31/08/2011
BELO HORIZONTE - MG ESCOLA DE EDUCACAO BASICA E PROFISSIONAL DA UFMG - CENTRO PEDAGOGICO
Prof.Dr.Luiz Prazeres
Modalidade / Nível de Ensino | Componente Curricular | Tema |
---|---|---|
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo | Língua Portuguesa | Linguagem oral: escrita e produção de texto |
Antes de iniciar a discussão sobre o poema, o professor pode resgatar - por meio da projeção de slides em data show - algumas estrofes da letra do Hino Nacional que exaltam a nação brasileira. Observa-se que a “Canção do exílio” foi citada em alguns versos do Hino Nacional, composto por Osório Duque Estrada. É válido discutir com os alunos a pertinência e a relevância nos dias atuais dos pressupostos representativos e ideológicos do hino. Pode ser solicitada aos alunos a busca no Google de outros hinos brasileiros (como o da Bandeira) que reforçam os valores patrióticos, bem como letras de música que apresentam esses registros.
Hino Nacional. Disponível em:
Etapa 1 – A canção e os símbolos de idealização patriótica
Nessa atividade, o professor apresentará o poema “Canção do exílio” e analisará com os alunos os elementos integrantes (tema e estruturação) do texto.
O notório poema foi publicado em Primeiros cantos (1846), obra inaugural do escritor Antônio Gonçalves Dias. Foi um dos poemas que inauguraram a tendência artística que cultuava o nacionalismo idealizado em fins do século XIX. Pode ser solicitada aos alunos a pesquisa sobre o autor e sobre o movimento estético denominado Romantismo, no qual o escritor é inserido.
CANÇÃO DO EXÍLIO
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Coimbra - Julho 1843.
Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000115.pdf
Ilustração de um sabiá
http://delirioscausticos.blogspot.com/2011/06/o-livre-conto-do-sabia.html
Em um primeiro plano, o professor trabalhará como o aspecto idealizado da pátria é repetido incansavelmente pelo eu lírico – que se encontra apartado da terra natal (é significativo ressaltar que Gonçalves Dias encontrava-se em Portugal quando escreveu esse texto). Após a leitura, o professor pode evidenciar os elementos de grande incidência ao longo do poema: as rimas que ocorrem nos segundos e quartos versos de quase todas as estrofes, a expressão anafórica “têm mais” que é desenvolvida como recurso de exaltação da terra e como “propaganda turística” da nação. A celebração também é ratificada a partir da constante recorrência e do deslocamento dos pronomes possessivos “minha” e “nossa/ nosso”. É significativo demarcar como o movimento de exaltação está sempre atrelado ao aspecto contrastivo entre os advérbios de lugar “aqui (cá)” x “lá” (terra idealizada), que são também reiterados, de maneira comparativa, por meio dos símbolos de exuberância da terra imaginária (céu, várzea, bosque, sabiá e palmeira) e revelam a reflexão nostálgica/ saudosista do sujeito poético. Nessa etapa, o professor pode enfatizar quantas vezes no texto aparecem as palavras “sabiá” e “palmeira”, com o intuito de demarcar o caráter ideológico, construído de forma metonímica, por meio dessas figuras representativas.
Palmeira imperial do Jardim Botânico do Rio de Janeiro
http://sagamundo.wordpress.com/2010/01/15/nao-se-fala-com-os-muros/
Etapa 2 – A palmeira e o sabiá: paródias e paráfrases poéticas
O objetivo dessa atividade é coletar poemas que releem (por meio da paródia ou da paráfrase) o discurso e o tema contido no texto de Gonçalves Dias. O professor pode sugerir que os alunos pesquisem alguns poemas no Google ou em sites especializados em textos literários ou pode direcionar esta etapa a partir dos seguintes textos: “Nova canção do exílio”, de Ferreira Gullar; “Nova Canção do exílio”, de Carlos Drummond de Andrade e “Canção do exílio facilitada”, de José Paulo Paes.
