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A licença poética na música

 

20/07/2013

Autor e Coautor(es)
ROGERIO DE CASTRO ANGELO
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UBERLANDIA - MG ESC DE EDUCACAO BASICA

Eliana Dias, Lazuita Goretti de Oliveira

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Ensino Médio Língua Portuguesa Recursos linguísticos em uso: fonológicos, morfológicos, sintáticos e lexicais
Ensino Médio Língua Portuguesa Aspectos cognitivo-conceituais: mundo, objetos, seres, fatos, fenômenos e suas inter-relações
Ensino Médio Língua Portuguesa Produção, leitura, análise e reflexão sobre linguagens
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula
  • O que é licença poética;
  • Qual a relação entre a licença poética e a música.
Duração das atividades
3 aulas de 50 minutos
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

Noções de concordância verbal, ortografia, ortoépia e prosódia.

Estratégias e recursos da aula

Recursos:

  • handouts para os alunos;

  • computador e datashow;

  • caixas de som;

Estratégias:

  • exposição oral / discussão sala toda;
  • consulta ao dicionário;
  • roteiro de discussão/análise em grupos (até 4 integrantes);
  • pesquisa na internet;
  • apresentação oral;
  • produção de paródia

Módulo 1

Atividade 1 - para iniciar a conversa

Primeiramente o professor discutirá com os alunos o que eles entendem por licença poética, pedindo inclusive exemplos que eles conheçam de textos que se valem da licença poética para a construção de sentidos.

Essa discussão durará de 5 a 10 minutos.

 

Após a discussão, e para complementar o que os alunos já têm como conceito de licença poética, o professor passará para os alunos (oralmente se preferir) a definição de o que é "licença poética" segundo o dicionário. [se preferir, o professor poderá pedir que os próprios alunos vejam se no dicionário deles existe uma definição de licença poética]

Para o Michaelis:

licença
li.cen.ça
sf (lat licentia) 1 Autorização dada a alguém para fazer ou deixar de fazer alguma coisa; permissão. 2 Autorização especial concedida pelas autoridades públicas para exercer certas atividades, praticar certos atos, ter em seu poder certas coisas. 3 Documento que comprova essa autorização. 4 Autorização dada, por pessoa ou autoridade detentora de alguma patente de invenção, a outra pessoa ou entidade para explorar a respectiva invenção. 5 Permissão concedida a militares ou a empregados, a fim de poderem ausentar-se dos respectivos serviços. 6 Desregramento. 7 Vida dissoluta. 8 Liberdade. 9 Autom Carteira de habilitação profissional que dá permissão para guiar um veículo. 10 Autom Placa numérica identificadora desse veículo. L. de favor: licença concedida verbalmente aos oficiais e praças de pré, por um número limitado de dias, sem prejuízo dos seus vencimentos. L. de uso local, Inform: licença entre um fornecedor de software e um usuário, que permite a qualquer usuário, naquele local, usar o software. L. em tempo de execução, Inform: licença que habilita um usuário a utilizar uma aplicação. L.-maternidade: licença concedida às mulheres, quando têm filhos, conforme a legislação trabalhista. L. poética: direito que os poetas têm de alterar as regras de prosódia e da sintaxe. L.-prêmio: aquela a que um funcionário público faz jus depois de determinados anos de serviço. Com licença da palavra: modo cortês de pedir permissão para dizer uma palavra grosseira.

Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=licen%E7a>. Acesso em 20 jul. 2013.

Para o Houaiss:

licença poética 1 liberdade de o escritor utilizar construções, prosódias, ortografias, sintaxes não conformes às regras, ao uso habitual, para atingir seus objetivos de expressão 2 p. ext. fig. exagero, desvio, afastamento do padrão de verdade <agora, crer que sua contribuição tenha sido seminal já é l. poética>

In: HOUAISS, Antônio, VILLAR, Mauro de Salles. Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva. 2001.

