29/07/2010
Claudia Helena Azevedo Alvarenga
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
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Ensino Fundamental Final | Artes | Música: Compreensão da música como produto cultural e histórico |
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | Artes | Música: desenvolvimento da linguagem musical |
Ensino Fundamental Final | Artes | Música: Apreciação significativa em música: escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical |
Ensino Fundamental Final | Artes | Música: Expressão e comunicação em música: improvisação, composição e interpretação |
Ensino Médio | Artes | Música: Estruturas morfológicas |
Educação de Jovens e Adultos - 1º ciclo | Estudo da Sociedade e da Natureza | Cultura e diversidade cultural |
Ensino Médio | Artes | Música: Canal |
Ensino Médio | Artes | Música: Contextualização |
Ensino Médio | Artes | Música: Estruturas sintáticas |
Caro(a) professor(a), nesta série de aulas abordaremos alguns dos aspectos pedagógicos envolvidos no processo coletivo de criação de canções em sala de aula. Por meio de recursos simples de autoconhecimento da voz e da comunicação cotidiana, é possível introduzir na prática musical dos alunos a criação de suas próprias canções.
Da mesma maneira como a criança se permite riscar o papel em suas primeiras ‘garatujas’ e desenhos, acreditamos ser possível incentivar jovens e crianças a produzir e a organizar seus próprios sons cantados. Muitas vezes a cobrança por um ‘resultado’ prático, ‘bonito’ e condizente com os padrões identificados nos meios de comunicação, sabota um processo de descoberta do som, de possibilidade do erro, do esboço e do ‘brincar’. Compreendemos a canção como ‘brinquedo’, como uma estrutura com a qual desde cedo estamos acostumados, mas que pode ser desmontada, reinventada, experimentada. O percurso de descoberta é salutar para desenvolvimento cognitivo e expressivo.
Conceitualmente, propomos uma perspectiva de música contemporânea na abordagem da canção popular. Historicamente, a entrada dos compositores contemporâneos, como Schafer e Koellreutter, no campo da educação musical, contribuiu para uma ampliação do conceito de música ao considerar que qualquer som pode ser organizado com intencionalidade musical. No entanto, no Brasil, esta abertura de pensamento, em geral, não faz parte do cotidiano musical do público não especializado que, na maioria das vezes, relaciona-se com música por meio da canção popular por meio de uma cultura de tradição oral e midiática, por exemplo: Tv aberta, rádios populares e comunitárias, internet etc. Para esta grande audiência, a canção é um dado, um objeto pronto, acabado, figurativo e dotado de padrões, ou seja, tudo aquilo que não se enquadra, não é ou não tem semelhança com o que é considerado tradicionalmente como música.
Esta série de aulas tem por finalidade contribuir para uma compreensão crítica sobre as maneiras como a criança e o jovem de hoje se relacionam com música. Acreditamos que com isso podemos estimular uma relação com música para além da reprodução de um repertório já conhecido. Com este intuito, sugerimos que seja incentivado nas aulas de música o aproveitamento do conhecimento musical informal por meio de discussão, análise e transformação deste material. Sem desconsiderar as especificidades técnicas e estéticas do fazer musical, a criação coletiva de canções, quando abordada em uma perspectiva crítica, é um instrumento provocador de insights e ‘leituras de mundo’.
Afinal, como são compostas canções de funk, pagode, rap, bossa nova, mpb, pop, rock e outros gêneros populares? Como é possível compor um verso, um refrão, como o que ouvimos comumente em nossos ipods (mp3 player)? O que envolve este tipo de criação? Que características melódicas, rítmicas, poéticas, harmônicas e interpretativas, encontramos em cada estilo? Qualquer pessoa pode compor uma canção ou é algo destinado apenas a alguns poucos talentos iluminados? Qual o sentido de compor uma canção hoje? É relevante? O que pode expressar? É possível compor uma canção mesmo com pouco conhecimento técnico e recursos limitados?
Nesta série de aulas propomos problematizar aspectos como estes e desafiar o professor a levantar outros tópicos para discussão com seus alunos. Ao esboçar respostas através de uma atividade prática de criação de canções, sugerimos aos educadores que reflitam sobre a necessidade constante de busca por uma ação musical significativa construída junto aos seus alunos.
Para uma pesquisa inicial sobre canção e sua história, veja os links 1, 2 e 3 em Recursos Complementares.
Sobre práticas de criação em música, veja os links 4 e 5 em Recursos Complementares.
Professor, proponha uma conversa inicial que permita conhecer algumas das noções que os alunos trazem previamente sobre o termo ´canção’ e o que envolve seu processo de produção. Pergunte: o que é uma canção?
Um ponto importante deste levantamento é observar se os alunos, a princípio, identificam canção como um tipo de música cantada ou se utilizam o termo meramente como sinônimo de música. Se canção é uma música cantada, que tipo de música existe além de canção? Existe música sem letra?
A partir desta segunda questão, podemos diferenciar a noção de música cantada (canção) e de música instrumental.
Realizada esta distinção inicial, pergunte: de que precisamos para elaborar uma canção? Algumas respostas possíveis: sons, instrumentos, músicos, letra, melodia, forma, arranjo, harmonia, etc.
Elabore com os alunos uma leitura crítica de cada item, avaliando se é dispensável ou não para que algo continue sendo canção. Prossiga com a discussão até chegarmos a três elementos básicos: texto (letra), melodia (forma de cantar o texto) e organização intencional (forma).