A respeito dos conceitos de paráfrase e paródia, é significativo considerar o que o crítico Affonso Romano de Sant”Anna salientou:
“[...] constatemos que a paródia, por estar do lado do novo e do diferente, é sempre inauguradora de um novo paradigma. [...] Do lado da contra-ideologia, a paródia é uma descontinuidade. [...] Enquanto a paráfrase é um discurso em repouso, [...] a paródia é o discurso em progresso. [...] Numa há o reforço, na outra a deformação. [...] É uma tomada de consciência crítica. [...] a paródia é como a lente: exagera os detalhes de tal modo que pode converter uma parte do elemento focado num elemento dominante, invertendo, portanto, a parte pelo todo, como se faz na charge e na caricatura. [...] Ela mata o texto-pai em busca da diferença.”
SANT’ANNA, Affonso Romano de. Paródia, paráfrase & Cia. São Paulo: Editora Ática, 1995.
Após analisar a “Canção do exílio” e apresentar os conceitos de paráfrase e paródia, o professor solicitará aos alunos que procurem os textos a seguir no Google e que cada grupo composto por 04 alunos fique responsável pela análise e apresentação de um poema. Os alunos podem apresentar vídeos do Youtube e pesquisar leituras críticas sobre a coletânea indicada. O resultado dessa etapa pode ser apresentado em sala de aula por meio da exibição de slides em data show.
O professor acompanhará a atividade e deverá direcionar os seguintes critérios de avaliação:
a) Como os poemas apresentam os símbolos do sabiá e da palmeira?
b) Como é construída a conexão intertextual com o poema de Gonçalves Dias? Quais poemas/ trechos são paráfrases, quais são paródias?
c) Quais críticas são abordadas em relação ao ideal de nação?
d) Como as rimas são construídas em cada texto (segundo a lógica da repetição ou concisão de sons ou palavras)?
e) Qual a leitura distintiva que cada texto apresenta sobre o tema da nacionalidade e sobre o texto referencial de Gonçalves Dias?
2.1
Nova Canção do Exílio
Ferreira Gullar
Minha amada tem palmeiras
Onde cantam passarinhos
e as aves que ali gorjeiam
em seus seios fazem ninhos
Ao brincarmos sós à noite
nem me dou conta de mim:
seu corpo branco na noite
luze mais do que o jasmim
Minha amada tem palmeiras
tem regatos tem cascata
e as aves que ali gorjeiam
são como flautas de prata
Não permita Deus que eu viva
perdido noutros caminhos
sem gozar das alegrias
que se escondem em seus carinhos
sem me perder nas palmeiras
onde cantam os passarinhos.
http://www.releituras.com/fgullar_claudia.asp
Leitura feita por Paulo José:
http://www.youtube.com/watch?v=_PhIm8aW89w
2.2
Nova canção do exílio
Carlos Drummond de Andrade
Um sabiá na
palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.
O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.
Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.
Onde tudo é belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)
Ainda um grito de vida e
voltar
para onde tudo é belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
http://www.ufrgs.br/proin/versao_1/exilio/index07.html
2.3
Canção do exílio facilitada
José Paulo Paes
Lá?
Ah!
Sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...
Cá?
Bah!
http://paticastro.blogspot.com/2007/02/da-cano-do-exlio-facilitada.html
Etapa 3 – Outras canções
Além da representação literária, encontram-se no vasto repertório musical brasileiro textos com intenso apelo nacionalista, difundidos por meio de um discurso de celebração e orgulho de ser brasileiro. Nas letras musicais de várias décadas, os emblemas nacionais referentes à paisagem, à população e aos costumes são exaltados em várias composições de Ary Barroso, em “Eu te amo meu Brasil”, dos Incríveis; em “País tropical”, de Jorge Ben; em “Descobridor dos sete mares”, de Tim Maia, entre outras.
Para esta atividade, os alunos acessarão no Youtube a canção “Meu país”, de Ivan Lins, e deverão redigir um parágrafo dissertativo (12 a 15 linhas) para interpretar a letra segundo os direcionamentos a seguir.
A) Como a nação é representada na letra de Ivan Lins? De que maneira o patriotismo é retratado?
B) Quais símbolos de identidade nacional são cultuados na canção? A quais contextos culturais eles pertencem?
C) Quais são os elementos comparativos entre a perspectiva nacionalista do eu poético na “Canção do exílio” e na letra “Meu país”?
