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“O Tropicalismo e a Revolução Estética na Canção Brasileira”

 

03/09/2013

Autor e Coautor(es)
JULIANA VENTURA DE SOUZA FERNANDES
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BELO HORIZONTE - MG Universidade Federal de Minas Gerais

Lígia Beatriz de Paula Germano.

Estrutura Curricular
Modalidade / Nível de Ensino Componente Curricular Tema
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo História Cidadania e cultura contemporânea
Educação de Jovens e Adultos - 2º ciclo História Relações de poder e conflitos sociais
Ensino Médio História Sujeito histórico
Ensino Médio História Memória
Ensino Médio História Cultura
Dados da Aula
O que o aluno poderá aprender com esta aula

Nessa aula o aluno terá oportunidade de aprender o que foi o Tropicalismo, entendendo suas principais características e perspectivas. Também poderá compreendê-lo dentro de um contexto cultural e político mais amplo, como mais uma forma contestatória particular, que se diferencia de outras formas de arte engajada. 

Duração das atividades
4 aulas de 50 minutos.
Conhecimentos prévios trabalhados pelo professor com o aluno

É necessário que o aluno compreenda aspectos do golpe de 1964 e da ditadura instaurada, sobretudo no que se refere às implicações ao campo artístico (censura, perseguições políticas etc...). 

Estratégias e recursos da aula

4.1 Introdução aos Professores

 

            Se como movimento contestatório, é importante que o Tropicalismo seja compreendido no contexto da ditadura é também necessário lembrar que ele se relaciona com debates do campo artístico-político anteriores, do início dos anos 1960.

 

4.2 Desenvolvimento

 

Aula 1

 

Contextualização

 

É importante esclarecer que o “Tropicalismo” foi um movimento de contracultura, que se manifestou no Brasil a partir de 1967 e 1968. O “Tropicalismo” dialogou tanto com os movimentos contraculturais internacionais, que se caracterizaram pela contestação social e política e com a produção artística de vanguarda (por exemplo, a “pop-art” americana) como também com experiências nacionais tais como o modernismo da Semana de Arte de 1922 (que mobilizaram questões dos hibridismos tradição x contemporaneidade, dissolução das fronteiras entre o “popular” e o “erudito”).

Apesar do título da aula dar destaque à vertente musical do “Tropicalismo”, sugerimos que o professor apresente aos alunos algumas questões básicas acerca do movimento, esclarecendo inclusive seu caráter plural no que diz respeito à diversidade de manifestações artísticas. Vários eventos inaugurais do Tropicalismo são localizados em 1967, com destaque para as canções apresentadas por Caetano Veloso e Gilberto Gil no “3º Festival de Música Popular da TV Record de 1967” (“Alegria, Alegria” e ”Domingo no Parque”, respectivamente). Ao mesmo tempo, as propostas tropicalistas se materializavam no teatro com as experiências do Grupo Oficina (as montagens de O Rei da Vela e Roda Viva), enquanto no cinema, Terra em Transe, de Glauber Rocha radicalizava as teses do Cinema Novo, partilhando os debates tropicalistas. Nas artes plásticas, destaca-se, sem dúvida, a obra de Hélio Oiticica “Tropicália”. Contudo, ele passaria a ser reconhecido por essa denominação apenas em 1968. O próprio Gil chega a dizer que o Tropicalismo surgiria mais como “uma preocupação entusiasmada pela discussão do novo do que propriamente um movimento organizado”. (Gilberto Gil). O movimento não foi coeso, nem há um significado unívoco para a palavra. 

Seu impacto foi importante na MPB exigindo a revisão das bases estéticas e valores culturais obrigando uma abertura a outras influências musicais que não os “gêneros de raiz” ou materiais folclóricos. Ao mesmo tempo, não foi um movimento marginal no que se refere à inserção em estruturas de consumo de massa, as quais não se furtou.

 

Desenvolvimento

 

Como primeira atividade, será proposta a análise das canções do LP “Tropicália ou Panis et Circencis”, um álbum coletivo emblemático, lançado em 1968 por importantes representantes do Tropicalismo. A atividade deve também incluir a análise da capa do álbum, pois sua iconografia se confere em um importante registro de aspectos da postura de seus artistas e das propostas por ele defendidas.  Essa tarefa terá um duplo objetivo. Por um lado, a análise do LP pode proporcionar ao aluno melhor compreensão acerca do movimento tropicalista, com especial atenção ao seu contexto de inserção político-cultural e suas defesas estético-políticas. Por outro lado, a atividade leva a uma maior aproximação do aluno às formas de se produzir história e à ampliação da noção de “vestígio” e “documento”, considerando-se a canção (letra e música) e a imagem como fontes do historiador. 

