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Soneto: morte e ressurreição no Brasil do século XX

 

14/07/2011

Autor e Coautor(es)
wendell de freitas amaral
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JUIZ DE FORA - MG Universidade Federal de Juiz de Fora

Maria Cristina Weitzel Tavela

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Literatura Estudos literários: análise e reflexão
Ensino Médio Literatura Literatura brasileira, clássica e contemporânea: criações poéticas, dramáticas e ficcionais da cultura letrada
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

 

  • ler poemas parnasianos, modernistas e pós-modernistas;
  • identificar as características mais utilizadas para a produção de um soneto;
  • relacionar as características discursivas e ideológicas sobre o soneto ao contexto histórico de sua produção, circulação e recepção;
  • reconhecer a importância "positiva" ou "negativa" do soneto para a consolidação de uma determinada estética literária;
  • debater sobre os efeitos da forma poética fixa.
Duração das atividades
3 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Habilidades básicas de leitura e escrita;

Conhecimentos básicos da estrutura de um poema.

Estratégias e recursos da aula

Professor, esta aula tem por objetivo um estudo sobre o gênero "soneto", bastante utilizado pelos poetas há muitos séculos.

Porém, como toda regra, já que o soneto é um exemplo de rigidez formal, em determinadas épocas tal gênero foi combatido devido à sua estrutura fixa, por ser visto como restritivo para a liberdade artística.

Veremos como essas visões antagônicas, a favor ou contra o soneto, se manifestaram no Brasil, principalmente a partir da virada do século XIX para o XX, focando os sucessivos períodos em que os poetas parnasianos, os modernistas e os contemporâneos produziram.

1ª Atividade

Professor, inicie a aula conversando com seus alunos sobre o que entendem do soneto. O que pensam ser este poema de forma fixa? Se podem exemplificar com textos conhecidos, se sabem de variações quanto ao número de estrofes, de sílabas métricas etc.

Procure, a partir das manifestações de seus alunos, traçar um perfil deste gênero poético.

Para auxiliar este trabalho, e justificar as conclusões sobre o soneto, veja abaixo algumas importantes definições do gênero:

Olavo Bilac e Guimaraens Passos

É, (o soneto) apesar da guerra que lhe tem sido movida, e apesar do abuso que dele têm feito os poetas medíocres, a mais difícil e mais bela das formas da poesia lírica (...)

O soneto é uma composição poética, constituída por 14 versos, distribuídos em 2 quartetos e 2 tercetos. A tradição quer que o último verso do soneto seja sempre uma “chave de ouro”, encerrando a essência do pensamento geral da composição. (...)

O soneto clássico (petrarcheano e camoneano) é o soneto em versos decassílabos ou heróicos (com a cesura na 6ª e na 10ª sílabas). Mas nunca houve regras fixas para a colocação das rimas dos quartetos e dos tercetos (...). há, muitas variantes, geralmente admitidas.

(BILAC, Olavo; PASSOS, Guimaraens. Tratado de Versificação. 6ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1930, p. 168-185).

 

Manuel Bandeira

O soneto apresenta duas variedades: o soneto italiano e o soneto inglês.

soneto italiano compõe-se de dois quartetos e dois tercetos. A distribuição das rimas é muito variável. No soneto clássico os quartetos são construídos sobre duas rimas; os tercetos, sobre duas ou três. Eis os esquemas para os quartetos: abba /abba;abab /abab. Para os tercetos: cdc dcdcde cdeccd / eedcdd dcdcdc dcdcde ede. É considerado irregularidade misturar os dois esquemas de quarteto; por exemplo, rimar num quarteto abba e no outro baab ou abab ou baba. Mais irregular ainda é não rimar os versos do segundo quarteto com os do primeiro (abab / cdcd). O esquema que parece comunicar ao soneto maior unidade e harmonia formais é abba / abba / cdc / dcd.

