, que brincam na praia e fazem grandes filas em churrascarias, exibindo presentes? Como ele, centenas de meninos, milhares de meninos, em todo o Brasil, não tiveram a alegria de ver as mães em seu dia.

     Dorme o menino alheio a trabalhos de especialistas que registram aumento do consumo de cola de sapateiro entre os menores de rua nesses dias de festa. A droga-cola, que alivia, ajuda a fugir do triste dia-a-dia e acaba por matar.

     O que esperar desse menino que dorme? O que cobrar dele mais tarde? Provavelmente a sociedade lhe reserva repulsa e repressão e, se tiver sorte, chegará a ser um adulto. Que tipo de adulto? Inocente e indefeso, dorme o menino. Está só, todos passamos indiferentes por ele quando o vemos em sinais, vendendo doces, limpando vidros, pedindo esmola.

     Por que tem de ser assim? Que tipo de vida e de sociedade leva uma mãe a abandonar sua cria à própria sorte? Nem os animais fazem isso, mas as circunstâncias, muitas vezes, obrigam o ser humano a ser mais insensível do que os bichos. O que vamos fazer todos, a começar pelo governo das estatísticas sem alma? Esse menino não seria conseqüência de um modo de conduzir a sociedade? Não seria melhor que os políticos e governantes prestassem mais atenção nele e na legião de sem-mãe que assolam nossas ruas? E nós o que vamos fazer a respeito? Não seria a hora de, pelo menos no dia das mães, pensar um pouco a respeito disso?

     Dorme o menino, na frieza dura da pedra, e se pudesse sonhar, sonharia com o calor macio do regaço materno, com uma canção de ninar, cheia de carinho. Dorme o menino, dorme com frio...   

Autor: Fritz Utzeri – Jornal do Brasil, 1º caderno, 15/05/2000 (Agência MultimídiA) in Soares, MAGDA. Uma proposta para o letramento  

http://www.nuclep.gov.br/concursos/2007/ncp002/NCP_002-2007-Provas_Matematica_Portugues.pdf

(Acesso em 06/04/2010). 

B) Peça aos alunos que leiam o texto silenciosamente.   

C) Após a leitura silenciosa, peça aos alunos que façam uma leitura em voz alta. Cada aluno deverá ler um parágrafo. Ressalte a importância da impostação de voz e da entonação.  

D) Após essa leitura, questione os alunos oralmente: gostaram do texto? Por quê? Que tipo de fato é narrado nesse texto: um fato corriqueiro ou algo ficcional? Qual seria a temática central do texto lido? O texto é engraçado, irônico ou crítico?

- PROFESSOR: aproveite esse momento para esclarecer possíveis dúvidas de vocabulário que tenham surgido após a leitura do texto.   

E) Em seguida, entregue aos alunos uma cópia dos exercícios abaixo:

EXERCÍCIOS   

01) Como podemos perceber pela leitura, o texto trata de questões humanas como tema geral.  Qual tema específico o texto aborda?

02) O texto traz como personagem central um menino. Este menino representa uma centena de outros meninos que vivem na mesma situação do garoto do texto. Que situação é essa?

03) Releia: “Dorme o menino alheio a trabalhos de especialistas que registram aumento do consumo de cola de sapateiro entre os menores de rua nesses dias de festa. A droga-cola, que alivia, ajuda a fugir do triste dia a dia e acaba por matar.”.   

a) O que o autor quis dizer com a expressão “Dorme o menino alheio a trabalhos de especialistas que registram aumento do consumo de cola de sapateiro (...)”?

b) O que, segundo o autor,  a droga provoca nos meninos que a consomem?   

04) Veja: “(...) Provavelmente a sociedade lhe reserva repulsa e repressão e, se tiver sorte, chegará a ser um adulto.”     

a) pelo contexto, tente identificar o significado das palavras “repulsa” e “repressão”. (Prof.: se os alunos não conseguirem, pesquisar num dicionário)

b) Que sorte o menino precisará ter para chegar a ser um adulto?   

05) O autor faz esta pergunta no texto: “Que tipo de vida e de sociedade leva uma mãe a abandonar sua cria à própria sorte?”. Ele responde que “(...) as circunstâncias, muitas vezes, obrigam o ser humano a ser mais insensível do que os bichos”. Na sua opinião, que circunstâncias são essas?   