 

Atividade 2 - aprofundando o conceito

Após o primeiro contato, o professor distribuirá para os alunos o texto abaixo, que deverá ser impresso em handout. Os alunos deverão fazer a leitura do texto e o professor pedirá para que alunos , após terem colado o handout no caderno, leiam alternadamente os parágrafos do texto de Luka Magalhães, sobre a licença poética. Ao final o professor e os alunos deverão novamente discutir sobre esse conceito, procurando salientar o que o texto acrescentou de informações novas sobre o conceito de licença poética.

 

Licença Poética - como usá-la

Luka Magalhães

   Muitas vezes escutamos que um poeta usou da ”licença poética” para compor seus versos. Mas o que significa de fato esta licença, quais os limites que ela tem e quais as suas características principais?
De forma simples, define-se o que é a licença poética da seguinte forma:
“ Licença Poética é a permissão dada ao escritor para extrapolar a norma culta, deixando de lado regras gramaticais como concordâncias e regências”.
   Em outras palavras, temos, como escritores, uma autorização intrínseca de não seguirmos certas regras gramaticais, quando nos é conveniente, ao escrevermos um texto poético.
   Vejamos alguns exemplos do uso da licença poética:
   Mário Quintana, um dos maiores poetas brasileiros, inicia seu poema “Indivisíveis” da seguinte forma:
“Meu primeiro amor sentávamos...”
   Pelo aspecto da norma culta há um erro de concordância verbal pois ditam as regras que o verbo concorda com o sujeito da oração e no caso e que seria correto “Meu primeiro amor sentava”.
   Arnaldo Antunes, compositor, escritor e cantor, escreveu:
“Beija eu”...
   No mesmo aspecto de análise sob o olhar da norma culta, temos que: a forma refectiva do verbo exige o uso de um pronome pessoal do caso oblíquo. Teríamos então a frase “Beije-me.
   Nestes dois exemplos temos a visão de escritor e os ditames das regras. De um lado a autorização para se escrever assim e de outro, uma classificação como erro gramatical. Onde então está a licença poética?
   Disse Adoniran Barbosa, no programa Ensaio, da TV Cultura (São Paulo), sobre o “Samba do Arnesto”:
    " _Sei que o certo é “Ernesto”, “fomos” e “encontramos”, mas prefiro dizer “Arnesto”, “fumo” e “encontremo”..."
   Eis a licença poética.
   Arnaldo Antunes, no programa “Nossa Língua Portuguesa” , também da TV Cultura foi perguntado por Paschoale Cipro Neto sobre o “Beija eu”. Antunes dissertou sobre a norma culta já mencionada acima e disse:
   "_Fiz a música, inspirado em minha filha que, quando pequena dizia pega eu, abraça eu e beija eu..."
   Eis novamente a licença poética.
   A licença existe com a seguinte característica básica:
   “O escritor se utiliza  do que a norma culta consideraria erro, para compor  seus versos de forma criativa, dando um contexto ao escrito, muitas vezes por sua criatividade, ou para manter métrica e ritmo, porém o autor tem o conhecimento do que ditam as normas gramaticais.”
   Esses pormenores devem estar claros ao escritor, para não cometer certos erros sob a justificativa de se estar usando a licença poética  como escudo da ignorância às normas cultas da linguagem. Só temos a licença poética quando escrevemos algo e sabemos o porquê de termos escrito de tal maneira. Ao lermos “Indivisíveis” de Quintana entenderemos muito bem a licença poética em um contexto mágico.
   O mais encontrado como licença poética é a falta de manutenção da pessoa gramatical em versos. Na música “Evidências” gravada por Chitãozinho e Xororó encontramos um exemplo, vejamos:
“...Quando digo que não quero mais VOCÊ, é porque TE quero...”
   A palavra “você”, pela gramática é considerada terceira pessoa ( por reger o verbo em tal pessoa gramatical) e o pronome “te" se refere à Segunda pessoa (tu). Neste caso só saberemos se houve o uso da licença poética se os autores quando questionados sobre tal circurstância trouxerem luz ao poema, mostrando seu conhecimento.
   Portanto, não basta-nos utilizar de erros sem ter conhecimento. Devemos sim abusar da licença poética para mostrar que, como escritores temos a norma culta a nosso favor.

Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/1244135>. Acesso em 20 jul. 2013.

 

Atividade 3 - exemplificando

Após terem aprofundado um pouco a noção de licença poética, o professor exemplificará esse conceito por meio de duas músicas nas quais os compositores se utilizam da licença poética utilizando construções que fogem à norma padrão de forma proposital.

Sugerimos que o professor exemplifique primeiramente com a música Saudosa Maloca, de Adoniram Barbosa, disponível no youtube, no link abaixo. Nesse primeiro momento o professor poderá pedir para os alunos apenas escutarem a música, e depois o professor passa uma segunda vez a música para eles irem marcando as partes do texto que eles perceberem construções que fogem às regras da norma urbana de prestígio, no que se refere à pronúncia, concordância, sintaxe, etc.

saudosa maloca

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=V_N4Jum5h2A&list=PL62844064229D9AC1>. Acesso em 20 jul. 2013.

A letra está disponível em: http://letras.mus.br/adoniran-barbosa/43969/ . Acesso em 20 jul. 2013.

Disponibilizamos a letra abaixo, para que o professor coloque também no handout a ser entregue aos alunos.

Saudosa Maloca

Adoniran Barbosa

 

Si o senhor não "tá" lembrado
Dá licença de "contá"
Que aqui onde agora está
Esse "edifício arto"
Era uma casa véia
Um palacete assombradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímo nossa maloca
Mais, um dia
Nóis nem pode se alembrá
Veio os homi c'as ferramentas
O dono mandô derrubá
Peguemo todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Aprecia a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homis tá cá razão
Nós arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou:
"Deus dá o frio conforme o cobertor"
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.

A segunda música a ser apresentada é a música Inútil, do Ultraje a Rigor. Seguem os links para a música e para a letra. Da mesma forma o professor pedirá que os alunos primeiramente apenas escutem, e num segundo momento escutem e acompanhem a letra (no handout), pois dessa forma eles percebem melhor o uso da licença poética na pronúncia, sem a interferência da letra da música no primeiro momento.

inuteu

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=kiyvRs7JEAU>. Acesso em 20 jul. 2013.

 

Letra:

Inútil

Ultraje a Rigor

 

A gente não sabemos
Escolher presidente
A gente não sabemos
Tomar conta da gente
A gente não sabemos
Nem escovar os dente
Tem gringo pensando
Que nóis é indigente...

"Inúteu"!
A gente somos "inúteu"!
"Inúteu"!
A gente somos "inúteu"!

A gente faz carro
E não sabe guiar
A gente faz trilho
E não tem trem prá botar
A gente faz filho
E não consegue criar
A gente pede grana
E não consegue pagar...

"Inúteu"!
A gente somos "inúteu"!
"Inúteu"!
A gente somos "inúteu"!
"Inúteu"!
A gente somos "inúteu"!
"Inúteu"!
A gente somos "inúteu"!
"Inúteu"!
A gente somos "inúteu"!
"Inúteu"!
A gente somos "inúteu"!

A gente faz música
E não consegue gravar
A gente escreve livro
E não consegue publicar
A gente escreve peça
E não consegue encenar
A gente joga bola
E não consegue ganhar...

"Inúteu"!
A gente somos "inúteu"!
"Inúteu"!
A gente somos "inúteu"!
"Inúteu"!
"Inúteu"!
"Inúteu"!
Inú! inú! inú..

 

Disponível em: <http://letras.mus.br/ultraje-a-rigor/49189/>. Acesso em 20 jul. 2013.

 

Módulo 2

Atividade 1 - Análise

Após ter apresentado as músicas "Saudosa Maloca" e "Inútil" para os alunos, o professor dividirá os alunos em grupos de até 4 integrantes, para que eles analisem as letras, visando identificar em quais trechos da música os compositores utilizaram-se de licença poética, e qual o efeito de sentido isso provoca.