Realize com os alunos uma breve audição da canção “Samba de uma nota só” de Antônio Carlos Jobim. Observe que o arranjo separa claramente a parte instrumental da cantada.
Samba de uma nota só: http://www.youtube.com/watch?v=0CYpukkQo04
Para problematizar: há uma parte do arranjo em que a música é cantarolada sem uma letra específica, algo como (papará pará papá). Se a música fosse toda cantada assim seria uma canção? Papará pará papá é uma letra? A discussão é válida para expor limites que as definições por vezes apresentam e a necessidade de constante revisão de conceitos.
Faça um levantamento com os alunos sobre diferentes usos da canção no cotidiano: música de rádio, música para passar o tempo, música para propaganda, música para torcer para futebol, música para representar uma nação, música para dançar, música para relaxar, música para dormir etc. Apresente a canção “música para ouvir” de Arnaldo Antunes:
Música Para Ouvir (Arnaldo Antunes)
Música para ouvir no trabalho
Música para jogar baralho
Música para arrastar corrente
Música para subir serpente
Música para girar bambolê
Música para querer morrer
Música para escutar no campo
Música para baixar o santo
Música para ouvir
Música para ouvir
Música para ouvir
Música para compor o ambiente
Música para escovar o dente
Música para fazer chover
Música para ninar nenê
Música para tocar novela
Música de passarela
Música para vestir veludo
Música pra surdo-mudo
Música para estar distante
Música para estourar falante
Música para tocar no estádio
Música para escutar rádio
Música para ouvir no dentista
Música para dançar na pista
Música para cantar no chuveiro
Música para ganhar dinheiro
Música para ouvir
Música para ouvir
Música para ouvir
Música pra fazer sexo
Música para fazer sucesso
Música pra funeral
Música para pular carnaval
Música para esquecer de si
Música pra boi dormir
Música para tocar na parada
Música pra dar risada
Música para ouvir
Música para ouvir
Música para ouvir
Letra e vídeo "Música para ouvir": http://letras.terra.com.br/arnaldo-antunes/67756/
Discuta sobre como nos dias atuais a música pode estar associada a ações simultâneas em momentos diversos do dia a dia. É um tipo de audição dinâmica característica de um tempo ágil e em movimento constante. Estabeleça um paralelo entre o mp3 player, que possibilita que portemos uma música a qualquer lugar, com o período em que não haviam mecanismos de gravação. Em épocas passadas a música para ser ouvida precisava ser tocada ao vivo por alguém. Que implica esta diferença?
Divida a turma em grupos e peça que elejam ou sorteiem um dos usos de música comentados, como por exemplo: dormir, tocar na novela, de passarela, para dar risada etc. Peça que, em seguida, montem uma pequena composição com a intenção proposta. Oriente os alunos a pesquisar as características sonoras que levam a determinada intenção, expressão e sensação pretendida. Uma alternativa é criar um banco de palavras que se relacione ao assunto e depois frases, conectando as palavras. Estimule os alunos a 'melodizar' as frases com a intenção proposta.
Obs.: Para a construção de um banco de palavras, veja a Atividade 2 da aula:
Conceitos de Música – cultura e significado - aula 4
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=19050
Faça uma breve apresentação dos grupos e uma discussão do que foi apresentado. Primeiro, cada grupo apresenta as músicas e, em seguida, os outros alunos tentam acertar qual foi a intenção proposta pelo grupo que se apresentou. Ao final, pergunte se as composições conseguiram ser convincentes no que se refere à expressão sonora pretendida.
Link 1 - Canção na wikipédia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Canção
Link 2 - O Século da Canção, Luiz Tatit - http://books.google.com/books?id=IZrktBBCEb4C&printsec=frontcover&dq=canção&hl=pt-BR&cd=3#v=onepage&q&f=false
Link 3 - História Social da Música Popular Brasileira, José Ramos Tinhorão - http://books.google.com/books?id=8qbjll0LmbwC&pg=PA129&dq=canção&lr=&hl=pt-BR&cd=13#v=onepage&q=can%C3%A7%C3%A3o&f=false
Link 4 - Música na Educação Infantil, Teca Alencar de Brito - http://books.google.com/books?id=dQUI4OQfk8YC&printsec=frontcover&dq=teca+alencar+de+brito&lr=&as_brr=0&hl=pt-BR&cd=1#v=onepage&q&f=false
Link 5 - Koellreutter Educador, Teca Alencar de Brito - http://books.google.com/books?id=uKUkCKTgPskC&printsec=frontcover&dq=teca+alencar+de+brito&lr=&as_brr=0&hl=pt-BR&cd=2#v=onepage&q&f=false
Ao final da atividade, observe se os alunos atingiram os objetivos propostos. Avalie:
1. Conseguiram diferenciar o conceito de música instrumental do conceito de canção?
2. Identificaram diversos usos da canção no cotidiano?
3. Elaboraram canções com intenção de associar às situações propostas?
4. Os alunos conseguiram discutir em conjunto a composição e tomar decisões em grupo?
Quatro estrelas 1 classificações
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24/08/2010
Quatro estrelasMuito interessante a proposta de criação musical de forma intencional para determinada função da música. A partir do referencial socioconstrutivista de Vigotski, encontramos explicações para a possibilidade de desenvolver criação musical com um público não especilaista em música; logo, é possivel a qualquer indivíduo situado em um contexto sociocultural. A possibilidade discursiva da música facilita a apropriação da atividade pelos alunos.