06) Observe: “O que vamos fazer todos, a começar pelo governo das estatísticas sem alma? Esse menino não seria consequência de um modo de conduzir a sociedade? Não seria melhor que os políticos e governantes prestassem mais atenção nele e na legião de sem-mãe que assolam nossas ruas? E nós o que vamos fazer a respeito? Não seria a hora de, pelo menos no dia das mães, pensar um pouco a respeito disso?”.     

Com que objetivo o autor faz esses questionamentos?   

07) Após a leitura e compreensão do texto, responda:   

a) O que podemos dizer sobre a intenção comunicativa do texto? Com que objetivo ele é escrito?

b) Há nesse texto alguma crítica ou denúncia social? Que crítica seria essa?

F) Dê um tempo para que os alunos desenvolvam as atividades e faça a correção em sala de aula.

Etapa 2   

A) Entregue aos alunos uma cópia do seguinte texto:

Notícia de Jornal (Fernando Sabino)

      Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante 72 horas, para finalmente morrer de fome.

      Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e comentários, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome.

      Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.

      O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome.

      Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa - não é um homem. E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum. Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.

      Não é da alçada do comissário, nem do hospital, nem da radiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.

      E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.

      E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição, tombado em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, um homem morreu de fome.

http://www.pucrs.br/gpt/intertextualidade.php

(Acesso em 06/04/2010). 

B) Peça aos alunos que leiam o texto em silêncio.   

C) Após a leitura silenciosa, faça uma leitura em voz alta.   

D) Depois dessa leitura com os alunos, repita a discussão feita para o texto anterior: gostaram do texto? Por quê? Que tipo de fato é narrado nesse texto: um fato corriqueiro ou algo ficcional? Qual seria a temática central do texto lido? O texto é engraçado, irônico ou crítico?

- PROFESSOR: novamente, esclareça possíveis dúvidas de vocabulário. Ressaltamos que essas questões para a discussão oral são apenas sugestões. Você poderá levantar outras indagações. Esse processo auxilia numa compreensão prévia do texto, antes de partir para a reflexão nos exercícios escritos.   

E) Em seguida, entregue aos alunos uma cópia dos seguintes exercícios:

EXERCÍCIOS   

01) Pela leitura, percebemos que o texto aborda um conflito humano. Que conflito é esse?

02) A personagem principal do texto é um homem. Esse homem, assim como a personagem principal do texto anterior, também representa outros homens que, como  ele, vivem uma mesma situação. Que situação é essa?

03) Levante hipóteses: a que classe social esse homem pertencia?

04) Observe: “Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa - não é um homem.” Pela leitura do trecho acima e levando-se em consideração todo o texto, levante hipóteses: o que seria um pária social?

05) Ainda sobre o trecho acima, podemos concluir que, implicitamente a essa afirmativa, existe:

a) uma forte dose de humor         b) um tom crítico e de denúncia                  c) um pouquinho de drama.

06) Na sua opinião, com que objetivo o autor repete a expressão “morreu de fome”?

07) Releia: “E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum. Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.” Qual é a crítica existente nessa afirmativa?

08) Podemos afirmar que:

a) o texto tem por objetivo levar à reflexão de modo crítico sobre um fato do cotidiano;

b) o autor quer conscientizar as pessoas sobre a importância de se ter a carteira de identidade, para não morrer como indigente.

c) com algumas doses de humor, o texto leva a crítica social.   

F) Deixe que os alunos façam os exercícios em sala e, em seguida, corrija-os.

Etapa 3:   

A) Comente com os alunos que os dois textos trabalhados são crônicas e, com base nesses textos elabore com os alunos um quadro com a definição do que seria o gênero: qual a sua finalidade comunicativa, suas características estruturais, o tipo de fato que o compõe (ficcional ou real, do cotidiano), se é um texto longo ou curto, como é a linguagem apresentada nele. Comente com os alunos que algumas crônicas podem ser divertidas, engraçadas, com fortes doses de humor e outras, como as trabalhadas em sala, apresentam um olhar crítico e de denúncia sobre um fato da vida cotidiana.

* PROFESSOR: novamente ressaltamos que aqui se encontram algumas sugestões. Você poderá levantar outras questões com os alunos. Sugerimos também, como material de apoio, o livro Dicionário de Gêneros Textuais, para a elaboração de um conceito sobre o gênero e suas características.   

B) Em seguida, entregue aos alunos uma cópia do texto abaixo.

CRÔNICA

Gênero entre jornalismo e literatura Alfredina Nery* Assim como a fábula e o enigma, a crônica é um gênero narrativo. Como diz a origem da palavra (Cronos é o deus grego do tempo), narra fatos históricos em ordem cronológica, ou trata de temas da atualidade. Mas não é só isso.