Assim, o professor pode organizar a turma em 12 pequenos grupos (há 12 canções no LP), aos quais caberão a análise de uma das canções e uma proposta de leitura da capa do LP, que deve ser pensada em relação à análise que eles mesmos produziram acerca da canção. Os alunos devem ser estimulados a buscarem interpretações sobre a letra (figuras de linguagem, aspectos poéticos, alegorias...) e a música (intensidade, tipos de instrumentos, melodia, ritmo, vocalizações...), considerando as discussões anteriores sobre as características do movimento, percebendo como as críticas dos tropicalistas e as ideias por eles defendidas se configuram em sua produção artística. O mesmo vale para a capa (sobre a qual pode ser pensada a forma do retrato – sátira? crítica?, o próprio subtítulo – “Panis et Circensis”, as cores, os objetos que seguram os artistas, suas vestimentas etc...). Observar com detalhes as canções “Geléia Real”, que sintetiza muitos dos aspectos do Tropicalismo e “Baby”, que aponta uma série de transformações do consumo.

Como a atividade demanda aparelho de áudio, ela pode ser conduzida de duas maneiras. Se houver disponibilidade para uso na escola, ela pode ser iniciada em sala de aula e seguir no “Para Casa” uma vez que demanda maior elaboração por parte dos alunos. Caso contrário, ela pode ser inteiramente realizada pelos grupos fora de sala de aula.

 

 

Capa Tropicália

Créditos da Imagem:

http://tropicalia.com.br/identifisignificados/cronologia/tropicalia/68-3

 

Canções

1) Miserere Nobis (Gilberto Gil – Capinan) 3:44 Intérprete: Gilberto Gil.

2) Coração Materno (Vicente Celestino) 4:17 Intérprete: Caetano Veloso.

3) Panis et Circencis (Caetano Veloso – Gilberto Gil) 3:35 Intérprete: Os Mutantes.

4) Lindonéia (Caetano Veloso) 2:14 Intérprete: Nara Leão.

5) Parque Industrial (Tom Zé) 3:16 Intérpretes: Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé, Gilberto Gil e Os Mutantes.

6) Geléia Geral (Gilberto Gil – Torquato Neto) 3:42 Intérprete: Gilberto Gil.

7) Baby (Caetano Veloso) 3:31 Intérpretes: Caetano Veloso e Gal Costa

8) Três Caravelas (Las Tres Carabelas) (Algueiro Jr. – Moreau; versão em português: João de Barro) 3:06 Intérpretes: Caetano Veloso e Gilberto Gil.

9) Enquanto Seu Lobo Não Vem (Caetano Veloso) 2:31 Intérpretes: Caetano Veloso.

10) Mamãe, Coragem (Caetano Veloso – Torquato Neto) 2:30 Intérprete: Gal Costa.

11) Bat Macumba (Caetano Veloso – Gilberto Gil) 2:33 Intérprete: Gilberto Gil

12) Hino ao Senhor do Bonfim (Artur de Sales – João Antônio Wanderley) 3:39 Intérpretes: Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Os Mutantes.

 

Aula 2

Desenvolvimento

            O professor deve promover um espaço para que os alunos partilhem as interpretações por eles construídas. É interessante que o professor leve em conta na apresentação dos alunos a ordem das canções do LP, uma vez que a própria sequência das canções, nesse caso, já sugere elementos de análise. O professor pode, a partir da fala dos alunos, organizar um quadro geral com as características do Tropicalismo por eles observadas. Provavelmente, essa atividade poderá levar uma aula de 50 minutos.

 

Aula 3

 

Contextualização

 

Pontuadas as características do “Tropicalismo”, a terceira aula pode se concentrar na análise das diferenças entre esse movimento e outras formas de arte engajada nos anos 1960. Desde o inicio da década, foram inúmeras as formas de se pensar/criticar as representações de nação e a política no meio artístico, críticas agravadas pelos diferentes setores da esquerda após o golpe de 1964. Um foco interessante é analisar com alunos os diferentes projetos de “Brasil” que cada uma delas apresentava.

 

Desenvolvimento

 

Com esse objetivo, podemos propor dois tipos de atividade à escolha do professor. Primeiramente, teremos em vista quatro tendências artísticas dos 1960. Apesar dos limites dessas definições, podemos pensá-las da seguinte maneira. A primeira delas refere-se aos artistas que mais se apropriaram das heranças da “Bossa Nova”, que estabelecia diálogos entre o Jazz e o Samba. Uma segunda vertente, que recusava elementos da cultura pop estrangeira e o imperialismo cultural, foi a chamada “Canção de Protesto” (por exemplo, Geraldo Vandré). Em terceiro lugar, o iê-iê-iê ou Jovem Guarda preocupou-se em produzir música a partir das fortes influencias do rock inglês e norte-americano. A quarta, finalmente, se refere ao Tropicalismo. 

