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Diversidade Cultural: Da perplexidade

 

25/01/2011

Autor e Coautor(es)
Giselle Moraes Moreira
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JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Oswaldo Bueno

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Sociologia Cultura e diversidade cultural
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

- Assimilar a ideia de diversidade cultural como algo constitutivo das sociedades humanas;

- Refletir sobre o respeito à diferença, através dos conceitos de relativismo e etnocentrismo;

- Refletir sobre nossa cultura;

A partir da leitura, discussão de textos e filmes, do estranhamento, da perplexidade que o diferente provoca, o aluno provavelmente ficará motivado a conhecer outras culturas principalmente no que elas manifestam de diferente.  Portanto, essa aula permite que o “diferente” possa se transformar em relativo e pode possibilitar a compreensão. Permite despertar uma reflexão sobre a diversidade cultural e sobre como somos levados a juízos etnocêntricos sobre o “outro”. Permite também o olhar a nós mesmos, nossas culturas, nossos hábitos e como esses hábitos também podem provocar julgamento e estranhamento por parte das outras culturas.

Duração das atividades
150 minutos. Cerca de 3 aulas
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Não há necessidade de conhecimentos prévios

Estratégias e recursos da aula

Utilização de textos, vídeo e espaço aberto para os debates. Podem ser utilizados quaisquer textos sobre diversidade cultural, imagens e filmes que produzam estranhamento por revelar práticas e hábitos culturais diferentes dos da cultura ocidental.

 

A aula:

Na aula anterior, solicitar aos alunos que pesquisem sobre hábitos de outros povos ou países. Com a pesquisa em mãos, divida-os em grupos e favoreça a discussão nos grupos sobre a diversidade cultural. Depois, coloque-os em círculo e discuta com eles sobre as experiências pesquisadas. Faça uma rápida exposição sobre cultura e diversidade cultural.

Atividade 1: Objetivo: Permitir a assimilação do caráter dinâmico que envolve as culturas, suas transformações e o conjunto de fatores que permitem essas transformações.Peça aos alunos que pesquisem em sites de internet, revistas antigas e novas, jornais etc como as conquistas da mulher atestam as mudanças na sociedade brasileira. Pode-se sugerir aos alunos a apresentação de dados sobre trabalho, imagens sobre as mudanças de comportamento, as conquistas no campo jurídico e mudanças no vestuário. Peça para que distribuam essas informações em cartazes, com imagens para que cada grupo apresente suas informações. Permita que eles discutam como os valores mudam, o que representa a dinâmica das culturas e quais os fatores que influenciaram essas transformações.

 

2. Relativismo e Etnocentrismo: Solicitar aos alunos para que citem exemplos de preconceitos, guerras e genocídios, tensões religiosas, fundamentalismo, nazismo, conflitos étnicos na África, tensões raciais nos Estados Unidos, dentre outros. Podemos convidar os alunos a uma reflexão sobre como olhamos e julgamos as outras culturas, bem como julgamos nosso colega ou outros grupos sociais que se vestem, falam ou se comportam de maneira diferente daquela que consideramos ser mais correta, melhor ou superior. Ou seja, essas manifestações também ocorrem no nosso cotidiano e são um convite à intolerância.Os objetivos das atividades aqui propostas são refletir sobre as seguintes questões: Como comparamos diferentes culturas? Como as culturas são descritas e classificadas? Como elas interagem? Tudo em termos culturais deve ser respeitado? Discuta com eles os conceitos de etnocentrismo e relativismo aplicados a esses exemplos com o objetivo de tentar quebrar visões que tendem a realçar os preconceitos e estereótipos.

 

Atividades 2:

 2.1 Descrição da atividade: Discutir o tema do Etnocentrismo e Relativismo cultural após a exibição do vídeo “Pés de Lótus” Esse filme relata a prática na China, cujas mulheres, quando crianças, atavam os pés para que ficassem pequenos. Após o filme, propor um debate e destacar os seguintes aspectos: - O que mais lhe chamou atenção? - Quais os fatores que motivam essa prática cultural em sua opinião? - Existem outros exemplos que vocês conhece sobre diversidade cultural? - Como vocês julgariam essa prática? 