Publicada em jornal ou revista onde é publicada, destina-se à leitura diária ou semanal e trata de acontecimentos cotidianos. A crônica se diferencia no jornal por não buscar exatidão da informação. Diferente da notícia, que procura relatar os fatos que acontecem, a crônica os analisa, dá-lhes um colorido emocional, mostrando aos olhos do leitor uma situação comum, vista por outro ângulo, singular. O leitor pressuposto da crônica é urbano e, em princípio, um leitor de jornal ou de revista. A preocupação com esse leitor é que faz com que, dentre os assuntos tratados, o cronista dê maior atenção aos problemas do modo de vida urbano, do mundo contemporâneo, dos pequenos acontecimentos do dia-a-dia comuns nas grandes cidades. Fato corriqueiro... Há na crônica uma série de eventos aparentemente banais, que ganham outra "dimensão" graças ao olhar subjetivo do autor. O leitor acompanha o acontecimento, como uma testemunha guiada pelo olhar do cronista que tem a pretensão de registrar de maneira pessoal o acontecimento. O autor dá a um fato corriqueiro uma perspectiva, que o transforma em fato singular e único.

Outro aspecto é que as personagens das crônicas não têm descrição psicológica profunda, pois, são caracterizadas por uma ou duas características centrais, suficientes para compor traços genéricos, com os quais uma pessoa comum pode se identificar. Em geral, as personagens não têm nomes: é a moça, o menino, a velha, o senador, a mulher, a dona de casa. Ou têm nomes comuns: dona Nena, seu Chiquinho, etc...

  Características das crônicas

 A crônica é um texto narrativo que:

   É, em geral, curto;

  Trata de problemas do cotidiano; assuntos comuns, do dia a dia;

  Traz as pessoas comuns como personagens, sem nome ou com nomes genéricos. As personagens não têm aprofundamento psicológico; são apresentadas em traços rápidos;

  É organizado em torno de um único núcleo, um único problema;

  Tem como objetivo envolver, emocionar o leitor.   

Adaptado de:

http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u18.jhtm

(Acesso em 16/04/2010) 

C) Façam uma leitura em voz alta do texto e retomem as características do gênero crônica que foram levantadas. Esclareça possíveis dúvidas a respeito do gênero.

 

 

Recursos Complementares

LEITURA DO ARTIGO DISPONÍVEL EM:  http://educacao.uol.com.br/portugues/ult1693u18.jhtm

(Acesso em 16/04/2010) 

Avaliação

1) Levar os alunos à sala de informática. Pedir para que entrem no site http://www.releituras.com/  e entrar em “BUSCA NO SÍTIO”. Digite  “crônica”. A partir da página aberta, peça que os alunos escolham um autor dentre os que aparecerem. Em seguida, peça que procurem crônicas do autor selecionado. Já em sala, os alunos, divididos em grupos de 3 alunos, vão ler e treinar a leitura da crônica para a turma ouvir. Separe um dia para o “treinamento da leitura” e um outro dia para a “apresentação” da leitura da crônica. Ressalte a importância da entonação, das pausas, da pontuação, da separação de falas (se houver discurso direto), da expressão facial (em trechos que indicam medo, ternura, fome, choro, revolta, alegria) etc. Se houver um auditório ou sala diferente para a apresentação, leve os alunos para esse local. Após a leitura oral feita pelos alunos aos colegas, a turma deve comentar sobre os motivos pelos quais aquele texto se encaixa no gênero crônica e o tema central da crônica. 

Opinião de quem acessou

Quatro estrelas 3 classificações

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Opiniões

  • Fernanda Rangel, E.Estadual Dr. Armando de Sá Couto , Rio de Janeiro - disse:
    nanda_rangel@ymail.com

    08/08/2011

    Cinco estrelas

    Gostei muito desta sugestão! Fiz algo muito parecido com uma turma de 9º ano e deu certo! Só precisei de um pouco mais de tempo, pois fizemos uma roda de leitura.


  • edvane, emca fazenda lacerda , Espírito Santo - disse:
    edsouza70@hotmail.com

    25/05/2011

    Quatro estrelas

    gostei muito, pois irá ajudar a trabalhar com as olimpíadas de língua portuguesa


  • paulo, manuel carneiro , Bahia - disse:
    paulo@yahoo.com.br

    26/05/2010

    Cinco estrelas

    foi muito boa sua opinião


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