Para essa atividade o professor apresentará o seguinte roteiro de análise:

Você está estudando sobre licença poética. Sobre as músicas Saudosa Maloca e Inútil, responda:

  1. Em quais trechos das músicas os compositores fazem uso da licença poética?
  2. Há nas músicas concordâncias verbais feitas de uma maneira que foge à norma padrão? Quais?
  3. Há nas músicas palavras pronunciadas de forma diferente da usual? Quais?
  4. As alterações das concordâncias e/ou da pronúncia fazem rima com alguma outra palavra da música?
  5. A concordância verbal nas músicas que estão sendo analisadas foge à norma padrão em todos os casos ou apenas alguns?
  6. Qual relação podemos estabelecer entre a temática da música e os desvios da norma gramatical?
  7. Analisando a música como um todo, sobre quais tipos sociais cada uma delas fala?
  8. Qual relação podemos estabelecer entre a linguagem utilizada na música e os tipos sociais representados nela?
  9. Se nas músicas os compositores tivessem optado por utilizar a norma padrão a música ficaria menos expressiva? Em quais pontos?

O professor alocará em torno de 25 minutos para os alunos analisarem as duas músicas. Findo o prazo, o professor abrira espaço para que os grupos apresentem suas respostas, incentivando a discussão sobre como os compositores lançaram mão da licença poética na composição dessas músicas.

Atividade 2 - Pesquisa

Após a análise das músicas o professor levará os alunos ao laboratório de informática para que eles, em trios, procurem mais exemplos de músicas que apresentem trechos que fogem às regras da norma padrão, evidenciando o uso da licença poética na música.

Sugestão de sites para busca:

http://letras.mus.br

http://www.vagalume.com.br

http://letras.kboing.com.br/#!/home

Cada grupo deverá salvar a letra da música para socializar com os colegas, além de um link onde se possa escutar/assistir à apresentação da música.

Módulo 3

Atividade 1 - Socialização dos achados

Os grupos deverão nesse momento entregar para os colegas uma cópia da letra da música que eles consideram que os compositores utilizaram-se da licença poética, e, após apresentarem a música, comentarem sobre qual efeito de sentido foram provocados pela alteração da pronúncia ou desvios da norma padrão.

Atividade 2 - produção

parodia

O professor pedirá aos alunos que produzam uma paródia de alguma música ou de um trecho de música, valendo-se de licença poética de forma a dar mais expressividade às paródias produzidas.

Para facilitar a criação da paródia, o professor poderá agrupar novamente os alunos, em duplas ou trios. Ao final da produção, o professor abrirá espaço para que os alunos apresentem suas paródias.

Recursos Complementares

Samba do Arnesto (citado no texto de Luka Magalhães)

Disponível em: <http://letras.mus.br/demonios-da-garoa/478690/>. Acesso em 20 jul. 2013.

 

Trecho do programa do professor Pasquale em que ele responde sobre um suposto deslize gramatical, justificável pela licença poética, numa música de Roberto Carlos:

Disponível em: <http://radioglobo.globoradio.globo.com/com-a-palavra,-o-professor-pasquale/2013/02/28/LICENCA-POETICA.htm>. Acesso em 20 jul. 2013.

 

Referência ao termo Licença poética na poesia:

Poema de Adélia Prado "Com Licença Poética".

Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/frase/MTY4MzUz/>. Acesso em 20 jul. 2013.

Nesse texto a licença poética na verdade é um pedido de licença para fazer intertextualidade com o texto de Carlos Drummond de andrade:

Disponível em: <http://www.horizonte.unam.mx/brasil/drumm1.html>. Acesso em 20 jul. 2013.

Avaliação

Os alunos deverão ser avaliados durante todo o processo, pela participação nas atividades. Contudo, a análise da produção das paródias, se eles se valem ou não de licença poética é um ótimo instrumento para avaliar se eles compreenderam bem o conteúdo.

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