2.2 Descrição da atividade: Ler, juntamente com os alunos, exemplos de diversidade cultural e permitir que eles debatam como essas práticas são diferentes e o sentimento de estranhamento que essas práticas provocam (exemplos texto 1 e 2 abaixo). Após a leitura, discutir com os alunos como podemos diferenciar e respeitar as outras culturas sem utilizar concepções de hierarquia e desigualdade ou concepções de progresso e atraso, ou de normalidade e diferença. Podemos aceitar todas as práticas culturais? Abaixo alguns textos que podem ser utilizados para a discussão com os alunos.

Texto 1. Diversidade cultural - Estudos de caso

A cultura de uma determinada sociedade pode diferir profundamente de outra, o que é sagrado para uma pode ser repugnante para outra, o que é certo para uma pode ser errado para outras. Veja alguns exemplos:“O homem recebe do meio cultural, em primeiro lugar, a definição do bom e do mau, do confortável e do desconfortável." Deste modo, os chineses preferem os ovos podres e os Oceanenses o peixe em decomposição. Para dormir, os Pigmeus procuram a incómoda forquilha de madeira e os Japoneses deitam a cabeça em duro cepo. O homem recebe do seu meio cultural um modo de ver e de pensar. No Japão considera-se delicado julgar os homens mais velhos do que são e, mesmo durante os testes e de boa-fé, os indivíduos continuam a cometer erros por excesso. O homem também retira do meio cultural as atitudes afetivas típicas. Entre os Maoris [Nova Zelândia], onde se chora à vontade, as lágrimas correm só no regresso do viajante e não à sua partida. Nos Esquimós, que praticam a hospitalidade conjugal, o ciúme desapareceu (...). Nas ilhas Alor [Indonésia], a mentira lúdica considera-se normal; as falsas promessas às crianças constituem um dos divertimentos dos adultos. O mesmo espírito encontra-se na ilha de Normanby onde a mãe, por brincadeira, tira o seio ao filho que está a mamar. O respeito pelos pais sofre igualmente flutuações geográficas. O pai conserva o direito de vida e de morte entre os Negritos das Filipinas e em certos lugares do Togo, dos Camarões e do Daomé. Em compensação, a autoridade paterna era nula ou quase nula nos Kamtchatka [da Sibéria] pré-comunistas ou nos aborígenes do Brasil. As crianças Taraumaras [do México] batem e injuriam facilmente os pais.Entre os Esquimós o casamento faz-se por compra. Nos Urabima da Austrália um homem pode ter esposas secundárias que são as esposas principais de outros homens. No Ceilão [atual Sri Lanka] reina a poliandria fraternal: o irmão mais velho casa-se e os mais novos mantêm relações com a cunhada. (…)O amor e os cuidados da mãe pelos filhos desaparecem nas ilhas do estreito de Torres [Austrália] e nas ilhas Andaman [Índia], em que o filho ou a filha são oferecidos de boa vontade aos hóspedes da família como presentes, ou aos vizinhos, como sinal de amizade. A sensibilidade a que chamamos masculina pode ser, de resto, uma característica feminina, como nos Tchambuli [Nova Guiné], por exemplo, em que na família é a mulher quem domina e assume a direção. Os diferentes povos criaram e desenvolveram um estilo de vida que cada indivíduo aceita – não sem reagir, decerto – como um protótipo.

 Lucien Malson, As crianças selvagens, Livraria Civilização, 1988, pp. 26-28.