A partir disso, o professor pode apresentar discos que representem essas três tendências (excluindo o Tropicalismo), dividir a turma em três grupos e pedir que cada grupo faça comparações entre eles e o LP estudado na primeira atividade, colocando em perspectiva o Tropicalismo em relação a outras formas culturais dos 1960.

Outra alternativa é que o professor promova um “mini Festival da Canção”. Nesse caso, ele pode dividir a sala em grupos que representariam essas quatro tendências e reproduziriam os Festivais que aconteceram com frequência naquela década, constituindo-se palco de debate dessas distintas maneiras de interpretação estético-políticas. Será necessário um espaço apropriado ou um palco improvisado em sala de aula. O professor deve orientar os alunos a reproduzirem o ambiente cultural dos artistas que representam a partir de vestimentas e formas de linguagem.

 

Aula 4

 

Contextualização

 

            Considerado o debate sobre as distintas interpretações políticas, o professor pode, por fim, analisar os diálogos estéticos do Tropicalismo. Podem-se destacar a Antropofagia, a Pop Art e o Concretismo.

 

Desenvolvimento

 

O programa “Divino Maravilhoso” foi ao ar na TV Tupi por apenas três meses (de outubro a dezembro de 1968). A sua frente, Caetano Veloso e Gilberto Gil. A curta duração deveu ao incômodo da audiência com aquilo que viam. Transmitidas ao vivo, as apresentações não tinham roteiro e os cantores aproveitavam para farrear diante das câmeras. Resultado: choviam cartas de reclamações pelo mau comportamento. A pesquisadora Ana de Oliveira, que mantém o site http://tropicalia.com.br/, considera que “a gota d'água foi quando Caetano cantou uma música com um revólver apontado para a cabeça". Sugere-se que o professor utilize-se de duas reportagens de Jornal  sobre o programa e sobre o Tropicalismo publicadas à época (links a seguir) e do vídeo do Programa "O Som do Vinil" da TV Brasil sobre Tropicalismo (http://www.youtube.com/watch?v=yEh2IqtoER8) para fomentar a discussão sobre as apropriações político-culturais construídas pelos Tropicalistas. Esse vídeo é interessante por explorar contradições e divergências entre o próprio grupo e as reportagens para que se analise à repercussão desse movimento cultural. 

Referência: http://tropicalia.com.br/eubioticamente-atraidos/reportagens-historicas/baianos-na-tv-divino-maravilhosohttp://tropicalia.com.br/eubioticamente-atraidos/reportagens-historicas/tropicalismo-movimento-mito-escola-ou-cafajestada-sob-encomenda

CONCLUSÃO: A partir da pesquisa, da análise do LP e das músicas, da dramatização e da discussão do programa o aluno deve ser capaz de compreender aspectos gerais do Tropicalismo, compreendendo-o como uma manifestação da contracultura que, apesar de crítica, se diferenciava de outras formas de engajamento artístico. Também deve ser capaz de compreender o impacto do Tropicalismo na MPB. 

Recursos Complementares

Para uma discussão mais consistente acerca do tema, ver trabalhos de Marcos Napolitano como: NAPOLITANO, M. Seguindo a Canção: engajamento político e Industria Cultural na. MPB (1959-1969). São Paulo, Annablume: Fapesp, 2001 e NAPOLITANO, Marcos. História & música: história cultural da música popular. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005 120 p. Para uma discussão bastante aprofundada a respeito dos usos canção no ensino de história ver o interessante trabalho de HERMETO, Miriam. Canção Popular Brasileira e Ensino de História. Palavras, Sons e tantos sentidos. Belo Horizonte: Autêntica. 2012. 

Alguns Vídeos Interessantes:

http://www.youtube.com/watch?v=bl7xHuEtlyg (Entrevista de Caetano e Gilberto Gil no Festival de 1967. Aproximadamente 8 minutos) 

http://www.youtube.com/watch?v=5Ipp3_RmBcQ (Trecho de Programa Som do Vinil Tropicália. Parte 2. Aproximadamente 25 minutos)

https://www.youtube.com/watch?v=B-_loVXEv6M (Áudio Completo do LP Tropicália)

Para Informações sobre os Festivais:

Arquivo N: Programa Produzido pela Globo News 

http://www.youtube.com/watch?v=WtcjywRsVTY

Avaliação

Os alunos serão avaliados por sua participação nas discussões, pela atividade de interpretação do LP, pela dramatização e debate final. 

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