(...)

soneto inglês, só muito recentemente introduzido em nossa língua, compõe-se de três quartetos e um dístico. Obedece ao esquema abab / cdcd / efef / gg ou Abba / effe /gg, (...). Só tem pois de comum com o soneto italiano o número de versos.

(BANDEIRA, Manuel. “A versificação em Língua Portuguesa”. in: Seleta de Prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, p. 547-548). 

 

Antes de partirmos para o século XX, é importante a leitura do poema "À certa personagem desvanecida". Trata-se de uma sátira de Gregório de Matos ao Conde de Ericeira, D. Luis de Meneses.

Indique para seus alunos a pesquisa do poema:

http://www.revista.agulha.nom.br/gregoi04.html

Abaixo, o poema na voz de Vânia Gomes da Silva

http://www.recantodasletras.com.br/audios/poesias/32980

 

Após a leitura e a audição do texto de Gregório de Matos:

a) peça aos alunos para copiarem no caderno os versos que fazem referências à estrutura do soneto.

Pergunte:

b) qual é o tema do poema?

c) é possível dizer que o texto de Gregório de Matos é um poema metalinguístico? (poema que tematiza o próprio fazer poético).

d) como o autor trata a sua composição (o soneto)? Tem prazer em fazê-lo ou demonstra fazê-lo apenas para cumprir as normas estruturais? Por quê?

e) mesmo sendo irônico, Gregório de Matos respeita a estrutura do soneto? Classifique os versos quanto ao número de sílabas métricas e destaque o esquema de rimas com as letras (AB - CD).

 

Outro exemplo interessante e irônico sobre a forma soneto é o poema de Tristan Corbière, poeta francês do fim do século XIX, traduzido por Augusto de Campos:

http://www.guesaerrante.com.br/2005/12/1/Pagina474.htm

 

 

2ª Atividade

Modernismo X Parnasianismo

No fim do século XIX, o poeta francês Théophile Gautier, iniciador da famosa teoria da arte pela arte, que objetivava apenas a criação da beleza, pregava princípios de rigor na composição, e a busca de sugestão plástica ao invés do individualismo subjetivista. A beleza, neste caso, deveria ser alcançada por meio de um trabalho duro, obstinado, que tratasse a palavra como objeto; e não pela ação da inspiração. Portanto, a arte deveria voltar-se para si mesma, princípio que sintetizava os objetivos do movimento.

O Parnasianismo, Escola poética que cumpriu à risca a teoria da arte pela arte, cultuava as divindades gregas e as formas clássicas como exemplo de beleza. Além disso, os parnasianos valorizavam demasiadamente os aspectos formais do poema, como o gênero soneto, muito usado na antiguidade, com versos Alexandrinos (12 sílabas) ou decassílabos (10 sílabas), a rima rica e rara, a chave de ouro (final perfeito para o poema), a tematização de objetos e de formas concretas. O poeta parnasiano, portanto, como um ourives, um escultor, tem o seu poema como um produto material, onde o que importa não é o sentimento, mas a técnica, a capacidade artesanal do criador devidamente associada a seu esforço.

Essa preocupação exagerada com o poema, tratando-o como produto concreto, final e acabado, a ânsia pela construção do objeto, muitas vezes esquecendo-se do conteúdo ou as emoções poéticas individuais, fizeram com que os parnasianos fossem vistos como uma espécie de operários do verso, ou máquinas, como ironizou o modernista Oswald de Andrade: "Só não se inventou uma máquina de fazer versos – já havia o poeta parnasiano".

Nas primeiras décadas do século XX, no Brasil, os poetas do Modernismo manifestaram um grande desejo de liberdade de expressão e uma tendência para transmitir a emoção pessoal e a realidade do País. Em relação a isso, afirmaram sua libertação de diversas formas: pelo vocabulário, pela sintaxe, nos temas. Além disso, rejeitaram os padrões estéticos tradicionais, buscando uma expressão mais coloquial, próxima do modo de falar do brasileiro e combatendo a literatura discursiva e o estilo retórico dos seus antecessores. Havia também o desejo de traduzir em literatura os fatos da modernidade, como a velocidade, as novas formas de expressão artística e a máquina.

O Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade é o exemplo mais enfático deste desejo de mudança poética:

http://www.lumiarte.com/luardeoutono/oswald/manifantropof.html

 

O Modernismo da primeira fase, mais radical, tomou o soneto como símbolo da falta de inventividade e de liberdade na poesia nacional, pelo fato de ser uma forma fixa à qual o poeta, mesmo variando rimas e ritmos, deveria ser submisso, nem excedendo nem sendo econômico. Isto é, uma forma em que se junta os versos, os põe na medida exata e, pronto, está feito o poema. Por isso a analogia com a fábrica de fazer versos, como se os sonetos fossem produtos em série.

Professor, para que seus alunos possam comparar alguns sonetos dos parnasianos com poemas modernistas que representavam a liberdade da expressão do verso, indique para a turma a pesquisa dos seguintes autores e seus poemas:

Sonetos parnasianos

Olavo Bilac

http://www.revista.agulha.nom.br/bilac.html#poeta

http://www.revista.agulha.nom.br/bilac1.html#inania

http://www.revista.agulha.nom.br/bilac2.html#nel

Alberto de Oliveira

http://www.revista.agulha.nom.br/ao02.html

http://www.revista.agulha.nom.br/ao03.html

http://www.revista.agulha.nom.br/ao04.html

Poemas modernistas

Oswald de Andrade

http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#pronominais

http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#vicio

http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#oferta

http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#erro

http://www.revista.agulha.nom.br/oswal.html#ocapoeira

http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/oswald-de-andrade/3-de-maio.php

Manuel Bandeira

http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira01.html#sapos

http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira03.html#poetica

http://www.revista.agulha.nom.br/manuelbandeira04.html#poema

Carlos Drummond de Andrade

http://www.revista.agulha.nom.br/drumm1.html#poemaqueaconteceu

http://www.revista.agulha.nom.br/drumm2.html#nomeio

http://www.revista.agulha.nom.br/drumm2.html#poemadojornal

http://www.revista.agulha.nom.br/drumm1.html#poesia

 

Professor, para a pesquisa e o desenvolvimento da atividade:

a) divida os alunos em 5 grupos;

b) sorteie um poeta para cada grupo pesquisar;

c) peça para os grupos lerem os poemas pesquisados em voz alta na sala de aula;

d) peça para cada grupo destacar nos poemas lidos:

I - o esquema de rimas;

II - o número de sílabas métricas dos versos e observar se há uma regularidade entre eles;

III - palavras de uso coloquial;

IV - palavras de uso erudito ou pouco comuns no uso cotidiano;

V - possíveis definições da poesia ou de alguma poética;

VI - manifestação do humor e da ironia;

VII - temática;

VIII - relações entre a forma e o conteúdo.

 

Aquilo que foi destacado e visto como importante para a interpretação dos poemas pesquisados por cada grupo deverá ser apresentado em forma de seminário para o restante da turma e comparado às apresentações anteriores, para isso:

a) sugira que os alunos utilizem data-show, retroprojetor ou mesmo o quadro negro;

b) inicie a apresentação a partir dos sonetos parnasianos, como na ordem indicada acima;

c) abra espaço entre as apresentações para a análise dos alunos espectadores sobre os textos lidos pelos colegas;

 

O que deverá ficar claro ao fim desta atividade é que a libertação do verso pelos modernistas permitiu maior mobilidade rítmica e sintática, enquanto os sonetos parnasianos, mesmo muito bem feitos, não permitem, pela obediência à forma fixa, tantas variações.

Além de ter aproximado a forma do conteúdo, os poemas modernistas parecem mais simples e objetivos não só pela estrutura, mas também pela linguagem, de modo que a inclusão dos temas cotidianos e do humor combinados ao ritmo variável da fala refletem uma nova técnica da expressão de imagens poéticas e uma visão menos idealizante da poesia, próprias do seu contexto de produção, a modernidade.