 

Texto 2 - POR QUE MUTILAM O CLITÓRIS?Baseado no texto da Revista Superinteressante, abril de 2002

Nos últimos anos, o mundo vem fazendo uma guerra contra a mutilação genital nas mulheres muçulmanas e a ONU escalou um time de celebridades para sair protestando contra o costume ancestral dos muçulmanos de arrancar o clitóris das mulheres. Mas não só as mulheres muçulmanas fazem essa coisa "terrível". Aqui pertinho, do lado do Brasil, algumas mulheres peruanas tem esse mesmo costume. Um índio da tribo shipibo-conibo desenha esse ritual para a revista superinteressante, editora abril."Afinal, porque eles fazem isso? Respostas que as mulheres da tribo shipibo-conibo deram: "A mulher com clitóris fica mais ociosa; para que engorde; para tirar seu mau cheiro; se não tirasse, cresceria um pênis ali; se não, ela seria descriminada; a verdadeira mulher não tem, e o que a maioria respondeu: e o costume. O fato é que a capadura era, além de uma obrigação, uma virtude, um ato de cidadania. A mulher que não extirpasse seu clitóris não arrumava homem." Alguns estudiosos falaram sobre este assunto para a revista: "Antropólogo peruano, Maneul Cuents disse: um rito de transição: ela entra com um status e sai com outro, apta para o matrimônio. Já Jacques Tourneau, etnocientista francês acha que se trata de uma castração simbólica para dominar as mulheres  e uma forma de retirar seu apetite sexual, diminuindo as relações extramatrimoniais. Para a Psicanálise, o clitóris pode ser considerado um pequeno pênis e sua extirpação tira o aspecto masculino e caracteriza a jovem sem ambigüidade como mulher."

 

Atividade 3 - Descrição das atividades: Propor a leitura do resumo do texto de Horace Minner, Os Sonaciremas, em sala de aula. De um modo geral, a leitura desse texto também produz um enorme estranhamento nos alunos. Após a leitura do texto permita que eles discutam e, após a consideração das impressões dos alunos, introduz-se o debate sobre cultura e estranhamento ou choque cultural. Destaque quais práticas que eles consideram mais diferentes.

 

O Ritual do Corpo entre os Sonacirema - Horace Minner

Os Sonacirema são um grupo norte americano cuja cultura ainda é pouco compreendida. Eles constituem um grupo norte-americano que vive no território que se estende entre os Cree, do Canadá, aos Yaqui e Tarahumara, do México, e aos Caribe e Aruque, das Antilhas. Pouco se sabe quanto à sua origem, embora a tradição mística afirme que eles vieram do leste.A cultura Sonacirema se caracteriza por uma economia de mercado altamente desenvolvida, que se beneficiou de um ‘habitat’ natural muito rico. Embora, nesta sociedade, a maior parte do tempo das pessoas seja devotada à ocupação econômica, uma grande porção dos frutos destes trabalhos, e uma considerável parte do dia, são despendidas em atividades rituais. O foco destas atividades é o corpo humano, cuja aparência e saúde constituem a preocupação dominante dentro do ‘ethos’ deste povo.A crença fundamental subjacente a todo o sistema parece ser a de que o corpo humano é feio, e que sua tendência natural é a debilidade e a doença. Encarcerado em tal corpo, a única esperança do homem é evitar essas características, através do uso de poderosas influências do ritual e da cerimônia. Todo o grupo doméstico possui um ou mais santuários dedicados a tal propósito. A maioria dos Sonacirema mostra tendências masoquistas bem definidas, ressaltando que um povo dominantemente masoquista desenvolve especialistas sádicos. Como exemplo, cita um ritual cotidiano realizado apenas pelos homens que envolve uma escarificação e laceração da superfície do rosto por meio de objeto cortante e cerimônias femininas especiais que ocorrem quatro vezes por mês lunar, em que as mulheres assam suas cabeças em pequenos fornos durante mais ou menos uma hora. Para concluirmos, deve-se mencionar certas práticas que estão baseadas na estética nativa, mas que dependem da aversão generalizada ao corpo e às funções naturais. Há jejuns rituais para fazer pessoas gordas ficarem magras, e banquetes cerimoniais para fazer pessoas magras ficarem gordas. Outros ritos ainda são usados para tornar maiores os seios das mulheres, se eles são pequenos, e menores, se são grandes. Uma insatisfação geral com a forma dos seios é simbolizada pelo fato de que a forma ideal está virtualmente fora do espectro da variação humana. Umas poucas mulheres que sofrem de quase inumano desenvolvimento hipermamário são tão idolatradas que podem viver bem através de simples viagens de aldeia em aldeia, permitindo aos nativos admira-las mediante uma taxa.