Os textos serão enviados para o e-mail do professor, que fará as devidas correções gramaticais e estilísticas, além disso verificará o cumprimento da proposta e os recursos de coesão, coerência e progressão textual empregados.
Para a canção a seguir, haverá um debate e discussão em torno da atualização do tema proposto por Gilberto Gil/ Torquato Neto. O professor pode apresentar a canção contida no site do cantor e compositor ou vídeo com interpretação da Maria Bethânia. Podem ser utilizados os mesmos direcionamentos contidos na Etapa 2.
Marginália 2
Gilberto Gil
Torquato Neto
Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu pecado
Meu sonho desesperado
Meu bem guardado segredo
Minha aflição
Eu, brasileiro, confesso
Minha culpa, meu degredo
Pão seco de cada dia
Tropical melancolia
Negra solidão
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui, o Terceiro Mundo
Pede a bênção e vai dormir
Entre cascatas, palmeiras
Araçás e bananeiras
Ao canto da juriti
Aqui, meu pânico e glória
Aqui, meu laço e cadeia
Conheço bem minha história
Começa na lua cheia
E termina antes do fim
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Minha terra tem palmeiras
Onde sopra o vento forte
Da fome, do medo e muito
Principalmente da morte
Olelê, lalá
A bomba explode lá fora
E agora, o que vou temer?
Oh, yes, nós temos banana
Até pra dar e vender
Olelê, lalá
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
Aqui é o fim do mundo
http://www.gilbertogil.com.br/sec_musica.php?page=3
Vídeo com interpretação de Maria Bethânia: http://www.youtube.com/watch?v=GQ_4PzbIfak&playnext=1&list=PLE4AD70E76BA3721B
Etapa 4 – Recriando a canção
Nesta etapa, o aluno produzirá um texto literário (em prosa ou verso) ou informativo (crônica ou artigo de opinião) que contemple o tema de “Canção do exílio”. O texto pode parodiar o foco temático de maneira contextualizada segundo alguma notícia atual selecionada pelo professor. É importante que o texto do aluno questione e problematize símbolos da nossa identidade sociocultural.
Os textos serão enviados por e-mail ao professor que fará as devidas correções ortográficas e estilísticas. As melhores produções serão selecionadas pelo professor que escolherá um texto de cada grupo (preferencialmente os mesmos integrantes da equipe da etapa 2). O grupo será responsável por montar uma videoaula sobre o tema “Canção do exilo: releituras” e elegerá um representante para ser o apresentador do conteúdo estudado e produzido. Poderão ser aproveitados os textos consagrados lidos nas etapas anteriores. Essa atividade pode ser divulgada numa perspectiva jornalística (telejornal, programa de entrevistas, etc). O material será filmado, avaliado pelo professor e postado no Youtube.
Como postar vídeo no Youtube:
PAULINO, Graça; WALTY, Ivete Lara Camargos; CURY, Maria Zilda Ferreira. Intertextualidades: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Formato, 2005.
RICUPERO, Bernardo. O romantismo e a ideia de nação no Brasil (1830-1870). São Paulo: Martins Fontes, 2004.
SANT'ANNA, Affonso Romano. Paródia, paráfrase & cia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2003.
Sobre o poema “Canção do exílio” atrelado ao culto de exaltação da natureza local:
http://www.revistaletras.ufpr.br/edicao/60/WiltonMarques-OPoemaEAMetafora.pdf
Crítica ao culto à paisagem como pressuposto nacionalista:
http://www.uel.br/pos/letras/terraroxa/g_pdf/vol2/V2_CLNF.pdf
Leitura feita a partir de algumas versões da “Canção do exílio”:
As avaliações ocorrerão de forma processual, ao longo de todas as atividades ministradas, as quais contemplam o desenvolvimento das habilidades de leitura crítica/ participativa e escrita dissertativa/ literária. Porém é necessário:
Cinco estrelas 2 classificações
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03/11/2014
Cinco estrelaseu adorei os poemas
31/07/2013
Cinco estrelasExcelente!!!!! Estava buscando algo "inspirador" para trabalhar a "Canção do exílio" e para minha surpresa encontrei algo "além" do que esperava! Parabéns! Excelente, completa!!!!