 

3ª Atividade

Apesar das importantes inovações e do radicalismo dos primeiros modernistas, alguns poetas como Manuel Bandeira e Guilherme de Almeida produziram considerável número de sonetos.

Mas, principalmente, os de gerações posteriores decidiram revalorizar este gênero poético, por se mostrar descontentes com os radicalismos da Semana de 22 e por certas formas consideradas já desgastadas, como o chamado poema-piada. Inspirados pela leitura de clássicos como Camões e Petrarca, e até mesmo dos parnasianos renegados pela maioria dos modernistas, estes poetas escreveram bastantes sonetos, porém incorporando a eles uma maior variação de ritmos e temas mais cotidianos.

Professor, indique a seus alunos a pesquisa dos sonetos dos poetas abaixo:

Vinícius de Moraes

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1469

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1467

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=5084

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1499

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=1487

Olegário Mariano

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2466

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2465

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2475

Lêdo Ivo

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2731

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2730

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2725

http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=2728

Augusto Frederico Schmidt

http://www.revista.agulha.nom.br/afs.html#soneto

http://www.revista.agulha.nom.br/afs1.html#V

http://www.revista.agulha.nom.br/afs1.html#soneto2

http://www.revista.agulha.nom.br/afs1.html#soneto

 

Abaixo dois vídeos com Vinícius de Moraes e Tom Jobim recitando o "Soneto de Fidelidade" e o "Soneto de Separação":

http://www.youtube.com/watch?v=eHgU4ERc7Nc

http://www.youtube.com/watch?v=sPBoIoXMgFw&feature=related

soneto de separação

http://depressaoepoesia.ning.com/profiles/blogs/vinicius-de-moraes-2?xg_source=activity

 

Para a pesquisa e o desenvolvimento da atividade:

a) divida a turma em duplas;

b) sorteie um soneto para cada dupla;

c) peça para lerem o soneto em voz alta;

d) peça para analisarem o texto seguindo o roteiro abaixo transcrevendo no caderno:

I - destacar o esquema de rimas;

II - classificar o número de sílabas métricas dos versos e observar se há uma regularidade entre eles;

III - apontar o tema do soneto;

IV - destacar cenas ou fatos do cotidiano tematizados no soneto;

V - destacar marcas da linguagem coloquial.

e) após o exercício dos alunos, disponha-os em círculo na sala de aula e peça aos grupos para expor o resultado da atividade para a turma, permitindo que todas as duplas comparem seus resultados aos dos colegas até que todos os pontos destacados acima sejam abordados.

Ao fim da aula, seus alunos terão argumentos para concluir que apesar da forma do soneto permanecer fixa e por isso restringir maiores invencionismos estéticos, ele se modificou com o tempo, se comparado ao soneto clássico ou mesmo à maioria dos poemas parnasianos: as possibilidades de variação da linguagem, da métrica e principalmente a inclusão da temática cotidiana fazem com que ele não pareça velho, sendo ainda bastante praticado contemporaneamente.

soneto

http://poesia-sim-poesia.blogspot.com/2008_01_01_archive.html

Recursos Complementares

BANDEIRA, Manuel. “A versificação em Língua Portuguesa”. in: Seleta de Prosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

BILAC, Olavo; PASSOS, Guimaraens. Tratado de Versificação. 6ª ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1930.

GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1985.

http://www.sonetos.com.br/escrever.php

http://viciodapoesia.wordpress.com/2011/02/19/a-dificil-arte-do-soneto-segundo-lope-de-vega-1562-1635-alexandre-o%C2%B4neill-1924-1986-e-manuel-alegre-1936/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Soneto

Avaliação

Professor, para a avaliação considere todas as atividades realizadas em sala. Além disso, peça para seus alunos pesquisarem e montarem um mural na escola com sonetos de poetas contemporâneos. 

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