Continuação da atividade 3: Após a discussão preliminar do texto sonacirema, afirme que existe um mistério nesse texto e deixe que os alunos tentem descobrir. Você pode escrever a palavra SONACIREMA no quadro para ajudar. Caso não descubram, dizer que sonacirema é americanos ao contrário e que esse texto, na verdade, descreve nossas práticas com o corpo, como o fazer a barba masculino, o secador de cabelo feminino e as plásticas. Essa é uma excelente forma de explorar tanto o etnocentrismo quanto o relativismo cultural. Devemos ressaltar que o objetivo do texto é explorar a questão do etnocentrismo ocidental, mais especificamente norte-americano. Destacar que quando julgamos outras culturas, esquecemos de observar como nossas práticas podem chocar e provocar espanto quando observadas de fora e analisadas sem que se considere o significado delas em determinado contexto social.

Atividade complementar:  Caso exista a proximidade e seja possível, agende uma visita a alguma tribo indígena, a alguma comunidade religiosa específica ou mesmo um bairro que tenha pessoas de outros países ou culturas. Permita que os alunos observem a depois, em sala de aula, discuta suas impressões e curiosidades sobre  diversidade cultural.

 

Término da aula: Propor aos alunos que cada um diga que é um país, uma etnia ou um povo, e propor um abraço entre todos, para celebrar o respeito às diferenças e às outras culturas. Ler em voz alta:  "RESPEITAR A VISÃO DO OUTRO, EM QUALQUER ASPECTO, É UMA DAS MAIORES VIRTUDES QUE UM SER HUMANO PODE TER. AS PESSOAS SÃO DIFERENTES, AGEM DIFERENTE, E PENSAM DIFERENTE. NUNCA JULGUE.  APENAS COMPREENDA”.

Recursos Complementares

Sugestão de outros filmes: Como era gostoso meu francês; Os Deuses devem estar loucos; O Sacrifício.

Avaliação

Solicitar aos alunos que pesquisem tribos urbanas e que discutam as diferenças entre os grupos, exemplos de violência contra grupos minoritários e como a discussão sobre relativismo e etnocentrismo se coloca nessas situações.

Opinião de quem acessou

Quatro estrelas 5 classificações

  • Cinco estrelas 4/5 - 80%
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Opiniões

  • Sonaide de Brito Moreira, Colégio Estadual Mascarenhas de Moraes , Bahia - disse:
    ladysonaide@gmail.com

    29/09/2013

    Cinco estrelas

    Bastante proveitosa essa aula. Era o que eu precisava para dar início a um projeto sobre diversidade cultural e fechar com um seminário para discutir sobre a cultura africana.


  • Ubiratan , ufpb , Paraíba - disse:
    uandrade@hotmail.com

    19/01/2013

    Quatro estrelas

    Gostei muito da exposição do trabalho,bem explicado e sugestões de como utilizá-lo..


  • FRANCISCA DOLORES DE SOUZA PINHO, EMEB CONSTANCA FIGUEIREDO PALMA BEM BEM , Mato Grosso - disse:
    francidolores@gmail.com

    04/09/2012

    Cinco estrelas

    MATERIAL MUITO BOM PARABÉNS!


  • Jorge Rocha, Portugal - disse:
    filosjorgerocha@hotmail.com

    02/03/2012

    Cinco estrelas

    Gostei muito da aula: tem uma boa estruturação e muito bons materiais.


  • patricia, E.E.E.F.M. Prof. Delgado Leão , Pará - disse:
    dpatriciahelena@hotmail.com

    29/08/2011

    Cinco estrelas

    excelente aula, tem uma boa dinâmica,vou usá-la... parabéns Gisele!!! Estou em sala de aula a apenas 1 ano e toda ajuda é bem vinda!!!! Obrigada!!


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